A felicidade é aqui: Lições de antiga sabedoria
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Sobre este e-book
O psicanalista atenta para a importância da gratidão, do amor, do caráter, do aprendizado, do perdão, da espiritualidade, da auto-estima e da fé. E ele chama atenção para uma série de armadilhas em que o ser humano costuma se meter. Por exemplo: sonhar é bom, quando se tenta concretizar o sonho; caso contrário, ele é usado como substituto da realidade, e não se pode ser feliz assim. Outro perigo: compaixão só é um sentimento positivo se for desenvolvido em relação a outros, pois ter pena de si mesmo é um veneno para a alma. O medo também mereceu um espaço considerável no livro, por ser útil para apontar um perigo que possa ser evitado. Mas que fique bem claro: o que for inevitável deve ser enfrentado, pois viver sempre é perigoso.
O livro também reserva alguns capítulos à morte. Pode parecer estranho tratar desse tema quando o assunto principal é a felicidade. Mas faz todo sentido: o autor acredita que quando se tem em mente que a morte virá um dia, percebe-se que os valores morais são mais importantes que os objetivos meramente materiais. Não é na morte que se perde a vida, mas desperdiçando nosso precioso e curto tempo com coisas sem importância.
Py recorre a este mesmo princípio quando fala do amor. Segundo ele, mais de 90% dos relacionamentos amorosos acabam, e é praticamente certo que pelo menos uma das duas pessoas envolvidas sofra. Mas a vida ressurge, sempre, desde que se lute por isso. Como escreve o autor, "a vida é uma aventura ousada; ou nada".
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A felicidade é aqui - Luiz Alberto Py
felicidade.
Caminhos da felicidade
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Felicidade é um fenômeno interno, passa-se dentro de nós, em função de nossas estruturas psicológicas. Delas, depende, a rigor, nossa capacidade para sermos felizes e desfrutarmos desta felicidade.
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Apesar do grande número de invenções surgidas no século XIX, estima-se que quase noventa por cento de todos os cientistas que a humanidade produziu estão vivos e em atividade. Isso nos ajuda a entender a imensa quantidade de novas descobertas e aperfeiçoamentos científicos que aparecem praticamente todos os dias.
Contudo, nossos antepassados nos deixaram um precioso legado de invenções e de reflexões ao longo dos últimos milênios de civilização que merecem respeito e apreciação. É deles que falo quando me refiro à sabedoria dos nossos ancestrais. Neles encontrei inspiração e exemplo para quase todas as ideias e afirmações que desenvolvi sobre um dos assuntos mais importantes que existe – a felicidade. Tanto isso é verdade que os criadores da filosofia a qualificavam de estudo sobre a felicidade humana, suas vicissitudes, suas dificuldades.
Escolhi o nome A felicidade é aqui – lições de antiga sabedoria para esse livro porque acho que aqui aponto alguns dos caminhos pelos quais nos encontramos com a capacidade de ser feliz e de manter o estado de felicidade. Muitas vezes o difícil é apenas perceber como somos felizes. Ajudados a nos dar conta de nossa felicidade, nos tornamos capazes de saboreá-la e com isto afirmar nosso estado de ser feliz. Alguns dos antigos autores que falaram sobre felicidade o fizeram de forma tão feliz (!) que nada há a acrescentar ao que foi dito.
A primeira coisa a lembrar é o fato de a felicidade ser um fenômeno interno, que ocorre aqui, dentro de cada um de nós, em função de nossas estruturas psicológicas. Delas, a rigor, depende nossa capacidade para sermos felizes e desfrutarmos a felicidade. Ninguém pode se dizer feliz se não tiver consciência disso e, portanto, compreensão do que quer dizer felicidade. Convém, pois, saber com clareza o que é, e também o que não é felicidade. É preciso saber com o que costumamos confundir felicidade.
Aprendi, em um episódio de minha vida, a imensa diferença entre tristeza e infelicidade. E foi uma lição tão útil e definitiva que decidi começar por narrar esta pequena história.
Correr atrás da felicidade
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Felicidade não depende de detalhes ou circunstâncias, mas de uma deliberação pessoal. Devemos nos exercitar em correr atrás da felicidade e transformá-la em um objetivo de vida.
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Há muitos anos, procurei um analista para repensar algumas questões de minha vida. Era minha terceira experiência de análise e escolhi um inglês de mais de 80 anos que morava em Los Angeles e que eu reputava como o melhor analista vivo. Durante mais de quatro anos desenvolvemos um trabalho que começou a distância – eu o visitava duas vezes por ano e nos víamos também quando ele vinha ao Brasil fazer palestras. Na medida em que esta análise cresceu em importância para mim, tomei a decisão de me mudar com minha família para Los Angeles, para ter a possibilidade de uma terapia mais intensa. Foi um período de trabalho psicanalítico extremamente frutífero, que durou quase um ano e meio.
Quando decidi terminar a análise e voltar para o Brasil, me dei conta de que provavelmente jamais veria novamente o meu analista. Na última sessão que tivemos, eu estava consciente de que aquela seria a última vez que nos encontraríamos. Eu o apreciava enormemente e era muito grato pela imensa ajuda que ele me havia concedido. Assim, nossa despedida me deixou profundamente triste. Percebi então que havia uma diferença básica entre alegria e felicidade, ou entre tristeza e infelicidade. Ao mesmo tempo que eu estava triste por me despedir de meu amigo, eu havia feito essa escolha e sentia-me feliz com ela. Porém, não podia me impedir de ficar triste ante a possibilidade de nunca mais voltar a ver alguém a quem eu tanto estimava. Os dois sentimentos conviviam no meu coração.
Esta experiência me serviu para perceber que a felicidade não depende de detalhes ou circunstâncias, mas de uma deliberação pessoal. Aprendi que devemos nos exercitar em correr atrás da felicidade e transformá-la em um objetivo de vida.
Felicidade e harmonia interior
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Nunca é demais insistir na ideia de que a felicidade está relacionada com a alegria por estarmos vivos e podermos desfrutar do que a vida nos oferece.
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Se uma pessoa não está se sentindo feliz, deve-se perguntar o que precisa para ser feliz, o que estaria lhe fazendo falta. Mas, atenção à resposta. Se ela fizer uma lista de pessoas, objetos, poderes; enfim, coisas materiais, concretas, isso é sinal que esta pessoa está vinculando sua felicidade a coisas que podem ser perdidas e, portanto, sua felicidade tem bases pouco sólidas, que podem ruir de um momento para o outro. A melhor felicidade é a que depende apenas do que está dentro de nós.
Na verdade, a felicidade consiste em essência na harmonia interior entre nossos desejos e a possibilidade de conviver confortavelmente com a não realização dos mesmos. Quanto mais formos capazes de adiar a satisfação de nossas vontades e conseguirmos aceitar dificuldades em obter realização sem, por outro lado, desistir de procurar resultados, melhor equipados estaremos para chamar nossa serenidade interna de felicidade.
A felicidade não pode depender de algo que ainda não aconteceu. Ao visualizarmos a felicidade como um fenômeno que irá ocorrer no futuro, ficamos condenados a esperar um amanhã que nunca chega e a felicidade estará sempre localizada em um momento que jamais virá. Aquilo que nos falta não deve estragar a possibilidade de saborear o que a vida nos oferece. Nunca é demais sublinhar o fato de que a felicidade está relacionada com a alegria por estarmos vivos e podermos desfrutar tudo o que a vida nos oferece. Para saborearmos o sentimento de sermos felizes, devemos saber valorizar o que encontramos de favorável e positivo, aceitando sem amargura as dificuldades que aparecem e as dores que as perdas nos causam, sempre cultivando a alegria decorrente da maravilhosa oportunidade de participar da vida.
A verdadeira felicidade
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Somos felizes quando valorizamos o que temos em vez de sofrer com o que não temos.
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Afelicidade existe, apenas não é como a gente habitualmente imagina. Um exemplo: olhando para uma pessoa cega, facilmente nos vem à cabeça a ideia de como ela seria feliz se pudesse enxergar. Daí podemos deduzir que qualquer um de nós deveria ser feliz por poder ver. Contudo, qualquer um pode perceber que a felicidade não é tão simples assim, e que provavelmente o fato de passar por uma situação de cegueira não será suficiente para fazer uma pessoa se tornar feliz com a cura. Podemos imaginar como ficaria feliz uma pessoa cega e paralítica ao acordar em uma bela manhã e descobrir que está curada – pode ver e andar normalmente. Porém, nós que enxergamos e andamos sem problemas não ficamos felizes ao constatar, pela manhã, que continuamos com saúde.
Na verdade, a felicidade não depende do que temos ou deixamos de ter – o dom da visão e a capacidade de locomoção, como no exemplo acima –, mas do que fazemos com o que possuímos. O que importa não é enxergar e ser capaz de andar, mas as coisas que percebemos e de que nos aproximamos e como as apreciamos. Somos felizes quando valorizamos o que temos em vez de sofrer com o que não temos. Assim sendo, a felicidade está ao alcance das pessoas que possuem deficiências – nada impede um cego ou um paralítico de serem felizes.
Quando nos conscientizamos do real valor da vida, percebemos que mais importante do que as coisas que conseguimos, ou do que nosso fracasso em obtê-las, é saber