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Nêmeses
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E-book570 páginas8 horas

Nêmeses

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Sobre este e-book

O que se iniciou como uma simples viagem à Grécia acabou por acarretar uma série de acontecimentos inacreditáveis, e capazes de mudar para sempre a vida de um grupo de jovens que, sem entender o porquê, se veem envolvidos em uma trama para salvar seu mundo, mas que também os levam a descobertas que põem em cheque tudo que era tido como verdade, os levando a entender que estão envolvidos em algo que vai muito além do destino de seu planeta. Crônicas da história impossível nos traz um mundo onde magia e ciência interage e se completam, as religiões e mitos ganham vida e onde a própria vida é explicada, uma trama onde todas as eras da Terra interagem e acontecem simultaneamente, onde o heroísmo bate de frente com a política e contra o tempo, para impedir o fim de tudo pelas mãos de uma força tão poderosa e maligna, que assombra os pesadelos de pensantes por todo o universo. obs: criei uma pagina no face para divulgar o livro, aos que se interessarem o link segue abaixo https://www.facebook.com/juniorjft95/
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mai. de 2017
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    Pré-visualização do livro

    Nêmeses - Junior Franzon

    Introdução

    Terra, um pequeno ponto perdido na imensidão do universo, que não teria nada especial não fosse à população que ali existia, não exclusivamente pelo fato de existir vida, pois a mesma é encontrada em números e formas inimagináveis, espalhadas pelos mais distintos cantos do universo, mas exclusivamente a raça humana que, diferentemente das demais espécies pensantes, desenvolveu-se incrivelmente rápido, atingindo em poucos milênios grande conhecimento, grande, porém não absoluto.

    Mesmo toda a sabedoria que os humanos possuem, não os faz perceber que bastaria abrir os olhos para descobrir coisas inacreditáveis, como as antigas e subestimadas lendas, taxadas apenas como histórias e que, de tão incríveis e fantásticas, não poderiam ter surgido do nada, indicando um fundo verdadeiro. Uma força superior capaz de inspirar a tudo era necessária, esta que poderia ser a responsável pela existência da Terra em seu estado atual, assim como a de sua gêmea Theia, um mundo completo em uma dimensão paralela com muitas semelhanças tanto geológicas quanto culturais, ainda assim possuindo singelas diferenças, que desencadearam acontecimentos capazes de definir o destino de todo multiverso.

    Prefacio

    Era dia e o sol jazia alto no céu, seus raios iluminavam boa parte daquele mundo, inclusive a pequena colina recoberta por flores das mais variadas formas e cores, de fato a vegetação só era interrompida por um caminho de pedras irregulares, que se dirigia a um esplendoroso e imponente templo construído em estilo grego antigo.

    A construção era enorme, feita completamente em mármore o que lhe atribuía à cor acinzentada do mineral, esta contrastando com o verde dos campos ao redor, e com as inúmeras trepadeiras em flores que se agarravam as colunas. No local um cheiro primaveril era sentido, e um calmo vento soprava agitando as gramíneas e refrescando o dia.

    A monotonia era total, nada acontecia e isso se refletia no rosto da solitária jovem, sentada confortavelmente às margens do pequeno lago interno no centro do templo, a bela dama tinha cabelos cinza, como as nuvens que anunciam uma leve chuva, e seus cristalinos olhos azuis, tinham o poder de penetrar na mente de quem ousasse encara-los, seu porte era imponente como o de uma rainha, já suas vestes se restringiam a uma túnica de fina seda, tingida em azul claro, cujo único adorno era um broche de ouro com o formato de uma coruja. Próxima a pegar no sono a mulher bocejava de tedio.

    O pequeno lago não era muito profundo, em sua superfície inúmeras vitórias-régias cresciam lhe agregando beleza, suas águas eram plácidas, atuando como um perfeito espelho cuja face fora tomada quase completamente pela mulher, esta situação porém logo se alterou, pois outra imagem surgiu e se misturou a anterior.

    Um fino nevoeiro começou a se infiltrar no templo, trazendo consigo uma leve friagem, sua densidade porém foi se intensificando rapidamente e tomando uma forma especifica, de modo que logo a mulher já não estava mais sozinha no lugar. Em meio a nevoa surgira à figura sombria e pálida de um homem, trajava uma magnifica armadura em estilo medieval, que se distinguia pois a muito o ser não estava entre os vivos, tratava-se de um fantasma.

    Ao notar o novo reflexo a mulher virou-se rapidamente, com o coração acelerado e com olhar de espanto encarou o ser – esta maluco? O que faz aqui? – exclamou ela em tom baixo – se meu pai te ver não sei o que pode acontecer – continuou em um sussurro levantando-se rapidamente, verificou instintivamente se havia mais alguém no templo. Seu semblante não demonstrava estar amedrontada, ao contrário estava até um tanto feliz.

    – Tinha de vir, está chegando a hora… – disse o ser com uma voz um pouco grave. Apesar de ser um espirito era possível ver claramente os traços de quando ainda vivia, seu rosto era alongado e mantinha uma feição jovem, 25 anos no máximo, seus cabelos eram curtos, cortados em formato de tigela e que, quando em vida, provavelmente eram loiros. O espirito deu alguns passos e se aproximou da mulher, enquanto caminhava não tocava no chão, levitando a poucos centímetros.

    – Tem certeza sobre isso? – prosseguiu a jovem receosa, apesar de conhecer o ser sentiu um leve arrepio, ao vê-lo se aproximar – retomar a batalha uma vez mais… parece-me loucura, logo agora que obtivemos algum sucesso…

    – Não diga que vai me deixar na mão? – retrucou o espirito fingindo um desapontamento.

    – Não, não – respondeu a garota instintivamente – fiz uma promessa que ajudaria, e estarei até o fim ao teu lado, ademais também acredito que seja o certo – novamente o receio a abateu – é que…

    – É que… é que… – satirizou o espirito – pra que tanto receio? Sabe muito bem que a prisão Âmbar não o segurara para sempre, se ele não se libertar agora, futuramente o fará – fez uma leve pausa para observar sua ouvinte, que estava atenta a cada palavra – contudo o momento agora é propício, e temos uma chance para a sua derrota definitiva, ou se esqueceu das palavras de Samara e do peregrino do tempo?

    – Eu entendo perfeitamente – disse a mulher disposta, passando por um surto de realidade – quando tudo vai começar?

    – Semana que vem – respondeu o fantasma cruzando as pernas, em formato de meditação lótus começando a levitar – a partir daí os doze serão apresentados ao mundo grego, depois disso simplesmente os guiarei secretamente, até chegarem a você.

    – Devo revelar-lhes tudo?

    – Não o destino e o tempo fará isso, devemos apenas coloca-los no caminho certo – disse o espírito desviando o olhar da garota, admirava o canto de um pássaro em seu ninho numa das colunas – o resto é com eles.

    A garota suspirou – tenha em mente que não será fácil.

    – Estou bem ciente disto… – retrucou o fantasma sendo interrompido de súbito pelo som de passos, procurando a origem notaram que vinham das escadarias, localizadas na parede norte. Eram passadas pesadas e lentas que seguiam um padrão normal, contudo que alertaram aos dois que conversavam. Em pouco tempo já era possível ver dois pés masculinos descalços descendo os degraus.

    – É meu pai! – exclamou a garota desesperando-se.

    – Estou vendo – disse o fantasma virando-se tranquilamente em direção as escadarias, logo em seguida retornando a posição original – não se preocupe, já vou embora… – disse ele começando a desaparecer vagarosamente – e Atena… – seu corpo já havia sumido quase por completo, exceto pela cabeça que ainda estava na sala – não se preocupe, os livros da luz já começaram a ser escritos, isso mostra que a nova era já está reinado perante o universo, tudo ficara bem – enfim o fantasma desapareceu levando consigo toda a nevoa do lugar, um rosto amistoso e feliz foi à última coisa que a deusa viu, o que acalmou seu interior, porém ao ver a face severa de seu pai, que já chegara ao pé da escada, voltou a se inquietar.

    – Tomara que estejas certo... – suspirou ela em aflição – e que os deuses nos ajudem, literalmente…

    Capítulo 1: O atraso

    Mais um dia amanhecera em Theia, era uma manhã sexta–feira, dia letivo, significando que boa parte das crianças e adolescentes deveria estar estudando.

    Não era o caso de um jovem que dormia despreocupadamente em sua cama, a seu lado o relógio disparava o alarme incessantemente, mas que não era o suficiente para desperta-lo, suas baterias estavam fracas, o que ocasionara um atraso de vinte minutos e o fraquejar de seu toque, que já quase se extinguira. A vibração porém gerada pelo despertador acabou por fazê-lo deslizar por sobre a superfície do criado-mudo onde estava, resultado em uma queda.

    Um grande estardalhaço então surgiu no quarto, coincidentemente logo abaixo do criado-mudo havia uma bacia metálica, fora esquecida na noite anterior após a realização de um experimento para a escola, o objeto fora acertado pelo relógio, gerando um alto barulho metálico que ecoou pelo quarto, este se intensificado pela vibração do toque que combinados foram mais que o suficiente para despertar o adormecido.

    Acordado, todavia um tanto atordoado, o garoto ficou procurando a origem do barulho, finalmente viu o despertador dentro da bacia e o desligou devolvendo-o ao seu lugar logo em seguida.

    Sentou-se ao lado da cama com uma cara de que não queria sair dali, meio a contragosto espreguiçou-se, usava um short branco e uma camiseta desgrenhada de mesma cor, seu cabelo desarrumado e os olhos semicerrados apenas comprovavam que ele havia acabado de acordar, esfregou os olhos para desembaçar sua visão, logo começou a olhar o lugar à sua volta.

    Era um grande cômodo com inúmeras camas distribuídas em duas fileiras, todas vazias e já arrumadas, uma única janela existia tomando conta de quase toda a parede, por onde entrava uma leve brisa agitando suavemente as cortinas, ao fundo o topo de uma arvore indicava que não estava no térreo.

    Não era uma casa, tão menos um hotel, mas sim um grande orfanato, Bergamonte Filho era o nome e no momento abrigava cerca de 300 internos, distribuídos entre meninos e meninas espalhados por quatro andares do que um dia foi uma rica casa de família, mas que fora doada à prefeitura, e por isso recebera o nome em homenagem ao seu doador.

    O cenário porém não importava para o garoto, Thiago Allbaran era seu nome, e como sempre vivera ali já estava acostumado, o que estranhava contudo era o fato de não haver mais ninguém ali, olhou no relógio e só estava atrasado alguns minutos, ainda desconfiado decidiu verificar e abrindo a primeira gaveta de seu criado-mudo retirou um celular, arregalou os olhos ao ver que horas realmente eram.

    – To atrasado! – exclamou ele pulando da cama e correndo até um dos guarda-roupas do quarto. O garoto era um jovem de 16 anos, ainda estudante e como tal devia estar em sua escola, cuja aula começava às oito horas, o que lhe dava menos de menos de vinte minutos para chegar ao local.

    Encontrou seu uniforme dentre inúmeras outras peças de roupa, sem demora tirou a roupa de dormir que usava já se pondo a vestir a outra, colocou a camiseta o mais rápido que conseguiu e o fez sem dificuldades, tentou repetir o mesmo com a calça, porém se desequilibrou ao enfiar uma das pernas na peça de roupa, acabou caindo, terminando de vesti-la ali mesmo no chão. Levantou-se rapidamente fechando o zíper e agarrou sua bolsa em outro guarda-roupa, enfim pronto saiu correndo enquanto ajeitava os cabelos com a mão, desceu as escadarias e logo já se encontrava na rua.

    O colégio Don Bosco, onde estudava, era uma rígida escola pública que não aceitava atrasos, alunos retardatários teriam de prestar explicações na diretoria, coisa que Thiago não estava a fim de fazer, contudo sete quadras separava o orfanato do colégio, já o garoto tinha apenas dez minutos para completar o percurso, sem enxergar outras opções simplesmente começou a correr pelas ruas na esperança de vencer o tempo.

    A missão parecia ser impossível principalmente para alguém com o porte físico dele, era alto evidente em seus 1,85m, contudo possuía um corpo magrelo, sem músculos ou barriga, seus cabelos eram loiros e se mostravam um tanto arrepiados, devido ao tratamento que receberam mais cedo, com um rosto um tanto alongado uma barba mal feita era vista demonstrando desleixo. Era um garoto comum, sem nada de especial não fosse por seus olhos, dotados de uma coloração cinza rara, mas não incomum, isto porém não ajudava em nada na situação em que se encontrava, contudo tinha sim algo lhe favorecia, algo oculto das vistas de todos, conhecido apenas pelos mais chegados, Thiago era um mutante.

    Mutantes são seres humanos com diferenças genética, que lhes proporcionam dons especiais que os acompanham desde o nascimento até o fim da vida, em outras palavras, pessoas com poderes, por toda Theia eles existem, com relatos de sua existência surgidos desde o século XIV, atualmente representam uma parcela de 45% da população mundial.

    Existem por volta de 1200 classes diferentes de mutantes catalogadas, ainda assim muitas vezes se descobre uma totalmente nova, uma mutação da mutação, como por exemplo, os ditos técnopata mutantes capazes de controlar tecnologia e que, segundo a ciência, são mutações dos metalpata que são controladores de metais. Existem também os mutantes puros, que não mudaram desde seu surgimento, como os pirotéc que são controladores de fogo, outros pertencem à classe dos Mults que são aquelas pessoas com mais de uma mutação, a maioria com dois, até três classes, em casos raros dez ou mas, sendo os conhecidos por omines, que tem em si um misto da maioria das mutações, a mais rara e poderosa mutação existente, só ocorrendo em um a cada 1 bilhão nascimentos, e por algum equívoco da vida Thiago se tornara esse um.

    Por ser um omine uma velocidade extrema era um de seus dons, mas existia um problema, o garoto não controlava muito bem seus poderes, talvez pela variedade excepcional, talvez pela falta de treino, seja como for sempre que tentava usa-los acontecia alguma coisa inesperada, além do fato de o mesmo ser meio desastrado contribuir para esta estatística, porém ele era determinado, e não iria desistir sem ao menos tentar.

    Deu os primeiros passos, logo o mundo a sua volta começou a caminhar lentamente perante seus olhos, conseguia ver tudo como se fosse uma foto, o que lhe dava tempo o suficiente para desviar de quaisquer obstáculos que encontrasse pelo caminho, pessoas, placas, os carros nas ruas não lhe eram problema, pois corria em uma velocidade maior, duas quadras foi-lhe percorrida em segundos e em linha reta. O primeiro obstáculo mais difícil então surgiu, ele tinha de virar a esquina e não era muito bom em curvas, porém diminuiu drasticamente a velocidade e conseguiu transpassar o obstáculo, ainda assim acabou patinando um pouco ao mudar de rumo, nada muito grave.

    Apenas cinco quadras agora separavam o jovem omine de seu objetivo, de relance viu um relógio em uma loja e se alegrou ao perceber que ia conseguir.

    Estava extremamente feliz, não só por chegar a tempo, mas por finalmente ter conseguido usar seus poderes adequadamente, a euforia porém o distraiu. As cinco quadras se passaram, e o garoto teria de virar novamente em uma esquina, contudo envolto em seu ego exaltado, acabou percebendo muito tarde a hora de mudar de direção, tentou reduzir a velocidade, contudo já era tarde para tal, atravessou a rua freando e um carro teve de parar para não atingi-lo, já em velocidade normal tropeçou no meio fio, se esborrachando em um monte de folhas secas e lixo amontoado na calçada.

    Meio atordoado devido à queda, o garoto se sentou com as folhas esparramadas ao seu lado, algumas pessoas se juntaram ao seu redor para ver o que tinha acontecido, olhando para elas ele viu sua escola logo à frente, também o porteiro já fechando o enorme portão azul da entrada, caindo em si se levantou o mais rápido que pode, começando a correr novamente, agora em velocidade normal. O esforço foi em vão, quando enfim chegou ao seu destino se viu trancado do lado de fora.

    – Merda! – exclamou ele em voz alta, chutando uma lata amassada que estava no chão em raiva. Olhou para o portão de ferro e pensou em bater, mas ao se lembrar de que teria de dar explicações desistiu, buscou outra forma de entrar, porém um alto muro branco, repleto de pichações, impossibilitava qualquer passagem, sem falar que o único acesso era a entrada principal que agora jazia trancada.

    Ficou andando de um lado para o outro sem saber o que fazer, poderia perder um dia de aula, todavia não o queria, tivera poucas faltas durante o ano e por estarem no fim de novembro restavam poucos dias de aula para terminar os estudos, o garoto estava no terceiro ano do ensino médio, por esse motivo àqueles seriam seus últimos dias de estudo, pelo menos naquela escola.

    Por suas notas e taxa de presença não seria problema perder aquele dia de aula, contudo tinha uma motivação especial, justamente neste dia ele e sua turma iriam partir em uma viagem, a saída seria à tarde, mas os preparativos aconteceriam de manhã, graças a isso ele se desesperava buscando uma maneira de entrar.

    Atrás de uma inspiração divina se escorou no muro cabisbaixo, mudou sua expressão subitamente e logo se alegrou – é claro, como sou burro – exclamou ele de sobressalto – tenho o poder de me teleportar, vai ser fácil entrar! – um sorriso surgiu em seu rosto, sem pensar duas vezes já botou seu plano em ação, desaparecendo da rua e instantaneamente aparecendo no interior do colégio, porém não exatamente onde queria, ao invés de parar no corredor em frente à sua sala terminou na pilha de sacos de lixo atrás do refeitório.

    Capítulo 2: Na sala de aula

    Thiago bufou, Levantou-se do meio dos sacos e começou a se limpar, retirando o máximo que podia do lixo que o cobria, enquanto caminhava com o intuito de se juntar a sua turma. Chegou esgueirando-se como se fosse um fugitivo da lei, tomando o cuidado de não ser visto das janelas da sala, em uma oportunidade olhou pelo vidro levemente embaçado, para sua felicidade descobriu que sua professora ainda não havia chegado, sem perca de tempo, e deixando de lado a cautela, ele correu para a porta e entrou na sala, sentando-se rapidamente em seu lugar, tudo isso acompanhado de inúmeros risos dos demais alunos.

    O garoto não se importava com os risos, já estava acostumado, o importante era que ele havia chegado a tempo, tempo esse perfeito, pois mal o garoto colocou sua mochila nas costas da cadeira, e sua professora já adentrara a sala, foi como se apenas estivesse esperando sua chegada para começar a aula.

    – Todos sentados e com livros abertos, pagina 129 – essas foram suas primeiras palavras para a turma. Com uma voz ríspida parecia menosprezar os alunos, não se dignando sequer a um bom dia antes, seu humor parecia estar pior do que nunca.

    Donna Parker era uma mulher de 40 anos que, para a turma, dava aula em três matérias diferentes, sendo elas matemática, física e química, o que garantia aos alunos ter de encara-la a semana inteira, isso era um problema, pois seu estilo de dar aulas era o de uma professora linha dura. Seus cabelos levemente grisalhos jaziam amarrados atrás da cabeça, seus óculos se mantinham pendurados no pescoço e suas roupas se limitavam a um vestido florido. Sua expressão era séria demonstrando não estar para brincadeiras, antes mesmo de seus alunos abrirem os livros ela já se pôs a escrever no quadro.

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    – Escapou por pouco dessa vez em cara – comentou Eduardo em tom sarcástico, tomando o cuidado de falar baixo para a professora não os ouvir.

    – Por que vocês não me acordaram?! – reclamou o garoto irritado enquanto abria sua bolsa.

    – É que você estava num sono tão profundo... – comentou Lucas fingindo ter pena do garoto.

    – Hahaha, muito engraçados vocês dois – persistiu Thiago um tanto quanto aborrecido, pra piorar estava tendo dificuldade em tirar os livros de sua bolsa, pois estava desarrumada e repleta de lixo, quando finalmente conseguira pegar o caderno este veio acompanhado de uma boa quantidade do lixo.

    Eduardo e Lucas sentavam-se a direita e a esquerda do garoto omine respectivamente, eram alguns dos melhores amigos do garoto e assim como ele órfãos, aliás, muitos naquele colégio também eram do orfanato.

    Eduardo tinha estatura mediana, era um pouco mais encorpado que Thiago e, assim como ele, também tinha cabelos loiros, compridos o bastante para recobrir parte das orelhas, em sua face olhos verdes e um rosto arredondado, um nariz pequeno e um sorriso perfeito, Lucas ao contrário era baixo e tinha um pouco de barriga, era dotado de cabelos negros cortados bem curtos e um rosto arredondado, olhos castanhos e um sorriso levemente torto. Ambos eram parceiros inseparáveis e adeptos da antiga arte da palhaçada.

    – Fica bravo não Thiago – proferiu Camila com uma voz meiga entrando na conversa – você que deixa seu despertador programado pra acordar depois pra evitar filas no banheiro.

    – Ele atrasou – resmungou o garoto catando o lixo no chão.

    – Então não podíamos fazer nada, não poderíamos saber disso, pelo menos você chegou a tempo, e eu quero saber todos os detalhes, pois parece que hoje a história é boa – a garota tentava conter riso, notara uma casca de banana presa à gola da camisa do amigo, esticou-se para pega-la e ao fazer notou também pequenos galhos e folhas em seu cabelo – o que aconteceu com você?

    A situação despertaria a curiosidade em qualquer um, ainda mais para Camila que já a tinha por natureza, em sua face uma pequena pinta na bochecha se agitava, era um movimento involuntário em sua boca, um tique nervoso que se manifestava quando ficava curiosa, se tornara uma característica especial única que lhe dava certo charme, e combinava bem com sua pele morena, olhos castanhos e cabelos encaracolados.

    – Quando vi que tinha perdido a hora resolvi correr pra ver se conseguia chegar a tempo – começou Thiago em seu relato matutino, neste ponto finalmente conseguira abrir seu caderno na matéria de matemática, ainda assim não havia copiado sequer uma linha do que estava escrito no quadro – minha primeira ideia foi vir correndo usando a super velocidade…

    – Já sei, não conseguiu – intrometeu-se Anderson com um sorriso sarcástico, o jovem pegava no pé de Thiago por ter pouco controle de seus poderes, ele por outro lado era um hérbopata, dominador das plantas que, para um mutante comum, era até bem desenvolvido. Tratava-se de um jovem de estatura baixa de corpo levemente musculoso, sua pele era bronzeada e seus cabelos loiros com um pequeno topete, olhos verdes combinando com seus poderes eram vistos em sua face. Por seu porte, aparência e habilidades era normal ele ser considerado o descolado do grupo, o que às vezes o deixa um tanto arrogante.

    – Não exatamente! Eu consegui sim pra sua informação – retrucou Thiago forçando um ar de superioridade, desistiu quando se lembrou do que acontecera em seguida – …bem, pelo menos até a esquina do colégio – parou de falar para apagar uma palavra que havia escrito errado, transcrevia as escritas do quadro o mais rápido que conseguia e sua letra, que já era feia por natureza, agora se mostrava quase indecifrável – ao chegar à esquina eu me atrapalhei ao fazer a curva, com isso acabei me esborrachando em um monte de folhas.

    Todos que o ouviam tiveram de se conter para não rir, contudo suas expressões não escondiam o tom cômico que colocaram por sobre a história, agora boa parte da sala agora ouvia suas palavras, concentrado em escrever Thiago não percebera a atenção que para si – não fosse isso eu teria chegado a tempo, mas infelizmente peguei o portão fechado.

    – E como entrou? – perguntou Camila se contorcendo para saber o fim da história.

    – Tive a ideia de me teleportar para dentro do colégio, e realmente o consegui, só que… – Thiago dessa vez ficara corado, o acidente sofrido foi muito vergonhoso, seus colegas o ouviam atentamente e nem ligavam mais para o quadro – bem eu poderia ter surgido no meio da sala, no corredor, na biblioteca ou em qualquer outro lugar, não iria me importar, mas não! – lastimou ele, enraivecido com o ocorrido parou de escrever – eu tinha de ir parar justamente no monte de lixo do refeitório.

    Desta vez o riso não pode ser contido, todos desde seus amigos até os alunos ao se redor desataram a rir, a história se espalhou rapidamente pela sala, logo toda a turma estava em algazarra com risos e gargalhadas de boa parte dos alunos.

    Não demorou a bagunça chegar aos ouvidos de Donna Parker, sua reação foi imediata – SILENCIO! – gritou ela em alto em bom som, não um grito normal de professora, mas sim uma onda sonora que invadiu a sala, e fez voar os papéis de várias carteiras. A turma que antes ria se calou instantaneamente e agora olhavam diretamente para a professora que se mantinha com uma expressão séria analisando todos os alunos.

    Donna tinha uma regra principal, conversas paralelas são proibidas!, o que já era algo ruim para os alunos, e só se intensificava devido às habilidades sonoplastas da professora, uma mutante com habilidades sonoras, que lhe permitia controlar o tom de sua voz, uma ótima técnica para controlar uma sala barulhenta o que fazia suas broncas serem sempre eficazes. Vendo os alunos calados voltou-se ao quadro negro.

    – Por que não atravessou a parede? É um dos seus poderes não é? – sussurrou Lucas assim que a professora se distraiu.

    – Nem me passou pela cabeça – disse Thiago envergonhado com o ataque de riso que causara.

    – É Thiago, você não tem jeito mesmo – continuou Anderson com reprovação – de que adianta ser um omine se não sabe nem que poderes têm?

    – Se você tivesse o mesmo número de poderes que eu não se lembraria de todos também – completou o garoto estressado.

    – Thiago! – exclamou Donna agora sentada em sua mesa e olhando para toda a sala, atrás dela um quadro completamente lotado de questões matemáticas – venha resolver no quadro o exercício n°1 – disse ela com uma voz monótona.

    O garoto bufou de raiva, não queria ir à frente, mas sabia que se não o fizesse seria pior, levantou-se então se dirigiu à frente da sala. Não teve dificuldade em resolver o exercício, contudo sem o personagem principal o assunto que alvoroçara a sala agora não existia mais.

    Capítulo 3: o ponto de encontro

    As demais aulas do dia para a turma foram mais tranquilas, nada de especial aconteceu, sendo suas matérias seguintes história e português, as dez o intervalo, com uma macarronada bem feita sendo servida, o que fez com que vários dos alunos comessem até se fartarem. Ao retornarem à sala tiveram novamente aula de história e por fim física, que como já de conhecimento de todos, também era ministrada por Donna Parker.

    A última aula contudo saiu um pouco da rotina, a excêntrica professora teve de se retirar da sala, ficando afastada por quase todo o período, fora chamada a diretoria para resolver assuntos referentes à viagem de sua turma, que aconteceria naquela mesma noite. Como se já não bastasse para a sala vê-la a semana inteira, também teriam de ir com ela a viagem, de qualquer forma todos esperavam que ela não estragasse o divertimento do passeio.

    A viagem era na verdade uma excursão para Atenas, capital da Grécia, e que contaria com toda a turma já que a mesma era gratuita. Foi um prêmio concedido à escola após um de seus alunos ter ganhando uma feira de mecatrônica em nível nacional, com um projeto inovador de um raios-X portátil, um aparelho leve de pequeno porte, com poder de alcance de até dez metros, e com potência para enxergar objetos com obstáculos de até um metro de espessura. O grande inventor foi Carlos Moyer, um dos garotos do orfanato e aluno do terceiro ano assim como Camila, Eduardo e todos os outros do grupo de amigos, doze era o número correto de membros, tendo cada um seus próprios trejeitos e habilidades, mas com coisas em comum, como o fato de todos serem do Bergamonte Filho e de que todos eram mutantes. Juntamente com a viagem a escola recebeu uma nova sala de informática, e Carlos ganhou uma bolsa de estudos numa grande universidade de mecânica.

    Donna Parker retornou à sala apenas às 11h50min, ou seja, faltando dez minutos para o fim da aula, com isso não teve tempo de passar matéria e os alunos agradeceram o fato. A única coisa que fez foi à chamada e distribuir as autorizações, para serem assinadas pelos responsáveis e entregue até a hora do embarque, fato que ocorreria por volta das seis da tarde, sem elas o aluno estaria impedido de embarcar. Quarenta alunos iriam nesta viagem sendo destes dezoito do orfanato, além, é claro, de três professores para acompanhar.

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    – Cara to surdo ainda com aquele grito de cedo – reclamou Gabriel, atirando sua mochila sobre uma grande mesa de pedra que ficava no pátio da escola. Cutucava a orelha como se a mesma estivesse tampada, para azar do garoto ele sentava-se nas cadeiras da frente, e por isso recebera mais fortemente o impacto sonoro do que os demais amigos. Era um rapais baixo e entroncado, um tanto desleixado e com cabelos negros levemente encaracolados, seus olhos eram castanhos e possuía um leve queixo duplo que era sua marca, também possuía algumas espinhas no rosto revelando assim sua adolescência.

    Raquel chegou por traz do amigo e assoprou fortemente em seu ouvido.

    – Que isso?! – exclamou o garoto recuando instintivamente.

    – Estava te ajudando ué – proferiu a garota com um incrível sorriso sincero estampado no rosto, que quase se fazia acreditar ser verdadeiro, era uma jovem lúmenes, mutante da luz, e por isso era extremamente simpática e bondosa, mesmo aprontado às vezes, mas dentro do normal. Seu poder parecia se espelhar em seu corpo, que quase sempre irradiava uma leve luz, notada apenas pelos mais chegados, além disso era muito bela, seu porte era alto e seu corpo esculpido com curvas perfeitas, cabelos lisos e loiros decaiam até próximo a seus quadris e uma boca pequena lhe era característica, seus olhos azuis eram capazes de transmitir paz a qualquer um que os olha-se, e pra completar ela sempre buscava vestir-se com roupas da moda, a deixando ainda mais bela.

    – Não precisa – disse o garoto com ironia.

    – A relaxa – continuou ela passando um dos braços por traz do pescoço do amigo – esquece o que aconteceu e vamos visualizar – com os polegares e os indicadores ela fez um L em cada mão, os colocando em frente aos seus rostos como se fosse um quadro – um avião, nos todos nele, pousando na Grécia, preparados para uma semana inteira sem escola.

    – É um sonho – suspirou o garoto com um leve sorriso.

    – Então acorda que é real – riu José dando um leve salto para sentar-se na mesa – dentro de algumas horas estaremos decolando – o garoto balançava os pés empolgado, sempre gostou de conhecer novas terras, e agora o faria internacionalmente, era um jovem bem simples e sem nada muito especial, não era muito alto, contudo tinha alguns músculos, a pele queimada de sol deixava marcas onde as roupas existiam, e cabelos negros se mantinham levemente arrepiados, combinando com e uma barba bem rala, mas ajeitada, tinha nos olhos uma clara cor castanha e na boca um dente meio quebrado que fora resultado de uma queda de bicicleta ocorrido há três anos.

    – Falou o géopata – brincou Eduardo pelo fato de o garoto ser um dominador de terra – aposto que vai querer trazer algumas rochas na mala de recordação.

    – Se achar algo interessante é claro que vou – retrucou o garoto – já você muito provavelmente vai voltar com uma suspenção – riu José vitorioso.

    – Não duvido nada – concordou o garoto que se conhecia muito bem.

    Uma forte brisa soprou no pátio da escola e interrompeu momentaneamente o grupo, logo que sessou puderam ouvir claramente os barulhos da cidade, carros com música alta na rua, pessoas conversando, comércios fazendo propaganda… a intensidade de buzinas e o som dos motores indicava que o transito estava caótico. Indiferentes porém se manteve o pequeno grupo, estavam acostumados e além do mais jaziam em seu ponto de encontro habitual.

    Tratava-se de uma mesa feita em granito que, originalmente era destinada aos alunos na hora do intervalo, mas que se tornou de certo modo exclusiva do grupo, pois sempre se reuniam ali. Pode ser simples contudo o lugar era especial, a mesa fora colocada a sombra de uma grande arvore centenária, um Pau-brasil que já tinha seus duzentos anos de idade, coisa rara de se encontrar principalmente em meio a uma cidade tão grande quanto São Paulo, a planta era sinal de orgulho a escola e também a embelezava, principalmente nos meses em que exibia suas belas flores amarelas com núcleos vermelhos, sendo a floração entre setembro a novembro as flores ainda eram vistas, contudo a maioria já tinha caído e os pequenos frutos começavam a brotar.

    – Quero dormir aqui – pronunciou Camila reclinando-se sobre a laje da mesa que, por estar na sombra e devido ao material com a qual era feita, se mantinha fresca e aplacava o calor.

    – Mas é melhor não fazer isso ou vai acabar perdendo o voo hoje – acresceu Anderson.

    – Deus me livre – exclamou a garota levantando num pulo – não é todo dia que ganhamos uma viagem desse porte, e ainda de graça.

    – De graça nada – retrucou Lucas – foi é sorte termos o Carlos como amigo, às vezes é bem útil – riu ele.

    – Valeu pela parte que me toca – proferiu Carlos em tom satírico.

    – Liga pra ele não – disse Thiago se escorando com o braço atrás do pescoço do amigo – você mereceu… mas é claro que foi bem útil ser seu amigo no fim das contas – concluiu ele começando a rir.

    – Bom, também é útil ser seu amigo Thiago, a gente sempre se diverte com suas trapalhadas – proferiu o garoto enquanto arrancava do braço de Thiago um adesivo de carro que fora colado quando o omine se teleportou para o lixo e que ainda não havia sido retirado.

    – Huuuu – gritaram todos em algazarra ao perceber a jogada do amigo e relembrar o mico de Thiago, Carlos abria um sorriso vitorioso, pois havia pensado rápido, era realmente um garoto bem inteligente, principalmente quando o assunto era referente à tecnologia, afinal essa era sua área tratando-se de um técnopata, mutantes capazes de dominar a tecnologia de maneira espantosa, parte de sua vitória na feira de mecatrônica foi devido a seu poder, todavia sua mente brilhante contou muito também. Era um garoto alto, meio magrelo e com um rosto afinado, seus cabelos eram loiros e levemente compridos e seu nariz era um pouco grande sem falar que algumas sardas existiam em sua face.

    Ao longe foi possível ouvir o sinal abafado de alguma empresa liberando seus funcionários para o almoço, já era meio dia e meio.

    – É melhor irmos – ressaltou Anderson olhando a hora em seu celular – temos de terminar de arrumar as coisas, em menos de cinco horas teremos de partir.

    – Não vamos esperar a Andreia, o Rafael e a Dani? – indagou Gabriel.

    – Eles foram direto embora – respondeu Raquel rapidamente – as meninas precisavam terminar de arrumar as malas e o Rafael foi acompanha-las.

    – Pensei que estávamos esperando eles – exclamou Gabriel saltando do banco – o que estamos fazendo aqui ainda?

    – Han… nada – disse Thiago sentado num dos bancos enquanto rasgava distraidamente uma pétala amarela que caíra da arvore – o orfanato é sempre cheio e aqui podemos conversar mais tranquilamente.

    – Se reunir na escola é muito nerd – resmungou o garoto.

    – Algum problema em ser nerd?! – brincou Carlos apontando para si mesmo com as duas mãos.

    Capítulo 4: O asteroide

    Washington (EUA) – Pentágono – 11 de junho.

    – Ai droga – resmungou Sara devido a uma queimadura em sua boca, ocasionada pelo café quente que tomava, também derrubara algumas gotas da bebida em sua roupa, e agora tentava limpar com uma das folhas de papel em branco da impressora. Era uma garota requintada, vestia um terno escuro e usava uma discreta corrente de ouro no pescoço, cabelos negros amarrados atrás da cabeça e um delicado rosto que revelava um sorriso perfeito, estava sentada com as pernas cruzadas, contudo o pequeno acidente a fez perder momentaneamente a pose.

    A sua frente uma impecável mesa de escritório com algumas folhas empilhadas e um computador, a secretaria eletrônica com uma luz piscando indicava que recebera uma ligação enquanto estivera no refeitório.

    – Ainda aqui Sara? – indagou Jacob se aproximando da mulher calmamente, notou os papeis na impecável mesa da garota, e o computador ainda ligado indicava que o turno de trabalho, pelo menos para ela, não tinha se encerrado, o relógio da parede indicava já ser perto das dez horas da noite.

    – Precisava terminar de preencher uns papeis senhor – respondeu a garota respeitosamente.

    Jacob riu – trabalha demais minha jovem – olhou para ela e reparou no café em sua roupa – devia limpar isso, pode manchar – continuou ele enquanto saia lentamente da pequena sala destinada a sua secretaria e entrava em seu próprio escritório.

    A mulher tentou esfregar novamente o pano manchado, contudo desistiu ao ver que era inútil. Voltou-se então a tela de seu computador, lá como plano de fundo jazia o desenho do pentágono, indicando o lugar onde estavam. Sara Smith era secretaria particular de Jacob Ruller que por sua vez tinha o título de general da aeronáutica do exército americano, em outras palavras um líder militar.

    De pele negra e sem cabelos, o imponente homem de olhos castanhos e rosto arredondado, sempre vestia um uniforme militar de limpeza impecável, que exibia inúmeras medalhas em seu peito, Jacob começara sua vida no exército aos 21 anos e desde então nunca mais saiu, participou de inúmeras batalhas e conspirações secretas, missões bem sucedidas e que contribuíram para os ideais do governo, graças a seus méritos foi subindo de nível e conseguindo status perante o exército, até que aos 40 anos assumiu o posto atual, o maior de sua divisão militar.

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    Há meia hora seguinte voou, Sara terminara seus afazeres e já depositara toda sua papelada em envelopes amarelos, os guardando em sua gaveta, fechou as janelas abertas em seu computador e já estava prestes a desliga-lo, antes, contudo um pequeno alerta de e-mail no canto da tela lhe chamou a atenção. Podia simplesmente ignorá-lo e verificar no outro dia, contudo por algum motivo decidiu que deveria descobrir o que se tratava, largou suas chaves sobre a mesa e abriu a mensagem, percebeu que fora enviado por alguém chamado Silas Agregor e cujo único conteúdo era A Jacob Ruller escrito como assunto sendo seguido por um arquivo de texto como anexo.

    Assim que começou a ler o conteúdo seu coração disparou, seus olhos se arregalaram e uma expressão de pavor tomou conta de sua face, à mão que antes se encontrava no mouse involuntariamente despencou ao lado da cadeira, a garota simplesmente entrara em estado de choque.

    Recuperada parcialmente após alguns minutos, Sara conseguiu se mover, com as mãos tremulas discou o ramal de seu chefe, um toque, dois, três, levou apenas alguns segundos, porém horas se passaram perante a mulher.

    – Alo… – respondeu Jacob atendendo a ligação normalmente.

    – Se… senhor – gaguejou a garota – pode vir aqui?

    O general percebeu o nervosismo na voz da secretaria e se alertou com isso, conhecia a profissionalidade da mulher e sua firmeza psicológica perante qualquer situação – irei imediatamente – respondeu ele encerrando a ligação e já se dirigindo à saída de seu escritório.

    – O que aconteceu Sara? – perguntou Jacob espantando com a situação que encontrou ao chegar à antessala seguinte, Sara ainda tremia pelo choque do quer que tenha visto e estava e sendo abanada por um homem em trajes militares, um soldado que a encontrou segundos antes e que fora socorrê-la.

    – Se… senhor – disse a garota ainda gaguejando – ve... veja esse e-mail.

    Jacob tocou no ombro da garota e com um olhar calmo lhe passou tranquilidade – leve-a a cantina, e de alguma coisa que para ela melhorar – ordenou ao soldado que de prontidão ajudou a garota a se levantar e a guiou lentamente para o corredor até desaparecerem segundos depois se virando para a direita.

    Assim que sozinho a expressão de Jacob se alterou, a tranquilidade deu lugar a um olhar sério e a um franzir de sua testa, sentou-se na cadeira da secretaria e logo se pôs a ler a mensagem que causara tanto alvoroço, nela estava escrito:

    "Estimado general, há tempos não nos falamos e devido à nossa antiga amizade gostaria de conversar sobre assuntos alegres, e de nos reunirmos uma vez mais, contudo infelizmente creio ter péssimas notícias para dar, e para que entenda irei relatar o acontecido desde o começo.

    Ontem à noite estava observando a magnitude do universo como de costume, meus olhos se mantinham atentos a tudo, e no momento vislumbrava a estrela polar sendo rodeada por todas as demais constelações, foi então que percebi um pequeno ponto brilhante que se intrometeu em meu raio de visão, resolvi checar para ver o que se tratava e notei que era um corpo movendo-se a grande velocidade. Isto aumentou ainda mais meu interesse e logo movimentei o telescópio do observatório para poder foca-lo melhor. Meus olhos se espantaram tamanha a surpresa quando percebi o que era, um magnífico e gigantesco asteroide totalmente desconhecido aos humanos.

    A descoberta me deixou extremamente feliz em um primeiro momento, afinal tratava-se de um corpo celeste novo, é uma grande descoberta para um astrofísico como eu, porém depois de observações mais detalhadas começou a perceber algumas peculiaridades em sua orbita, chequei meus computadores e descobri o que eu temia, o asteroide está em rota de colisão direta com Theia.

    Pelo seu tamanho, velocidade, e levando em consideração sua orbita e a de nosso planeta, só consegui chegar a uma conclusão, o impacto é inevitável, na melhor das hipóteses uma cratera gigantesca se abriria, mas temo que exista a possibilidade de que Theia seja completamente destruída.

    Não sei ainda ao certo quanto tempo nos resta, contudo temos alguns meses antes do impacto, lhe escrevi esta mensagem na esperança de que ainda possamos ser salvos de algum modo, deixo em suas mãos

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