Teoria Queer e Micropolítica
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Teoria Queer e Micropolítica - Rafael Leopoldo
Bibliografia
O QUE É A TEORIA QUEER?
A TEORIA QUEER
Em seu livro Teoria queer e psicanálise, o sociólogo Javier Sáez argumenta que a teoria queer não seria propriamente uma teoria. Temos aqui uma ambiguidade no próprio conceito de teoria, posto que a teoria queer
estaria mais relacionada com uma prática que com uma teoria em seu sentido clássico. Entende-se a teoria e a prática, basicamente, de duas maneiras: 1) a prática, entendida como a aplicação de uma teoria; 2) a teoria, como surgida e inspirada de alguma prática. Contudo, podemos encontrar outra ideia de teoria com dois filósofos franceses que tiveram uma grande atuação política, principalmente, na década de 60: Michel Foucault e Gilles Deleuze.
Deleuze escreve a respeito de uma ação de teoria
, ação de prática
, no sentido de que há uma multiplicidade de pedaços, ao mesmo tempo, teóricos e práticos, que, por sua vez, estariam longe de um corpus teórico, de uma totalidade. Tanto Deleuze quanto Foucault negam uma consciência representativa do intelectual. Para ambos, não se trata mais do intelectual maldito
, que desvelaria um sistema e mostraria para os demais as desigualdades; mas, sim, de um entendimento de que as massas têm um saber e que podem dizê-lo diretamente, sem intermediários. Para Deleuze, Foucault teria ensinado com a sua vida e os seus livros a indignidade de falar pelos outros
. Neste sentido, penso que a teoria queer está muito mais próxima de uma ação-teórica que de um sistema fechado em si mesmo.
Inicialmente, a palavra inglesa queer referia-se a um insulto que nomeava o extravagante, no sentido do que estava fora da normalidade. Portanto, queer eram os zeros econômicos, o imigrante, o ladrão, o bêbado, o indigente, o pedinte, o enfermo, o homossexual, a lésbica – a ralé, enfim, para pensarmos em um termo estigmatizado, presente nos escritos de Jessé Souza e sua obra A ralé brasileira; ou o refugo humano
, para pensarmos nos termos do sociólogo Zygmunt Bauman em sua obra Vidas desperdiçadas. Já para Paul Beatriz Preciado, esta palavra aparece como uma falha na representação linguística: nem isso, nem aquilo, mas queer. De qualquer modo, trata-se de uma falta de compreensão: imaginamos ver algo que não compreendemos e que está fora do nosso padrão de normalidade, daí o chamamos de queer. Às vezes, isso acontece até mesmo pela falta de um contato efetivo com o diferente, a exemplo de um grupo que tem pouca visibilidade, como as lésbicas negras, ou ainda, as travestis. Diante deste desconforto com o diferente, algumas pessoas insultavam o outro com esse adjetivo.
Dessa maneira, o que se tem é uma perturbação, uma vibração no campo da visibilidade, como se existisse algo de indiscernível no outro e, para marcá-lo, se utilizasse a injúria, no intuito de torná-lo discernível como sujeito abjeto. Aquilo que era totalmente diferente agora é o pária, o estranho, o esquisito, sendo possível representá-lo, mesmo que de modo pejorativo. Este sujeito abjeto também é rechaçado, principalmente do espaço social e do espaço público. Porém, algo de inusitado acontece com o termo queer a partir do momento em que é apropriado de forma diferente por aqueles que sofriam tais injúrias. Imaginemos, por exemplo, que aquela travesti, que então era xingada como queer, passa a usar este mesmo termo a seu favor, como algo positivo. Para ficar ainda mais claro, basta pensarmos em alguém sendo xingado de veado
até decidir tomar essa palavra com orgulho e ainda produzir uma teoria filosófica da condição social do homoerotismo, ou ainda, uma ética bicha. Trata-se de tomar a posição da homoafetividade/homossexualidade com orgulho. Trata-se de produzir o que poderíamos chamar de uma subversão queer, isto é, um processo tanto de ruptura quanto de afirmação, ruptura com a norma e afirmação da diferença do próprio sujeito. As boas utopias estão no jogo desta subversão queer, posto que encontramos uma ruptura com o presente e uma afirmação de um não-lugar.
Essa reapropriação da palavra queer ocorre no contexto da grande crise da aids, no início dos anos 80, quando houve uma extrema estigmatização de determinados grupos sociais. Nesse período, a aids foi conhecida como a doença dos quatro agás
: 1) homossexuais; 2) haitianos; 3) hemofílicos; 4) e usuários de heroína. Dentro desses quatro agás, três deles já eram caracterizados por uma marginalidade social, à exceção dos hemofílicos, que acabavam sofrendo com a aids devido às transfusões de sangue contaminado. Para o senso comum, os demais grupos buscavam a enfermidade e a morte, visto que usavam o seu corpo de forma distinta de uma heteronormatividade². No caso dos homossexuais, houve também a concepção de que a aids era uma praga divina
que limparia a impureza da prática homoafetiva/homossexual, por conta de seu uso não natural
do corpo. A acusação contra os haitianos era a de que teriam tornado a aids endêmica, ainda que a causa, em grande parte, tenha sido o turismo sexual norte-americano e uma política religiosa contra o uso de preservativos, que agravou a situação. Quanto aos usuários de heroína, além do problema da aids, já estavam envoltos na própria concepção negativa que se tem do corpo do viciado, a partir da qual ele é visto como execrável; corpo que deve ser ou eliminado ou reconstituído segundo a