Crônicas de uma pandemia: reflexões de um idealista
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Sobre este e-book
"Ao longo deste livro, Gustavo passeia por diversos países. Mas essas viagens são apenas o ponto de partida para uma viagem muito mais profunda ao que nos torna essencialmente humanos. Qualquer detalhe que lhe chame a atenção pode ser a faísca que acenderá uma reflexão sobre economia, ciência, política, tecnologia, sociedade ou qualquer outro conceito que criamos para compartimentar nossa experiência por aqui". Ronize Aline – Escritora
"É o tipo de registro da peste que será consultado daqui a 50 anos, quando forem pesquisar sobre os anos da pandemia!" David Coimbra – Jornalista e Escritor
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Crônicas de uma pandemia - Gustavo Miotti
© Gustavo Miotti 2021
Texto: Gustavo Miotti
Consultoria editorial e revisão: Calíope Comunicação, Marketing e Publicações Ltda.
Projeto gráfico e capa: Ernani Carraro
Fotografia: Acervo do autor
Produção Editorial: Vanessa Pedroso
Impressão: Editora Buqui
Todos os direitos desta edição reservados à
Buqui Comércio de Livros Eireli.
Rua Dr Timóteo, 475 sala 102
Porto Alegre | RS | Brasil
Fone: +55 51 3508.3991
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Printed in Brazil/Impresso no Brasil
Para Lisiane, Bernardo e Francesco
APRESENTAÇÃO
Vivia-se o século XIX quando a crônica aportou no Brasil. Um híbrido de jornalismo, prosa de ficção e poesia que tem como pais José de Alencar e Machado de Assis. Um gênero cuja grande particularidade reside no próprio autor, que empresta-lhe seu olhar acurado e carinhoso para extrair da realidade o que ninguém mais vê. Não há de faltar ao cronista sensibilidade para enaltecer o belo, apressar as mudanças, condoer-se com os necessitados, criticar as desvalias, resgatar o que foi perdido e até mesmo antever o futuro – tudo a seu tempo e modo.
A crônica brasileira é uma verdadeira metamorfose ambulante, permitindo-se vestir-se dos mais diversos trajes. E eis que surge Gustavo Miotti, que flana pelas esquinas do mundo como João do Rio flanava pelas ruas cariocas. Gustavo nos apresenta crônicas contemporâneas que não receiam mergulhar fundo na cultura do outro, extrair do diferente o que, na verdade, nos torna tão iguais como pessoas. O autor exerce o olhar sensível, porém afiado, que forma os grandes cronistas sociais atentos às mudanças do seu tempo.
Neste volume de crônicas, Gustavo nos convida para um passeio íntimo, já que é próprio dos cronistas abrir a alma ao leitor e revelar muito mais de si próprio do que do mundo que o rodeia. Cada uma de suas viagens e reflexões são uma oportunidade que o autor aproveita para entender a si próprio, a sua cultura e o seu país a partir do outro – esse ser que lhe surpreende, lhe assombra, lhe instiga a ir além.
Ao longo deste livro, Gustavo passeia por diversos países. Mas essas viagens são apenas o ponto de partida para uma viagem muito mais profunda ao que nos torna essencialmente humanos. Qualquer detalhe que lhe chame a atenção pode ser a faísca que acenderá uma reflexão sobre economia, ciência, política, tecnologia, sociedade ou qualquer outro conceito que criamos para compartimentar nossa experiência por aqui.
E não é apenas o conhecimento de diversos assuntos e dados históricos que sobressaem na leitura dessas crônicas. O texto do autor traz a seriedade dos grandes temas unida à leveza das grandes percepções. Nada escapa ao olhar afiado do autor. E não podemos esquecer outro traço marcante de Gustavo: seu humor. Mas não um humor escrachado, que ele não nos presenteia com suas crônicas para nos fazer rir. Um humor inteligente, perspicaz, aliado à capacidade de mesclar suas experiências pessoais a temas universais e fazer o leitor sentir como se tudo aquilo também fizesse parte de sua vida.
Aconchegue-se na poltrona, prepare um chá ou café e permita-se conhecer a escrita envolvente desse autor que vem somar à rica tradição da crônica brasileira.
Ronize Aline
Escritora e consultora literária
PREFÁCIO
CRÔNICAS DE UMA PANDEMIA: REFLEXÕES DE UM IDEALISTA
Em momentos de insegurança e temor, como o da pandemia do coronavírus, devemos nos rodear do que amamos: família e nossas paixões. Minhas duas paixões pessoais sempre foram viajar e estudar e, quando combino as duas, me dão ainda mais prazer. Viajar para conhecer diferentes culturas e modos de viver. Fiz isso por meio de livros e filmes, mas, principalmente, pegando a mala e viajando pelo mundo. Entre viagens de trabalho, estudo e de exploração, não me lembro da última vez em que não tive uma mala com algumas das minhas coisas prontas para a próxima viagem. Até vir a Covid-19.
O ano de 2020 seria especial para aumentar essa lista de lugares a serem explorados. Mas, aos poucos, o avanço da pandemia acabou com esses projetos. E, com tempo sobrando no lockdown, pensei: por que não fazer algo que há muitos anos planejava, mas para o qual não achava tempo? Usar o poder da reflexão sobre as viagens já viajadas e colocar tudo isso no papel. Porém, estar imerso nesse momento histórico e extraordinário nos Estados Unidos, provavelmente num dos anos mais turbulentos de sua história (2020), me fez também descrever esses acontecimentos históricos com um olhar de alguém de fora e de um brasileiro que vive há cinco anos no país.
Para se entender os caminhos do livro, é importante aprofundar aspectos sobre o contexto e as minhas motivações como autor. Desde jovem, sempre fui muito curioso por entender as questões do mundo, e, por isso, resolvi estudar economia. Por meio dela, queria entender qual dos sistemas econômicos seria o mais justo para o desenvolvimento das nações, mas entrei na faculdade num ano crucial para o mundo, um divisor de águas da minha geração, que foi 1989. Antes da queda do Muro de Berlim, vivíamos num mundo bipolar, composto por dois sistemas que competiam para se mostrar um mais relevante do que o outro. Os anos que se passaram seguiam a ideia do cientista político Francis Fukuyama, que proclamou o fim da história
, com a vitória triunfal dos valores defendidos pelos Estados Unidos, da democracia sobre o comunismo.
Então, acabei por escrever dois tipos de crônicas. A primeira parte, intitulada Sob a sombra do comunismo, são viagens a países que sofrem ou sofreram com este regime. As crônicas da segunda parte do livro, intitulada A fragilidade da democracia, irão tratar exatamente do oposto: a mais antiga democracia do mundo, Estados Unidos, que teve um dos anos mais difíceis de sua existência. Algumas crônicas divergem em estilo, umas são mais intimistas, outras priorizam o estilo de reportar o lugar e personagens da história. Porém, todas possuem algo em comum: um embasamento acadêmico e científico, tão necessários em tempos pandêmicos, em que a ciência e a lógica nunca foram tão atacadas. Outro aspecto comum, como afirmou o escritor escocês A.A. Gill, é sobre viajar ou imigrar para um novo país: Nada pode alterar mais a sua percepção de quem você é, e de onde você pertence, e de uma maneira radicalmente fundamental e permanente, do que estar em algum outro lugar
.
Acreditava-se num mundo em que nos tornaríamos mais iguais e que o pensamento democrático iria se difundir para os quatro cantos do planeta. Teríamos um mundo mais plano, análogo e pacífico; mas, ao mesmo tempo, menos diverso e fascinante. E, viajando pelo mundo, não deparei com isso. Na prática, apesar dos avanços e percalços da globalização, continuamos sendo um mosaico de culturas e costumes. Em transformação, porém, em velocidades bem diferentes.
E, para isso, lembrei de exercitar algo que tinha aprendido há alguns anos, no meu mestrado na Universidade de Lancaster, na Inglaterra, que é o mindset de reflexão, algo tão difícil de fazer no mundo da vida corrida pré-pandemia, mas, quem sabe, muito útil no misterioso novo normal
. Aprendi que refletir não é só um exercício de olhar o passado, mas também repercutir tópicos contemporâneos. Pondo em prática, ajuda-nos a ponderar, meditar e mudar. De certa forma, permite-nos retomar o próprio pensamento e a pensar o que já foi pensado e, até mesmo, pensar o que será pensado.
Esse mindset nos dá a habilidade de aprender com as experiências vividas, mas, paradoxalmente, aprendemos por meio das reflexões da experiência, não dela em si mesma. Refletir