Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica: Como podemos conduzir sadiamente nossa discussão pública sobre a sexualidade humana
Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica: Como podemos conduzir sadiamente nossa discussão pública sobre a sexualidade humana
Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica: Como podemos conduzir sadiamente nossa discussão pública sobre a sexualidade humana
E-book803 páginas12 horas

Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica: Como podemos conduzir sadiamente nossa discussão pública sobre a sexualidade humana

Nota: 1 de 5 estrelas

1/5

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Ideologia De Gênero, Casamento E A Vida Cívica – Como Podemos Conduzir Sadiamente Nossa Discussão Pública Sobre A Sexualidade Humana. Tem sido curiosa, nas últimas décadas, a trajetória das discussões em torno do assunto da homossexualidade. Em todos os tempos e em quase todas as culturas, o casamento tem sido entendido como uma realidade pessoal e social, buscado e valorizado por indivíduos, casais e sociedades inteiras, mas ele também é uma realidade moral: um bem humano com uma estrutura objetiva, a qual é inerentemente boa para ser vivenciada. A visão conjugal do casamento é de uma união corporal e unitiva, que também é uma união emocional e espiritual, uma união distinta pela amplitude de seu compromisso, o qual é efusivo, ou seja, o compromisso conjugal é um amor fluido do centro da pessoa para fora, para abranger a vida familiar, a fidelidade permanente e, mais adiante, uma nova geração iniciada pela união sexual dos dois cônjuges. No casamento entendido desta maneira, o mundo afirma a esperança e celebra sua renovação duradoura. Ideologia De Gênero Casamento E A Vida Cívica tem como foco nos dar argumentos para conduzir de forma sadia nossa discussão sobre a sexualidade humana, em defesa do casamento conjugal, uma instituição que, se for mudada, ameaça desconfigurar e consequentemente, destruir a família como a conhecemos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2021
ISBN9786589767114
Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica: Como podemos conduzir sadiamente nossa discussão pública sobre a sexualidade humana

Relacionado a Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica

Ebooks relacionados

Cristianismo para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica

Nota: 1 de 5 estrelas
1/5

1 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Ideologia de gênero, casamento e a vida cívica - Ronald Prater

    Dedico este livro ao notável educador

    Walter Teodoro de Paula

    Nota Biográfica

    Ronald Prater, americano e residente no Brasil há muitos anos, é professor e escritor. Além de ter muita experiência em trabalho pastoral, desde 1999 Ronald leciona estudos e cursos sobre assuntos filosóficos e religiosos, usando sempre como base as obras fundamentais da literatura ocidental. Seus cursos têm abrangido, além da Bíblia, as obras principais de Homero, Platão e Aristóteles, dramaturgos gregos, Virgílio, Agostinho, Dante, John Milton, e T. S. Eliot. Ronald é membro da Dante Society of America, e ele nutre grande admiração pelo poeta e ensaísta T. S. Eliot. Os volumes de Ronald são:

    Deus Chama (Editora Vida Cristã, São Paulo, 1999)

    A Divina Comédia: Tradução, Introdução, e Notas (Editora Thesaurus, Brasília, 2005)

    Divórcio e Novo Casamento – Autor: Rubel Shelley, Tradutor: Ron Prater (Editora Palavra, Brasília, 2012)

    Romanos: Um Comentário em Diálogos (Editora Palavra, Brasília, 2015)

    Índice

    1 –Casamento: um bem para a sociedade

    2 –O âmago da questão: o que é o casamento?

    3 –O casamento e o Estado

    4 –A guerra cultural

    5 –Ordem no universo

    6 –Ordem invertida

    7 –A homossexualidade e a questão de justiça

    8 –A homossexualidade e a biologia

    9 –A questão de direitos, liberdades e igualdade

    10 –A questão de amor, sexo e conjugalidade

    11 –A questão de genes e escolhas

    12 –A questão da liberdade religiosa, parte 1

    13 –Liberdade religiosa: um direito humano básico, parte 2

    14 –A homossexualidade e as Forças Armadas

    15 –Casamento: uma instituição social

    16 –As instituições civis e o conceito de direitos de privacidade

    17 –Casamento, homossexualidade e um futuro são

    Respondendo a objeções

    Conclusão

    Palavra final

    Anotações

    Introdução

    Tem sido curiosa, nas últimas décadas, a trajetória das discussões em torno do assunto da homossexualidade. Nesse período, apesar da significativa resistência conservadora, a relação homossexual tem deixado de ser um amor que não ousava pronunciar o próprio nome para ser um amor que não se cala. Esta mudança – de reserva e sigilo para uma franca divulgação – requer uma explicação.

    O debate mundial sobre o casamento do mesmo sexo não é diretamente sobre a homossexualidade em si, mas é uma análise do que é o casamento em si. A controvérsia atual gira em torno principalmente de direitos que os homossexuais pleiteiam e do presente grau de aceitação ou não da homossexualidade na sociedade. A realidade, no entanto, é que estas questões são secundárias. Há muitos relacionamentos que são reconhecidos por todos como amorosos e comprometidos, naturais e saudáveis, mas não são considerados casamentos. Mesmo que não haja nada errado com o comportamento homoerótico, determinar se tal relacionamento deveria ser considerado um casamento requer que respondamos à pergunta: o que é casamento como instituição e qual é sua natureza?

    Este é o foco que esclarecerá muitas das demais questões discutidas em torno deste assunto. Neste debate que se desenrola há décadas sobre a homossexualidade e a nossa vida cívica, precisamos agora, mais do que nunca, abordar este assunto de modo inteligente e esclarecido. Se não aprendermos a discutir esta questão com coerência e mútuo respeito, divisões – às vezes violentas – continuarão a caracterizar as discussões éticas da nossa sociedade.

    A liberdade de formar uniões estáveis entre homossexuais (casamentos do mesmo sexo) foi sancionada no Brasil em 2013. O casamento entre homossexuais, portanto, já existe em toda a sua legalidade em nosso país. Mesmo assim, o assunto não morre como tema de debate e muitos continuarão sendo afetados diretamente por pessoas que adotam esse estilo de vida – casadas ou não – e pelas continuadas discussões que esse assunto sempre vai gerar. Uma grande diferença é que hoje, após a ratificação do casamento do mesmo sexo, a lei dará respaldo a quem quiser se aproveitar da sanção legal estendendo-a, a fim de tomar como entendida a sanção moral.

    Questionamentos, contestações, provocações e análises sempre serão feitos com respeito ao assunto em questão. Todos nós queremos abordar essa questão com inteligência, porque sentimos que ela tem tudo a ver conosco, mesmo sendo a grande maioria da população heterossexual. A única maneira de conviver com essa realidade em nosso meio é entender o máximo possível sobre a questão da homossexualidade em todas as suas nuances e falar sobre isso com convicção, respeito, boa vontade e muita transparência. Espero que este livro ajude a proporcionar clareza ao leitor sobre os matizes da questão da homossexualidade em nossos dias, especialmente sobre o casamento do mesmo sexo e como este novo arranjo impacta nossa vida cívica.

    Todos nós queremos saber como conviver civilmente com esta nova realidade. Será que um dia a decisão de anular o casamento do mesmo sexo será tomada? Provavelmente não, pelo menos, no futuro imediato. Talvez justamente por esta razão seja mais urgente do que nunca estarmos informados sobre o assunto.

    Para muitas pessoas, as decisões políticas e jurídicas, já sendo tomadas e formalizadas em leis, encerrarão qualquer objeção – pessoal ou institucional – sobre esse novo regime matrimonial. A realidade do casamento do mesmo sexo, agora ratificada como lei, se não intimidar todo e qualquer opositor, no mínimo, tenderá a abafar e restringir o que gostariam de dizer – porque muitos, no fundo, sentem de a legalização do casamento do mesmo sexo é um erro –, e o incômodo, quando o assunto for tratado, os deixará com uma sensação desagradável. E por que essa insatisfação, esse incômodo? Sugiro algo bem simples como resposta: o debate nacional, a mobilização pró-casamento do mesmo sexo e agora a campanha pró-aceitação desse decreto, tudo foi uma grande máquina propagandista e política para impedir a livre discussão sobre o assunto. Rótulos, insultos, pressão e muita coerção, foram todos utilizados para que a aprovação do casamento homossexual fosse ratificada legalmente – e da maneira mais célere possível.

    No fundo, a população brasileira e a população norte-americana têm muito em comum no que se refere à questão do casamento do mesmo sexo: a mesma questão foi determinada oficialmente em 26 de junho de 2015, nos Estados Unidos, quando, na decisão Obergefell vs. Hodges, a legalidade do casamento homossexual se tornou oficial em todos os cinquenta estados. Os dois povos sentem de algo foi forçado goela abaixo. As discussões não foram amplas e honestas. Houve manipulação, coerção e muita ofuscação sobre este assunto. Foi mais uma manipulação judicial do que uma questão decidida por seus méritos intelectuais. Mesmo assim, foram validadas novas leis. Nos dois países, no entanto (e em qualquer outro país, de fato), a responsabilidade cívica continua: abordar o assunto com inteligência e perspicácia.

    Quem sabe? Pode ser que futuras gerações anulem a ratificação e vivam com novos regimes conjugais. Por enquanto, com certeza, o debate não cessará, pois o assunto toca a alma do ser humano especialmente como pessoa sexual: como devemos conceber os mais sagrados relacionamentos humanos?

    O risco de escrever um livro como esse é que seja conhecido exclusivamente como aquele livro que é contra ideologia do mesmo sexo e o casamento do mesmo sexo. Não é isso que quero. Então, por que escrever este livro? Por que arriscar expor-me à maré avassaladora da cultura que parece ter comprado a ideologia pró-homossexualidade somente para oferecer minha perspectiva dessa questão?

    A resposta é simples: o assunto é importante. Vozes dos dois lados da questão concordam que a campanha para promover o casamento do mesmo sexo até a total legalidade e a larga aceitação (senão aprovação) social será vista como uma das revoluções sociais mais significativas da história humana. Talvez isso soe como hipérbole, mas a velocidade com que o casamento do mesmo sexo foi do incogitável até o inevitável é sem precedentes ou paralelos em tempos recentes. Uma mudança dessa magnitude deixa um rastro cultural profundo. À luz do que está em jogo, resolvi que não poderia mais manter-me calado; eu quis fazer minha contribuição à discussão cultural em volta dessa questão.

    A aprovação legal do casamento do mesmo sexo conta agora com o braço forte (até coercivo em alguns casos) do Estado para implementar as medidas a caminho de total aceitação legal e social. Vozes da direita só profetizam catástrofes culturais e sociais. Mesmo que algumas, senão quase todas, de suas previsões fatídicas venham a se concretizar em certos sentidos, pouca coisa vai mudar. A vida se seguirá. Continuaremos aqui no planeta Terra. Acordaremos, sairemos para nosso trabalho ou para a escola, interagiremos com nossos vizinhos (inclusive os LGBT-Lésbica, Gay, Bissexual e Transgênero), discordaremos com nossos vizinhos e viveremos na sociedade que tivermos criado para nós mesmos.

    Então, em certos sentidos, pouca coisa vai mudar. O ser humano, independentemente de determinadas leis serem ratificadas ou não ou de certos comportamentos serem socialmente aprovados ou não, sempre vai analisar e discutir sua concepção da melhor maneira de viver, especialmente no que faz menção ao comportamento sexual. E especialmente no caso de pais e filhos, vamos procurar educar futuras gerações sobre questões de vida, amor, relacionamentos e obrigações cívicas que esses relacionamentos acarretam.

    A responsabilidade cívica do cidadão brasileiro então, não muda somente porque a ratificação do casamento homossexual se efetivou. A questão sempre foi e continuará sendo: como devo entender os assuntos mais importantes da vida? Com que norteamento devo levar minha vida pessoal e minha vida cívica? No Brasil, no Japão, em Atenas antiga, em Tóquio de hoje, em Sodoma e em Gomorra dos tempos patriarquias, em Genebra sob João Calvino, em Jerusalém e Abu Dhabi do século XIX, nas regiões tribais da África e nas matas da Malásia em Buenos Aires e em Amsterdã, como devemos viver com nossa sexualidade e as obrigações relacionais que ela impõe?

    Talvez possa parecer que eu escrevo sobre o casamento do mesmo sexo como se fosse uma questão ainda em aberto. Se o leitor sentir isso, projete então a discussão relevante daquele trecho do livro para uma questão de uma futura oportunidade em que o assunto for tratado. Sempre teremos oportunidade de discutir e analisar nossa sexualidade e os relacionamentos que queremos formar em torno dela e o assunto é relevante demais para desaparecer por completo.

    Basicamente existem somente duas maneiras de abordar este assunto do casamento do mesmo sexo, duas óticas: o ponto de vista conjugal e o ponto de vista revisionista.

    O ponto de vista conjugal há muito tem norteado a lei e também a literatura, a arte, a filosofia, a religião e a prática social da civilização ocidental. Sua delineação básica pode ser fraseada da seguinte maneira: há uma distinta forma de união sexual e um estilo de vida correspondente a ela chamada, historicamente, de casamento, cujos contornos fundamentais não dependem da preferência de indivíduos ou culturas (neste livro, usarei os termos casamento conjugal, casamento natural, casamento tradicional ou casamento heterossexual para distinguir o conceito de casamento tradicional de casamento do mesmo sexo).

    Casamento é, em sua essência, uma união compreensiva de marido e esposa: uma união da vontade (por consentimento mútuo, pelo menos, idealmente) e do corpo (por união sexual); ordenado inerentemente para a procriação de filhos e a ampliação em vida familiar; exigindo compromisso permanente e exclusivo, quaisquer que sejam as preferências pessoais dos dois cônjuges. No âmago do conceito do casamento, está o voto, o juramento pelo qual duas pessoas do sexo oposto se comprometem para transformar as emoções de amor em uma realidade externa, mais duradoura e elevada do que a transitoriedade da emoção humana. Esta realidade externa se evidencia em uma união dos dois cônjuges, união reconhecida pela sociedade com os dois sendo conhecidos como marido e esposa.

    Em todos os tempos e em quase todas as culturas, o casamento tem sido entendido como uma realidade pessoal e social, buscado e valorizado por indivíduos, casais e sociedades inteiras, mas ele também é uma realidade moral: um bem humano com uma estrutura objetiva, a qual é inerentemente boa para ser vivenciada. A visão conjugal do casamento é de uma união corporal e unitiva, que também é uma união emocional e espiritual, uma união distinta pela amplitude de seu compromisso, o qual é efusivo ou seja, o compromisso conjugal é um amor fluindo do centro da pessoa para fora, para abranger a vida familiar, a fidelidade permanente e, mais adiante, uma nova geração iniciada pela união sexual dos dois cônjuges. No casamento entendido desta maneira, o mundo afirma a esperança e celebra sua renovação duradoura.

    Um segundo ponto de vista sobre o casamento, o modelo revisionista, é o contrário do ponto de vista conjugal. O modelo revisionista tem informado à política que anima as reformas conjugais das últimas décadas. É uma visão do casamento como, em sua essência, uma união amorosa e emocional, uma união distinta de quaisquer outras pela intensidade ou pelo afeto – uma união que não aponta necessariamente para uma realidade além dos próprios parceiros, uma união em que a fidelidade em última análise, é sujeita aos desejos deles.

    Em vez de abraçar o modelo conjugal ou seja, o modelo mais tradicional ou institucional, os revisionistas migram hoje para o modelo alma gêmea. Segundo esse modelo, casamento é visto primariamente como um veículo de associação que gira em torno do casal, promovendo como alvo e propósito o crescimento pessoal, a intimidade emocional e o consumo compartilhado de bens e que depende da felicidade dos dois cônjuges para sua sobrevivência. No casamento assim entendido, os parceiros buscam satisfação emocional e permanecem na união enquanto vivem a satisfação que buscam. Segundo esse ponto de vista, não há nada de especial sobre atos sexuais – a não ser a intensidade do prazer e a sensação que produzem – e não há nenhuma norma distintamente ética aplicável a esses atos em si, a não ser a norma que o casal diz que suas relações irão ter.

    O Brasil depara com muitos transtornos morais e guerras culturais em diversas frentes, mas poucas questões mexem tão visceralmente conosco quanto o assunto do casamento do mesmo sexo. Muitos que se tornaram calejados e impermeáveis quanto a um variado leque de práticas que ofendem a moralidade tradicional (música, modas estilos de vida, palavreado etc.) ainda sentem a pressão sanguínea subir quando o assunto da homossexualidade é mencionado. Talvez a razão seja que, como David Horowitz explica:

    A revolução homossexual é então, o projeto subversivo final: ela proclama a morte não somente do Deus da Sociedade, mas também da Lei da Natureza – a própria ideia de uma realidade além da vontade humana. Para esses revolucionários, nem a biologia limita o conceito do possível ou demarca a esperança humana. Sua é a suprema fantasia nietzschiana: um mundo em que a humanidade é Deus. Neste novo admirável horizonte, a humanidade realizará seu potencial como uma espécie autogeradora, capaz de desafiar sua própria gravidade sexual.¹

    A defesa do casamento conjugal que faço neste volume apresenta-o como uma instituição enaltecida e enaltecedora, uma instituição que, se for mudada como proposta pelas vozes ativistas homossexuais, ameaça desconfigurar e, consequentemente, destruir a família nuclear como a conhecemos. Todo o bem que ela proporciona à sociedade está em jogo neste debate.

    1

    Casamento: um bem para a sociedade

    A instituição do casamento entendido como a união duradoura de homem e mulher, com a responsabilidade de criar os filhos gerados de sua união sexual, é a pedra angular da civilização. Não somente o casamento providencia estabilidade para a unidade familiar, a qual educa os jovens que, à sua vez, crescerão para repor seus pais, como também ele apoia outras instituições cívicas da sociedade e a ordem política geral. Dada sua natureza indispensável então, imagina-se que ele seja zelosamente protegido pelo Estado e por outras instituições que dependem também do casamento por sua vitalidade e sustento a longo prazo. O fato de que o casamento está sendo minado por aquelas mesmas instituições que dependem dele é indicativo do ponto ao qual as sociedades industriais avançadas se têm esquecido dos fundamentos de sua saúde e sucesso. À medida que este cenário se prolongar, serão sempre os filhos que em todo seu crescimento até a maioridade, sofrerão mais.

    Casamento conjugal também tem uma tarefa cívica e pública. De fato, a própria civilização depende de casamentos fortes do modelo conjugal. Como disse Maggie Gallagher: Sexo cria bebês, a sociedade precisa de bebês e crianças precisam de mães e pais. Ela desenvolve esta ideia: A tarefa crítica pública ou ‘civil’ do casamento é regular os relacionamentos sexuais entre homens e mulheres a fim de reduzir a probabilidade de que filhos (e suas mães e a sociedade) enfrentem o ônus de ter de viver sem pai e aumentar a probabilidade de que a próxima geração seja criada por suas mães e seus pais em uma família, onde os dois pais sejam comprometidos um com o outro e com seus filhos.¹

    O casamento, como fenômeno humano, se baseia em três verdades: a verdade antropológica de que homens e mulheres são complementares, o fato biológico de que a reprodução (i.e. a perpetuação da raça humana) depende da união sexual de um homem com uma mulher e da realidade social de que filhos merecem uma mãe e um pai (idealmente, o privilégio de serem criados por seus genitores biológicos) e crescem melhor quando têm os dois pais residindo em harmonia sob o mesmo teto. Sem dúvida, há, neste modelo de casamento conjugal, tanto a ênfase positiva como a ênfase negativa. É a ênfase negativa, porém, (reduzir a probabilidade de que filhos […] enfrentem o ônus de ter de viver sem pai) que frisa uma de quase fatal certeza: sem os dois genitores morando no mesmo local dos filhos e vivendo em harmonia um com o outro, a criação de filhos é mais onerosa em quase todos os sentidos. Gallagher corretamente salienta o casamento como sendo uma boa política de entre outras coisas, controle de danos ou limitação de avarias; os danos e as avarias, neste caso, sendo todo o trabalho de criar filhos sem a presença paterna.

    Visto de outro ângulo, podemos dizer que, quando nasce um bebê, há sempre uma mãe por perto. Normalmente ela está no mesmo quarto. Este é um fato de biologia. A pergunta é se o pai estará por perto e, se estiver, por quanto tempo. O casamento aumenta a probabilidade de que o pai do bebê seja comprometido em relação duradoura com a mãe do bebê e que os dois, jurados um ao outro, se unam para criar seu filho e quaisquer outros que tiverem. Desta maneira, o casamento conecta pessoas e bens que, de outro modo, tendem a se fragmentar.

    Neste livro, procuro articular a coerência e as vantagens do ponto de vista conjugal do casamento – tanto para os parceiros e seus filhos quanto para a sociedade geral. Uma das variações do casamento revisionista é o casamento de pessoas do mesmo sexo (escrito pelo resto do livro como casamento homossexual, casamento gay ou casamento do mesmo sexo), obviamente um dos ataques mais diretos contra o conceito de casamento conjugal. O que me sustenta na defesa do casamento heterossexual são cinco convicções que tenho a respeito da homossexualidade. Primeiro, a homossexualidade é uma desordem no sentido de ser um desvio do uso natural dos nossos órgãos genitais e, portanto, uma aflição para aqueles que dirigem sua atenção sexual nesta direção para esta vazão (quer percebam esta desordem quer não). Homossexualidade é uma desordem, porque, anatomicamente falando, nossos corpos não foram desenhados para atos homossexuais e os praticar, por exemplo, não se perpetua a raça humana. Segundo, as causas da homossexualidade são complexas, mas não há nenhuma análise científica sobre elas que a demonstre ser genética ou biologicamente determinada. Terceiro, a experiência prática de muitos terapeutas e grupos de apoio, junto com testemunhos gravados, bem como livros e outra literatura de ex-homossexuais, sugere que a inclinação homossexual pode ser revertida ou seja, como será discutido mais adiante: a homossexualidade não é genética ou irreversível. Quarto, mesmo que fosse aceita ou comprovada como real a orientação homossexual (e hipoteticamente então, considerada inalterável), praticar atividade homossexual não é a resposta correta para quem sente atração por uma pessoa do mesmo sexo. Isto é verdade, porque, como explicarei mais à frente, atos homossexuais são antiteleológicos (de telos: ‘alvo, finalidade, propósito’ – significando, portanto, que seus atos não seguem o modelo do fim reprodutivo embutido em seus órgãos) e, por isso são moralmente errados e também porque – como é o caso, muitas vezes, com erros morais – seguir a ilusão inerente nesses atos não conduz à felicidade humana. Além disso, como é indiscutível, a prática de atos homossexuais é um enorme perigo para a saúde física: uma outra consequência da natureza antiteleológica dos seus atos. E a quinta convicção que me motiva a escrever este livro é que a homossexualidade, com certeza, é uma questão de interesse público, pois as atitudes em relação a ela são intimamente ligadas a convicções importantes sobre a natureza do casamento, a família e a sexualidade.

    Dizer que atos homossexuais são moralmente errados é uma afirmação escandalosa, algo que, nos dias de linguagem PC (politicamente correta), soa como arrogância. É uma afronta às nossas sensibilidades modernas, que ditam que nunca se deve fazer distinções morais – a não ser contra aqueles que fazem distinções morais. O que me leva a abordar a prática genital homossexual como moralmente errada são questionamentos sérios que o movimento homossexual, com seu clamor de aceitação e tolerância e não julgamento, não atende. Com certeza, a longevidade dramaticamente reduzida de homossexuais já desafia a naturalidade da prática genital homossexual. De fato, acredito que há, pelo menos, três razões por que os atos homossexuais violam a lei moral, a conscientização moral que todo ser humano possui de que certas predisposições (e atividades) são boas e outras são más: (1) a anatomia natural do corpo, incluindo a funcionalidade dos órgãos reprodutivos, rejeita a antinaturalidade e infecundidade intrínseca de atos homossexuais; (2) as consequências médicas de atos homossexuais indicam que o próprio comportamento em si é egoísta e danoso em vez de amoroso e saudável; e (3) a evidência de culpa pessoal experimentada por aqueles que praticam atos homossexuais. São estas três razões, provenientes da Lei Moral, junto com aquelas de credos morais escritos, que explicam a condenação universal de atos homossexuais ao longo da história em textos sagrados de todas as religiões e nos tratados mais respeitados de séria reflexão sobre a vida moral e cívica. Examinarei estas três razões e outras, nos capítulos a seguir.

    O que é então, o âmago do meu argumento contra a redefinição do casamento para incluir o casamento do mesmo sexo? Este âmago consiste em duas objeções a essa redefinição. A primeira concerne ao respeito que temos de ter com a integridade linguística, a honestidade e a transparência entre palavras e conceitos, a concepção de um idioma ou língua como meio de comunicação. Algo precioso – o nexo entre determinada realidade e as palavras que apontam para esta realidade – está em jogo no debate sobre casamento do mesmo sexo. Não podemos tomar liberdades com entidades (realidades) e suas representações verbais (palavras); tem de haver coerência entre uma ideia ou conceito e sua representação verbal. Só o caos reinará se este nexo não for mantido.

    De fato, já existe uma palavra para descrever o processo e o resultado da distorção deliberada de palavras: verbicídio – a distorção deliberada de palavras e de seus significados. Vivemos em uma era de altos perigos de novidades léxicas arbitrárias. De Aristóteles até hoje, nós do Ocidente tomamos a língua como representativa de entidades fixas cuja natureza buscamos como quem busca a análise de uma pedra ou de uma parte do corpo humano. Sem uma invariável integridade linguística por trás da nossa comunicação, tanto escrita como oral, é impossível imaginar progresso em qualquer área de aplicação intelectual humana. E estes deslocamentos sísmicos em relação à integridade linguística têm sido mais sentidos na área do lar e da vida familiar. Quando tentamos alterar conceitos nesta esfera cultural, fazemos isso sem investigar as consequências dos velhos significados à luz dos novos significados. Esta miopia linguística já está sendo desastrosa. Aqueles que duvidam que caos e desastres culturais possam suceder do abuso cruel e sistemático da palavra casamento, por exemplo, deveriam considerar as advertências do filósofo William Barrett contra flexibilidade semântica infinita, Se você abandona a noção de substância – que existem coisas definidas e que a língua, pelo menos em alguns dos seus usos, pode e de fato se refere claramente a elas – então você começa a boiar em um mar de indefinição, onde vale qualquer coisa. Possuir significados requer um certo grau de fixidez – de identidade persistente nos objetos do nosso discurso.²

    As palavras importam

    Agora, vamos levar para o assunto deste livro esta mesma preocupação legítima com fixidez linguística. Existe uma inerente conexão entre casamento e procriação. Se esta conexão existe, excluir do casamento casais do mesmo sexo não é necessariamente um ato de ódio ou preconceito, da mesma maneira que não seria odioso ou preconceituoso excluir do casamento as categorias de colegas de quarto de uma república universitária ou irmãs biológicas idosas. Estes são excluídos, porque seu relacionamento, embora sinceramente amoroso e carinhoso, simplesmente não é casamento. Casamento possui uma natureza fixa e, por definição, é algo que somente um homem e uma mulher podem formar.

    Incluir uniões do mesmo sexo talvez pareça ser um simples pormenor legal, mas permitir isso codifica em leis uma visão diferente do casamento. Relacionamentos do mesmo sexo, quer você acredite serem estes relacionamentos morais quer imorais, não levam à procriação. Se, de fato, o casamento tem uma conexão com a procriação, incluir uniões do mesmo sexo como sendo um tipo de casamento altera a definição do casamento para todos. Este exemplo de Maggie Gallagher é útil:

    Não existe nenhuma razão porque não possamos – ou a lei não possa – redefinir gato para significar animal peludo doméstico com quatro pernas e um rabo. Definir gato desta maneira apresenta certas vantagens. Ela revela as profundas semelhanças, por exemplo entre aquelas velhas mas opostas classificações: cachorro e gato, sem mencionar gerbo, coelho e porquinho da Índia.

    O que se perde quando se define gato desta maneira? Bem, para começar, há uma coisinha: não temos mais uma palavra que signifique gato. Se quisermos falar um com o outro sobre gatos, teremos que ou inventar um novo termo e esperar que ainda carregue a plena valência da palavra velha (rica com associações históricas e conotações simbólicas) ou talvez tenhamos que ficar sem uma palavra para gato. É perfeitamente possível prever, sem mapear todos os mecanismos específicos, como se tornará mais difícil comunicar uma ideia daquilo para o qual não temos mais uma palavra.³

    Se agora cada animal peludo doméstico com quatro pernas e um rabo é para ser chamado de gato, o que devemos chamar as coisas que, antigamente, chamávamos de gato? Como poderíamos distinguir uma da outra a multiplicidade de criaturas quadrúpedes, mesmo de pequeno porte?

    Da mesma maneira estender casamento para casais do mesmo sexo nos deixa sem uma palavra para aquele relacionamento único que sempre foi chamado de casamento. Palavras são uma das maneiras pelas quais entendemos a realidade, e uma falta de clareza tolhe nossa compreensão de coisas e ideias vitais. Pondere o debate sobre aborto por exemplo. São oponentes do aborto considerados pró-vida ou anti-escolha (ou anti-mulher ou antissaúde reprodutiva ou fanáticos religiosos)? São proponentes do aborto pró-escolha ou pró-aborto (ou anti-vida ou pró-infanticídio ou secularistas desalmados)? O aborto é uma questão de um plano de saúde, a eliminação de tecido, ou a eliminação de uma vida inocente? As palavras importam.

    Apesar das nossas palavras, a realidade não mudou na questão do casamento: sexo ainda cria bebês, a sociedade ainda precisa de bebês, e bebês ainda merecem uma mãe e um pai. Precisamos de uma palavra para o relacionamento único que melhor maneja estas coisas em uma sociedade. Expandir casamento para casais do mesmo sexo nos deixa sem essa palavra.

    E não é só isso. Especialmente no caso de casamento, uma redefinição leva a outras redefinições. Gallagher explica:

    Instituições como o casamento são criadas, sustentadas e transmitidas por palavras e as imagens, símbolos e sentimentos que cercam palavras. Uma coisa, com certeza, o casamento que o mesmo sexo faz é deslocar certos entendimentos básicos e públicos sobre o casamentos: tais entendimentos como, por exemplo, que ele tem algo a ver com unir macho com fêmea, homens com mulheres, maridos com esposas, mães com pais. Marido não mais implicará esposa. Mãe não mais implicará pai.

    O que é o casamento então, senão a instituição que ele sempre foi e tem sido? O que o define, senão características essenciais como permanência, exclusividade e procriação? Eviscerar estas qualidades inerentes do casamento nos sobra o quê? A coisa que sobra é o que podemos chamar de o ponto de vista revisionista. E a confusão que começa a permear o conceito de casamento não se limitará a isso. Ofuscação e confusão caracterizarão muitas outras áreas da vida também. Uma sociedade que aplica a palavra casamento a todos os tipos de relacionamentos sociais está se tornando uma sociedade sem casamento, assim como uma sociedade que aplica a palavra Deus para todas as diversas e concebíveis entidades espirituais é uma sociedade caminhando a passos largos em direção ao niilismo.

    Os perpetradores deste verbicídio, com certeza, incluem os casais homossexuais que solicitam aos tribunais o direito de se casar. Um motivo desses casais é transparente: eles querem lançar mão da legitimidade cultural atrelada à palavra casamento. Esses casais professam um profundo desejo pelo selo de aprovação social que vem com a palavra. No entanto, por baixo do desejo compreensível dos homossexuais de legitimar culturalmente seus próprios relacionamentos, há um segundo motivo: homossexuais querem solapar o status moralmente normativo de casamentos heterossexuais. Os próprios ativistas homossexuais têm desprezado a possibilidade de suas uniões serem vistas como meras imitações do casamento heterossexual: eles querem que o casamento do mesmo sexo desestabeleça a definição tradicional de casamento por romper o elo entre sexo (i.e. gênero) e a união matrimonial. Assim eles valorizam a cerimônia homossexual de casamento em parte, por causa da desorientadora consternação que ela cria nas pessoas.

    O curioso e triste, é que os ativistas pró-homossexualidade fazem suas alterações linguísticas às claras, à frente de todos nós escancaradamente em ambientes (mídia, salas de aula em universidades, tribunais) em que este tipo de embuste verbal deveria ser prontamente desmascarado e desacreditado por ser o que é: uma afronta educacional, uma manobra verbal indigna de fazer parte de um período e ambiente de reflexão séria. Ao contrário de anunciantes, publicitários e propagandistas dependem de um público confuso para que matem uma palavra ou um conceito aos poucos, por inflingir um milhão de feridinhas lexicais. Os juristas agora estão tentando matar a palavra casamento e esperam nada do público geral a não ser bruta submissão. Como os sacerdotes astecas que viam as massas lhes assistindo em estupefação reverente enquanto rasgavam os corações das vítimas sacrificiais, os sumo-sacerdotes do verbicídio jurídico atual esperam que o povo assista com passividade deferente à evisceração da palavra casamento nos seus altares jurídicos para avançar sua visão divina de uma sociedade utopiana, uma sexotopia.

    Então, toda esta escamoteação verbal requer um freio bem forte aplicado a ela para que a verdade possa ter uma chance de ser detectada – e recuperada. Algo da integridade das palavras tem de ser honrada e salva. Ou, vista minha primeira objeção de outro ângulo, pergunto-me: se já estamos errando um conceito tão óbvio como a Natureza e a estrutura do casamento natural, em quais outras áreas a comunicação entre seres humanos será igualmente dificultada? Algo do respeito indispensável pela integridade das palavras está desaparecendo neste debate sobre a homossexualidade. Vemo-nos tomando liberdades com o significado das palavras que jamais tomaríamos com outras palavras em outros contextos, se esta ou aquela discussão em outra área girasse em torno de algo menos inflamável. Pior ainda, as palavras e os conceitos relacionados ao casamento, até recentemente, desfrutavam de um significado e de uma bagagem incontestáveis, representavam realidades que ninguém contestava. Veja, por exemplo, como a integridade linguística tange ao assunto do casamento homossexual. O casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, como conceito, é uma impossibilidade lógica, pois o erro já começa com a imprecisão linguística do que estamos querendo analisar e discutir. Duas pessoas do mesmo sexo não podem se unir no tipo de união sexual que é o casamento conjugal, pois elas já são o mesmo sexo, e duas coisas (praticamente) idênticas não se unem. Em termos bíblicos esta união sexual do casamento conjugal é descrita como os dois sexos se tornando uma só carne (Gn 2.24); no contexto sexual elas se unem em um encaixe natural. Então, a área da minha primeira contestação da plataforma homossexual gira em torno de sua liberdade indevidamente tomada com respeito à linguagem.

    Quando tomamos liberdades com palavras e conceitos, errando verdades óbvias (como, por exemplo, o casamento sendo a união sexual de sexos opostos), a própria estrutura da linguagem estremece e ela deixa de servir como instrumento unitivo para a humanidade, como um veículo de significação e conexão entre uma mente racional e outra. Os significados representativos das palavras não terão nada objetivo por trás delas como referência. Em vez disso, seu peso será totalmente subjetivo; as palavras terão os significados que queremos que tenham. Vemos isso também com, por exemplo, a palavra tolerância. Tolerância, pelo menos idealmente, é uma virtude. Tolerância significa que podemos conviver com algo que não é o ideal, mas optamos por conviver com uma imperfeição com certa educação e gentileza da nossa parte. Tolerância implica uma não-concordância; se os dois lados concordassem, não haveria o que tolerar. Podemos dizer, por exemplo, não gosto da maneira brusca dele, mas tolero seu jeito, porque, quando ele analisa um problema ele fala com muita percepção. Ou, pode-se dizer, esta sessão tolera 10 minutos de atraso. Após 10 minutos, o chefe chamará atenção. Pagar o estacionamento em um shopping sempre inclui uma tolerância de 10 ou 15 minutos até sair do estabelecimento. Mais uma vez, a conotação original de tolerância é, de certa maneira, louvável.

    No contexto hiperpolitizado hoje, tolerância, porém, se desvirtuou como conceito para significar que uma afirmação que vá contra determinado consenso nem pode ser questionada nem será ouvida, pelo menos, civil e respeitosamente. O bullying verbal desta ideia acontece quando alguém é chamado de intolerante por até questionar ou por não entrar na aceitação de determinada ideia com celebração e entusiasmo. Qualquer objeção ao pleno leque de atividades associadas à homossexualidade, por exemplo, por mais coerente e bem-fundamentada que seja a objeção, é considerada pelo grupo controlador da discussão como evidência de intolerância. O curioso é que o intolerante, neste caso, é a pessoa que nem permite dúvidas ou questionamentos. Então, o contestador é chamado de intolerante e a discussão se encerra. Afinal, é fútil tentar arrazoar com alguém intolerante, não é? É assim que os proponentes pró-homossexualidade conduzem quase todos os debates – se, de fato, permitem debate. É nada menos do que bullying verbal, e esta coerção linguística caracteriza os liberais quando um item de sua plataforma é questionado. Agindo desta maneira peremptória, a esquerda está polemizando, dificultando – talvez até impossibilitando – diálogo racional humano sobre qualquer ideia abstrata, especialmente ideias que contrariam itens na agenda deles. São eles e não os conservadores, que estão dificultando diálogos racionais sobre questões vitais de nossa vida social. São eles os intolerantes. Temos de respeitar a definição e a natureza inerente daquilo que queremos discutir. Sem respeito, diálogo e interação e, de fato, qualquer outro empreendimento humano em que a linguagem é vital, será dificultada, senão impossibilitada, a discussão sobre o assunto. Este ponto será amplamente desenvolvido ao longo do livro e é justamente esta liberdade com palavras e ideias que o movimento de total aceitação do casamento do mesmo sexo está tomando.

    Além disso, a segunda faceta do âmago do meu argumento é que o casamento do mesmo sexo, como conceito, gera confusão e, consequentemente, não é bom para a humanidade. O casamento, redefinido para incluir atos genitais homossexuais, gera confusão sobre a natureza heterossexual do casamento e os legítimos bens que o casamento conjugal oferece ao casal e à sociedade. Gerar esta confusão faz mal à sociedade, pois é uma confusão que não faz sentido, porque entra em choque com tudo que nossa anatomia, nossa psicologia e nosso intelecto nos dizem. As pessoas começam a questionar obviedades e ficam confusas sem motivo. Quando a lei civil define a casamento como incluindo parceiros do mesmo sexo, muitos vêm a entender erroneamente a natureza e a estrutura do casamento. Não veem o casamento como essencialmente compreensivo e, como tal, ordenado (entre outras coisas) para procriação e para a vida familiar – mas veem o casamento como essencialmente uma união íntima, afetiva e principalmente emocional, contraída para a satisfação dos parceiros, sem vistas para algo além deles. Por razões a serem explicadas, as pessoas tenderão a não compreender ou respeitar as normas objetivas da permanência e exclusividade sexuais que sempre formaram o casamento heterossexual. Nem, no fim das coisas, poderão entender por que os termos do casamento não deverão depender totalmente da vontade dos parceiros, sejam dois sejam dez em número, como nos termos de amizades e contratos.

    De fato então, já no início deste estudo, podemos ver um dos itens problemáticos da agenda homossexual: por que somente casais homossexuais podem desfrutar dos privilégios previamente reservados para o casamento natural? Por que outras pessoas não podem ser inclusas – pares de irmãos ou irmãs, amigos ou quaisquer pessoas que convivem sob o mesmo teto por certo tempo ou durante sua vida inteira? Por que o mesmo status de casamento não pode ser dado a relacionamentos bissexuais, transsexuais, polígamos, poliandros ou poliamorosos? Ainda mais, deduzindo com base no ponto de vista revisionista, o que torna o relacionamento homossexual de duas pessoas do mesmo sexo tão especial que somente ele deve ser o equivalente do casamento conjugal? Isto é, à medida que o propósito do casamento não for compreendido, será cada vez mais difícil entender a razão por trás de suas normas e por que urgir que os outros as acatem. E esta confusão geral na sociedade, além de tornar arbitrárias quaisquer restrições restantes pertencentes ao casamento conjugal, danificará os muitos bens culturais e políticos que levaram o Estado a se envolver com o casamento. Esta confusão desinclinará as pessoas a acreditarem no bem positivo que é o casamento tradicional e nas muitas vantagens e benefícios que o casamento heterossexual oferece aos parceiros e à sociedade.

    Na verdade, não há nenhuma razão convincente para limitar o casamento a homossexuais. Uma vez afrouxado o reconhecimento tradicional governamental da união monógama (exclusiva) do homem e uma mulher, é somente uma questão de tempo até pessoas em outros relacionamentos exigirem igualdade com suas outras parcerias homossexuais e bígamas e, a seu tempo, com outros arranjos a serem criados. O reconhecimento governamental desses arranjos fatalmente será reconhecido e imposto também à população pelos tribunais. Fazer objeção a qualquer outro arranjo de uniões de pessoas em consentimento será tratado como discriminação. Então, faço uma breve lista para orientar o leitor sobre o tom e a direção dos argumentos pró-casamento heterossexual a seguir. O casamento heterossexual deve ser protegido pela lei, porque oferece os seguintes benefícios:

    1. Verdadeira satisfação conjugal: ninguém delibera ou age em um vácuo. Todos nós nos orientamos em parte, por diversas dicas culturais, muitas das quais acabam sendo codificadas em leis. Para formar um verdadeiro casamento, a pessoa tem de optar por ele, livremente. E para optar por ele, deve-se ter uma ideia do que é. O ponto de vista revisionista faz mal às pessoas (especialmente às futuras gerações) por distorcer a ideia do que é um casamento. A posição revisionista ensina que o casamento gira em torno de uma união emocional e de coabitação, sem quaisquer conexões inerentes à união procriativa ou à vida familiar. À medida que as pessoas internalizam este ponto de vista, sua capacidade de realizar a verdadeira união conjugal diminui. Seria como, no atletismo, baixar a barra de salto a uma altura que pudesse ser superada por qualquer pessoa. Neste caso a modalidade em si perderia qualquer conceito de desafio, de mérito ou de real competição esportiva. Qualquer pessoa seria capaz de transpor a barra, fosse atleta ou não. Esta diminuição – melhor: desvalorização – do casamento natural é um mal perpetrado contra a sociedade, pois o casamento conjugal é bom em si mesmo (é uma força orientadora e centralizadora, como explicarei em seguida) e, como tal, deveria ser valorizado e visto como um legítimo alvo a almejar.

    Permita-me elaborar mais sobre este ponto (i.e. sobre casamento sendo um alvo a desejar) e uso aqui minha experiência pessoal como exemplo. Desde cedo, como todos os outros rapazes, percebi o eros da minha natureza sexual, um rapaz em pleno crescimento em vias de ser homem. Mesmo com toda a energia sexual começando a pulsar em mim (refiro-me agora aos meus anos de ginásio até a plena maturidade) eu sabia instintivamente que ela constituía um poder considerável, que ela tinha que ser canalizada (Domada? Nem pensar!) e que eu não tinha maturidade para canalizá-la corretamente, pelo menos, sem orientação efetiva. Tudo isso eu sabia ou melhor: eu intuía. Mesmo percebendo a natureza altiva e imponente daquela energia dentro de mim, eu sabia que sua satisfação tinha tudo a ver com um relacionamento com uma mulher (ou seja, com o ser humano quer futuramente seria o florescimento daquelas meninas que para mim eram tão bonitas, quase como bonecas de porcelana), com o sexo oposto (e, mesmo jovem, por mais atraído às moças à minha volta que eu estivesse, eu sabia que não era para ter relações sexuais com elas, pelo menos não à época – elas e eu sendo jovens e sem condições de iniciar qualquer vida adulta). Eu sabia também que este relacionamento desejável com uma mulher um dia não podia ser um relacionamento qualquer; este tinha de ser um relacionamento com compromisso, um voto de dirigir meu eros a ela e somente a ela. O fato de saber que embora pulsando de energia eu não tinha os recursos ou a maturidade para me casar, de fato, motivava-me a amadurecer e a criar as condições para um dia sustentar uma esposa como cônjuge e futura mãe. E, um pouco mais adiante, ainda no auge da pulsação sexual juvenil, eu descobriria que o prazer da masturbação era só um substituto; esse ato nem chegava perto de satisfazer – nem no apogeu da exuberância daquele prazer – as mais ricas conotações sugeridas por aquela imperiosa energia sexual. E eu sabia também que a legítima satisfação seria o ato conjugal, com alguém do sexo oposto, no papel de minha esposa (e não, por mais que fosse forte a atração pela pornografia, com alguém que eu não conhecesse e não pretendesse que fosse uma amiga íntima, uma futura parceira).

    É claro, teria sido impossível ter chegado sozinho a articular estas reflexões ainda como moço. Porém, tive a boa fortuna de ter vivido em uma época em que a sociedade – local e geral – reforçava essas pressuposições, mesmo tacitamente. Portanto eu assimilei este ponto de vista sobre o casamento, quase por osmose, e elas (minhas pressuposições) faziam sentido para mim, desde que me recordo como pessoa; ou seja, mesmo jovem eu entendia como o casamento conjugal possuía uma estrutura estabelecida e fixa e a estrutura unia pessoas do sexo oposto. Em outras palavras eu intuía bem cedo que o relacionamento que me daria direito às relações sexuais teria de ser um relacionamento importante e sério, algo que somente adultos podiam assumir. E este relacionamento teria de ser como aquele dos meus pais e de outros pais adultos à minha volta: um em que havia o potencial de gerar filhos, a prole dos dois cônjuges. Este fato, o do potencial reprodutivo do casamento conjugal, impunha mais seriedade nos meus pensamentos sobre uma futura união sexual e conjugal como uma mulher. Até poder assumir esses compromissos, no entanto, eu é que tinha de crescer e amadurecer. Embora a energia sexual imperasse em e sobre mim, a estrutura do casamento (um marido casado com sua esposa: dois adultos maduros, cada um jurando ao outro e praticando exclusividade sexual) – mesmo para mim, um jovem em plena estupefação da energia sexual que eu tinha descoberto – fazia sentido, pois era racional e coerente e, portanto, era um ideal ao qual eu queria um dia fazer jus. Em outras palavras eu queria um dia ser digno do casamento conjugal.

    Considere a verdadeira e apropriada natureza da sexualidade. Fundamentalmente, a sexualidade pode expressar a união mais afetiva, sincera e profunda entre um homem e uma mulher. Impelidas e capacitadas por amor mútuo, a ponto de jurar devoção e compromisso pela vida inteira, duas pessoas se entregam a uma atividade, a uma união corporal, que transcende a seus poderes conscientes, cada cônjuge indo além dos limites do ego para se abrir ao outro. Os dois experimentam tudo isso simultaneamente, tanto como revelação de sua singularidade como indivíduos como também a singularidade individual do outro como a natureza do sexo oposto. Desta maneira, uma nova pessoa pode vir a existir – um filho, o fruto físico desta união, o qual é recebido como maravilha pelo pai e pela mãe, sendo esta nova criação um tipo de personificação do seu amor um pelo outro. Para pessoas religiosas esta pode ser uma experiência profunda de Deus; ou seja, o fato de os dois serem tomados desta maneira por algo maior, por algo que transcende o ego individual, projetando as duas pessoas, de certa maneira, ao futuro, por meio de seus descendentes. Fidelidade à pessoa com quem convive, a felicidade de mútua devoção e intimidade pessoal é uma precondição e exigência incondicional da alma para quem entende a santidade e o mistério do matrimônio.

    Como em qualquer outra área, no entanto existem abusos que podem ser perpetrados contra o casamento conjugal. Por exemplo, a pornografia isola funcionalidade sexual da pessoa da totalidade de sua percam alidade, assim tornando a sexualidade anônima. Aqueles que a usam para reduzir o outro a um objeto de luxúria são, muitas vezes, levados cada vez mais à degradação, à humilhação, à violência, à perversão e à obsessão. Com o tempo, todos os limites podem desaparecer – até jovens e crianças podem ser vitimizados neste inferno de avareza sexual desenfreada.

    Em um relacionamento de amor entre um homem e uma mulher, no entanto, a tendência masculina para a agressão, hormonalmente condicionada, pode ser pacificada pela receptividade feminina. Isso requer mútua devoção e respeito pelo sexo oposto como para um você especial. Na cultura de hoje, no entanto, o feminismo provoca as mulheres a competir com homens pelo poder e vilifica a força masculina como incorrigivelmente bruta, insensível e abusiva. De fato, o coro unânime feminista radical é que a força masculina em todos os possíveis e concebíveis sentidos e dimensões, é algo errado, um defeito de fábrica, por assim dizer. Os homens em sua natureza e constituição, são erros biológicos. Segundo as feministas mais extremadas, não há concepção alguma em que a masculinidade possa ser entendida como algo bom; ela sempre é sinistra, ameaçadora e, por isso, merecedora de todos os esforços sociais de podá-la eviscerá-la, senão eliminá-la por completo. Para muitas feministas, já que isso parece ser impossível então, é hora de as mulheres procurarem seu lado violento também, para fazer páreo aos homens em todas as áreas possíveis. Todas estas percepções feministas jogam a complementaridade de força e receptividade – de poder e sensibilidade – para fora dos trilhos. É difícil criar uma atmosfera de frutuosa convivência entre homens e mulheres quando uma característica inerente em um dos sexos é encarada como defeito de fábrica.

    Uma cultura feminista cria mulheres que não precisam de homens, mulheres que, se querem ter um filho, muitas vezes compram a semente de um banco de esperma. Os homens não mais veem uma razão para usar sua força maior para proteger as mulheres ou empregar esta energia responsável e energicamente como pais, provedores e protetores. Cada um perde o outro – o homem perde a mulher e a mulher perde o homem. E os filhos perdem seu pai e sua mãe.

    Além do antagonismo que o feminismo fomenta contra bons relacionamentos entre os sexos, toda a possível saúde de um casamento heterossexual está em jogo hoje também com a distorção provocada pela prioridade dada a relações homossexuais. O casamento redefinido como é hoje, exaltando a união homossexual ao mesmo patamar da união heterossexual, tira da sequência rapaz/garoto/ solteiro/marido/pai este alvo de amadurecimento sexual e emocional (friso aqui o sexo masculino, porque, mesmo nos dias de hoje, é ele que, penso eu, deveria empreender e completar a busca pela parceira), o alvo de achar seu complemento no sexo oposto, alguém que não seja um espelho do homem como outro homem (i.e. com a mesma anatomia, impulsos, ritmos; enfim, a mesma personalidade em geral etc.), mas uma criação real e agradavelmente diferente, alguém realmente digno de ser descoberto; alguém sendo, para nós homens, uma revelação. Outro rapaz ou homem não é revelação; já nos conhecemos como homens, como membros do sexo masculino – não haveria em conhecê-lo novidade alguma. Este faux casamento apregoado hoje, no entanto, baixa a barra do pulo ao ponto de não exigir praticamente nada do homem, e este rebaixamento do alvo masculino de amor não é bom; qualquer relacionamento com outro homem pularia com facilidade a barra do salto de altura, tão rente ao chão que está. Para nós, homens, conhecermos outro homem não exige nada no nível de aspiração por outra alma, distinta de nós em fisiologia e psicologia, sendo esta revelação uma personalidade feminina, que, por sua dinâmica, mistério e profundidade, vale a pena conhecer.

    A união heterossexual é imbuída no senso de que a natureza sexual da outra parceira (escrevo como homem) é estranha a nós, um território no qual entramos sem conhecimento prévio e um lugar em que a outra é a única condutora confiável (e não nós mesmos). Esta experiência tem profundas repercussões para nosso senso do perigo e mistério da união sexual, e estas repercussões certamente fazem parte daquilo que as pessoas têm em mente quando encaram o casamento como um sacramento e quando encaram a cerimônia de casamento como um rito de passagem, de sair de uma forma de segurança para entrar em outra. De fato, o casamento tradicional sempre foi um rito de passagem da adolescência para a maioridade, algo muito além de somente uma maneira de endossar e garantir a criação de filhos. Como cerimônia social, o casamento também sempre foi visto como uma dramatização da diferença sexual entre homem e mulher. A perspectiva do casamento ainda por vir mantinha os dois sexos a tal distância que a aproximação um do outro se tornou um salto existencial em vez de um experimento passageiro. A intencionalidade do desejo sexual foi formada pelo alvo do casamento, e este desejo foi dotado da nupcialidade, com o casamento sendo sua meta transformadora. Verdadeiro desejo sexual é um tipo de petição: ele exige reciprocidade, mutualidade e uma rendição conjunta e mútua. Conceber o casamento gay como simplesmente outra opção dentro da instituição matrimonial é ignorar o fato de que uma instituição molda a motivação de quem quer fazer parte dela.

    O casamento conjugal gira em torno da ideia da diferenciação sexual e tudo o que esta diferença significa. Fazer que esta diferença seja acidental em vez de essencial é tornar o casamento irreconhecível, alterá-lo constitucionalmente. Homossexuais querem o reconhecimento de sua alteração do casamento tradicional, porque querem o endosso social e oficial que esta redefinição significaria. Admitir o casamento homossexual é, contudo, esvaziar o casamento natural de todo o seu significado social, como a bênção dos não-nascidos conferida aos vivos. O casamento do mesmo sexo, no entanto, avança a tendência do Estado moderno, que é excluir gerações futuras da ordem legal e é reescrever todos os compromissos como contratos entre somente os vivos.

    É o casamento com uma mulher que tem a melhor chance de civilizar e elevar o homem; isto é, canalizar sua legítima e vital força superior para os mais nobres alvos: de proteção, carinho, direcionamento, provisão, responsabilidade e estabilidade. Uma razão óbvia para isso é que a mulher (justamente por ser uma mulher, um sexo/personalidade diferente dele) civiliza e fascina o homem, por ela ser uma pessoa não igual – ou seja, não idêntica em gênero – a ele e, portanto, um ser que, para entendê-la como outra pessoa (uma criatura feminina) exige do homem um esforço em todos os sentidos bons esforços que levam o rapaz/homem para fora de si mesmo em direção a algo bom, algo representando desprendimento, um conceito de sacrifício e de certa nobreza. O escritor Ben Patterson fraseou bem o desafio diante de quem quer um casamento bom:

    Homem e mulher são bem diferentes um do outro… É uma aventura vitalícia amar e compreender esta mulher com quem eu convivo – tão diferente de mim, contudo, uma comigo. Temos uma sexualidade bem diferente como homem e mulher, nós que já somos um e precisamos nos tornar um! Temos tanto a aprender um do outro que levará uma vida para fazer isso!… A maioria de nós tem muito a aprender e isso é bom – isso nos tira de nós mesmos.

    O modelo em que o homem toma a iniciativa para contrair um casamento conjugal atrai o homem para uma mulher, para a outra criatura da raça humana que é diferente dele, sendo esta diferença misteriosa e cativante, exigindo do homem todos os esforços para apreciar e complementar o sexo oposto. No entanto, quando o casamento homossexual é o modelo ou pelo menos uma alternativa vista socialmente como tão válida quanto a união heterossexual, não existe este limiar social que é o casamento tradicionalmente entendido, um posto social realmente diferenciado, uma posição a almejar legitimamente, uma mira para a qual vale a pena atestar a energia masculina para acertar o alvo, já que, em um relacionamento homossexual, o alvo já seria acertado, por assim dizer, em um tirar de letra. Não há nada novo a descobrir em outro homem sexualmente; neste sentido, já conhecemos (falo como homem) o terreno e a paisagem básica física e emocional. Buscar atrair e ganhar a mulher, no entanto, como sexo oposto, como outra criatura diferente, sempre foi visto como conquista – no bom sentido –, uma legítima preciosidade, um alvo que o homem não consegue acertar facilmente sem sacrifício, desprendimento e esforço.

    Em qualquer sentido sexual ao qual se pode lançar mão para abordar a questão de atração sexual e o futuro casamento, sempre houve esta ideia de esforço, conquista, algo obtido somente com concentração e eliminação do desnecessário. Melinda Selmys capta bem o espírito deste esforço, o esforço que o amor sempre solicita. Em seu livro Sexual Authenticity, Selmys diz que a diferença entre famílias tradicionais e alternativas, muitas vezes, é mal interpretada. Ela escreve, No âmago desta questão é a diferença entre família como algo que escolhemos para satisfazer às nossas necessidades e desejos (pelo conforto, segurança, afeto, etc.) e família como algo no qual somos jogados e que faz cobranças da nossa humanidade moral e integral.⁶ A diferença é que as famílias tradicionais possuem uma qualidade de algo já predeterminado, algo jogado (com a obrigação implícita de ter de aceitar o arranjo que foi jogado), uma característica que famílias alternativas não podem replicar.

    Selmys continua a explicar que, paradoxalmente, as famílias que dão certo não são aquelas que escolhemos, mas aquelas nas quais somos jogados, sem escolha. Somente esta segunda, ela argumenta, oferece a possibilidade do elemento fundamental e essencial que une a família tradicional: amor incondicional.⁷ Escolher um parceiro por uma semelhança de personalidade, uma compatibilidade de temperamento, uma conveniência mútua qualquer pode produzir afeto, lealdade, amizade, mas estas qualidades omitem a possibilidade de um amor que é verdadeiramente incondicional: tão logo desaparece a semelhança ou compatibilidade ou conveniência, o amor – como de esperar – começa a dissipar.⁸

    Famílias tradicionais dão certo por causa da diferença sexual no centro da família: É a união de opostos, a junção de coisas dissimilares, a criação de união da disparidade, que é a essência da família. A família é a escola daquele amor radical por todas as pessoas que é tão essencial ao cristianismo… É um amor que confronta o ‘outro’ – um ‘outro’ tão diferente que os sexos têm sido comparados, ocasionalmente, a espécies alienígenas e que o faz parte de si mesmo, tanto que os dois ‘se tornam uma só carne’ e são forjados a ser uma só família.⁹ Quando são colocados para morarem juntos dois homens ou duas mulheres, eles se entendem bem demais e portanto são inclinados mais a desculpar do que perdoar. Eles nunca experimentam a franca estupefação que inevitavelmente se instala em qualquer relacionamento heterossexual.¹⁰ Durante uma fase mais jovem de sua vida, Selmys foi uma lésbica praticante: Éramos ambas mulheres e nos escolhemos porque parecíamos ser mulheres distintamente compatíveis. Foi o tipo de amizade em que se dá bem imediatamente e se pode conversar horas a fio sobre qualquer coisa ou sobre nada.¹¹ Ela nunca brigou com sua parceira, mas essa ausência de briga significava que nunca foram confrontadas com a necessidade de amar no meio de rancor e semi-ódio.

    Selmys escreve, Uma família é um jardim que produz uma profusão de frutas. Os cônjuges fazem este jardim de si mesmos e perambulam por ele juntos, e somente se deixarem de podá-lo e plantá-lo e regá-lo é que ele volta a ser uma selva. É um trabalho árduo, é claro… Mesmo assim, o solo produz sua colheita e podemos comer.¹² Famílias que escolhemos não são famílias. São um convite para caminharmos pelas selvas diversas das nossas almas distintas. Talvez naquela caminhada cheguemos a especular sobre o tipo de jardim que gostaríamos de construir e talvez, de vez em quando, esbarremos em uma pereira ou em uma amoreira profusa de amoras e possamos nos sentar para delas tirarmos um lanche. Um prado tem suas virtudes, mas não é um jardim e chamá-lo de um jardim constitui um abuso de linguagem e esperar que ele produza o mesmo tipo de fruta é arriscar desapontamento e fome¹³.

    2. Bem-estar conjugal: o casamento heterossexual tende a produzir nos cônjuges mais saúde, felicidade e riqueza do que se não fossem casados. O que reúne tudo isso entretanto, como um pacote de benefícios, é o casamento heterossexual especialmente por meio de suas normas de permanência, exclusividade, e orientação à vida familiar. À medida que a redefinição estadual do casamento tornar estas normais mais difíceis de entender, valorizar, justificar e acatar, cônjuges se beneficiarão cada vez menos das vantagens psicológicas e materiais da estabilidade inerente na estrutura do casamento conjugal. Quando escrevo normas mais difíceis de entender, quero dizer que será difícil entender o raciocínio por trás do casamento conjugal, com suas exigências de exclusividade sexual, permanência, etc. Uma vez redefinido o casamento para incluir parceiros do mesmo sexo, muitos não entenderão a lógica em exigir que o casamento seja com um cônjuge do sexo oposto. Por que não com alguém da minha própria família? Por que não com mais do que um parceiro ou uma parceira? Por que não com animais (se for esta a predileção das pessoas)?

    3. Bem-estar dos filhos: quando são reconhecidos casamentos do mesmo sexo, não somente são minadas as normas que mantêm o casamento heterossexual estável, como também a noção de que homens e mulheres trazem dons diferentes à responsabilidade mútua de criar filhos. Esta noção de diferenciação de dons e talentos, universalmente reconhecida como válida e como observável e fiel à natureza dos dois sexos, não será mais reforçada por qualquer instituição civil. Redefinir o casamento então, afrouxa a pressão social e diminui os incentivos –

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1