Teoria crítica, neoliberalismo e educação: Análise reflexiva da realidade educacional brasileira a partir de 1990
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Teoria crítica, neoliberalismo e educação - Odair Vieira da Silva
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Revisão: Márcia Santos
Capa: Matheus de Alexandro
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Edição em Versão Impressa: 2020
Edição em Versão Digital: 2020
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Dedico este trabalho a toda a minha família, especialmente à minha mulher Cláudia Konstansky e aos meus filhos Gustavo e Débora, pela paciência, colaboração e pelo apoio em todos os momentos de minha vida. Aos meus amigos, que me auxiliaram em meus momentos de dúvidas. Eternamente, aos meus pais, Manoel e Geny (in memorian) pelo carinho e amor incondicional que me deram.
AGRADECIMENTOS
À minha família, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando e me inspirando em todos os momentos.
Aos coordenadores e docentes do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Filho Julio de Mesquita Filho
, campus de Marília/SP, e, sobretudo, ao meu orientador, Prof. Dr. Sinésio Ferraz Bueno, que me ajudou no desenvolvimento deste trabalho.
Aos (às) meus (minhas) amigos(as), que encontrei nas disciplinas realizadas e nos encontros programados.
Um primeiro passo da conscientização de si mesmo é não assumir a estupidez como integridade moral superior; não difamar o esclarecimento, mas resistir sempre em face da perseguição aos intelectuais, seja qual for a forma em que esta se disfarça.
(Theodor W. Adorno)
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO (BILDUNG)
1.1 O conceito de formação Bildung: contextualização e historicidade
1.2 O conceito de Bildung
1.3 A institucionalização da Bildung
CAPÍTULO 2:
BILDUNG, HALBBILDUNG E EDUCAÇÃO: ANÁLISE CRÍTICA DA FORMAÇÃO SOB O ENFOQUE DA ESCOLA DA FRANKFURT
2.1 A conversão da Bildung em Halbbildung: historicidade
2.2 A indústria cultural e a exclusão da formação pela semiformação
2.3 A semiformação Halbbildung e a perda da dimensão crítica e emancipatória da formação
CAPÍTULO 3:
ANÁLISE HISTÓRICA DA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO LIBERAL E ASCENSÃO DA DOUTRINA NEOLIBERAL
3.1 Dos ideais liberais do século XVII ao liberalismo econômico do século XVIII
3.2 O liberalismo no século XIX
3.3 O liberalismo no século XX
3.4 A crise da década de 1970 e a ascensão do neoliberalismo
CAPÍTULO 4:
EDUCAÇÃO, NEOLIBERALISMO E SEMIFORMAÇÃO: ANÁLISE DA MANIPULAÇÃO IDEOLÓGICA DA FORMAÇÃO A PARTIR DA REFORMA EDUCACIONAL BRASILEIRA DE 1990
4.1 Teoria Crítica, Neoliberalismo e Educação
4.2 Agências internacionais, Neoliberalismo e Educação no Brasil
4.3 As reformas de ajuste estrutural e as novas tarefas e responsabilidades da educação escolar brasileira
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PÁGINA FINAL
APRESENTAÇÃO
O neoliberalismo está em xeque! Esse poderia ser um slogan para exprimir as experiências que todas as pessoas estão vivendo neste momento no mundo, cada um a seu modo e a partir de realidades as mais diversas. A questão é que as bases de organização e de movimentação social, consideradas sólidas até outro dia, estão sendo, no mínimo, colocadas em estado de espera e de alerta. A pandemia da Covid-19 está provocando inquietações e desarranjos nos mais diversos setores e espaços da sociedade. Não é apenas um problema de saúde, em que até à descoberta e à chegada de uma vacina as coisas estarão resolvidas. É um problema social de grande mote e que está matando milhões de pessoas, sendo que o maior número de vítimas está entre os mais pobres, pois a riqueza produzida por todos fica nas mãos de poucos.
É neste contexto que escrevo esta apresentação, de maneira a fornecer ao leitor uma primeira impressão acerca do conteúdo deste livro que chega ao público. Pensar a realidade educacional brasileira, especialmente suas reformas e tendo em conta as ideias formuladas pela teoria crítica, nos parece uma grande contribuição para o debate. Se essas reformas foram marcadas pela influência dos ideias do neoliberalismo, o que temos em mãos é uma análise consistente e comprometida em compreender e, porque não, em denunciar os objetivos, muitas vezes obscuros, que fundamentavam as propostas advindas de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).
As políticas anunciadas e, muitas delas, efetivadas por meio de ações públicas voltadas para a educação escolar brasileira, consubstanciavam-se em um processo que pretendia formar e preparar indivíduos para se adaptarem e atenderem às demandas reprodutivas do capital. Com o objetivo de assegurar e valorizar a competição e o mérito individual como objetivos educacionais, os ideais e as propostas neoliberais exigiam uma redução do papel do Estado na formulação e implementação das políticas públicas, de maneira a ocultar os interesses mercantis, instrumentais e neocoloniais a eles subjacentes. As consequências dessas escolhas têm provocado incessantes análises e profundos debates acerca do fracasso desses ideais e propostas, pois não resolveram em nenhum grau os problemas gravíssimos que a concentração de riqueza tem causado. Se esta conclusão serve para a educação, mais evidente é seu impacto no campo da saúde, como temos visto atualmente.
Neste livro, oriundo da sua dissertação de mestrado, o autor faz uma análise filosófica da questão, recuperando aportes teóricos da Teoria Crítica, como formulada pelos filósofos da Escola de Frankfurt, nomeadamente Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Partindo de considerações histórico-conceituais acerca da noção de Bildung e passando pelo seu contraponto no mundo moderno – a Halbbildung –, como expressão do processo de perda da dimensão crítica e emancipatória da formação, tendo na indústria cultural seu maior expoente, o texto analisa e apresenta o percurso e como se deu a evolução do pensamento liberal e a ascensão da doutrina neoliberal tal como ela foi divulgada nos últimos tempos.
Neste sentido, a grande virtude e qualidade da presente obra é quando toma a Teoria Crítica como instrumento não apenas de análise do processo histórico de constituição de uma razão dialeticamente instrumentalizada, mas sobretudo pela contribuição em apontar as contradições que estavam embutidas nas reformas educacionais que se iniciaram na década de 1990 no Brasil. Com objetivos nem sempre transparentes, os programas e as políticas propostas faziam parte de um processo internacional mais amplo, que prometia – como um canto das sereias –, mudanças nas concepções e nos métodos educativos, mas que, na verdade, pretendia promover a submissão e a adaptação das pessoas e da sociedade à lógica dominante e aos mecanismos de controle social.
Estou certo de que os leitores desse livro terão a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos e suas reflexões acerca da educação e de suas práticas, de maneira a ampliar sua compreensão e rever, inclusive, suas concepções, atitudes e posturas em relação a um terreno movediço e em constante transformação. Para tanto, o educador e o educando devem ser sempre levados em consideração. Mesmo que sejam importantes os princípios e as diretrizes educacionais para organizar e fazer funcionar o sistema de ensino, nunca é demais destacar que eles não podem estar subordinados a uma lógica economicista que introjeta e institucionaliza valores do mercado capitalista.
Portanto, a pesquisa e as reflexões feitas pelo Prof. Odair, agora transformadas em um texto público é, enfim, uma belíssima contribuição para, de certa maneira, desmascarar o projeto neoliberal que, com suas estratégias meramente mercantilizantes, suprime ou negligencia a emancipação como pressuposto básico para formação de sujeitos éticos, críticos e plenos. Somente uma sociedade e uma educação que se compromete a emancipar seus cidadãos pode construir um mundo amparado em valores e atitudes éticos, isto é, baseado no respeito, na integridade, na justiça social, na liberdade e na autonomia, e na solidariedade dos seus membros. Enquanto vivermos em um país onde as pessoas morrem de fome e a elas não são garantidos os direitos mínimos de vida, como a educação e a saúde de boa qualidade, estamos condenados a conviver com a ignorância e a doença que mata.
Marília, maio de 2020.
Prof. Dr. Alonso Bezerra de Carvalho
Professor na Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho
PREFÁCIO
No final do século passado e início deste século uma série de eventos fez com que historiadores repensassem a conjuntura em que estavam inseridos e os movimentos da História. A resposta veio com uma nova possibilidade na historiografia: História do Tempo Presente. Este novo campo dos estudos históricos foi definido como uma forma de analisar as rupturas e permanências do passado no presente.
A virada da historiografia permitiu novas possibilidades, entre elas a possibilidade de o historiador trabalhar com eventos recentes. Para Marieta Ferreira
Essas transformações ocorridas na pesquisa histórica trouxeram um grande dinamismo e renovação no para o campo disciplinar da história, traduzidos numa grande vitalidade (...). Todas essas mudanças criaram um espaço novo para estudo dos períodos recentes começando a abalar as antigas resistências
. (Ferreira, 2018, p. 85)¹
Por que iniciar o prefácio de um livro sobre Educação falando sobre um campo recente da História? Explico. O trabalho que ora tenho a honra de prefaciar considero como um ensaio e possibilidade de uma História da Educação do Tempo Presente.
A renovação historiográfica constante no Brasil, em especial o avanço nos estudos da área da Educação e seus componentes históricos, tem possibilitado que novos pesquisadores avancem na compreensão do breve século XX
. A ampliação do Estado de bem-estar social permitiu o acesso de milhões à Saúde e à Educação, um período marcado pela presença de um Estado forte.
No Brasil o Estado de bem-estar social veio a reboque da implementação da indústria pesada a partir dos acordos de Vargas para apoiar os Aliados na Segunda Guerra. Ao fim da Guerra, Vargas consegue apoio dos EUA para a construção da CSN, fundamental para o processo de industrialização e a consolidação de projetos no campo do Trabalho, da Educação e da Assistência Social. Com todas as críticas possíveis, processos estanques, essa herança do estado varguista permitiu a imposição de políticas educacionais, aos trancos e barrancos, de musculatura da Educação Pública, ainda que cambaleante em alguns períodos.
Esse Estado Varguista começou a ser desmontado durante o Governo Fernando Collor e teve a continuação ao longo dos dois mandatos do Governo Fernando Henrique, já inserido no pensamento neoliberal, na segunda metade da década de 1990 do século passado. Como não lembrar de Paulo Renato e sua política de ampliação da rede privada de Educação Superior? Da adaptação de currículos de acordo com o mercado? Da abertura de cursos para atender o mercado? Da flexibilização do ensino e dos conteúdos programáticos segundo as leis do mercado? Estas lembranças só foram possíveis a partir do trabalho que ora tenho a honra de prefaciar.
O professor Odair Vieira da Silva é licenciado e bacharel em Geografia pela Unesp, campus Presidente Prudente. Mestre em Educação pela Unesp, campus Marília. Doutorando em História e Filosofia da Educação na Unesp, campus Marília. Membro do Grupo de Pesquisa História da Educação e do Ensino de Língua e Literatura no Brasil (GPHEELLB).
Professor do ensino superior e da rede pública paulista nos brinda com a publicação de sua dissertação de mestrado, defendida no programa de pós-graduação em Educação da Unesp, campus Marília, em 2015, com uma análise reflexiva sobre as políticas educacionais no Brasil, tendo como base a reforma educacional ocorrida na década de 1990. Analisando as reformas neoliberais, que tomaram de assalto a América Latina no final do século passado, Odair aponta o papel e a influência das corporações e dos organismos supranacionais, em especial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), na educação escolar.
A instigante pesquisa de mestrado do professor Odair, que se transforma agora em livro, traz contribuições para compreender a conjuntura