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Os protetores e o império da escuridão
Os protetores e o império da escuridão
Os protetores e o império da escuridão
E-book341 páginas4 horas

Os protetores e o império da escuridão

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Sobre este e-book

um rapaz, depois de contatado por seres elevados, descobre ter sido convocado a uma missão. e junto a dois alienígenas, três espirituais e um demônio, combaterá um mau que pode acabar com toda a existência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526035707
Os protetores e o império da escuridão

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    Pré-visualização do livro

    Os protetores e o império da escuridão - MARCELO de seixas farias

    OS PROTETORES E O IMPÉRIO DA ESCURIDÃO

    Milhões de anos haviam se passado quando o universo, dominado com mãos de ferro pela senhora escuridão, entrou em colapso, a grandiosa Luz, senhora protetora da justiça, empreendeu guerra milenar. Saindo vitoriosa, a grandiosa Luz resolveu banir os quatro líderes negros, os condenando à prisão eterna, cujas entradas se encontravam protegidas em diferentes galáxias separadas por bilhões de estrelas. E a Luz decidiu dividir o universo em dois, e que nenhuma das partes deveria transpor as respectivas fronteiras.

    Por muito tempo, o paradeiro dos líderes negros ficou esquecido no vácuo da memória de todos, e a paz reinava no universo.

    Mas, eis que surgiu a ameaça, pois a frágil paz entre as partes fora abalada, quando um ser de incrível poder e maldade surgiu dos confins do universo, pondo em risco não só o equilíbrio das forças, como também toda a existência...

    1

    Convocação

    O vento arfava os poucos ramos de uma rua infestada de cadáveres, onde cães e incontáveis pássaros pretos banqueteavam amistosamente. Perto dali um jovem de frágil aparência, em desespero, corria, desconhecia os motivos de estar ali, lugar que lhe era assustador e desconhecido. O horror espalhara-se por toda cidade que se encontrava em ruínas. E Mike (o nome do rapaz) sentia forte mistura de odores que lhe causavam náuseas.

    O tempo passou rápido, o sol desapareceu num piscar de olhos, deixando a arruinada cidade na mais completa escuridão. Para ele, a única solução seria fugir para o mais longe possível daquele lugar, mas logo desistiu e estagnou onde estava ao ouvir gritos e gargalhadas fantasmagóricas. Ofegante e sem forças, o jovem parou próximo a uma bifurcação, de onde teve a leve impressão de já ter passado por ali.  "Estou sonhando de novo’’ pensou. Mas a dúvida que lhe importunava era de como sairia daquele sonho; anteriormente havia tido dificuldades em retornar à realidade. Como se, de alguma forma, quisessem lhe avisar alguma coisa. E parou exatamente na bifurcação onde terminara o anterior. Decidiu prosseguir e escolheu o caminho a sua direita.

    Os minutos resolveram passar vagarosamente, tremenda agonia já tomava conta de Mike que começou a se perguntar se realmente estava vivo. Foi quando percebeu que os gritos, antes ensurdecedores, tornaram-se inaudíveis, sendo substituídos pelo uivo do vento. O medo desapareceu, e o jovem foi pelo caminho precavendo-se de algum perigo iminente catando pequenas pedras. Só depois notou que estava descalço e de roupas esfarrapadas, com manchas azuladas espalhadas por todo corpo.

    O mais intrigante era o efeito de cada passo seu no solo, pois seus pés afundavam e era como se pesasse muitos quilos acima de seu peso, mesmo não sentindo diferença alguma em si.

    Sem assombro, ouviu uma austera voz chamando. E a voz disse:

                  - Não tema, guerreiro, pois os dias de servir à Luz chegam.

                Mike olhou o dono da voz da cabeça aos pés, notou que era gordo e de pele escura, de sandálias e segurando um retorcido cajado. O comportamento do rapaz foi um tanto estranho ao homem, que perguntou: 

                  - Por que olha a minha pessoa desta maneira? Vê-me como um inimigo... Olha-me, garoto.

    Confuso, o rapaz hesitou em responder à pergunta. Não entendia o que se passava, tampouco conhecia aquele à sua frente. E uma incomum força vinda de seu interior o incitou a responder com outra pergunta:

                  - Quem é o senhor?

    2

                    - Silas, mestre espiritual de Alderan - prontamente respondeu. – Se vê confuso, imaginando estar em um simples sonho, caro rapaz. Mas saiba que está sendo informado de sua convocação pelas águas do destino.  – Apontou para Mike.

    - Eu? Convocado...?

                - Pare de deslumbramento, não há tempo para isto. Ainda há outros a serem convocados.

    - Como pode ser isso? Está bem, quer dizer que fui convocado - risos. – Concordo. Mas dá pra terminar o sonho agora? – risos.

          O comentário de Mike foi severamente repudiado pelo mestre, que levantou o cajado para o alto e aplicou um duro golpe em sua cabeça. Mike protestou pela dor, quando Silas lhe deu uma advertência.           

    - Não estou brincando, mortal. Meça suas palavras. 

                  - Ai! Você bate forte. Doeu - disse Mike, passando a mão na cabeça.

                  - Estou vendo sua falta de preparo. Acho mais viável uma comunicação bem mais direta.       

                  - Agora posso ir?

                    O mestre mostrou-se sem muita paciência. Encarou Mike e deu mais outro aviso dizendo "Ainda nos veremos’’. Depois sumiu como névoa diante dos olhos do atônito rapaz, que viu surgir, a sua frente, algo como a imensa bocarra de um monstro, um poço de dimensões gigantescas, cujo fundo não se via. O rapaz deu um passo para trás, temendo cair. Porém, abruptamente, o imenso poço começou a alargar, engolindo tudo ao redor. Em desespero, Mike correu sem olhar para trás, não sabendo nem para onde ir. O vento parou, os gritos voltaram a serem ouvidos. A terra, então, foi engolida, e o jovem caiu direto para a escuridão do abismo. Depois, o silêncio.

    Sobressaltado e com o grito sufocado, acordou bruscamente, tentando levantar da cama, caiu ao chão. Suado e ofegante, percebeu estar de volta à realidade, à sua vida. Ficou de pé, ligando a leve dor que sentia na cabeça ao baque sofrido na repentina queda.

                    Esticou os braços para cima e bocejou demoradamente. O rapaz entrou no banheiro, passou vários minutos embaixo do chuveiro, sendo avisado a todo instante por sua mãe, Silvia, de que iria se atrasar para a faculdade se não se apressasse. Não demorou muito, e o rapaz devidamente pronto, saiu de seu quarto ainda sonolento, com sua mochila e um grosso volume em uma das mãos. Mais uma vez, sua mãe o avisou de seu compromisso. Seu olhar era cheio de carinho e preocupação, tinha hábitos simples, mas muito esforçada.

                  - Vai chegar atrasado. Sempre acorda fora de hora.

                  - Não dormi bem na noite passada.

    3

                  - Só pode ta doente. Vamos atrás de médico.

    Indiferente as palavras de sua mãe, Mike procurou não perder tempo. Malmente tomou o café, despediu-se e saiu logo em seguida. No caminho, a mente povoada por lembranças do estranho sonho e do misterioso Silas, cujas palavras teimavam a lhe confrontar e lhe atrapalhavam o raciocínio.

    Nas horas que se passaram, mirou seus estudos, tentou não pensar mais em nada.

    Quando na saída da faculdade, foi abordado por um senhor desconhecido que estava vestido com certa elegância. O rapaz notou uma mórbida semelhança com o estranho do sonho, o que trouxe à tona a lembrança da noite anterior. Frente a Mike, ele disse:                                                             

                  - Nossa conversa está longe de um final.                             

    - Mas como isso é possível? Ontem sonhei com você – disse espantado.

    - Sim. Venha aqui e lhe explicarei tudo. Desde o princípio.

      Mesmo estranhando a situação, Mike sentiu que podia confiar, e não pensou duas vezes em acompanhar Silas até uma pequena e amplamente arborizada praça, onde se sentaram no macio gramado protegidos do calor do sol pela sombra de uma frondosa árvore. Acomodados, os dois conversaram, com Silas deixando Mike a par do assunto, revelando a ele alguns detalhes de sua incrível missão que, para Mike, mostrou-se fantasiosa até demais. E o mestre expôs o começo de tudo, muito antes da criação do homem, passando por uma crise milenar entre dois deuses maiores que o próprio universo, hora ou outra mencionando anjos e demônios. Contudo, o que mais chamou a atenção do jovem Mike foi o fato de sua importância em tudo aquilo. Por isso, Silas necessitava de uma resposta rápida e positiva do rapaz.

    Fascinado com o que ouviu, Mike disse não saber o que responder, apesar de acreditar em tudo aquilo. Mas havia muitas dúvidas a serem esclarecidas. Principalmente, no que dizia respeito à razão de ter sido escolhido. 

      - Uma crise instalou-se no universo, por isso a convocação! - Disse Silas.

      - Mas, como vou ajudar? Não sei se posso!

      - Não se iluda com sua frágil aparência mortal. A partir do momento de seu ingresso, todas as suas dúvidas dissiparão. Abrace a causa e lute pela Luz.

      - Não sei. Tenho que pensar muito! Não posso abandonar minha mãe... Minha vida. 

      - Tem esse direito. Mas, caso recuse, também será atingido pela crise vindoura. Todos, em todas as esferas. Até mesmo os que ama.   

      - Não sei... acho que não sou a pessoa certa.

    - Deixe de ser tolo. As águas do destino nunca se enganam. Você é o que é, e não estaria aqui se fosse o contrário.

    4

                    - E como posso ajudar... Olhe! - disse Mike estendendo os braços.

      Austero, o mestre informou o valor de sua aceitação à causa, pois, como antes fora dito, as águas do destino o tinham ele como um dos integrantes do especifico grupo de guerreiros denominados protetores.

    Normalmente, o jovem Mike não daria ouvidos a tal conversa, mas concordou com tudo que ouvira do mestre. De forma alguma poderia ser induzido; mesmo possuindo considerável poder, ao mestre não era permitido interferir na decisão das pessoas. E mesmo a seu contragosto, Silas ouviu de Mike o pedido de um tempo para pensar. O mestre fixou o olhar no rapaz, calado, estático na mesma posição. Depois disse:

      - Se é isto que deseja, então o terá! Dentro de vinte e quatro horas, nem um minuto a mais, voltaremos a nos ver. Até lá, tenha a resposta.       

      Sem se despedir, o mestre rapidamente se deslocou na direção de uma estreita rua próxima de onde estavam, deixando o atônito rapaz. E, quando Mike decidiu fazer mais uma pergunta, correndo na direção do mestre, foi com grande surpresa que não mais o viu, Silas Havia desaparecido envolto em névoa branca, deixando-o ainda mais espantado.

        Meia hora depois, chegando a sua casa, percebeu a ausência da mãe ao ler um bilhete deixado por ela escrito ‘’já volto’’. Então, pegou a chave sob o jarro de planta ao lado da porta e entrou. Indo até seu quarto, atirou-se na cama. Ficou por ali deitado na penumbra. Em sua mente, cruzavam todas as informações ouvidas, junto com as imagens dos sonhos, deixando-o aturdido, confuso em relação à estranha conversa com o não menos estranho Silas. Ligeiramente cansado e apreensivo, ele bocejou e adormeceu, sem ao menos trocar de roupa, e uma vez mais lançado em um mundo de sombras, onde todos eram massacrados e escravizados. Como no sonho anterior, o imenso poço, de onde emanava odor acre e colorida bruma, se abria. O céu carregado de nuvens negras trazia a impressão de um temporal preste a desaguar a qualquer momento. E, naquele instante, Mike Forçou a vista, enxergando um pequeno ponto a se destacar no céu. No entanto, quando caminhou na direção do ponto, a fim de descobrir do que se tratava, foi parado por alguém que o chamou pelo nome. Com voz trêmula, um senhor de avançada idade que se vestia como um mendigo. Este dizia ser loucura se aproximar, e que Mike deveria fugir para o mais longe possível.

      - O que é aquilo? - perguntou Mike.

      - Hákriton! - respondeu o idoso.

      A resposta não fez sentido algum para o confuso Mike. Depois disso, num piscar de olhos, este se viu na borda de profundo poço. No susto, caiu como uma pedra.

    Porém, antes que chegasse ao fundo, uma grande e forte mão o segurou pelo braço, salvando-o, o deixando em local firme e seguro. O sonho terminou, Mike acordou, sem ao menos ter visto o rosto de seu salvador. Assustado, derrubou o abajur e quase que caiu da cama. Ficou surpreso ao perceber ser altas horas da noite. Estava escuro e silencioso. 

    5

      Na parede, o relógio marcava quase meia noite, o que o rapaz lamentou, coçando a cabeça, sentou-se na cama. Levantou, foi à cozinha e pegou na geladeira uma caixa de leite, que tomou em um copo, sentando-se à mesa. Bebia calmamente o liquido, quando foi surpreendido por sua mãe. Assustado, deixou cair o copo e sujou todo o chão, provocando um tímido protesto da parte de Silvia. O rapaz pediu desculpas e começou a limpar a sujeira provocada por ele.                                                                                                 

      - Quando cheguei, a casa estava só. Onde a senhora estava? - perguntou Mike. 

      - Fui ver um emprego. Depois fiz umas compras e no meio do caminho encontrei uma conhecida minha. Por isso que demorei.

      - Conseguiu... O emprego?   

      - As coisas vão melhorar filho - disse Silvia, um leve sorriso a despontar.

    Mike deu os parabéns à mãe, enquanto a abraçava forte, beijando-a no rosto. A alegria era óbvia, e o emprego de Silvia iria ajudá-los muito.

    Comemorações à parte, Silvia comentou sobre sua preocupação com o extremo cansaço do filho. Mike procurou se explicar, afirmando ser impressão da mãe. Nunca estive tão bem disse.

    Sua mãe, carinhosa, afagou seus cabelos e tomou de suas mãos a flanela umedecida, com a qual ainda limpava o chão. A conversa cessou rápido, pois Silvia não queria, de forma alguma, se atrasar em seu primeiro dia de trabalho. Mike se despediu e voltou a seu quarto. Porém, a falta de sono o obrigou a passar o resto da noite em claro, hora lendo um livro, noutra hora, assistindo tv. E as horas voaram, e da janela de seu quarto observou os primeiros raios do sol sobre os telhados das casas vizinhas. Em si, uma preocupação com o assunto do dia anterior e da importante decisão a ser tomada, de acordo com as palavras de Silas. Também outra preocupação o afligia: sair de perto de sua mãe, caso viesse a aceitar seu destino.

    Rápido aprontou-se para o que deveria ser seu último dia de vida normal, ou não. Tudo dependeria de sua decisão. Sequer comeu algo no café. Com aparência abatida, abraçou forte a mãe, desejando sorte no novo trabalho. Ela estranhou, mas preferiu não comentar.       

      - Mãe... 

      - Sim?!

      - Até mais - disse Mike.

      Silvia notara, sim, evidente preocupação estampada na face do filho, que saía sem o material de seus estudos. Sequer foi à faculdade, preferindo, assim, passar as horas seguintes sentado em frente à praia, onde sempre gostou de ficar. O vento do mar batia em seu rosto trazendo a gostosa sensação da liberdade. A vontade de esquecer-se de tudo e de todos o dominava; havia ido ali justamente como um teste, caso fosse verdade tudo dito por Silas, o mestre não terá dificuldades em me encontrar disse a si mesmo.

    6

      Contudo, as horas passavam e nada do mestre aparecer, e não vendo nenhum sinal do mesmo, já sentiu alívio na ideia de não ter que dar resposta alguma.

      Parecia um pouco nervoso. Na verdade, nunca gostara de esperar. Levantou-se e caminhou ao ponto de ônibus, no qual tornou a sentar à espera da condução.

    Era hora de grande movimento na rua, a multidão cruzava, vinha de todos os lados. Apesar disso, no ponto, somente Mike a esperar o ônibus que demorava.

    Olhando para o relógio, comprovou que este estava parado. Para seu espanto, Silas surgiu do nada diante de seus olhos. Ao redor, a completa paralisação dos transeuntes deixou Mike ainda mais sobressaltado. Tudo antes ouvido da boca de Silas era verdade, e ainda haveria de dar a resposta ao mestre, que o olhava com expressão de desagravo, dizendo estar esperando. Engolindo a ceco, o rapaz, antes de informar sua decisão, disse:

    - Não sei o que está acontecendo, mas não tenho medo de você. 

    - Nem deve. Há assuntos mais urgentes que esse, e você, Mike da terra, sabe muito bem quais. Já tem o que quero?

    - Se... eu aceitar, e ir com você, que vai ser de minha mãe? 

    - Sua genitora não será abandonada à própria sorte. Aliás, já estamos interferindo em favor da melhoria de sua vida. 

    - Ela vai sofrer muito com minha ausência... Não quero isso.

    - Disso ela não sofrerá!

    - Continuo sem entender.                                                                                                   

                - Nunca sairá de perto dela, e suas vidas mudarão. Mas isso só acontecerá se aceitar seu destino - disse Silas. - Há muitas dúvidas em teu olhar.

    - Se eu for com você, como ela não sentirá minha falta?

    - Outro o substituirá enquanto ruma para teu destino. Caso não aceite, tudo dito será apagado de sua memória e voltará à sua simples vida mortal. Mesmo assim, não estará seguro. Nenhuma pessoa no planeta estará. Agora, dê sua decisão.   

    Antes, Silas também informou que Mike iria retornar a seu lar, caso a vitória pendesse para o lado da Luz. Mike se viu encurralado, respirou fundo, procurou forças. Decidiu pelo sim

    Sem demora, o mestre estendeu a mão, tocando na fronte de Mike que, no mesmo instante, foi tomado por forte náusea. Cambaleante, caiu aos pés do mestre. Ainda consciente, ele viu surgir uma fulgurante luz que os envolveu por completo. E mais nada foi sentido ou dito, e uma profunda paz o envolveu, fazendo-o desligar de vez da realidade, indiferente a tudo ao seu redor.

    7

    Ainda entorpecido, o rapaz foi parar em um lugar cujas bucólicas paisagens eram povoadas por aves de rara beleza e brilhantes borboletas; um sonho, pensou. Mas as paradisíacas imagens duraram pouco, e recuperado, Mike percebeu que estava em um lugar muito bem iluminado, arejado e estranho. O chão era como um espelho, as paredes possuíam brancura incomum. O rapaz notou estar trajado com uma bata cinza de tecido muito leve e macio, sem inscrição alguma e sem costura. Percebeu não se tratar de outro sonho. Levantou-se de onde estava, notou estar um pouco acima do chão. A cama onde se deitava não possuía pernas, levitava no ar. Mike resolveu saltar e percebeu certa vagareza em sua queda, que mais pareceu um pouso. Indiferente, voltou sua atenção à procura de suas roupas e de alguma saída do lugar. Mas, bastou minutos para descobrir não haver saída alguma que pudesse ser usada por ele. Resignado, sentou-se no chão, esperou por Silas.

    Sem saber quanto tempo se passou, quando o sono já o tentava dominar, um zumbido lhe chamou atenção. Abriu os olhos disfarçando, percebeu uma porta se abrindo e dando passagem a dois miúdos seres de cabeça desproporcional, de pele amarelada, sem boca e de olhos grandes e negros. Os dois conversavam mentalmente entre si, gesticulando e apontando para Mike com os longos dedos. Apesar de nunca ter visto algo parecido, o rapaz não se mostrou surpreso. Nisso, quando os dois seres o chamaram com as mãos, Mike prontamente os seguiu como se já os conhecesse. Nem ele mesmo entendeu. 

    Os três caminharam por um longo corredor e passaram por várias portas com formas arredondadas e bordas prateadas e ornadas com estranhos símbolos. Mais à frente, houve uma breve parada diante uma porta bem maior. Um dos seres tocou a superfície da porta, fazendo com que se abrisse sem fazer um barulho sequer. Já na entrada, notou-se o deslumbramento de Mike frente à fabulosa visão que teve: uma imensa sala, onde as paredes eram apinhadas de janelas arredondadas. Ao seu centro, pairando muito acima do chão, um gigantesco globo flamejante. Ainda boquiaberto por tantas surpresas, não notou, apesar de tão perto do globo, não sentir o intenso calor que saía deste. E foi mostrada a ele a direção a ser tomada, por onde caminhou vagarosamente para o centro. Olhando para trás, ainda teve tempo de ver os dois estranhos seres se retirando do salão, tão silenciosos quanto antes. Mas sua surpresa foi tamanha, quando ouviu várias vozes, em uníssono, do alto, dirigindo-se a ele. Vozes que vinham do globo flamejante.     

    - Salve, grande guerreiro! Nós, os anciãos, o recebemos em nome da Luz. 

    - Onde está Silas? Onde estou? - perguntou o confuso rapaz olhando para cima. 

    - Ainda há muitas dúvidas em seu ser. O grande mestre Silas, há muito, nos deixou. Desde que entregou você aos nossos cuidados. Quanto a sua localização, está em uma das naves âmago dos orgânicos. Está entre amigos. 

    - Mas, faz poucas horas que conversei com Silas... eu acho! Depois dormi como uma pedra e... acordei aqui!

    - Está aqui há exatos noventa dias terrestres. - O comentário causou confusão na mente do rapaz. Os anciãos prosseguiram:

    8

    - Há forças superiores em ação e não as compreende. Isso será informado a você. Durante sua hibernação, foram feitas certas modificações em sua estrutura física e energética. Observe o reflexo no chão que em pisa. 

      Mike ficou surpreso ao notar que sua aparência não era mais a mesma, que estava muito diferente de antes; apesar de ainda conservar a cor de sua pele anterior, os cabelos, ao contrário, tornaram-se longos, sua altura e musculatura mais avantajada. Completamente irreconhecível. Até mesmo a cor dos olhos havia se modificado, ganhando um tom azulado, e uma rala barba dominava a base do rosto. O rapaz se refez da grande surpresa e voltou a indagar sobre os motivos da convocação, quando os anciãos começaram os relatos sobre o tirano ser e sua busca insana pelo poder supremo, que fundou um império massacrando todos os seus opositores. Mas suas pretensões mudaram a partir do momento da invasão ao planeta Arbórea, cuja avançada civilização mantinha contato direto com todas as esferas espirituais, e justamente por intermédio disto haviam conseguido, por muito tempo, evitar catástrofes ou algo ameaçador a sua existência. Assim, os arboreanos viveram em paz por muito tempo. Tanto que nem suspeitavam que tão mortal inimigo os observasse. E nem mesmo o imperador entendeu por que as defesas de Arbórea foram tão inúteis, apesar de terem os espirituais como aliados.

    Feroz ataque se deu quando as primeiras naves imperiais chegaram ao planeta, arrasando tudo a sua frente. Não demorou e as defesas reagiram, mas era tarde demais para uma retaliação, e o último guerreiro arboreano depôs a arma. Fim da guerra, ao mesmo tempo da chegada do próprio imperador ao planeta. De posse dos conhecimentos científicos dos arboreanos, descobriu mais sobre a estreita relação entre eles e os espirituais e da existência e exata localização dos líderes negros, o que foi uma grata surpresa ao imperador. Então, ajudado por arboreanos rebelados, conseguiu total controle sobre a tecnologia daquela civilização. Em questão de dias, Hákriton alcançou a vida eterna, mas o imperador queria mais e, dispondo de considerável tempo, ordenou para que seus guerreiros também fossem modificados.             

    Transformados em verdadeiros monstros de pele azul, com parte de seus corpos revestidos por placas ósseas, os guerreiros de Hikizar tornaram-se imbatíveis servos sem vontade própria, e o imperador Hákriton aumentou ainda mais seu poder.   

    - Eu me lembro desse nome.  Ouvi em um sonho - disse Mike.

    - Sim! Ele é o motivo de tanta preocupação. Antes de sair de Arbórea, o imperador ordenou a chacina de metade da população do planeta, a metade apta a fazer contato com os espirituais, como também seus comunicadores. Sendo assim, demorariam a pedir ajuda. E as forças imperiais começaram a caça aos líderes negros. Cruzando as galáxias, obtiveram o sucesso esperado, apesar da resistência oferecida pelos guerreiros da Luz, guardiões das entradas das prisões eternas. No momento atual, o vil ser detém o poder de três dos líderes negros e ruma ao planeta terra, com a intenção de se apoderar do último líder. Aquele a quem chamamos de Samanágan. Se conseguir, será o regente de todo o universo. Isso acontecendo, todo ser vivente será escravizado. Todo!         

    9

      Se ele conseguir o quarto poder, chegará ao status divino, ressaltaram os anciãos, que também mencionaram sobre a deusa chamada escuridão, que parecia não se importar, apesar de também ameaçada. As vozes se calaram. 

      E foi-se algum tempo, o silêncio dominando o ambiente. Novamente, a altissonante voz dos anciãos ecoou, Mike voltou a ouvi-los.             

    - É necessária a intervenção das forças da Luz, e você faz parte disto. No ato do primeiro ataque do império, e do consequente fracasso das defesas dos guardiões, fora determinado à Hotariú, a nobre dama das águas do destino, a fazer uso destas, assim buscar a convocação de uma força de extremo poder. Assim esperamos evitar a completa ruína e livrar a todos desta ameaça.

    - Logo Entendi. Mas, e a Luz? Por que não interfere nisso? Poder ela tem! - disse Mike.

    - Essa questão vai à máxima de que todos os seres vivos devem provar merecer a vida. A Luz já fez seu papel. Agora é a nossa oportunidade de provar tal merecimento. Infelizmente, o poder de Hákriton aumentou de tal forma que devemos usar outros métodos.

      - E eu? Por que me escolheram? 

      - Não cabe a nós indagar sobre os motivos da escolha. Foi escolhido, obedeça ao chamado! –

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