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Trinta e tantos livros sobre a mesa: Críticas e resenhas
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Trinta e tantos livros sobre a mesa: Críticas e resenhas
E-book221 páginas2 horas

Trinta e tantos livros sobre a mesa: Críticas e resenhas

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Sobre este e-book

Transportadas para o formato livro, as resenhas e críticas publicadas com regularidade por Haroldo Ceravolo Sereza (em momentos diferentes e fóruns diversos) ganham maior consistência e coesão. A linguagem sem rebuscamentos dos textosmal encobre a preocupação em transmitir ao leitor a substância dos autores, produtos e artefatos culturais que aborda com aparente leveza, mas evidente densidade.Finalmente, gostaria de dizer que este livro constitui prova cabal de que o jornalismo e a academia têm sempre a ganhar, quando praticados por quem entende, como poucos, de seus trâmites e meios de transitar por entre a circunstância, a leitura de mundo e a análise fina da(s) realidade(s). Quando isso acontece, a crítica literária alcança o estatuto de exercício terapêutico. Para maior proveito de seus leitores, claro esteja.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9786586280197
Trinta e tantos livros sobre a mesa: Críticas e resenhas

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    Trinta e tantos livros sobre a mesa - Haroldo Ceravolo Sereza

    Copyright © 2018 Haroldo Ceravolo Sereza

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Edição: Raquel Menezes

    Pesquisa e seleção: Nathália Marcelli

    Projeto gráfico e diagramação: Danielly de Jesus Teles

    Capa:

    Assistente acadêmica: Bruna Marques

    Imagem da capa:

    Produção de ebook: S2 Books

    ISBN: 978-65-86280-19-7

    Para Marilza e José, meus pais

    Para Helena e Francisco. Bia, Vinícius e Laís. Luísa e Raul. E Maria.

    Sumário

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Dedicatória

    Sumário

    Prefácio de Jean Pierre Chauvin

    Nota explicativa

    A força de Laila

    Morta em vida, a Teresa de François Mauriac

    Truísmos

    Fuga

    Não um dia qualquer

    1968, o livro que não terminou

    Escritores e encomendas

    O feliz fim de Lima Barreto

    Periferia

    Um projeto que se materializa

    A guerra de Rubem Braga

    O passado, esse mistério

    A turma dos Livros do Mal

    A decadência do artesão, segundo Braff

    Origens da insegurança

    O medo como prisão

    Catas de Minas

    A distância de Hölderlin

    As formigas de Bernard Comment

    Memória e imaginação

    Um diário da expedição Lévi-Strauss

    Um passeio por Brás, Bexiga e Barra Funda

    Grass Potter, da lata

    E-mails de Lessa e Conti

    Os amores de Benedita

    O século 20 de Carlos Fuentes

    Mata-cavalos

    A favela vista de longe

    A cozinha de Rachel de Queiroz

    Romance, dúvida e ceticismo

    fúria de Rushdie

    As verdades de Pinóquio

    Nova literatura marginal

    Busão

    O jornalista Joel Silveira

    Jânio e Joel

    A história literária de Kadaré

    Realismo à dinamarquesa

    Victor Hugo e o Brasil

    Vargas Llosa, o fotógrafo cego

    Amores diferentes

    Manaus universal

    Uma lenda de Niemeyer

    Ser feliz em Florianópolis, por Mirisola

    Ciúmes

    Memória e esquecimento

    Saramago e a Bíblia

    A forma Saramago

    O Rio de Debret

    O labirinto afegão de Atiq Rahimi

    O gueto do pianista

    Transgressores bem comportados

    Falsos enigmas

    A nostalgia como um direito

    Estátuas de carne, osso e letras

    Vivo, no corredor da morte

    Algemas psicológicas

    O torcedor-personagem

    O personagem García Márquez

    O livro do jaca

    Prefácio

    Homeopatia em Livros

    Jean Pierre Chauvin

    Trinta e Tantos Livros sobre a Mesa pode ser lido de variadas formas. Na Nota Explicativa, Haroldo Ceravolo Sereza sugere que o seu livro nasceu em meio a uma circunstância de trabalho no departamento de Redação de um dos jornais de maior circulação do país. O articulista teria lidado com um dilema bastante comum ao seu ofício de resenhista e crítico literário, na segunda metade dos anos de 1990: conciliar a densa leitura e o ajuizamento crítico com o ritmo célere e a concepção mais pragmática do que cultural que costuma reverberar a postura dos responsáveis por determinada seção.

    Dessa perspectiva, o título dado ao volume não só registra e reitera o argumento do autor, em refutação a um editor-executivo do Estadão, há duas décadas; acrescenta outros vinte e tantos motivos aos trinta que estruturam o livro e defendem a singularidade do trabalho acadêmico e os contínuos embates com incertas mentalidades do meio jornalístico, que tendem a subestimar a arte literária e, por extensão, a capacidade de leitura criteriosa de seus colaboradores.

    A boa literatura, bem sabemos, não cabe em frames pré-moldados, a exemplo do que acomete algumas seções de jornal (e romances estritamente fiéis às mesmas fórmulas de sucesso). Diante das obras de arte, os autores podem extrapolar as convenções recomendadas pela própria arte; refundir palavras novas e antigas; questionar os limites do gênero em que inscrevem a história, desenvolvida sob temporalidades variadas e ambientes multidimensionais, a cargo de narradores e personagens os mais fascinantes.

    Estamos diante de uma obra que desnuda a tacanha disputa pelo espaço da palavra, travada entre jornalistas e acadêmicos, em que o prestígio da veiculação em massa parece ter adquirido maior importância que a cuidadosa análise do romance – o que terá reservado gradativo menor poder de barganha aos críticos literários.

    Reside aí o duplo interesse em percorrer os ensaios que cá estão: a análise precisa dos autores anotados por Sereza e a confirmação de que é possível transitar, com ampla vantagem para o periódico e o público leitor, entre o jornal e a academia. De fato, os capítulos evidenciam que a atividade de Haroldo Ceravolo nos jornais não se chocava com os interesses comerciais, nem justificavam questionáveis posturas patronais – calcadas em ordens aos subalternos hierárquicos; em atitudes desconfiadas dos executivos em relação à própria literatura e, por extensão, a seus amantes. Especialmente quando estes o realizam também como dever de ofício.

    O leitor quererá provas do que vai exposto?

    Constate o vasto repertório do crítico, como sugere a resenha em torno do nome Teresa, personagem do romance de François Mauriac. Repare na coragem com que questiona o novo lugar de onde Zuenir Ventura passou a falar vinte anos após ter publicado 1968: o ano que não terminou: […] é sintomático que, num livro em que passeiam tantos nomes de presidentes e dirigentes da UNE, Zuenir ignore totalmente, ao falar do presente, as manifestações estudantis nas universidades, que ganharam uma enorme força a partir da ocupação da reitoria da USP, em maio de 2007 (p. 32).

    Outra atitude louvável está no modo como Haroldo celebra (e ajuíza) a edição crítica do romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto – parceria da Unesco com a editora Scipione: "Policarpo Quaresma, o herói de Triste Fim, serve para mostrar a burocracia crescente e os desmandos da Primeira República. Mas sua paixão incontida pelo Brasil mostra também o risco do nacionalismo, quando desligado da realidade (Policarpo é, ele também, um burocrata)" (p. 38).

    Ao acompanhar o ritmo da periferia citadina, em Capão Redondo, de Ferréz, o crítico alerta para a representação literária de uma crueza já naturalizada por aqueles que interpõem obstáculos físicos e morais em torno da alteridade: No Brasil, rap deixou de ser ritmo e poesia para ser traduzido como revolução através da palavra (p. 40). Como se vê, Haroldo deu voz a novos escritores. O que se evidencia na leitura que sugere de Inferno, de Patrícia Melo; em O Coletivo Aleatório, de Luis Marra; no Bangalô, de Marcelo Mirisola; mas especialmente em A turma dos livros do mal – artigo em que Sereza enaltece o trabalho de uma editora gaúcha que dava voz a talentos do sul do país, no início dos anos de 2000.

    Em determinadas ocasiões, o crítico aproxima autores de fatura literária distinta, mas irmanados pelo tema que romanceiam e o estilo a que recorreram em sua composição. Ao examinar Que Enchente me Carrega?, de Menalton Braff, e Caverna, de José Saramago, Sereza percebe que: Essa preocupação com uma classe que é esmagada pelo avanço capitalista pode ser encontrada, talvez, na formação ligada à esquerda, comum nos dois casos. De algum modo, como escritores, eles se identificam com seus personagens, pois a morte da arte da cerâmica e do couro é também uma pergunta sobre o sentido da literatura e do romance no mundo contemporâneo (p. 48-9).

    Como disse, a abrangência dos autores, estéticas e períodos lidos e comentados pelo ensaísta impressiona. Há espaço tanto para abordar escritores contemporâneos, cujas temáticas giram em torno dos signos da violência nas capitais do país, quanto para resgatar temas caros ao Romantismo alemão, como o Hipérion, de Hölderlin. Do Olimpo para os morros; do idealismo platônico para a empiria das grandes cidades, mesmo porque o sentimentalismo, a defesa da criança como alguém que ‘conhece seu coração’, a ideia de que a natureza pode ser fundadora de um mundo perfeito, sabemos que são idealismos que não fazem nenhum sentido no mundo de hoje (p. 58).

    Para além de tempos e estéticas, há livros de outros territórios, gêneros e temáticas. Do romance alemão, berço do Romantismo, o crítico passa em revista os contos do suíço Bernard Comment, em As Formigas da Estação de Berna; a mitologia oitocentista Pinóquio, de Carlos Collodi; os episódios protagonizados por Harry Potter, criação da inglesa J. K. Rowling; a narrativa de teor memorialístico, entre o México e os Estados Unidos, de Carlos Fuentes (Os Anos com Laura Díaz); a Albânia, de Ismail Kadaré; a Dinamarca, de Jens Peter Jacobsen; a visão conservadora do peruano Mario Vargas Llosa; o estado das coisas no Afeganistão, segundo as lentes de Atiq Rahimi; o universo amazônico, segundo Milton Hatoum; o romance eletrônico Miséria e Grandeza, de João Ubaldo Ribeiro – situado nesta pátria de viés unilateral e pretensão globalizante, denominada Internet.

    Dentre os nomes evocados, ressoa o de José Saramago, que muitos o liam como um repetidor de si próprio, com seus parágrafos sem hora para acabar, suas ‘circunavegações’ em torno de pequenos temas, suas passagens radicais do narrador para as personagens que, como um novelo, enrolavam-se sobre si mesmo para ganhar a estrutura de um romance (p. 134). Eis mais uma amostra em que se detecta a intuição do crítico, em relevante papel. Sem contrapor-se ao que uma parcela da crítica reproduzia sobre o romancista português, o ensaísta mantém a sua perspectiva da obra saramaguiana, pois desconfia que o romance de José não pode ser reduzido a fórmulas cômodas para uma visão que se pretendesse totalizante (e, portanto, equivocada) de seu universo ficcional.

    A capacidade de questionar a autoridade dos críticos de renome não ocorre por acaso. Quem já escutou Haroldo Cevalo Sereza discorrer sobre literatura, economia ou cultura sabe que, por detrás de sua fala despojada, mobilizam-se grandes conhecimentos e capacidade de reflexão: faculdades que, combinadas ao seu engajamento político e social, permitem-lhe articular assuntos sobremodo distantes com a aparente intimidade que somente a leitura rigorosa, o espírito crítico e o exame atento das verdades é capaz de proporcionar. Para isso há que se contar com antenas para o muito captar.

    Algo similar ocorre em Trinta e Tantos Livros sobre a Mesa. A forma ligeira que enforma o artigo de opinião é o ingrediente que o induz a exercitar seu elevado poder de síntese; a linguagem sem rebuscamentos mal encobre a preocupação em transmitir ao leitor a substância dos autores, produtos e artefatos culturais que aborda com aparente leveza, mas evidente densidade. Poderíamos dizer que, sob o tom despretensioso, este livro sugere muito mais do que diz. Isso porque alia a leitura honesta e reta com a rara capacidade da concisão, em que a banalidade de nossos dias cede lugar ao exame criterioso do leitor.

    O senhor, que é sujeito atento e sensível, repare: ao final da leitura desejará se somar àquele redator de quase vinte anos atrás e, com ele, arranjará mais respostas a rebater a reprimenda que ele injustamente recebeu. Supondo que o espírito de solidariedade esteja em baixa, entre nós, terráqueos, Trinta e Tantos Livros nos convida e convoca para reverberarmos a leitura aguda que subjaz o espírito de luta e o caráter da resistência.

    Talvez porque, transportadas para o formato em livro, as resenhas e críticas publicadas com regularidade (em momentos diferentes e fóruns diversos) ganhem maior consistência e coesão, graças a sua reunião em volume único, como Haroldo Ceravolo destaca no retrato traçado por Joel Silveira: E me vieram à lembrança todos os componentes daquele mundo caótico: o teclar incessante e nervoso das máquinas de escrever, a chegada de repórteres suados, as piadas grosseiras, o cafezinho excessivamente açucarado e morno, a intromissão de populares com reclamações e apelos (p. 101).

    Por aí se corrobora o argumento que participa da composição da obra. Sobretudo, este livro constitui prova cabal de que o jornalismo e a academia têm sempre a ganhar quando praticados por quem entende, como poucos, de seus trâmites e meios de transitar por entre a circunstância, a leitura de mundo e a análise fina da(s) realidade(s). Quando isso acontece, a crítica literária alcança o estatuto de exercício terapêutico. Para maior proveito de seus leitores, claro esteja.

    Nota explicativa

    Este livro é um livro-arquivo: reúne de modo um tanto aleatório e, decerto, com algumas lacunas, resenhas de obras literárias que publiquei durante minha trajetória como jornalista cultural, especialmente nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, mas não apenas. Há também algumas poucas resenhas de alguns textos não ficcionais, uma reportagem que namorava o ensaio breve e parcial (sobre Victor Hugo) e um misto de homenagem e reescrita (de Brás, Bexiga e Barra Funda). É uma parte pequena do que produzi nessas condições, mas que julgo significativa, porque integra um longo processo de autoformação como crítico literário – considero-me um crítico, mas também trabalhador do jornalismo, que, por força das circunstâncias e da história pessoal, transitou e ainda transita entre o jornalismo e a academia, com perdas e ganhos típicos dessas movimentações não lineares.

    As resenhas foram escritas a partir da segunda metade dos anos 1990, num tempo em que a profissão de crítico cultural já gozava de pouco prestígio nas grandes publicações. Mas ainda é um tempo em que se podia gozar de um salário razoável (desde que você não fizesse apenas isso), de simpatia e, eventualmente, até de respeito dos colegas. Estamos distantes dos tempos do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, a produção universitária já está totalmente descolada da produção jornalística, mas elas ainda mantêm alguns pontos de contato e de desconfiança.

    A relação interna com a direção do jornal não é menos problemática. Como disse, meu salário mensal nunca saiu apenas da leitura de livros, mas também de reportagens (o gênero mais simbolicamente valorizado internamente), notícias (o gênero mais rentável do ponto de vista da economia do jornalismo), entrevistas, pesquisa histórica etc. No meio de tudo isso, fazer resenhas era quase que um gesto de resistência: formal, porque mantinha viva uma forma jornalística pouco valorizada; intelectual, porque permitia uma leitura mais aprofundada de alguns livros; profissional, porque era também um meio de impor uma agenda própria, tanto estética quanto política, em sentido bastante amplo, nunca específico (esse direito não é dado aos jornalistas profissionais empregados em grandes redações).

    Organizando esses textos, percebi o quanto também

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