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Fusão
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E-book416 páginas4 horas

Fusão

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Sobre este e-book

Rebecca é de família abastada e círculo social elitista, o que sempre restringiu as pessoas diversificadas da sua convivência. Mas uma nova fase da sua vida se inicia: morar fora, fazer cursinho e entrar em contato com a vida como ela é. Nisso surgem novas amizades e aventuras, além de romances inimagináveis. “Fui educada para ser realista, pensar que uma pessoa só era feliz porque era iludida. Mas eu não precisava pensar assim, não mais. Eu poderia correr atrás da minha felicidade, mesmo que isso me tornasse esse estereótipo. Eu preferia viver uma feliz ilusão a uma realidade doente e desagradável.”
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de out. de 2015
Fusão

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    Fusão - Isabella Branquinho

    Fusão

    Por Isabella Branquinho

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    FUSÃO

    "Fui educada para ser

    realista, pensar que

    uma pessoa só era feliz

    porque era iludida. Mas

    eu

    não

    precisava

    pensar

    assim,

    não

    mais. Eu poderia correr

    ×××

    atrás

    da

    minha

    felicidade, mesmo que

    isso me tornasse esse

    estereótipo. Eu preferia

    viver uma feliz ilusão a

    uma realidade doente e

    desagradável."

    Por Isabella Branquinho

    [ 2 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    1

    A luz surgia por entre as frestas da janela fechada. Já tinha

    amanhecido e eu não havia dormido mais que algumas horas,

    porque os meninos aqui da república só abaixaram o volume do

    rádio às três da madrugada. E isso foi só diminuir o som; a festa em si

    acabou umas seis horas da manhã.

    Minha vida parece um seriado para as garotas na fase da

    adolescência: Eu moro em uma república, com mais oito pessoas.

    Duas delas são meus melhores amigos — Amanda e João. Duas

    pessoas são bem gaiteiras — Pedro e Maria Elisa. Rafael namora

    outra moradora da república, Teresa. Eu tenho uma inimiga mortal,

    Natale. E também tem Juliano, que é lindo de morrer. Moro em uma

    cidade diferente das dos meus pais. Não namoro e "sou o alvo de

    muitos olhares masculinos", como diz minha melhor amiga desde

    que nos conhecemos — não que eu concorde com ela, mesmo depois

    desse tempo todo.

    Às vezes era meio complicado morar com mais quatro meninos e

    quatro meninas tão diferentes, mas, apesar de tudo, essas pessoas

    faziam parte da minha vida.

    Amanda sempre morou aqui nessa cidade febril, Ribeirão Preto.

    Sinceramente, não sei como aguentou.

    Eu só vim para cá no ano passado, depois de terminado o ensino

    médio. Tudo bem que em São Paulo eu também poderia fazer uma

    faculdade boa, mas minha mãe insistiu para eu vir — acho que ela

    [ 3 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    queria que eu desenvolvesse certa responsabilidade. E eu sempre sigo

    o que ela me recomenda.

    A república em que moro é grande e todos aqui pertencem a boas

    famílias. Porém a forma com que encaram a faculdade é bem

    diferente: dos nove moradores, poucos se dedicam aos estudos. Além

    disso, só Amanda e eu trabalhamos.

    Amanda é parecida comigo: Embora também não precise

    trabalhar, quer sua independência financeira, quer tirar aquela voz

    que fica na cabeça dizendo Papai cuida de você!. Em geral, também

    é bom para ganhar um dinheiro extra no fim do mês. Eu trabalho no

    melhor lugar da cidade: a perfumaria do Sr. e da Sra. Lemos, pais de

    Am.

    Eu havia terminado o Ensino Médio e vindo para Ribeirão para

    fazer cursinho, mas o primeiro ano aqui foi de adaptação e não me

    rendeu frutos no vestibular. Esse ano, porém, ia ser diferente. Com

    praticamente 19 anos, estava na hora de entrar em uma

    universidade logo.

    Foi quando uma luz intensa invadiu o quarto que eu percebi que

    estava ali, parada e de pijama, deitada na cama. Havia me perdido

    em pensamentos, como sempre fazia.

    Era Maria Elisa, que havia aberto a janela, com o propósito de

    fazer pirraça mesmo.

    Maria tinha características físicas bem diferentes, como, por

    exemplo, o seu cabelo vermelho vivo tingido. Não era muito alta, mas

    era magra — o corpo esguio bem parecido com o meu. Os olhos

    [ 4 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    eram negros, como carvão, e eu fico me perguntando se os cabelos

    dela também eram pretos. Ficaria muito.. diferente.

    — Hmm, que horas são? — eu disse meio atordoada.

    — Por que não se levanta e vê você mesma? — murmurou Natale

    bem baixinho enquanto passava pelo corredor vestindo o seu pijama

    meio transparente.

    Normal, pensei. Ela sempre me tratava mal e eu sequer

    desconfiava do por quê. Tinha uma época que eu a tratava com

    muita cordialidade, eu até a suportava, mas esse tempo passou e eu

    havia desistido de tentar uma amizade com ela. Quer saber? Agora

    eu não iria me importar se ela gostava de mim ou não: iria

    simplesmente ignorá-la.

    Eu sabia muito bem por que ela usava aquele pijama. Ela era do

    tipo que gostava de ser o centro das atenções, ser a mais desejada.

    Natale tinha os cabelos loiros que eram seu principal ponto de

    orgulho. Os olhos tinham uma tonalidade de castanho muito

    intrigante. Era bem magra, com as feições do rosto sempre retraídas,

    como se estivesse brava com alguma coisa.

    Em uma graciosidade imensa, Amanda deu um pulo na minha

    cama e deitou-se ao meu lado, falando:

    — Você não perdeu muita coisa da manhã. Ainda são nove horas.

    — E sorriu me desejando bom dia bem baixinho.

    Teresa olhou cinicamente para nós duas, mas atrás daquela

    máscara de garota malvada, ela desejava mesmo era que ela e

    Natale fossem próximas do jeito que eu e Amanda éramos.

    [ 5 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Teresa era a mais reservada das garotas, sempre quietinha. Ela

    tinha os cabelos negros — no sol eles tinham uma tonalidade de

    vermelho escuro — lisos por natureza. Era magra, tinha um corpo

    estrutural — daqueles de que se morre de inveja. Os seus olhos eram

    verdes esmeralda, como o de minha prima Elisabete.

    Em um pulo me lembrei de que meu horário de entrar na loja era

    às oito. Amanda não ter me acordado era bem estranho.

    — Ah! Vamos chegar atrasadas hoje! — As palavras saíram

    rápidas enquanto eu puxava uma calça jeans escura de minha gaveta

    sem me importar nas outras garotas no corredor olhando.

    — Não acredito nisso, Becca. Hoje meus pais foram viajar e nos

    deixou de folga. Como você pode esquecer? Eles vinham falando de

    sair nessa sexta desde o mês passado. — Amanda ria tão alto que por

    um momento pensei que tinha que exorcizá-la.

    Meu ponto forte nunca havia sido me lembrar das coisas. Nem me

    manter em um mesmo humor durante o dia — ele oscila

    loucamente. Eu era desequilibrada no sentido literal da palavra, não

    de desequilibrada mental.

    — E, ainda mais — continuou —, você não colocaria essa calça,

    não é? Do jeito que você é, deve ter esquecido até que a gente usa

    uniforme.

    Eu franzi os lábios, sem argumentos a favor. Tinha me esquecido

    mesmo, no susto do momento.

    Amanda era, só um pouco, menos alta do que eu. Seu cabelo era

    de um loiro intenso e seus olhos cor de mel faziam jus à sua beleza.

    [ 6 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Minha amiga parecia um sol radiante: Cabelo e olhos dourados mais

    pele branca.

    — Hmm.. — Tentei mudar de assunto. — Então acho que

    faremos nada hoje.

    — Ou fazemos nada ou programamos uma festinha para amanhã

    à noite, que tal? — Amanda falou em volume normal, pois já

    estávamos sozinhas no quarto.

    Revirei meus olhos, enquanto separava uma roupa confortável

    para vestir.

    — Ai, Amanda. Nem vou falar nada. Até parece que você é

    obrigada a curtir uma festa por semana!

    — Ok, não preciso mesmo que você fale nada. Sabe de uma coisa?

    Às vezes me pergunto se você faz isso de propósito. — Ela olhou para

    minha direção e acenou de cima para baixo, da minha cabeça aos

    meus pés.

    — O que? — Eu a encarei, tentando entender em que assunto ela

    estava.

    — Olha aí no espelho.

    Eu ri, fazendo o que me havia sido ordenado. Eu era alta, tinha o

    cabelo castanho meio ondulado, meio liso, meio frisado, sei lá (eu o

    chamava de indefinido) e olhos castanhos escuros. Nada fora do

    normal e nada tão atrativo.

    — E o que eu tinha que achar aqui, além do meu reflexo? —

    ironizei.

    [ 7 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    — Ah, vão parar de conversinha aí e vir ajudar com o café da

    manhã? — Um grito ecoou da cozinha e eu imaginei ser o "mala-

    sem-alça" do João.

    João era meu amigo bonitão (e irritante, por causa das suas

    brincadeiras sem graça). Mas ser amiga dele também tinha suas

    vantagens: Ele fazia praticamente tudo que eu pedia, e vice-versa, e

    éramos tão íntimos que se eu chegasse à cozinha e desse um selinho

    nele de bom dia ele iria revidar com outro, apesar de todos os demais

    acharem meio esquisito.

    Amanda riu e saiu saltitando para o andar de baixo. Procurei

    rapidamente uma sandália e a segui.

    Quando cheguei à cozinha, pude ver apoiado no balcão João —

    meu alvo fácil. Concentrei-me um pouco mais. . Em um pulo eu

    estava em cima das costas dele.

    — Bom dia, cavalo! — Sorri alegremente para ele.

    — Bom dia, amazona! Bom humor?

    — Nossa, como você adivinhou? — brinquei.

    — Vejamos. . Você não sabia? Eu vejo o que vocês, garotas, sentem

    com a ajuda de minha visão de raios-X de tecnologia super de ponta.

    — Há. Aham, com certeza você tem essa sua visão de raios-X. E

    deixa só eu fazer uma observação: Esse seu super ficou meio gay.

    — Tão engraçadinha quando está com esse bom humor. Se eu não

    soubesse que você não liga muito pra isso, acharia que você anda

    namorando escondido.

    Revirei os olhos. Ele sabia que, praticamente, eu era a única

    encalhada aqui.

    [ 8 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Apesar de Amanda estar solteira no momento, sempre arranjava

    um namorado. Natale também.

    Maria Elisa preferia ficar a namorar, mas sempre tinha as suas

    exceções.

    Teresa namora Rafael. E eles combinam muito.

    Pedro sai pela cidade e namora a primeira que ele acha

    interessante. O namoro dificilmente resiste a um mês de

    compromisso.

    Juliano não namora ninguém porque não quer. É bonito, com

    traços bem desenhados no rosto. Tem cabelos castanhos e olhos

    azuis. Ele é muito encantador e às vezes é difícil resistir aos seus

    olhares. . Muito difícil.

    Resumindo: Ele não namorava por vontade própria. Ou seja, não

    era um encalhado.

    João acabou com seu namoro recentemente porque já não era

    mais a mesma coisa. Mas isso também não era nenhuma novidade. .

    Ele me colocou no chão para sentarmos à mesa de café da manhã.

    João também era bonito, de um jeito diferente. Ele tinha os cabelos

    pretos e olhos da mesma cor. A pele era de um contraste imenso, pois

    era bem branca. Chegava a ser engraçado.

    Teresa chegou com Natale, ambas se sentando perto da janela.

    Amanda estava na cadeira do meu lado esquerdo. Jason sentou-se ao

    lado de João e Maria Elisa sentou-se na minha frente. Depois se

    juntaram a nós Rafael e Pedro.

    [ 9 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Rafael era o mais calado dos homens, assim como Teresa era a

    comportada da ala feminina. Acho que esse simples fato era um dos

    principais que faziam com que eles se dessem tão bem.

    Tenho que admitir que eu sempre tive certa quedinha por ele.

    Lógico que minhas esperanças foram extintas quando ele começou a

    namorá-la, mas era impossível não admirá-lo. Ele sempre foi tão

    lindo. Seu cabelo era grande, jogadinho, loiro apagado.

    Pedro era o garoto mais saidinho da república, visto que era um

    garanhão. Tinha o cabelo castanho, meio desalinhado. A boca era

    enorme e os olhos eram castanhos claros, cheios de mistério.

    Café da manhã seguiu previsível e rotineiro. Assim que eu acabei

    de lavar as louças (minha obrigação do dia), fui de encontro com os

    garotos, que estavam na área da piscina.

    — Becca, a gente estava combinando aqui sobre quem a gente vai

    chamar para a festinha de amanhã. — Am já foi me interando do

    assunto.

    — Vocês pretendem chamar muita gente? — Imaginei uma festa

    de arromba, daquelas que Amanda adorava fazer.

    — Os meninos queriam chamar três amigos deles de outra

    república que fica no outro lado da cidade. Eles chegariam amanhã

    depois do almoço e iriam embora no domingo. Que tal?

    — Hmm, ok.

    Amanda me olhou com uma cara de desejo: desejo de poder soltar

    raio laser pelos olhos e perfurar meu cérebro.

    — Que ânimo o seu, Becca — ironizou, revirando os olhos e

    começando a me ignorar. — Bem, quem vai convidá-los?

    [ 10 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    — Eu chamo. — João piscou para mim.

    — E quem são eles? — perguntei.

    Mas eu tive minha concentração pulverizada. O modo com que

    Juliano me olhava fez com que eu perdesse a noção do que

    estávamos falando ali. Quando ele percebeu meu olhar, sorriu de um

    modo conquistador.

    Estava muito perfeito o momento até que Amanda mais uma vez

    me trouxe para o mundo real, consequentemente me fazendo olhar

    para baixo toda envergonhada.

    — Ah, João, eu já tenho certeza que ela não ouviu os nomes deles.

    — E deu uma olhada rápida e nervosa para mim.

    Ela sempre falava que Juliano não me merecia e que ele não era

    totalmente bom — isso porque ela mesma já o namorara no passado

    e o relacionamento não foi um dos melhores. Am dizia que ele a

    traiu. Embora eu confiasse no que ela me dizia, não conseguia

    imaginar o lindo Sr. Olhos Azuis fazendo uma coisa dessas, então

    comecei a ignorar isso tudo para não morrer de enxaqueca.

    Resumindo: Por isso, minha lindíssima amiga nunca aprovou os

    flertes dele, principalmente quando eu flertava de volta.

    — É, não ouvi. — Dei uma mordida involuntária nos lábios.

    — Tudo bem, Rê. Eu tenho o dia todo e não me importo de repetir

    os nomes dos garotos toda hora — disse meu amigo, irônico. — Mas,

    enfim, um deles é David Patrocínio, um bobão de 20 anos, que só faz

    piadas. Hmm. . Outro é o Arthur Cardoso, também com 20 anos. O

    terceiro é mais novo, tem 18 anos, igual à gente. Ele se chama Sam

    Wade.

    [ 11 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Wade... Totalmente não brasileiro e cem por cento legal.

    Comecei a desconfiar o porquê de Amanda querer tanto essa

    festa. Ela estava é querendo flertar com algum dos três meninos.

    Depois de programar o evento do ano, quase todos os meninos

    saíram com Amanda para decidir os preparativos. Ela sempre tinha

    mais amizade com os meninos, mais do que qualquer uma nessa

    república.

    Sem o que fazer, fui para o meu quarto, que estava bem fresco.

    Delicadamente, eu pulei ao lado do meu ursinho de pelúcia, Tobby, e

    o abracei bem forte. Minha mãe havia me dado quando eu aceitei vir

    para Ribeirão. Ela me apoiava fortemente, pois, na época, eu faria 18

    anos e podia cuidar de mim mesma. Meu pai relutou um pouco em

    me deixar mudar de cidade, mas percebeu que era o melhor para

    mim também.

    Minha mãe era neurologista, muito bem sucedida no que fazia.

    Meu pai era advogado, um dos melhores. Não falo isso porque eles

    eram meus pais, mas porque eles eram realmente bons em seus

    trabalhos. Eu não tinha irmãos. Minha família era conhecida como

    uma família séria e de poucos representantes. Os meus parentes de

    nome Morgan tinham no máximo dois filhos por casal.

    Pela barulheira que de repente adentrou a casa, Amanda já tinha

    retornado junto com os outros meninos. As gargalhadas que eu ouvia

    denunciava que tudo havia dado certo.

    Apareci na sala onde todos estavam aglomerados comendo pizza.

    [ 12 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    — Que bom que eu fui convidada para a bagunça — falei com

    sarcasmo, fazendo um biquinho.

    Am riu.

    — Não seja melodramática. Eu já estava indo te chamar.

    Enquanto comíamos (além de pizza, também tinha sorvete!

    Hmm), nós conversávamos animadamente sobre a chegada dos três

    hóspedes e continuamos assim mais um bom tempo. Amanda os

    descrevia com perfeição; eu quase conseguia fazer uma imagem

    mental deles. Começou a ficar tarde e, de um em um, o pessoal foi

    sumindo da sala, até que sobramos Amanda e eu.

    — Ei, Am. Descobri porque você quer que os meninos venham

    amanhã. — Fiz uma cara de esperta enquanto observava sua reação.

    Ela ficou com uma postura rígida, como se estivesse preocupada.

    — Está na cara que você quer um deles como namorado. Não sei

    qual. — Meu sorriso malicioso de canto a deixou mais aliviada (ou

    assim pareceu).

    — Não é bem por isso, mas se eu fosse escolher um deles,

    escolheria o Sam. Mas que pedaço de mau caminho! — E suspirou

    como se tivesse pensando em suas formas.

    — Nossa, Amanda! Você até me deixou curiosa — eu disse,

    ironicamente, enquanto ela saía da sala me chamando para eu ir com

    ela. — Eu vou depois que eu arrumar as coisas esparramadas aqui.

    — Ok — falou, saltitando para fora. Ela já estava acostumada

    com o meu TOC parcialmente controlado.

    [ 13 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Terminei tudo e fui para o quarto. Amanda já estava adormecida.

    Eu tinha sorte de dividir meu quarto só com ela. . Nada de Maria

    Elisa, Natale ou Teresa. Só Amanda, minha melhor amiga.

    Coloquei um pijama, escovei os dentes e me joguei na cama. Não

    demorou muito até que eu retornei a pensar em meninos, mas eu

    tinha que me concentrar. Apaixonar-me não era a minha prioridade,

    eu memorizava, tentando seguir a minha linha de pensamento.

    Porém, eu não acreditava nessa frase e sabia muito bem disso; vinha

    pensando há um bom tempo:

    Eu precisava de um namorado.

    [ 14 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    2

    Havia amanhecido e eu fui a primeira a acordar. A casa estava

    silenciosa.

    Eu tive um sonho completamente confuso — e estranho — com

    Amanda e Sam. Na verdade, não sei bem se era Sam, mas pela

    descrição que minha amiga fizera na noite anterior, poderia muito

    bem ser.

    Em meu sonho, Amanda chegou correndo, toda suada e me

    puxou. Estávamos indo em direção a um carro prateado e muito

    compacto, mas o que ela estava procurando estava exatamente

    dentro dele.

    Sam Wade.

    Quando chegamos perto, ela soltou minha mão e pegou a dele.

    Nesse momento eles começaram a correr para dentro de uma cidade,

    que não estava na minha frente nos últimos dois segundos. Na

    verdade, parecia mais uma vila do que cidade. Eu queria parar, mas

    Amanda corria, se virava e gritava:

    — Corre, Becca, vamos nos atrasar.

    Eu tentava correr mais rápido, e Amanda continuou falando, cada

    vez mais urgente.

    Pude ver que chegávamos perto de uma construção graciosa, bem

    simples. A igreja tinha somente uma torre e uma cruz no alto dela.

    Subimos à escadaria e, com muito custo, abrimos a pesada e

    gigantesca porta de madeira. Não havia nada: nenhuma decoração,

    [ 15 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    nenhum convidado. Apenas o padre que resmungava algo inaudível

    que parecia mais com Atrasados de novo.

    Eu assisti sozinha à cerimônia de casamento, que passou mais

    rápido do que eu pude imaginar. Os noivos, Sam e Amanda,

    correram para a porta de madeira, passando por mim sem ao menos

    se despedirem. Saíram da igreja, deixando a porta aberta, e eu os

    acompanhei. Estava parado na frente da entrada um carro todo

    decorado com os escritos ‘Recém casados’. Amanda e Sam partiram

    no carro, me deixando completamente só, em uma vila quase

    abandonada. Olhei para trás, tentando localizar o padre, mas eu não

    consegui ver onde ele estava. Ele não estava mais lá e eu.. fiquei

    sozinha.

    Foi quando o sonho se transformou em um pesadelo e acordei

    ofegante. Eu estava tão suada que parecia que eu tinha realmente

    corrido, como no início do sonho.

    Eu estava pirando, estava mesmo. Nunca tinha visto esse tal Sam e

    já tinha sonhado com ele!

    Minha cabeça estava confusa. Eu dizia para todo mundo a minha

    volta que não precisava de namorado nenhum, mas no meu íntimo

    — e no meu subconsciente, pelo que eu pude ver — eu me sentia só.

    Pelo que eu pude entender do conjunto do meu sonho, eu tinha medo

    que as pessoas perto de mim fossem embora, vivessem felizes e me

    deixassem sozinha. O meu medo era que, no final de tudo, eu não

    tivesse ninguém comigo. (Eu tento interpretar sonhos e pessoas; não

    é a toa que eu vou começar meu curso de Psicologia. .)

    Foi quando meus pensamentos voaram para Juliano.

    [ 16 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Essa coisa de ele me deixar louca era totalmente errada. Não

    tínhamos as mesmas intenções. Ele queria que ficássemos uma vez, aí

    depois nem notaria mais minha presença.

    Duas vozes brigavam dentro da minha cabeça. Uma dizia: Ah, fala

    sério! Lógico que ele quer namorar você. Ele lhe disse o contrário,

    hein? A outra dizia: Ele não é certo. E você não gosta dele de verdade,

    só está confusa. Se gostasse, tudo bem! Poderia se arriscar. . Ver se

    daria certo.

    Eu sinceramente não sabia qual ouvir, mas preferia acreditar na

    segunda.

    Resolvi me levantar e fazer alguma coisa. Se eu ficasse parada

    com aquelas duas vozes mais um minuto iria enlouquecer.

    Escovei os dentes pacientemente enquanto tomava banho,

    pensando em colocar a mesa de café da manhã bem caprichada. E foi

    exatamente o que eu fiz.

    Voltei para o quarto para me trocar; eu estava de roupão, só para

    constar. Quando eu estava trocada, Amanda já tinha acordado. Não

    só ela, alguns dos meninos também.

    — Oh, meu Deus! Quem colocou a mesa de café da manhã? —

    exclamou Pedro assim que voltei para a sala de jantar.

    — Acordei mais cedo hoje e resolvi caprichar — falei.

    Peguei um sorriso de vergonha brotando em meus lábios

    enquanto Juliano olhava com aprovação.

    — Hmm. . Acho que você está ansiosa por hoje depois do almoço,

    não é? — disse Pedro com malícia na voz.

    [ 17 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Amanda deu um cutucão em suas costelas forte o suficiente para

    fazê-lo reclamar: Ai, doeu!.

    — Eu estou super ansiosa para a festa que eu organizei com a

    ajuda dos meninos! — Amanda emitiu as palavras se orgulhando

    dela mesma. Nunca vi alguém gostar tanto de festa.

    — Por que eu estaria ansiosa? — perguntei, tentando arrancar

    alguma coisa de Amanda ou Pedro.

    — Três estranhos na casa, mais amigos. . Curtição, né! O que você

    achou que poderia ser? — contra-atacou Amanda com seriedade,

    mas não me convenceu.

    — Humph, deixa pra lá — murmurei, quando vi que todos

    olhavam para mim.

    Amanda e eu estávamos no quintal, aproveitando a deliciosa brisa

    que levava nossos cabelos.

    — Que horas os garotos chegarão? — perguntei.

    Eu não sei por que eu me interessava com isso. Acho que o índice

    normal de progesterona e estrógeno de uma mulher não deixaria

    fazer com que a vinda deles passasse despercebida.

    Ela deu um sorriso atrevido.

    — Mais ou menos uma ou duas horas da tarde.

    — Ah, tá.

    Voltei para dentro da casa quando me enjoei de ficar lá parada e

    comecei a arrumar meu quarto.

    [ 18 ]

    Fusão, por Isabel a Branquinho

    Tudo terminado. Quarto arrumado e eu

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