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Minha Mãe Casou De Novo
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E-book307 páginas4 horas

Minha Mãe Casou De Novo

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Sobre este e-book

Bradley Tommas Stanley é o popular capitão do time de basquete do colégio de Nova York. Cafajeste e infantil, ele vive em pé de guerra com Andrew, uma headbanger rebelde, que desaprova suas atitudes e vive tentando lhe dar lições de moral. Brad fica perdido quando se descobre apaixonado pela única pessoa que ele acredita que nunca se apaixonará por ele, e então começa a entender que nem tudo na vida está ligado às aparências.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de ago. de 2014
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    Pré-visualização do livro

    Minha Mãe Casou De Novo - Jessica Giampaolo

    JESSICA GIAMPAOLO

    MINHA MÃE

    CASOU DE NOVO

    1ª Edição

    São Paulo

    Edição do Autor

    2014

    Dedicatória

    Dedico esse livro a todos que um dia acreditaram que o chão sob seus pés era pouco demais para o tamanho de suas asas, e só assim puderam, enfim, voar...

    2

    Prólogo

    Meu nome é Bradley Tommas Stanley, mas pode me chamar de Brad.

    Tenho 17 anos e moro em Nova York. Meu pai abandonou minha mãe quando eu tinha dois meses de vida, então não me lembro e nem sinto falta dele.

    Minha mãe, Janet, uma mulher de 34 anos, sempre conseguiu ser pai e mãe ao mesmo tempo, desempenhando esses papéis muito bem. Ela realmente é incrível, tanto é que criou um filho gato, estiloso, gente fina e inteligente como eu. Sim, eu sou o cara! O mais popular da escola, capitão do time de basquete, alto, moreno (puxei pra mamãe) e super saudável, além de ser, logicamente, o rapaz mais cobiçado da escola pelas meninas. Saí com cinco das 10 líderes de torcida, e as outras já me passaram o telefone. Minha vida seria perfeita se...

    minha mãe não tivesse se casado de novo.

    O nome do novo marido da minha mãe é Jonathan Marew. Eles namoraram uns dois anos, e então minha mãe, Janet, resolveu que tinha achado o amor de sua vida. Foi aí que Jonathan a pediu em casamento, e ela arranjou uma forma bem razoável de me contar. Cheguei um dia no apartamento onde morava e dei de cara com minha mala feita ao lado da cama, que estava desmontada:

    - Vamos nos mudar pra casa do Jonathan, querido! - disse minha mãe, toda animadinha.

    Jonathan é legal. Um típico cara maduro de 43 anos. Tem uma casa grande no centro, onde eu moro agora, e tem até piscina. Ele me trata super bem, e não tenta ser um pai, apenas um amigo. Ele até me defende às vezes, quando minha mãe briga comigo. Minha vida continuaria perfeita se, junto com Jonathan, não viesse Andrew como ‘brinde’. Andrew podia ser um garoto, um irmão. Nos daríamos bem, porque sou muito sociável. Mas não. Andrew tinha que ser... uma garota! Não só uma garota, mas uma psicopata! Sim, Andrew Marie Marew é uma garota. Eu pensei a mesma coisa quando a conheci, ‘ mas Andrew não é um nome masculino? ’.

    Bem, o pai dela veio com uma explicação melancólica de que a mãe de Andrew sempre quis um filho homem, e que amava esse nome ‘Andrew’.

    3

    Quando estava grávida, não quis saber o sexo da criança para a emoção ser maior no parto. O problema é que a senhora Marew morreu no parto, e como homenagem à esposa, Jonathan colocou o nome da menina de Andrew.

    - Oi palhaço! - é assim que Andrew me cumprimenta todo santo dia no corredor do colégio, na frente de todo mundo, bem alto.

    Sim, para piorar, ainda estudamos juntos. Na mesma sala! Eu já estudava com ela, antes de minha mãe se casar com o Jonathan, mas nunca me dei conta de que ela existia. Devo ter cruzado o caminho dela várias vezes, mas era como se pertencêssemos a outra dimensão, invisíveis um para o outro. Agora, são 24 horas com aquele ser tão pequeno e insuportável. Andrew é uma chatinha de carteirinha. Ela me odeia, óbvio, não só porque antes de eu e minha mãe nos mudarmos pra lá, ela era a princesinha da casa, mas tem algo que ela chama de ‘nível intelectual’. Ela é meio gótica, metaleira, ou sei lá o que é aquilo. Bom, ela é estranha. Pinta os cabelos compridos de um preto azulado horroroso. Eu só sei que antes eles eram castanhos claros pelas fotos antigas espalhadas na sala de estar. Usa roupas pretas, nunca varia. A cor mais viva que ela já usou uma vez ou outra foi um corpete vermelho, mesmo assim parecia a noiva do Frankenstein. Andrew poderia até ser bonita, com aquela estatura mínima e a pele branca de bonequinha de porcelana, mas ela tinha que lotar os olhos de lápis preto, transformando sua imagem numa personificação dos mortos vivos.

    Ela me chama de ‘abdômen sem cérebro’. Rá! Com certeza ela é a única que odeia meu corpo atlético. Por ser reclusa e andar com seu grupinho de rebeldes sem causa, ela me odeia por natureza própria. É como uma regra.

    Se você é headbanger, não pode se misturar com os populares e blá blá blá.

    Eu agradeço que ela se mantenha longe de mim. Fizemos um pacto de silencio: vivemos em dimensões diferentes, então eu não existo pra ela, e ela não existe pra mim. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Nunca tive irmãos, e não é agora que preciso de uma irmãzinha com problemas mentais.

    4

    Essa é minha vida. Uma mãe dedicada, um padrasto legal e uma irmã

    ‘adotiva’ completamente pirada que eu ignoro com muita facilidade. Perfeito!

    Não daria para melhorar, daria?

    5

    Capítulo 1

    Estava andando pelo colégio super contente, tranquilo, numa manhã de sexta feira. Nada melhor do que um dia de sol no velho colégio de Nova York.

    Até dar de frente com... PAF!

    - Ei palhaço! Olhe por onde anda! - disse Andrew, pegando os cadernos que caíram no chão pela topada que demos.

    - Foi mal, Morticia! - respondi, tentando ajudá-la cordialmente a pegar os livros.

    Andrew olhou para mim, com aquela costumeira sobrancelha direita levantada e a expressão superior.

    - Morticia, noiva do Frankenstein. Seu passatempo predileto é me comparar a personagens de filmes de terror? - perguntou ela, enquanto arrancava os livros dela da minha mão.

    - Pelo menos eu vario. Você sempre me chama da mesma coisa. Palhaço.

    Falta de criatividade! - respondi, tentando deixá-la sem resposta.

    - Realmente! É difícil ser criativa em relação a um ser tão limitado quanto você!

    - disse ela, virando as costas e me deixando ali, parado, como um idiota.

    Ótimo! Por que eu nunca vencia as raras discussões com Andrew? Ela sempre conseguia me passar a perna quando o objetivo era ser mais grosseiro.

    Eu odiava quando nosso pacto de silêncio e indiferença era quebrado por incidentes como esse. Eu suspirei. Passei a mão no meu cabelo preto curto, arrumei a gola da minha camisa azul-xadrez, peguei meus cadernos no chão e me dirigi até o armário.

    - Ei, Brad! - chamou uma voz fina.

    Era Ashley Hanners, a chefe das líderes de torcida. Ai, ai, ai, como ela era bonita. Tudo bem, ela tinha uma voz fina e irritante, e falava pelos cotovelos, mas era linda. Os olhinhos azuis que combinavam tanto com os cabelos louros claros compridos e lisos, o jeitinho coordenado de andar, e o 6

    corpo perfeitinho, com um rosto de traços curvilíneos perfeitos. Ela veio até mim:

    - Brad! Liz está uma fera com você!

    Ah, droga! Li i iz! Era líder de torcida também. Saímos três semanas juntos. Mas nesse fim de semana tinha me esquecido dela.

    - Liz? Está brava comigo? Por quê? - perguntei, incrédulo.

    - Alô! Você não ligou pra ela o fim de semana todo! - me falou Ashley.

    - E daí?

    - Como assim e daí? Todo mundo achava que vocês estavam namorando.

    Um fim de semana inteiro sem um telefonema nem sinal de vida não é coisa de namorado.

    - Aff, Ash! Liz não é burra. A resposta é simples, não estamos mais juntos. - eu respondi, sem a menor vergonha na cara.

    - Vocês... não estão mais juntos? E você nem avisa ela? - perguntou Ashley, boquiaberta.

    - Não avisei a Marilyn, nem a Selena, nem a Jolie e muito menos a Rebecca.

    Nem por isso elas me odeiam. Se Liz ficar estressadinha, ela precisa crescer antes de sair com um cara novamente. - falei, confiante.

    - Hahahaha! - riu Ashley- Liz vai te matar! Mas, se vocês não estão mais juntos... me liga! - disse ela, sugestivamente, saindo de perto de mim com a mão encostada na orelhinha pequena fazendo sinal de telefone.

    Ah, eu sabia. Eu sabia que eu ia ganhar a Ashley. Depois de Marilyn, Selena, Jolie, Rebecca e Liz, só faltavam Ashley, Karine, Kel y, Monique e Nicole para completar minha lista. E pronto! Aí sim eu seria a lenda naquela escola. O cara que saiu com todas as líderes de torcida. Ah, e seria ainda mais odiado ainda pela Andrew.

    7

    Entrei na sala de aula contentinho pelo fato anterior, sentei na minha cadeira e levei um susto com a sombra do meu lado.

    - Andrew?

    Qual é? Ela sempre sentava no fundo com as outras assombrações amigas dela. Mas hoje ela estava ali, sentada no centro da sala, do meu lado.

    Medo! Alguma coisa ela queria. Ela revirou os olhos pintados de preto e me fuzilou como sempre fazia.

    - Esqueci meu livro de matemática e o professor Marcos me mandou acompanhar a aula com você. - disse ela como se tivesse um nó na garganta.

    - Por que comigo? Suas amigas vampiras têm o livro também! - apelei logo.

    - O professor sabe que você é um ser ignominiosamente inferior a mim, e que nosso convívio social é impossível, por isso acha que ao seu lado não conversarei na aula dele, diferente do que faria se sentasse com minhas amigas.

    Ótimo! Sobrou pra mim. Até o professor de matemática sabia que eu e Andrew pertencíamos a dimensões diferentes. Era óbvio que lado a lado seríamos dois túmulos a aula inteira.

    Foi nesse instante que Liz entrou na sala bufando, com Ashley sorridente atrás dela. Liz jogou a bolsa de plumas roxas em cima da carteira, colocou as mãozinhas na cintura, me fuzilou com os olhos negros e bateu o pé no chão. Eu olhei, sem entender. Liz era linda, lógico, eu tinha um gosto muito apurado. Diferente de Ashley, ela era morena, a pele acobreada e os cabelos cacheados longos e negros.

    - Que é? - perguntei, incomodado com ela me encarando daquele jeito.

    - Não se faça de idiota, Bradley Tommas! - disse Liz. Droga, ela ia mesmo fazer um melodrama pelo término do nosso não-namoro.

    - Ah Liz, foi legal, mas poxa... você sabia que não era sério. - eu sussurrei, tranquilamente, querendo acabar com o assunto. Liz ficou roxa.

    8

    - Como assim não era sério? Brad, nós saímos por três semanas! Você nunca ficou tanto tempo com uma garota! - gritou Liz.

    A sala inteira me encarava agora, principalmente Andrew, do meu lado.

    Eu queria morrer. Eu não queria fazer isso. Nunca precisei dar o fora numa garota pra ela se tocar. Eu não gostava de terminar relacionamentos, porque odiava lágrimas. Era constrangedor. As meninas geralmente entendiam quando eu não ligava para elas num final de semana. Mas Liz estava se fazendo de tonta. Estava me obrigando a isso. Eu ia ter que magoá-la.

    - Liz... por favor... - tentei ser maleável.

    - Por favor nada, Brad, seu covarde! - gritou ela.

    - Certo! Eu não queria te magoar, mas já que é assim... se toca, Liz! Acabou! É

    tão simples. - eu falei, curto e grosso.

    O rosto de Liz desmoronou, os olhos ficando vermelhos. Droga! Era isso que eu queria evitar. Mas eu não tinha culpa se Liz estava gostando mesmo de mim. Todo mundo sabia que pra mim aquilo não era sério.

    Liz saiu correndo da sala, quase atropelando o professor Marcos.

    - O que houve? - perguntou o professor para a sala.

    - Brad deu o fora na Liz na frente de todo mundo! - respondeu Andrew. Bocuda filha da mãe!

    - Senhor Stanley! - disse o Professor Marcos olhando para mim - Faça-me o favor de resolver seus problemas pessoais fora da sala de aula. Exibicionismo é degradante! Todos nos lugares, vamos começar a aula.

    - Valeu, noiva cadáver! - sussurrei para Andrew, que sorriu maquiavélica.

    A aula correu maçante e entediante. Eu gostava de matemática e era bom na matéria. Eu até me divertia resolvendo os exercícios, mas eu era tão bom nisso que terminava cedo demais. E sendo o professor Marcos o mais durão dos professores, a sala não se atrevia a abrir a boca. Então eu tinha que 9

    ficar desenhando na capa de trás do caderno. Mas com Andrew grudada na minha carteira, ficava ridículo eu desenhar perto dela. Com certeza ela ia rir dos meus carros mal feitos. Então, sem nada pra fazer, olhei para ela.

    Bom, nesse ângulo ela não era tão morta viva assim. Ela tinha um perfil bonito. O nariz pontudinho, os cílios compridos e o cabelo moldando o rostinho de boneca de porcelana. Resolvendo os exercícios ela ficava interessante, com aquele ar intelectualmente superior que ela já possuía. De boca fechada, ela chegava a ser atraente. Argh! Mas o que é que eu estava dizendo? É Andrew Marew, a alienígena da escola.

    Revirei os olhos e rondei a sala, silenciosa. Meu olhar cruzou com o de Ashley, na segunda carteira do outro lado da sala. Ela sorria. Pensei que ela fosse amiga de Liz, mas ela estava contente demais com o término do nosso não-namoro. Ela me deu uma piscadela e fez sinalzinho de telefone com a mão outra vez. Essas líderes de torcida! Eu podia jurar que não existia nada mais fácil de conseguir, do que o carinho delas.

    Nesse instante escutei alguém bufando. Virei o rosto e dei de cara com Andrew me encarando como se eu fosse uma aberração. Ela balançou a cabeça negativamente e murmurou algo como não acredito que está fazendo isso e voltou a fazer o exercício. Eu ia perguntar qual era o problema dela, mas geralmente não era eu quem quebrava nosso pacto do silêncio e sim ela com suas implicâncias infundadas. Revirei os olhos e comecei a fitar o teto.

    O sinal tocou. Intervalo, graças a Deus! Saí da carteira com pressa de me livrar da energia negativa que emanava de Andrew, e parti pro refeitório.

    Tive a leve impressão de escutar Ashley me chamar, mas ignorei a possibilidade e continuei andando. Eu ia dar uma chance a Ashley, mas não estava afim de resolver isso agora. Eu podia parecer um canalha aos olhos de Andrew, mas eu tinha meus princípios. Merecia uns dias de folga da vida de pegador. Apertei mais o passo.

    10

    Capítulo 2

    No refeitório, fui para minha costumeira mesa, onde já esperavam Matt, Johnny e Freud. Eles não eram da minha sala, mas eram meus parceiros para todas as horas.

    Matt era loiro, forte e era o segundo mais cobiçado da escola (depois de mim, é claro). Johnny era ruivo, com sardas suaves no rosto, mais baixo que eu e Matt, mas isso não impedia que as meninas o paquerassem também, se eu e Matt não déssemos bola para elas. Ah, o Freud! Conhecemos ele no colegial, e amávamos caçoar dele por causa do nome. A mãe dele é psicóloga, e colocou esse nome de Freud no filho por razões óbvias. Ele tinha um irmão mais velho, que não conheci ainda e não lembro o nome, mas como nunca zuamos, provavelmente não tinha um nome de algum psicanalista famoso como ele.

    Freud era um maluco total. Nunca se importava com as brincadeiras, mesmo com as de mau gosto. Sempre risonho, calmo e completamente sem noção. Diferente de mim, de Matt e de Johnny, que éramos populares e jogadores de basquete, Freud estava mais para Andrew. Ele era headbanger, com o cabelo comprido castanho e liso, e suas costumeiras camisetas do Metal ica. Segundo ele, parou de usar lápis preto nos olhos verdes escuros na 8ª série, porque nessa época começaram a desconfiar da sua opção sexual, mas mantinha até hoje as pulseiras de couro e o cinto de caveira.

    - Fala Brad! - me cumprimentou Freud quando cheguei à mesa.

    - Hoje é o pior dia da minha vida! - falei, me jogando na cadeira.

    - Ficamos sabendo. Liz te obrigou a terminar com ela na frente de todo mundo e o professor de matemática te deu uma carcada! - falou Matt, rindo.

    - Você devia ter ignorado a Liz até o professor Marcos chegar na sala. Aí ela pagava o pato. - sugeriu Johnny.

    - Ei, não foi tão ruim pela Liz. - murmurei.

    11

    - Então o que foi? - perguntou Matt.

    - Fiquei a aula toda sentado do lado da Andrew. O professor Marcos a mandou sentar ali comigo porque ela tinha esquecido o livro de matemática. Saco! A aula foi um martírio. - resmunguei.

    - Não deveria falar assim da sua irmãzinha. - brincou Johnny.

    - Quantas vezes tenho que falar que ela não é minha irmã! - falei, mal humorado. - Minha mãe não tinha nada que se casar de novo. Podia namorar muito, eu nunca implicaria com isso. Tá, podia até casar, mas não com um cara que tivesse uma filha como a Andrew.

    - Essa garota é o cúmulo do pé no saco! - zombou Matt.

    - Não acho Andrew tão insuportável assim. - murmurou Freud.

    Exatamente. Desconfiávamos que Freud escondia uma paixão por Andrew. Não só por ele sempre defender ela quando raramente zombávamos das suas peripécias, nem por ele sempre sorrir quando ela aparecia, ou por tê-la convidado para sair sete vezes, ou por ter pintado rosas vermelhas de tinta preta para dar de presente a ela. Tudo bem, não desconfiávamos. Tínhamos certeza mesmo. Matt bateu a mão na testa.

    - Já não te falei pra esquecer essa menina? Ela te deu sete foras, brother! E

    ainda por cima queimou aquelas rosas que você pintou no meio do pátio do colégio. - falou Matt.

    - Eu não to dizendo que gosto dela. Só que vocês exageram quando falam mal dela. - gaguejou Freud.

    De repente, os olhos de Freud se iluminaram, e eu já sabia por quê.

    Toda vez que ele fazia aquela cara de bobo era porque Andrew e as amigas bruxas de Blair dela entravam no recinto. Eu podia sentir a sombra negra passando pelas minhas costas. Revirei os olhos e tombei a cabeça pra trás.

    Um ritual matinal iria se repetir em 3, 2, 1...

    - Bom dia, Andrew! - falou Freud, abobado.

    12

    Andrew parou, entortou a cabeça de lado, sorriu de uma força mal humorada e disse a frase de sempre.

    - Bom dia, poser! - falou Andrew, dando as costas e indo para sua reclusa mesa no fundo do refeitório.

    Eu, Matt e Johnny encaramos Freud por um longo momento até ele se incomodar.

    - Que é? - perguntou ele, percebendo nossos olhares.

    - Sem comentários! - exclamou Matt.

    Suspirei e olhei para a mesa de Andrew, que possuía uma expressão maldosa. Ela me olhou e sorriu cética. Foi aí que Ashley se jogou no meu colo.

    - Ei Brad, por que não me esperou? Não me ouviu chamar? - falou ela, contentinha.

    Olhei para Andrew por reflexo depois do susto e vi quando sua expressão superior se fechou num olhar zangado. Antes que eu pudesse entender sua raiva, ela revirou os olhos e me deu as costas.

    - Não, não ouvi. Ash, se Liz passar aqui e te ver no meu colo, ela vai ter um ataque! - falei, empurrando ela. Ashley firmou o braço em volta do meu pescoço.

    - Acorda Brad, ela é uma líder de torcida, tem um nome a zelar! Você já deu o fora nela na frente de todo mundo, e ela não vai cruzar o seu caminho até que a escola esqueça aquele mico, se é que vão esquecer. - como Ashley era falante, meu Deus - Mas enfim, vim te avisar que pode me pegar amanhã, às oito da noite. Ah, você escolhe o lugar!

    Eu olhei para ela, meio confuso:

    - O quê? - perguntei.

    - Vamos sair juntos, esqueceu?

    13

    - Ash, eu achei que você ia esperar eu te ligar.

    - Brad! Você é muito lerdo. Já perdemos muito tempo. As oito, ok? Beijos! -

    disse ela, saindo do meu colo e partindo para a porta de saída do refeitório, sem me dar chance de resposta.

    - Uau! Isso é o que eu chamo de jeito com as mulheres! - exclamou Freud. -

    Mal deu o fora em uma, já vai levar outra pra sair. Antigamente você dava um tempo de pelo menos uma semana.

    - Bom, não vou dar um fora na chefe das líderes de torcida, não é? - falei, percebendo o quanto era sortudo.

    - Então boa sorte, porque a Liz vem vindo aí! - avisou Johnny.

    Essa não! Chega de escândalos por hoje, pensei comigo mesmo. Mas se Liz queria brigar, ela ia ficar falando sozinha. Respirei fundo, tomei um gole do refrigerante de Matt, e olhei para ela, esperando que chegasse até mim.

    Liz andava com passos suaves, que não combinavam com o humor desequilibrado que ela estava mais cedo. Ela se aproximou da mesa delicadamente e olhou de relance para mim, se virando para Freud.

    - Oi Freud, lembra aquela música do Epica que você me aconselhou a baixar? -

    perguntou Liz, docemente.

    - Le-le-lembro. - gaguejou Freud.

    - Então, eu A-DO-REI! - disse Liz, sorrindo. - Gostaria que passasse lá em casa amanhã para me dar mais uns toques sobre esses tipos de música que não costumo ouvir. O que você acha?

    - Liz, você odeia metal, rock e qualquer coisa que tenha guitarra! Mandou Freud pastar quando ele te aconselhou a ouvir Epica. - eu cortei, pasmo demais com o cinismo dela.

    - Não estou falando com você! - ela resmungou, curta e grossa - Freud, e então, o que me diz?

    14

    - Claro! - respondeu Freud.

    - Ótimo, te vejo amanhã! - sorriu Liz, saindo da nossa mesa.

    Eu não sabia se ria ou se vomitava. Liz estava apelando. Selena, uma das líderes que eu já tinha saído, também ficou meio magoada quando não liguei em um fim de semana. Ela apelou também, mas não decaiu tanto se jogando pro Freud. Mais esperta, ela partiu pra cima do Matt, mas o máximo que conseguiu, ao invés de me irritar, foi fazer com que eu e Matt ficássemos rindo comparando como ela se saiu no beijo comigo e com ele. Matt pegou quase todas as minhas ex-ficantes. Selena sabia disso. Mesmo assim, ficou possessa, mas depois de duas semanas voltou a falar comigo. Talvez Liz, depois de uns tombos, também me perdoasse e entendesse minha posição na sociedade escolar.

    - Agora você vai perder todas as chances com a Andrew. - falou Johnny, comendo um pão de mel.

    - Ei, dei muitas chances a ela. Mas se Liz quer conselhos musicais, não vou negar um bem à humanidade. - respondeu Freud.

    - Depois de três dias saindo com o Freud, Liz vai querer se matar. Ainda mais quando perceber que você não dá a mínima, Brad. - refletiu Johnny.

    - Bem, vou indo. Tenho um longo fim de semana com Ashley Hanners! -

    enfatizei.

    - Fala como se fosse um martírio. A loirinha é um sonho. Ela me deu três foras.

    - reclamou Johnny.

    - Quando eu der o fora nela, talvez você tenha uma chance. - zombei.

    - Vai pro inferno! Está escrito Matt na minha testa? Ele que adora pegar seus restos. - bufou

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