Descobrindo o coração dela: Coleção Wishful Hearts, #1
De River Ford
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Sobre este e-book
Tudo o que você precisa é de um namorado fictício, certo?
A imaginação da escritora Kristen Parker sempre foi maior do que a realidade. Ela prefere passar o seu tempo com os personagens que cria em sua cabeça. E quanto a namorar? Bem, quem precisa de um namorado quando se tem o capitão Deke Wolfe? No entanto, um bloqueio criativo está minando suas ideias antes bem estruturadas. Sua agente literária, Sylvia Stone, acredita que um retiro de um mês em um resort nas montanhas pode resolver os problemas de Kristen.
Brett Stone adora sua tia Sylvia, mesmo ela morando em Nova York em vez das colinas do Tennessee. É por isso que ele está disposto a se esforçar ao máximo para proporcionar as férias perfeitas para a escritora best-seller dela, Kristen Parker. Ele não faz ideia de como uma mulher irá virar seu mundo de cabeça para baixo, começando no momento que se conhecem e ela o chama de Deke.
Será que Kristen conseguirá separar seus pensamentos sobre esse charmoso proprietário do resort de seu namorado de livro, Deke Wolf?
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Descobrindo o coração dela - River Ford
O DESEJO
––––––––
A adolescente de quatorze anos Kristen Parker estava pronta para fazer algo que não envolvesse músculos cansados ou muita discussão. Sua melhor amiga a convidou para uma festa do pijama no final do verão. Quando eram só as duas, assistiam a um filme ou liam. No entanto, Olivia e Heather também foram convidadas. Isso significava mais atividade física e uma chance maior de contratempos para Kristen. Seus pés grandes e pernas desengonçadas sempre atrapalhavam o que ela queria fazer. Felizmente, ela havia evitado a catástrofe até agora. As quatro garotas andaram de bicicleta ao redor do lago, pularam no trampolim sem que Kristen voasse para fora dele, comeram pizza, assaram uma tonelada de cookies e agora as outras discutiam sobre qual filme assistir.
— Kristen, preste atenção. — Olivia bufou do outro lado da mesa da cozinha. — Você viajou de novo.
— Não provoque ela — disse Heather. — Talvez a imaginação dela seja mais interessante do que você divagando sobre Alex Pettyfer.
— Ah, então agora estou divagando? — Olivia cruzou os braços e empinou o nariz no ar. — E quem não é apaixonada por Alex?
— Qual é, não vamos brigar por causa disso. — Os olhos de Becca se arregalaram quando ela estendeu as mãos para acalmar as outras duas.
Kristen se sentiu mal por deixar seus pensamentos fugirem dela. Se sentiu pior ainda porque causava desconforto à sua amiga. Becca podia ser rica, mas Kristen reconheceu a necessidade de estabilidade e amizade da outra garota assim que se conheceram. Era uma das coisas que tinham em comum.
— E se fizéssemos um pedido em vez de assistir a um filme? — Kristen apressou as palavras antes que as outras pudessem dizer qualquer outra coisa. Heather estava certa, de qualquer maneira. Sua imaginação estava pronta para um treino.
Havia todo o tipo de coisas que ela desejava — que sua mãe estivesse em casa com mais frequência, que houvesse mais dinheiro para que sua mãe não se preocupasse, que seu pai voltasse. E isso era só a ponta do iceberg. Ela tinha muitas esperanças e sonhos que poderiam preencher páginas em seu caderno.
— Fazer um pedido? — Becca relaxou, concentrando-se em Kristen.
Ela assentiu. O silêncio caiu sobre a sala enquanto as outras três a encaravam. Olivia era a mais bonita, com seu cabelo loiro ondulado e grandes olhos azuis. Ela pensou que isso a tornava a líder do grupo. Se fossem votar, Kristen escolheria a calma e firme Becca, e não porque ela era a mais rica de todas. Becca era tão normal que era reconfortante. Ela tinha longos cabelos castanhos e sempre sorria. Heather teria sido sua segunda escolha, porque era inteligente e não deixava a popularidade influenciar suas decisões. Olivia queria ser popular, e estava no caminho certo. As outras duas não pareciam se importar com isso ainda.
— O que você quer dizer? — pressionou Olivia, enquanto alcançava a grande tigela de batatas fritas.
Kristen suspirou e automaticamente mudou o assunto sobre desejos profundos para algo mais leve. Algo que ela sabia que atrairia o interesse de Olivia. Ela estendeu a mão e puxou um caderno amarelo e uma caneta de gel roxa de sua mochila.
Batendo a caneta no queixo, ela disse:
— Podemos fazer uma lista para os nossos futuros namorados. Vamos anotar e depois queimar o papel na lareira. Isso tornará o desejo oficial e dará a ele poder sobre o nosso futuro.
Olivia riu.
— De onde você tira essas coisas?
Kristen desviou os olhos para inspecionar o chão.
— Eu li isso em um livro, uma vez.
— Um livro sobre bruxas? — Olivia arqueou uma sobrancelha.
— Era sobre fadas e elfos. Eles estavam indo em uma missão e...
— Tanto faz. — Olivia acenou com as mãos no ar. — É uma boa ideia. Por que você não vai primeiro?
— É a casa de Becca. Ela deveria ir primeiro ou escolher alguém. — Kristen empinou o queixo.
Por que Becca continuava convidando Olivia? Ela costumava ser legal, mas ultimamente, havia se tornado mandona. Tudo precisava da aprovação dela, ou elas não faziam.
— Você se importa de ir primeiro, Kristen? Preciso pensar no meu antes de fazer um pedido. — Becca esfregou o rímel que cobria seus olhos. Ela parecia completamente desconfortável com a situação que Olivia havia criado.
— Certo, tudo bem. Minha lista de desejos é fácil. — Em vez de escrever, Kristen olhou para longe, imaginando o cara dos seus sonhos. — Ele tem de ser alto. Pelo menos um metro e oitenta de altura, com cabelos escuros, olhos escuros, e ele tem de ser sério. Sabe? Sem bobagens. E ele vai ser superinteligente. Um médico, ou talvez um cientista ou algo assim.
Olivia deu uma risadinha.
— Um cientista parece chato.
— Acho que o cara de Kristen parece legal. — Heather ajeitou os óculos, embora eles não tivessem escorregado visivelmente pelo seu nariz. — Sem improvisar, certo?
— Sim. Sem improvisar. Você recebe o que você deseja. Sem improvisações. — Kristen assentiu.
— Sim. — Heather franziu a testa e desviou o olhar de todo mundo. Seus óculos grossos faziam seus olhos parecerem muito grandes e depois desapareciam quando ela se virava para o lado.
Kristen se perguntou o que ela estava pensando, mas concentrou-se em escrever sua lista, em vez de pressionar a amiga. Heather estava sempre quieta, reflexiva. Isso tornava difícil conhecê-la bem. Ainda assim, Kristen a considerava uma de suas melhores amigas. Talvez fosse apenas porque elas precisavam uma da outra, mas de alguma forma, isso era o suficiente.
As outras conversaram e comiam petiscos enquanto Kristen escrevia no papel. Ela embelezou as bordas do papel com sinais encaracolados, estrelas, luas e outros desenhos, feliz em sonhar acordada até que alguém estivesse pronta para compartilhar seu pedido.
Demorou uma eternidade para as outras três garotas apresentarem seus caras dos sonhos. Assim que todas tinham em mãos seus pedaços de papel com detalhes, Becca procurou seu pai para acender o fogo. Ele não se incomodou, mas mandou a governanta fazer isso. Tudo o que ela fez foi apertar um botão e a fogueira acendeu.
— Está muito quente para uma lareira. — A mulher mais velha balançou a cabeça e apontou um dedo para elas. — Fiquem longe de problemas.
— Nós só precisamos de alguns minutos para fazer um pedido. Sem problemas, eu prometo. — Rebecca sorriu para a mulher até que ela bufou e voltou para o ar condicionado.
— Ela está certa, você sabe. — Olivia abanou o rosto enquanto o calor se expandia e esquentava sua pele. — Vamos fazer isso logo.
Todas as quatro garotas cercaram o brilho laranja. Cada uma segurava seu próprio pedaço de papel dobrado. Elas ficaram quietas, provavelmente pensando em seus futuros namorados ou maridos para que pudessem fazer o pedido antes de jogar a lista no fogo.
Kristen fitou seu papel.
1. Alto, moreno, bonito
2. Superinteligente como um médico ou cientista
3. O tipo de cara sério e sensato
Seu peito doía de uma forma engraçada. Meio animada, um pouco assustada. É isso que ela realmente queria? Não dizia nada sobre amor ali. Sua mãe disse que o amor era mais importante do que qualquer outra coisa.
Talvez ela devesse revisar seu desejo?
— Nós iremos na ordem em que compartilhamos nossa lista — sussurrou Becca. — Você vai primeiro, Kristen.
Ela fechou os olhos e estendeu o papel com os dedos trêmulos.
Apenas deixe-o me amar de todo o coração.
Suas palavras caíram nas chamas. O papel enrolou quando as bordas esquentaram. Uma fina linha laranja cruzou o branco, rapidamente seguida pela escuridão antes de pegar fogo. Brilhantes faíscas vermelhas voaram para cima no ar aquecido, resfriadas em cinzas, então se afastaram para encontrar seu desejo.
BLOQUEIO CRIATIVO
––––––––
15 ANOS DEPOIS
— Você não pode deixar a editora esperando, Kristen — disse Sylvia Stone com firmeza, mas de maneira gentil. A mulher podia estar em seus sessenta anos, mas era tão esperta e profissional quanto qualquer um dos jovens e sedentos agentes literários. No entanto, a idade e a experiência faziam com que ela levasse seus autores até a linha de chegada. — As pessoas estão ansiosas para ver como o capitão Wolfe escapa. Me diga do que você precisa.
— Eu não sei. — Kristen apoiou a cabeça nas mãos.
No fim de seu último best-seller, ela deixou o pobre Deke Wolfe preso na realidade virtual do alienígena. A equipe de Wolfe estava contando com ele para ajudá-los a escapar, mas Kristen não sabia como tirá-lo daquela situação. Todas as cenas que ela escreveu pareciam vazias e sem propósito, jogando-a em um grave caso de bloqueio criativo.
— Não consigo me concentrar em nada — continuou ela. — Toda vez que me sento para escrever, eu termino vagando pelo apartamento. Talvez eu esteja presa na realidade virtual de alguém e eles a desligaram? — Ela tentou sorrir, mas falhou. — Eu quero escrever. As ideias estão flutuando lá dentro, em algum lugar. — Ela apertou a testa. — Eu só não consigo colocá-las no papel.
Sylvia se sentou ao lado dela e deu um tapinha em suas costas.
— Qual foi a última vez que você deu uma escapada? Que fez algo por si mesma?
— Tudo o que faço é me sentar em casa e escrever. — Kristen se levantou e andou de um lado para o outro em sua sala de estar decorada, tropeçando na beirada do tapete.
— Tenha cuidado. — Sylvia sorriu.
— Pés estúpidos. De qualquer forma, por que eu precisaria dar uma escapada? Tenho tudo de que preciso bem aqui. — Kristen gesticulou indicando o apartamento, enquanto tentava esconder seu tremor. O lugar realmente não era seu estilo.
A sala foi decorada em preto e branco com toques de vermelho. Estava na moda e era muito elegante, mas continha muito pouco de sua personalidade. No entanto, ela se destacou como escritora, ganhando dinheiro suficiente para pagar aquele luxuoso loft de Manhattan com vistas incríveis, então contratou um profissional para decorá-lo. Ela raramente o deixava, e nunca tinha nenhuma companhia para aproveitá-lo com ela. Era por isso que ela se sentia tão inquieta ultimamente? Tão insatisfeita?
Nem sua mãe a tinha visitado no ano passado. Kristen havia pagado sua casa de infância, mas sua mãe estava acostumada a trabalhar e não sabia como reduzir as horas de trabalho, agora que estava livre para fazer isso. Ela ainda trabalhava em dois empregos e morava na mesma cidade em que havia crescido. Aquela velha solidão ameaçava crescer. Tudo o que Kristen sempre quis foi uma família para se sentir conectada. Nem mesmo seu sucesso havia lhe dado isso.
— Kristen, olhe para mim — ordenou Sylvia, e ela obedeceu. — Você é minha maior prioridade agora. Posso adiar com a editora por mais alguns meses, mas você precisa se recompor. Que tal uma viagem? Posso te mandar para um lugar completamente diferente. Talvez isso faça sua criatividade fluir novamente.
Um lugar diferente? Kristen estava disposta a tentar qualquer coisa para se livrar do bloqueio criativo paralisante com o qual já sofria há meses. Não importava quanta pesquisa fizesse, quantas ideias ou devaneios tivesse, ela não conseguia descobrir do que essa história precisava. Era como se seu cérebro tivesse sido frito e depois mexido.
— Alguma chance de você me lançar no espaço? — Kristen se jogou no sofá.
— Como desejar.
Kristen suspirou em desapontamento.
— Bem, o que você tem em mente?
Sylvia encarou a janela por um momento antes de um sorriso lento surgir em seus lábios.
— Estou pensando em um retiro nas montanhas. Você não parece o tipo que gosta de praia.
— Eu... eu não sei. — Kristen fez uma careta. Ela deveria saber se preferia montanhas ou praia, certo? — A praia pode ser relaxante.
— Céus, você já foi à praia no verão?
— Não.
— E quanto às montanhas?
— As colinas do Tennessee contam?
— Minha nossa. — Sylvia deslizava o dedo em seu telefone, ocupada. — Nesta época do ano as praias estarão lotadas, então, primeiro as montanhas. Você vai à praia fora da temporada.
— O que há de errado comigo, Sylvia? — Ela caiu para trás, deixando a cabeça descansar no encosto do sofá.
— Nada, querida. Você está apenas esgotada, e com razão. Você lançou seis best-sellers em quatro anos, supervisionou a produção do primeiro livro em um grande sucesso de bilheteria, começou o segundo e todo mundo quer você na Comic Con. Isso é bastante na sua idade.
— Tenho apenas vinte e nove anos, não cem.
— Exatamente. Você deveria estar saindo com amigos para clubes, vivendo. Namorando. Não definhando sozinha.
— Eu tenho amigas. Elas só estão ocupadas e moram em outros estados. É difícil sair quando você não mora na mesma área — balbuciou Kristen, com medo de admitir que não falava com as pessoas que considerava amigas há anos. Ela não tinha certeza de onde estavam ou o que andavam fazendo. Quanto a namorar, ela não sabia por onde começar.
— Bem, parte de sua tarefa, além de relaxar, é ligar para as suas amigas. E flertar com alguém no resort. Estou reservando para você o meu lugar favorito por um mês. Aproveite o spa, faça caminhadas, ande a cavalo, tire sonecas. Eu não me importo, mas faça alguma coisa, qualquer coisa, menos escrever. — Sylvia concentrou-se em seu telefone enquanto digitava e deslizava a tela.
— E quanto ao Digital Stream?
— Depois das suas férias, as palavras vão fluir. Eu não estou preocupada. — Sylvia agarrou-a pelos ombros e gentilmente a conduziu para o quarto. — Agora, vá fazer as malas.
— Agora?
— Sim. Reservei um voo, e você se hospeda no resort Scarlet Oaks hoje à noite. — Ela balançou o telefone no ar. — Quem sabe... talvez você encontre alguma nova inspiração para a direção que a vida do capitão Wolfe está tomando.
— Scarlet Oaks? — Kristen suspirou. — Acho que Deke nunca esteve em um lugar que soa como uma plantação do sul. Nem mesmo antes de deixar a Terra para viajar pelas estrelas.
— Não, mas Scarlet Oaks fica no Tennessee. Você está indo para casa, Kristen.
***
— Sr. Stone, você tem uma ligação na linha dois! — Jodi, a recepcionista recém-saída da faculdade, gritou no corredor da recepção.
— Obrigado. — Brett abaixou o volume da música, fazendo uma nota mental para conversar com ela sobre gritar ao invés de chamá-lo, e pegou o telefone. — Brett Stone, como posso ajudar?
— É a Sylvia. — A voz calorosa de sua tia o surpreendeu. Ela geralmente ligava para o celular dele.
— Tia Syl, perdi uma ligação sua?
— Não, mas essa é uma emergência, e eu sabia que iria conseguir falar com você imediatamente assim. — Sylvia fez uma pausa e Brett ouviu sua voz abafada falando com alguém do outro lado.
— Que tipo de emergência? — perguntou ele.
A voz dela voltou alta e clara.
— Diga-me que você tem um quarto que eu possa usar no próximo mês.
— Um mês? O que há de errado? — Brett sempre gostou de sua tia, e se preocupava com ela morando sozinha em Nova York.
Sylvia riu.
— Não há nada de errado, e o quarto não é para mim. Minha autora best-seller favorita está esgotada e precisa se afastar de tudo. Você é minha primeira escolha, porque espaços abertos são exatamente o que o médico prescreve.
— Ah. — Ele estava desapontado por sua tia não vir. — Qual autora é essa?
— Kristen Parker, mas você com certeza conheceria melhor o pseudônimo dela. — Ela fez uma pausa para efeito dramático. — Chris Armstrong.
— Sem chance. — Brett adorava o escritor de aventuras de ficção científica. — Espere, C.A. é uma mulher? Achei que Chris fosse um cara.
— Sim, e é assim que queremos manter as coisas. Por alguma razão, os homens ainda vendem melhor na ficção científica, então não estrague isso para ela. — Ela falou algo para alguém do outro lado da linha novamente e depois disse: — Olhe, Kristen precisa de privacidade. Ela sempre evitou os holofotes. Diz que isso a deixa desconfortável. É em parte por isso que não quer que ninguém saiba quem ela é.
— Ok, eu entendo. — Brett abriu o programa de reservas.
— Desculpe, mas estou com pressa. Você tem um quarto?
— Podemos ter que movê-la em algum momento, mas posso resolver isso. Quando ela vem?
— Acabei de deixá-la no aeroporto. Vou enviar os detalhes por e-mail, e você pode me enviar a conta. — Sylvia fez barulhos de beijos. — Amo você, Brett. Obrigada, e cuide dela para mim.
Brett ouviu o clique e olhou para o telefone. Chris Armstrong