O Drama na Tela: Trajetórias do Psicodrama On-Line
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O Drama na Tela - Gabriela Pereira Vidal
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Viver Mais Psicologia pelo apoio na escrita e na publicação deste livro. Agradecemos também a todos os colegas, amigos, alunos, clientes e professores que nos apoiaram em nossa trajetória, não só na escrita desta obra como também na vida. Em meio à pandemia, este livro representa parte da nossa Revolução Criadora por meio das relações que estabelecemos pelo Brasil todo (e fora dele) com outros grandes psicodramatistas.
Quem sobreviverá? Sobreviverá quem em última instância puder criar!
(Jacob Levy Moreno)
PREFÁCIO
A beleza produz sensações de alegria, encantamento, prazer, eleva-nos e nos cura. Nesse período pandêmico, de tanta dor coletiva, a beleza sopra nossa alma trazendo o milagre de respirar e de estar vivo. E a beleza se fortalece nas trajetórias em que vivemos conjuntamente esse milagre. A beleza se engrandece no encontro. No encontro que traz o afeto, a emoção, a alma, que nos faz almar
criando com o outro. Um encontro em que temos a coragem de trocar nossos olhos e ver com o olhar do outro. E eis que compartilhamos a tristeza, a dificuldade, o medo, o sintoma que paralisa a espontaneidade-criatividade. E eis que compartilhamos a alegria que nos traz as possibilidades de mais respiros e criações.
Nós, psicodramatistas, conhecemos a beleza do encontro terapêutico presencial. Porém, nesse momento histórico, estamos em pleno deslumbramento com a beleza do encontro no universo on-line.
De repente, vi-me almando
com os autores deste livro. Ao ser convidada para escrever este prefácio, tive a honra de me sentir cocriando com cada um. E entrei em todas as cenas descritas, fiquei presente nas intervenções terapêuticas, nas pesquisas, em cada sessão relatada, em cada vínculo estabelecido. Vivo o humano que chega ao virtual e humaniza as redes das relações on-line. Sinto as conexões afetivas que nos ajudam a nos libertar da sociedade líquida, capitalista, do consumo, do espetáculo, que nos objetifica e ao outro. O psicodrama, em sua potente política do afeto, transforma-nos em agentes terapêuticos, que nos desenvolve e ao outro.
Cada autor trouxe um encontro que me engrandeceu ao ler este multiverso de experiências do psicodrama on-line.
Este livro, publicado em 2021, é um relevante marco para celebrarmos os 100 anos do psicodrama. Ele resgata Moreno, que usou mídias e tecnologias na busca de realizar sua utopia de tratamento da humanidade.
Convido todos para estarem comigo na beleza da trajetória desta obra que traz trabalhos com métodos de ação on-line com grupos em sofrimentos, casais, tratamentos da ansiedade, transtornos alimentares, e apresenta o benefício da utilização de jogos eletrônicos. Verificaremos por que os autores concluem isto: criatividade = sobrevivência.
Logo no início, Vidal e Castro relatam o estudo sobre Tecnologia no psicodrama: Moreno e pós-morenianos
. Trazem o genial Moreno, que explora as tecnologias e as mídias de sua época, admitindo-as como fundamentais para a sociometria mundial.
As autoras apresentam trabalhos de alguns autores pós-morenianos sobre os atuais paradigmas nas psicoterapias e nas socioterapias, devido às mudanças rápidas no mundo digital, nas relações e nas pessoas. Diante desses estudos, as autoras hipotetizam que a tecnologia favoreceu a horizontalidade nas relações.
E concluem: a internet trouxe [...] ‘um palco e microfone itinerantes’
, que promovem a socialização, a troca de informações, a visibilidade e a voz dos participantes em um grupo. Mas alertam em relação a uma nova marginalização social: a infoexclusão − para pertencer aos grupos virtuais, é preciso estar on-line, eis o novo critério sociométrico de pertença. Então, percebe-se que, em nosso país, social e economicamente desigual, a sociatria também tem a tarefa da luta pela igualdade para a inclusão total de todos os cidadãos.
Silva nos traz o capítulo Psicodrama de grupo e sociodrama on-line
. Para a autora, as diversas e as novas possibilidades de manejo de grupo no ambiente tecnológico apontam para a necessidade de refazermos as conservas que não estão mais adequadas aos tempos atuais. Afinal, o mundo virtual é um grande palco esperando que montemos novos cenários
.
Algumas especificidades do psicodrama on-line são exploradas para ajustes durante a sessão sociátrica, dentre elas: o local, os aplicativos, os dispositivos e as ferramentas disponíveis no aplicativo. Silva expõe diversos recursos para o trabalho com grupos virtuais, por exemplo, explorar a sociometria do grupo, realizar a escultura corporal, utilizar os objetos da casa, o fundo de imagem, os sites de criação de desenhos, os infógrafos, a nuvem de palavras. E explora a importância da montagem das cenas e de personagens em subgrupos.
A autora conclui: o virtual é, acima de tudo, real
. Podemos, pois, ter encontros reais e reproduzir o contexto presencial, com o acolhimento e as relações de confiança.
Vitoy nos apresenta o capítulo ‘Com licença, posso entrar?’ O psicoterapeuta de casais na sala de estar
e, de imediato, lança-nos no limite de ser o psicoterapeuta um convidado ou aquele que invade a privacidade do casal.
Apresenta o atendimento on-line a casais, trazendo exemplos de dois casos. Um casal está em sua residência, na sala de estar. E esse fato por si só gera novas possibilidades de intervenção. Há a sessão em que trazem o sofrimento de terem que lidar com o home office, a criança e as tarefas domésticas. O coronavírus fica no meio do casal, promovendo uma convivência estressante. Percebemos uma sessão protagônica de um dos sofrimentos coletivos resultantes da pandemia.
O segundo casal demonstra um tratamento possível graças ao atendimento on-line, pois um está na Europa e outro no Brasil. A promoção do encontro terapêutico virtual (e a distância) se realiza.
A autora afirma que estar presencialmente conectado
contribui para a cocriação on-line.
Lopes e Vidal nos surpreendem com o capítulo: "Play na ação: o uso dos jogos eletrônicos no psicodrama bipessoal on-line".
Os autores refletem sobre o auxílio dos jogos eletrônicos no lazer, no desenvolvimento da autonomia e da criatividade. Abordam como esses jogos na psicoterapia podem trabalhar personagens, elaborar conflitos, promover o reconhecimento do eu.
No psicodrama on-line, os jogos eletrônicos relacionam realidade virtual com a suplementar. Eles ocorrem em um palco especial para se viver experiências da cultura digital que une humanos e máquinas, possibilitando novas dimensões do eu. Há o uso de avatares para representar corpos e vozes que possam liberar a espontaneidade-criatividade da geração digital.
Os autores afirmam que mesmo se o psicodramatista não conhece o jogo eletrônico, ele pode aprender com o paciente. E concluem que os jogos eletrônicos contribuem para a criação de vínculo e para trabalhar o sofrimento do outro em sua linguagem.
Vitali e Castro abordam A pluralidade da ansiedade em universitários: contribuições do psicodrama bipessoal on-line
. Trata-se de tema relevante sobre o trabalho do sofrimento dos universitários em sua entrada na universidade. Muitos estudantes não conseguem dar a resposta espontânea-criativa para esse novo momento de vida. E sofrem com ansiedade, estresse, depressão e Burnout, que afetam a aprendizagem e a formação profissional. As autoras abordam saúde e doença mental na teoria moreniana e no psicodrama contemporâneo. Fazem uma pesquisa sobre psicodrama bipessoal no formato de psicoterapia breve. Trazem sessões que percorrem as experiências escolares até chegar ao curso de graduação. Identificam cenas nucleares que bloqueiam a espontaneidade-criatividade em seus papéis de estudantes. Cocriam com os estudantes a ação reparatória dessas cenas.
Os universitários enfrentam sofrimentos relacionados, por exemplo, ao fato de um deles estar sempre disponível aos demais, à falta de confiança, à dificuldade com a falta de controle, à solidão e à saudade dos amigos, provocados pela pandemia de coronavírus. E demonstram como a realidade suplementar também pode ser considerada uma forma de conectar protagonista e diretor, que estão em realidades objetivas diferentes.
Fernandes e Anselmo escrevem um belo texto sobre a "Retrospectiva dos sabores: o psicodrama bipessoal on-line como instrumento de intervenção psicológica para o transtorno de compulsão