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Dons e carismas na Bíblia
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E-book198 páginas2 horas

Dons e carismas na Bíblia

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Sobre este e-book

A diversidade e a riqueza de dons e carismas são inesgotáveis. Visto que a graça de Deus é ilimitada, também os seus dons não têm limites. Todavia, dons e carismas não devem levar o cristão ao narcisismo e a se julgar melhor ou "mais espiritual" do que os outros. Dons e carismas são dados por Deus para o serviço. Assim lemos na Primeira Carta de Pedro (1Pd 4,10): "Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons dispenseiros da multiforme graça de Deus". Dons e carismas na Bíblia é o resultado de um esforço conjunto, de um grupo de biblistas atentos à pesquisa acadêmica, mas igualmente preocupados com a dimensão pastoral da mensagem bíblica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de mai. de 2021
ISBN9786555622591
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    Dons e carismas na Bíblia - Paulus Editora

    CAPÍTULO I

    DONS E CARISMAS NO ANTIGO TESTAMENTO

    Valmor da Silva¹

    Opapa São João Paulo II, em seu documento sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo, após citar vários textos proféticos do Antigo Testamento, afirma que: A plenitude do Espírito de Deus é acompanhada por múltiplos dons, os bens da salvação, destinados, de modo particular, aos pobres e aos que sofrem – a todos aqueles que abrem os seus corações a esses dons ( Dominum et Vivificantem , 1986, n. 16).

    Este primeiro capítulo apresenta alguns desses múltiplos dons e carismas, frutos da ação do Espírito Santo no Antigo Testamento. Demonstra as ações do Espírito sobre a vida das pessoas e sobre a história do povo de Deus. Profecia e sabedoria, capacidade para julgar e governar, sacerdócio e serviços representam dons e carismas, entre tantos que adornam a história de Israel.

    O capítulo introduz e prepara, dessa forma, a temática deste livro que se concentra sobre os dons e carismas no Novo Testamento. O Espírito é dado no Pentecostes, como se verá, mas a sua ação frutifica desde os princípios da história bíblica.

    1.TERMINOLOGIA PARA DONS E CARISMAS NO ANTIGO TESTAMENTO

    Os termos que se impuseram, na língua portuguesa, para dons e carismas são, geralmente, originários do grego do Novo Testamento, com palavras como carisma e pneumático. Carisma provém da palavra charisma e pneumático de pneumatikón. Referem-se, normalmente, ao espírito e, especificamente, ao Espírito Santo. Esses termos, com o seu devido aprofundamento, serão analisados nos próximos capítulos deste livro. Neste primeiro capítulo, dedicado ao Antigo Testamento, apresenta-se um panorama geral sobre dons e carismas, a começar pela análise dos termos hebraicos.

    1.1Dom e graça

    Dom e graça são termos que possuem profunda carga de significados em português, assim como no original hebraico. Relacionam-se com favor, presente, gratuidade, e agregam outros conceitos em torno à generosidade.

    Dom, em hebraico, possui as variantes mattan, mattanah e mattat, da raiz ntn com o significado de dar, pôr e nomear, refere-se ao dom, dádiva ou presente que se doa a alguém. Alguns nomes próprios derivam dessa raiz, como Natanael, Mateus e Matias.

    Conforme Bruce (1962, p. 395-396), há, na Bíblia, três tipos de dom: de pessoa para pessoa; de Deus para pessoa; e de pessoa para Deus.

    Dom de pessoa para pessoa designa presente, mas tanto pode envolver bênção, como tributo. Um provérbio afirma: "O dom (mattan) que um homem faz lhe abre caminho e o conduz à presença dos grandes" (Pr 18,16).

    Dom de Deus para pessoa, o que interessa mais ao nosso contexto, designa o que vem do alto, como presente de Deus. É o caso da satisfação pelo trabalho honesto, conforme Qohelet: "E, que o homem coma e beba, desfrutando do produto de todo o seu trabalho, é dom de Deus (mattat elohim)" (Ecl 3,13; 5,18).

    Dom da pessoa para Deus, em geral, se refere às oferendas sacrificiais, como prescrito em Levítico (Lv 14,10-18). Entre as diversas oferendas, inclui-se uma específica, dom ou dádiva: "Além dos sábados de Yhwh, das dádivas (mattenot), dos votos e das oferendas voluntárias que fareis a Yhwh" (Lv 23,38).²

    Graça, em hebraico hen, provém da raiz verbal hnn, com amplo significado. O verbo pode ser traduzido como ser misericordioso, ser generoso, favorecer, compadecer-se; agraciar, contemplar.³

    Pode ser empregado em contextos sociais, bem como em contextos teológicos, referentes à misericórdia de Deus. Em geral, essa palavra é traduzida por charis, no grego, de onde vem o termo carisma e seus derivados.

    O substantivo graça ocorre 69 vezes na Bíblia Hebraica, das quais 43 vezes na frase achar favor (graça) aos olhos de, sete vezes com o verbo dar e três vezes com o verbo alcançar. Os demais 14 usos são independentes, com os sentidos diversos de graça, beleza, encanto (cf. YAMAUCHI, 1998, p. 495).

    Outros termos podem ser aproximados do sentido da palavra graça, tais como misericórdia, justiça, fidelidade e aliança. Conforme Júnior Ribeiro da Silva:

    No Antigo Testamento este conceito teológico (graça) se identifica com a misericórdia, com a justiça e com a fidelidade de Deus; está sempre presente no contexto histórico salvífico da Aliança, fluido nas obras de misericórdia de Deus para com seu povo (SILVA, 2011, p. 106).

    A ação central de Deus em favor de seu povo, a libertação da escravidão do Egito, é motivada pela memória da Aliança, textualmente: E Deus ouviu os seus gemidos; Deus lembrou-se da sua Aliança com Abraão, Isaac e Jacó (Ex 2,24). Essa memória da Aliança motivará outros contextos de libertação, como os juízes e a Nova Aliança, em vista do êxodo definitivo (cf. Jr 31,31).

    Na confissão de Moisés, os principais atributos definem o Deus da Aliança: Yhwh! Yhwh! Deus de compaixão e graça; lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade (Ex 34,6). Os quatro atributos estão expostos aos pares. Compaixão e graça contêm justamente as raízes hebraicas para compaixão como sentimento ligado ao útero materno (rhm), e graça como sentimento de misericórdia e amabilidade (hnn), que a Bíblia de Jerusalém traduz como piedade. Amor e fidelidade formam outros dois conceitos básicos para descrever a atitude de Deus, com frequência formando este par hésed we’émet.

    A graça pode ser associada a bênção, como na fórmula: "Yhwh faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno (agracie)" (Nm 6,25).

    Outro texto associa fidelidade com os conceitos de direito e justiça: Eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade e conhecerás a Yhwh (Os 2,21-22).

    1.2Ações do Espírito Santo

    As palavras dom e carisma, no Antigo Testamento, assim como no Novo, estão geralmente relacionadas com ações do Espírito Santo ou do Espírito de Deus. O Espírito é sempre ativo, não está parado nem estático. Em vista disso, os dons e carismas são apresentados como consequência do agir do Espírito sobre a pessoa. A ação do Espírito é descrita, com frequência, como uma força que toma conta da pessoa ou como uma energia que a invade e provoca inspiração extraordinária, para falar e para agir (cf. SCHWEIZER, 1993, p. 19-36).

    Alguns verbos podem exemplificar a ação do Espírito. O sujeito dessa ação pode ser o espírito de Deus ou o próprio Deus.

    Deus enche (verbo ml’) com seu Espírito Beseleel para execução da tenda do tabernáculo. Deus o chama e "enche com o espírito de Deus em sabedoria, entendimento e conhecimento (Ex 31,3). Os profetas atuam em nome do Espírito, como Miqueias, que declara: Eu, contudo, estou cheio de força (do espírito de Yhwh), de direito e de coragem" (Mq 3,8).

    Deus põe (verbo sym) o seu Espírito nas pessoas, como quando, sugerindo a Moisés reunir setenta anciãos para ajudarem a levar a carga do povo, ele diz: "Tomarei do Espírito que está em ti e o porei neles (Nm 11,17). Ao fazer memória da libertação, Isaías apela para Deus, apesar da infidelidade do povo: Onde está aquele que pôs o seu Espírito Santo⁴ no seio do povo?" (Is 63,11).

    Deus dá (verbo ntn) o seu Espírito, como na execução da promessa aos setenta anciãos, para profetizarem. "Falou-lhe, tomou do Espírito que estava sobre ele e o deu aos setenta anciãos" (Nm 11,25).

    O Espírito de Deus está (verbo hyh) sobre as pessoas, como, ao suscitar Juízes para libertar o povo, afirma-se que "esteve sobre ele (Otoniel) o Espírito de Yhwh (Jz 3,10). Da mesma forma, esteve sobre Jefté o Espírito de Yhwh" (Jz 11,29).

    O Espírito de Deus se apossa (verbo tslh, literalmente é forte) de pessoas, como no caso de Sansão. "Apossou-se dele (Sansão) o Espírito de Yhwh" (Jz 14,6.19; 15,14). Com o mesmo verbo, o Espírito apossou-se de Saul quando começou a profetizar (1Sm 10,10); e apossou-se de Davi quando foi ungido rei (cf. 1Sm 16,13).

    O Espírito de Deus reveste (verbo lbsh) a pessoa. "O Espírito de Yhwh revestiu Gedeão" (Jz 6,34).

    O Espírito de Deus repousa (verbo nhh), como, ao anunciar o rei Messias libertador, com seus multiformes dons, Isaías declara: "Repousará sobre ele o Espírito de Yhwh" (Is 11,2).

    O Espírito de Deus dá repouso (verbo nwh no sentido de repousar, dar descanso) e conduz (verbo nhg), como faz memória Isaías, da ação libertadora. "Como gado que desce para um vale, o Espírito de Yhwh os conduziu para o repouso. Assim conduziste teu povo" (Is 63,14).

    O Espírito de Deus entra (bw’), como com o profeta Ezequiel: "Enquanto falava, entrou em mim o espírito e me pôs de pé. Então, ouvi aquele que falava comigo" (Ez 2,2).

    O Espírito de Deus ergue (verbo ns’ no sentido de levantar, carregar, levar, transportar), como acontece com o profeta Ezequiel: "O Espírito ergueu-me, enquanto eu ouvia um ruído, um ribombar tremendo atrás de mim" (Ez 3,12).

    O Espírito de Deus permanece (verbo ‘md) entre o povo. Na reconstrução do pós-exílio, segundo o profeta Ageu, Deus declara: "O meu Espírito permanecerá entre vós (betokekem)" (Ag 2,5).

    O Espírito de Deus se derrama (verbo shphq) sobre pessoas de diversas categorias, como na profecia de Joel: "Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda carne […] mesmo sobre os escravos e sobre as escravas, naqueles dias, derramarei o meu espírito" (Jl 3,1.2).

    2.PESSOAS COM DONS E CARISMAS NO ANTIGO TESTAMENTO

    A Bíblia é perpassada pela convicção segundo a qual é o próprio Deus quem conduz a história por meio do seu Espírito. Por isso, não surpreende que o ser humano, fruto do sopro divino, seja sempre dotado de dons e carismas especiais, visto que: Yhwh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente (Gn 2,7). Além dessa vocação universal da humanidade, para ser imagem e semelhança de Deus, há instituições e pessoas dotadas de dons e carismas diferenciados, em vista do bem comum, conforme a Bíblia. Essa experiência profética de receber o Espírito é uma manifestação da energia espiritual que impulsiona as pessoas e os povos em direção à transformação da vida (SANTA ANA; RAISER; DUCHROW, 1992, p. 69).

    2.1Juízes imbuídos do Espírito para libertar o povo

    Os filhos de Israel clamaram a Yhwh, e Yhwh lhes suscitou um salvador que os libertou, Otoniel, filho de Cenez, irmão caçula de Caleb. O espírito de Yhwh esteve sobre ele, e ele julgou Israel e saiu à guerra (Jz 3,9-10).

    Exemplos da intervenção do Espírito sobre outros líderes são: Gedeão (Jz 6,34); Jefté (Jz 11,29); Sansão (Jz 13,25; 14,6.19; 15,14); Saul (1Sm 10,6.10; 11,6) e Davi (1Sm 16,13) (cf. RIVAS, 2008, p. 17).

    Nesses diversos textos, segue-se uma estrutura mais ou menos semelhante, conforme a teologia deuteronomista, com o esquema seguinte:

    1) pecado – apostasia; 2) ira de Deus e castigo – entrega nas mãos dos inimigos; 3) clamor dos israelitas a Deus e envio do Salvador; 4) descida do Espírito de Javé sobre o Salvador e capacitação para a guerra libertadora (RIVAS, 2008, p. 16-17).

    Os juízes são pessoas carismáticas, no sentido de que afirmam sua liderança de maneira espontânea, conforme a necessidade do povo, em momentos de crise, para resolver diversas situações. São chamados juízes, no sentido original da palavra, para aplicar a justiça, mas sua função ultrapassa o poder judiciário. São guias, conselheiros e até condutores militares no sentido de mover o povo para a libertação.

    Os textos bíblicos assinalam o dom de Deus que transforma a pessoa do juiz. São eles, quase sempre, pessoas simples e frágeis. São, porém, suscitados pelo Espírito de Deus, que deles se apossa, dotando-os, de certo modo, de uma nova personalidade (SANTOS, 1996, p. 31-32).

    A ação dos juízes, idealmente, se circunscreve ao período anterior à monarquia, quando Israel era constituído por tribos. Isso significa que não havia governo central, organizado, mas sim um sistema familiar, patriarcal e tribal. Segundo o esquema geral da história de Israel, esse regime teria durado uns duzentos anos, de 1225 a 1025 a.C. Na verdade, porém, o tribalismo, com a liderança carismática dos juízes, permaneceu como a proposta de vida ideal ao longo de toda a Bíblia. Esse sistema fraterno e igualitário é retomado constantemente pelos profetas, assumido por Jesus e sempre reproposto ao longo da história.

    2.2Profetas movidos pelo Espírito para missões diversas

    Ele me disse: Filho do homem, põe-te de pé que vou falar contigo. Enquanto falava, entrou em mim o espírito e me pôs de pé. Então, ouvi aquele que falava comigo (Ez 2,1-2).

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