O Lado Oculto da Fama: O Feminino e a Verdade Multifacetada em "A Noite das Mulheres Cantoras"
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Sobre este e-book
Portugal foi o país que da expansão colonial até a ditadura salazarista se gabava de ser autossuficiente, no pós-revolução teve que se redimensionar e buscar novas alternativas econômicas. Como em toda guerra, havia a baixa de homens e com isso as mulheres conquistavam o seu espaço. Mas o cenário apresentado pela grande autora portuguesa Lídia Jorge nos revela um país ainda muito conservador, onde as mulheres eram postas à prova para conseguir sua oportunidade no mercado de trabalho e no showbiz.
Lídia cria mulheres fortes para desempenharem a função de protagonistas, mulheres que ousam sonhar com a fama e fazem de tudo para ascender ao universo midiático, dominado pelos homens. A autora apresenta personagens com falhas de caráter, muito palpáveis e de fácil identificação, que aproximam o leitor da sua ficção. Tais personagens se sacrificam para conquistar sua chance na mídia e, mais do que apenas aparecer, elas querem marcar seu lugar de pertença e permanecer trabalhando em situação de igualdade com os homens.
O mundo midiático vive das aparências, no entanto, até mesmo a bela aparência esconde o seu lado sórdido.
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O Lado Oculto da Fama - Michelle Fraga
Por vezes, é muito sinuoso o caminho que conduz ao êxito.
Se é que a pessoa alguma vez fica a saber como se alcança o êxito.
(Lídia Jorge)
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Introdução
1. A mulher no império midiático
1.1 TUDO PELA FAMA: UMA VIDA DE APARÊNCIAS
1.2 DESPERTENCIMENTO
2. A ambivalência da modernidade
2.1 ANTINOMIAS
2.2 SOLANGE E GISELA
3. Memória turva e fragmentada
3.1 O QUE É A VERDADE?
3.2 VERDADES REVELADAS
Conclusão
Agradecimentos
Referências bibliográficas
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
Introdução
Lídia Jorge, autora cuja obra será analisada neste trabalho, nasceu em Boliqueime, em 1946, uma freguesia no interior do Algarve, rodeada por misticismos e fabulações. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, tendo sido professora na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, quando passou por alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da Guerra Colonial que durou de 1961 a 1974, presenciando parte do drama dos regressados das ex-colônias, questão que será discutida mais adiante nesta dissertação. Iniciou-se oficialmente na atividade literária com a publicação de seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios, em 1980, o que firmou um acontecimento que marcava a nova fase da Literatura Portuguesa, logo após o período da Revolução dos Cravos. Lídia Jorge ainda possui uma propriedade no Algarve e, no centro desta propriedade, "se encontra um pátio com uma mesa onde Lídia ainda passa muito tempo escrevendo. Lugar de onde saíram as primeiras palavras dos habitantes de Vilamaninhos, entre eles Genuína Palha e Pássaro, personagens de O Dia dos Prodígios" (FREITAS, 2014, p.47).
Segundo Maria Alzira Seixo, Lídia Jorge representa um desses grandes nomes da literatura contemporânea que surgiu após 25 de abril de 1974. O romance contemporâneo se inicia em Portugal num cenário pós-revolução e, em meio à nova realidade política e social, responde à necessidade de busca de uma nova forma de arte que se concentrasse mais nessa nova realidade vivida pela sociedade portuguesa, bem como em sua problemática, e é ao fim da década de 1970 que surge em Portugal a nova gama de escritores da qual Lídia Jorge faz parte.
Após um ano escasso de produção romanesca (o próprio ano de 1974), os ímpetos da escrita começaram justamente a multiplicar-se, materializando-se na edição genericamente a partir de três vetores: o da produção regular de autores já consagrados, o do surgimento de personagens literárias que durante este período se manifestam e afirmam, o da revelação de novos ficcionistas que cultivam por enquanto suas primeiras experiências.
(SEIXO, 1984, p. 31)
É necessário ressaltar que, tendo passado o período da revolução, houve, então, uma queda significativa da produção literária, que se voltava mais para o gênero jornalístico. O desejo de distanciar o texto literário do jornalístico traz à literatura o papel de revelar a mesma realidade vivida por muitos só que de uma forma diferente, através do trabalho com a linguagem. Essa gama de autores emergente procura usar as transformações sofridas na sociedade pós-revolução como tema de suas obras ficcionais. Não pretendem usar a realidade de forma histórica, como os romances históricos o faziam; para eles é necessário representar ficcionalmente como a sociedade portuguesa foi afetada por essa realidade, transformada e marcada pelas mudanças que vieram com o fim do regime salazarista.
Lídia afirma gostar de escrever para não se esquecer de tudo o que presenciou em Portugal antes e após 25 de abril. A autora declara que seu desejo é passar adiante suas lembranças reelaboradas de um passado não muito distante, fazê-lo conhecido por quem não o viveu e fazer lembrar a quem o viveu. Assim, aproxima o leitor da realidade de um passado recente e divide conosco suas memórias genuínas e recriadas, misturando uma pitada de biografia com um muito de ficção. Em 1980, a carreira literária de Lídia Jorge estava apenas começando com o lançamento de seu primeiro romance: O Dia dos Prodígios. Em 1982 ela lança O Cais das Merendas, seu segundo romance, e dois anos após lança Noticia da Cidade Silvestre. Contudo, foi em 1988, com A Costa dos Murmúrios, romance que reflete a experiência colonial passada por ela em África, que a autora confirma seu destacado lugar no panorama das Letras Portuguesas. Na sequência, vieram as publicações de A Última Dona, em 1992, O Jardim sem Limites, em 1995, e O Vale da Paixão, em 1998 – este último lhe rendeu diversos prêmios como, por exemplo, o Prêmio Máxima de Literatura. Em 2004, seu romance A Costa dos Murmúrios foi adaptado para o cinema e recebeu algumas indicações aos Globos de Ouro portugueses em 2005, dentre elas a de melhor filme, melhor ator e melhor atriz.
É notório que Lídia Jorge prioriza dar voz a personagens femininas, tanto como protagonistas, quanto como narradoras. Dentre seus romances e contos, pouquíssimos são narrados da perspectiva de uma personagem masculina, como observamos no romance Estuário e nos contos Perfume
e Viagem para dois
, em Praça de Londres, e Overbooking
e Amor em Lobito Bay
, na coletânea Amor em Lobito Bay.
Seus demais textos são narrados por personagens femininas, como nos romances: A Costa dos Murmúrios (Eva Lopo), O Jardim sem Limites (a escritora da Casa da Arara), O Vale da Paixão (a filha do Walter), Notícia da Cidade Silvestre (Júlia Grei), Combateremos a Sombra (a jornalista Marisa Octaviano), A Noite das Mulheres Cantoras (Solange de Matos), O Vento