Antígona
De Sófocles
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Sobre este e-book
Antígona, peça de Sófocles, aqui traduzida pelo grande escritor e dramaturgo Millôr Fernandes, traz o embate entre um rei e sua sobrinha. De um lado, há um monarca que acredita ter um poder sem limites, e, de outro, uma jovem rebelde decidida a assumir uma sentença fatal, alegando agir em nome de leis naturais, verdadeiramente supremas, que precederiam os poderes do soberano.
Na introdução, Adriane da Silva Duarte, professora de Literatura Grega na USP, afirma que Antígona "ganha relevância sempre que, assombrados pelos mortos, precisamos resistir". E não é difícil para nós, leitores contemporâneos deste clássico, reconhecermos o que ela nos explica. O confronto entre Creonte e Antígona encena rivalidades centrais da experiência humana — a justiça e a injustiça, o direito natural e o direito positivo, a sociedade e o indivíduo, o Estado e a consciência, a prática e a moral, a submissão e a rebeldia, o masculino e o feminino, o velho e o jovem.
No posfácio, o aclamado diretor, ator e professor de teatro Amir Haddad pergunta: "Como posso atender um chamado forte dentro de mim sabendo que a realização desse desejo não será bem recebida pelo mundo em que eu vivo?" Essas são algumas das questões levantadas por esta peça, as quais desde a Antiguidade, têm se mostrado atemporais e, portanto, tão próximas à nossa vida.
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Antígona - Sófocles
Copyright © Editora Paz e Terra, 1996
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Sófocles
S664a
Antígona [recurso eletrônico] / Sófocles ; tradução Millôr Fernandes. - 1. ed. - São Paulo : Paz e Terra, 2021.
recurso digital
Tradução de: Antigone
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5548-032-0 (recurso eletrônico)
1. Teatro grego (Tragédia). 2. Livros eletrônicos. I. Fernandes, Millôr. II. Título.
21-71739 CDD: 882
CDU: 82-21(38)
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472
Produzido no Brasil
2021
SUMÁRIO
PREFÁCIO
ANTÍGONA
POSFÁCIO
PREFÁCIO
A PERMANÊNCIA DE ANTÍGONA
Adriane da Silva Duarte¹
A tragédia nasce na Grécia como expressão da cidade democrática, ávida por passar em revista as velhas histórias narradas pelos poetas épicos ou transmitidas pelos mitos. O drama, além de trazer para diante dos olhos as personagens em ação, é polifônico, garantindo a cada uma delas a manifestação de pensamentos, diversos e por vezes inconciliáveis. No centro da trama está a personagem coletiva do coro, que evoca a presença do cidadão e promove o vínculo entre espectadores e personagens, deuses e homens — sim, porque o teatro, para os gregos, é parte dos festivais religiosos.
Antígona trata de vários temas sensíveis: a polarização destrutiva que mergulha a cidade em guerra civil, o exercício do poder absoluto, a necessidade de respeitar os mortos. A tragédia tem início com a proclamação de uma lei que proíbe aos tebanos prestar honras fúnebres a Polinices — um dos filhos de Édipo —, morto em combate contra Tebas. Sua morte foi o ponto final da disputa fratricida entre ele e Etéocles, que levaram às últimas consequências seu desentendimento sobre como dividir o trono. Creonte, tio dos jovens, assume o poder disposto a se impor. Não admite ser contrariado e exige dos cidadãos total obediência. Antígona não concebe deixar o irmão insepulto e, a custo da própria vida, desobedece ao decreto. Como resultado, é presa e condenada à morte, e Creonte, à vida, já que sobrevive para suportar o peso terrível de seus atos.
Em cena, Sófocles contrapõe Antígona e Creonte, cada qual defendendo aguerridamente sua visão de mundo. Ele, a primazia do governo dos homens e da cidade; ela, a lei ancestral dos deuses e a devoção à família. Seriam, de fato, posições inconciliáveis? Com quem está a razão? O coro, a princípio, apoia Creonte, mas termina por concordar com Antígona, sem deixar de apontar excessos evitáveis nos dois. Esse embate, assim como o desentendimento entre os irmãos Polinices e Etéocles — do qual deriva —, termina mal para ambos os contentores, elevando a tensão trágica ao ápice.
Desde que foi composta, há quase 2.500 anos, Antígona sempre esteve em evidência, mas há cerca de cem anos tornou-se onipresente nos teatros e nas livrarias mundo afora. A tragédia de Sófocles sobre a filha obstinada de Édipo ganha relevância sempre que, assombrados pelos mortos, precisamos resistir. Foi assim durante a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial; é assim quando a pandemia de Covid-19 ceifa vidas aos milhares, impondo restrições às cerimônias fúnebres. Não que nos entreatos Antígona se torne irrelevante, mas nesses momentos agudos ela se faz