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A Primeira Pedra
A Primeira Pedra
A Primeira Pedra
E-book445 páginas3 horas

A Primeira Pedra

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Sobre este e-book

Depois de ter sua família abandonada pelo pai, Amor para o jovem Gael torna-se mais uma palavra qualquer. Com a responsabilidade de homem da casa, precisou adiar temporariamente seu sonho de fazer faculdade, em contrapartida, sua vida sentimental torna-se um abismo sem fim. Garoto promíscuo, de muitos amantes, incompreende o vazio que habita em seu peito, vivendo em um mundo material criado por ele para se blindar de tudo e todos. O que Gael não esperava, era descobrir no amigo de seu irmão, Ruric, o Amor que um dia jamais pensou existir. Paixão, desejo e amor. A junção de três sentimentos em sua maior plenitude passam a correr nas veias desses dois rapazes que descobrem juntos o que nunca descreverão em palavras. Mas da mesma maneira que a vida dá, ela cobra. Apenas os merecedores serão dignos de vivenciar o ápice desse sentimento que transforma e intriga, e ao se deparar com Ruric envolvido com Drogas, Gael passa a lutar contra o mal dos tempos modernos, assumindo pra si a rejeição e exclusão da Sociedade brasileira, que finge, omite e ignora a existência daqueles que vegetam à luz do dia pelas ruas das maiores e mais ricas cidades do país.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de nov. de 2015
A Primeira Pedra

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    A Primeira Pedra - Lu Mounier

    | A primeira Pedra |

    "Nós descobrimos que liberdade nada tem a ver com

    experimentar todas as drogas, vícios ou virtudes do

    mundo. Liberdade é poder escolher." – Aline Diedrich

    5

    Lu Mounier

    Lu Mounier 2015

    Todos os Direitos reservados ®

    6

    | A primeira Pedra |

    O AUTOR

    Aos 30 anos de idade ele já conquistou mais de

    100 mil leitores, tornando-se o autor de e-livros mais

    lido da internet. Luiz Renato é Lu Mounier. Nascido na

    cidade de São Paulo em novembro de 1985, começou a

    escrever já nos tempos de escola, passando a escrever

    peças de teatro.

    Desde suas primeiras peças teatrais, até os dias

    atuais, Lu Mounier já conta com dez títulos divulgados

    na forma de e-books. Aquilo que começou como uma

    diversão entre amigos tornou-se algo muito maior,

    atingindo a faixa de 100 mil leitores já em 2009. Sua

    intenção é democratizar a leitura, por isso se preocupa

    em ser direto e simples em suas narrativas. Escreve para

    aqueles que não gostam de ler, e se inspira na realidade

    em que vivemos no mundo atual, relatos de amigos e

    transgressões culturais.

    Lu Mounier já abordou temas atuais como

    AIDS, primeira transa, Segunda Guerra Mundial,

    Prostituição, Pedofilia, Primeiro emprego, Drogas,

    Bullying, Transsexualidade entre outros. Em uma

    linguagem simples, seus escritos agradam públicos de

    7

    Lu Mounier

    diversas idades e níveis literários. Até o momento já

    disponibilizou dez títulos: @mor.com.br; A marca de

    batom; Um estranho dentro de mim; Quase Levy um

    fora; Prazer em conhecer; Eles perguntam, ele responde;

    O que olhos não veem, coração também sente; Profissão

    Amante, O Jardim da Luz e O Reencontro do Amor

    Eterno.

    8

    | A primeira Pedra |

    SUMARIO

    PREFACIO.........................................................16

    INTRODUCAO.......................................................19

    CAPITULO 1

    DESILUSÕES DA VIDA..................................22

    CAPITULO 2

    UMA TRANSA E NADA MAIS.........................26

    CAPITULO 3

    FAZENDO UM BOM TRABALHO....................35

    CAPITULO 4

    CAINDO DE BÊBADO.....................................43

    CAPITULO 5

    A NOVA GERENTE........................................53

    CAPITULO 6

    UM AMIGO INCOMODA MUITA GENTE........63

    9

    Lu Mounier

    CAPITULO 7

    INDO À DENTISTA.......................................67

    CAPITULO 8

    PAQUERA NO TRÂNSITO.............................71

    CAPITULO 9

    DE CABO A RABO........................................78

    CAPITULO 10

    O FILHO DA FAXINEIRA..............................81

    CAPITULO 11

    DESCANSO MERECIDO.........,,,,....................89

    CAPITULO 12

    PERDIDO NO MUNDO..................................96

    CAPITULO 13

    DE REPENTE...............................................100

    CAPITULO 14

    DESCUBRA-ME............................................104

    10

    | A primeira Pedra |

    CAPITULO 15

    QUANDO TUDO COMEÇA............................111

    CAPITULO 16

    A CACHOEIRA............................................126

    CAPITULO 17

    NÃO HÁ MAIS O QUE DECIDIR...................132

    CAPITULO 18

    AS APARÊNCIAS ENGANAM.......................137

    CAPITULO 19

    MELANCOLIA..............................................147

    CAPITULO 20

    LOUCO PRA TE ENCONTRAR.....................156

    CAPITULO 21

    É PROIBIDO FUMAR....................................165

    CAPITULO 22

    CORRUPÇÃO ESTÁ EM TODO LUGAR........173

    11

    Lu Mounier

    CAPITULO 23

    FALTANDO NO COLÉGIO............................178

    CAPITULO 24

    ANOTE O TELEFONE...................................182

    CAPITULO 25

    NO ESCURINHO DO CINEMA......................191

    CAPITULO 26

    UMA CENA INESQUECÍVEL........................201

    CAPITULO 27

    Ê LÁ EM CASA.............................................207

    CAPITULO 28

    PAREDES TEM OUVIDO..............................213

    CAPITULO 29

    EU VOU TE ENCONTRAR............................216

    CAPITULO 30

    LIÇÃO DE CASA..........................................222

    12

    | A primeira Pedra |

    CAPITULO 31

    FELIZ NATAL!.............................................228

    CAPITULO 32

    UM ANO NOVO RECOMEÇA........................244

    CAPITULO 33

    CONSELHO MISTERIOSO............................255

    CAPITULO 34

    A PESQUISA...............................................261

    CAPITULO 35

    GRAÇAS A DEUS........................................269

    CAPITULO 36

    FUMANDO ESCONDIDO..............................276

    CAPITULO 37

    O INÍCIO DA MUDANÇA..............................281

    CAPITULO 38

    TRAQUEOSTOMIA.......................................286

    13

    Lu Mounier

    CAPITULO 39

    BRINCADEIRA INOCENTE...........................303

    CAPITULO 40

    LÁ VEM O VESTIBULAR.............................309

    CAPITULO 41

    PROVANDO QUE SABE...............................313

    CAPITULO 42

    A SOCIEDADE MODERNA..........................315

    CAPITULO 43

    CHURRASCO POLÍTICO..............................325

    CAPITULO 44

    TODA AÇÃO GERA REAÇÃO.......................337

    CAPITULO 45

    CARNAFACU..............................................347

    CAPITULO 46

    O PREÇO DA FÉ..........................................363

    14

    | A primeira Pedra |

    CAPITULO 47

    E O BRASIL CALOU-SE...............................366

    CAPITULO 48

    ATUALMENTE EX.......................................373

    CAPITULO 49

    QUEM DIU?.................................................379

    CAPITULO 50

    NOSTALGIA................................................392

    CAPITULO 51

    GOSTARIA DE DANÇAR?............................402

    CAPITULO 52

    OS LADOS DA MOEDA................................410

    CAPITULO 53

    A INOCÊNCIA DO CULPADO.......................416

    AGRADECIMENTOS...............................................431

    BIBLIOGRAFIA....................................................432

    15

    Lu Mounier

    PREFACIO

    Complexidade, essa é a palavra que define o

    tempo que levei para escrever essa obra que, mesmo

    tratando de temas tão atuais e saturados de informação,

    ainda assim são delicados e pouco discutidos nas

    residências das famílias brasileiras.

    Em meus tempos de escola, e olha que não faz

    tanto tempo assim, a criança que tinha os pais separados

    era a exceção da sala de aula. Menos de 20 anos depois

    a situação é contrária, e agora, exceção são aquelas que

    voltam para seus lares com pai e mãe presentes. Pra

    quem sobra a responsabilidade de acompanhar o

    desenvolvimento dessas crianças e sua formação moral?

    Quem fiscalizará os deveres escolares, se o banho foi

    bem tomado e as orelhas bem lavadas?

    Com a rotina moderna onde pai e mãe

    trabalham, as crianças passam a ficarem em segundo

    plano. A atenção dos pais é substituída por videogames

    de última tecnologia, enquanto a Educação fica encargo

    da escola, programas de TV e internet. Apartamentos,

    cada vez menores, transformam as novas gerações em

    crianças domesticadas, amedrontadas e vulneráveis à

    16

    | A primeira Pedra |

    realidade, vivendo em um ciclo de mil amigos em redes

    sociais, enquanto não sabem o nome do vizinho do

    apartamento ao lado.

    O mundo globalizado reúne famílias em volta

    das mesas do McDonald's para discutir o novo modelo

    do iPhone. Os pais podem espiar a rotina de seus bebês

    pela internet através das câmeras do colégio, saber se

    estão bem. Conhece de cor o número do celular dos

    filhos, mas desconhece sua cor preferida, o nome da

    professora, em quem deram o primeiro beijo.

    É nesse cenário que o caráter das novas

    gerações está sendo formado. A ausência da família, os

    medos e falta de conhecimento para lidar com a

    realidade deixam uma lacuna nesses jovens que

    precisam ser preenchidas, e na maioria das vezes essa

    companhia é o cigarro, álcool e outras drogas.

    A primeira pedra discutirá o papel da família na

    sociedade moderna, seus valores e efeitos. O que

    podemos considerar como raiz, essa educação que

    vem se defasando há mais de duas gerações resulta na

    corrupção de todos os setores sociais, violência nas

    escolas, desigualdade social, consumo de drogas e

    álcool.

    17

    Lu Mounier

    A história gira em torno de um romance entre

    dois personagens centrais, Gael e Ruric, que enfrentarão

    situações em suas rotinas pertinentes a rotina brasileira,

    vivenciando e levantando discussões sobre Bullying,

    legalização do Aborto e Drogas, Corrupção, estrutura

    familiar, Homofobia. Um romance homossexual

    cercado de tormentos, confusões e muito amor.

    A partir de agora, comece a notar o

    comportamento dos personagens da história, e qualquer

    semelhança com sua rotina não é mera coincidência.

    18

    | A primeira Pedra |

    INTRODUCAO

    Depois de ter sua família abandonada pelo pai,

    Amor para o jovem Gael torna-se mais uma palavra

    qualquer. Com a responsabilidade de homem da casa,

    precisou adiar temporariamente seu sonho de fazer

    faculdade, em contrapartida, sua vida sentimental torna-

    se um abismo sem fim. Garoto promíscuo, de muitos

    amantes, incompreende o vazio que habita em seu peito,

    vivendo em um mundo material criado por ele para se

    blindar de tudo e todos. O que Gael não esperava, era

    descobrir no amigo de seu irmão, Ruric, o Amor que um

    dia jamais pensou existir.

    Paixão, desejo e amor. A junção de três

    sentimentos em sua maior plenitude passam a correr nas

    veias desses dois rapazes que descobrem juntos o que

    nunca descreverão em palavras. Mas da mesma maneira

    que a vida dá, ela cobra. Apenas os merecedores serão

    dignos de vivenciar o ápice desse sentimento que

    transforma e intriga, e ao se deparar com Ruric

    envolvido com Drogas, Gael passa a lutar contra o mal

    dos tempos modernos, assumindo pra si a rejeição e

    exclusão da Sociedade brasileira, que finge, omite e

    19

    Lu Mounier

    ignora a existência daqueles que vegetam à luz do dia

    pelas ruas das maiores e mais ricas cidades do país.

    20

    | A primeira Pedra |

    Esse livro é baseado em relatos de pessoas e

    situações reais.

    Lu Mounier

    21

    Lu Mounier

    CAPITULO 1

    DESILUSÕES DA VIDA

    Para a humanidade, o sentido da vida ainda é

    uma incógnita. Já para os poetas e caretas, o "sentido da

    vida" é Amar, o que pra mim não passava de uma tolice.

    O mundo em que um dia eu acreditei fazer

    parte, na verdade nunca existiu. Minha vida inteira,

    passado, presente e sonhos foram construídos sobre

    mentiras, como um castelo de cartas esperando a

    primeira ventania para se dissipar. Somente quem

    passou pela experiência que eu passei pode descrever a

    dor incurável que nos tormenta, a paz tirada e nunca

    mais devolvida. Por que eu, Deus? Por que me faz,

    ainda hoje, lembrar como se fosse ontem? Até quando

    serei condenado a carregar essa dor de uma alma que se

    tornou hemofílica?

    A história que contarei a partir de agora, é a

    vida de um cara que conheceu, mesmo desacreditando,

    o verdadeiro Amor. De um garoto arrependido, que

    daria sua vida para poder voltar no tempo e fazer

    diferente.

    -Gael... Gael... Já são oito e meia! – Acordava-me

    minha mãe.

    22

    | A primeira Pedra |

    -Já vou levantar... – Respondi cheio de preguiça.

    -Deixei leite quentinho no fogão. Na geladeira tem

    salame, manteiga, requeijão e peito de peru defumado.

    O pão e a geleia estão sobre a mesa. Não se atrase!

    Disse dando-me um beijo na testa.

    Sempre morei em São Paulo. Quando eu tinha

    dezoito anos meu pai foi embora de casa, fugindo com a

    melhor amiga de minha mãe. Semanas depois veio a

    surpresa: ganharíamos um irmão.

    Meu sonho de iniciar a faculdade parecia ter

    chegado ao fim, tendo eu a responsabilidade de ajudar a

    sustentar a casa, pois era o filho mais velho, já com o

    terceiro a caminho. Mas logo a esperança voltou a

    reinar, pois minha mãe foi promovida na empresa em

    que trabalhava como Corretora de Imóveis. Com uma

    renda maior, o dinheiro que eu ganhava passei a investir

    na tão sonhada graduação em Enfermagem.

    Ouvi a porta da sala fechar. Coberto apenas por

    um lençol, de corpo nu, levantei-me. Caminhei até o

    banheiro, cambaleando de sono em meio ao silêncio da

    casa vazia. Levantei a tampa do vaso sanitário com os

    olhos entreabertos, de pênis ereto e bexiga cheia.

    Aliviado, voltei ao quarto, peguei uma roupa e fui tomar

    23

    Lu Mounier

    um rápido banho quente. A preguiça era muita, mas a

    necessidade de cumprir os compromissos era maior.

    Todos os dias eu seguia a mesma rotina.

    Acordava, ia pra faculdade e depois ao shopping, onde

    trabalhava como Vendedor em uma loja de grife

    esportiva. Naquele dia, em especial, eu pude acordar um

    pouco mais tarde devido a ter apenas a entrega de um

    trabalho acadêmico.

    Sentei-me à mesa da cozinha para tomar café.

    Fiz um breve sanduiche de pão, queijo branco e salame,

    acompanhado de um suco de laranja que já estava

    pronto na geladeira.

    Segui para a faculdade feliz da vida por ser

    sexta-feira. A manhã estava ensolarada, brisa suave,

    prometendo um dia perfeito para curtir.

    "Se o seu coração é absoluto e sincero, você

    naturalmente se sente satisfeito e confiante, não tem

    nenhuma razão para sentir medo dos outros." – Dalai

    Lama

    Embora não houvesse aula normal, aquela

    sexta-feira foi corrida. O shopping estava lotado, a loja

    24

    | A primeira Pedra |

    teve um ótimo movimento e consegui fazer várias

    vendas boas.

    A única coisa ruim, ou melhor, as coisas ruins

    em trabalhar em shopping é o tempo que nos consome e

    a inveja de algumas pessoas que não conseguem se

    destacar naquilo que fazem.

    -Parabéns, Gael! Arrasou hoje! – Disse Gabriela, uma

    das vendedoras da loja.

    -Obrigado! Bateu sua meta?

    -Finalmente! Dois dias antes de fechar... Agora tô

    suave! E você?

    -Consegui também. Hoje vou dormir em paz.

    Brinquei.

    -O mês que vem vai ser paulera...

    -Nossa! Nem me fale, Natal vai ser corrido...

    -Vou indo, gatão.

    -Tá certo. Até amanhã!

    -Até. Beijo gente! – Despediu-se ela passando por baixo

    da porta da loja entreaberta.

    Assim que deixei o trabalho telefonei pra casa.

    Ninguém atendeu. Mandei uma mensagem de texto pra

    minha

    mãe

    que

    logo

    respondeu

    com

    outra,

    comunicando-me que não voltaria pra casa.

    25

    Lu Mounier

    Num volto hj pra ksa

    To na casa da sua tia

    Bjs

    Entrei no metrô, que por sinal estava lotado.

    Para alguns a diversão estava só começando, enquanto

    que para mim, a cama era meu destino final.

    CAPITULO 2

    UMA TRANSA E NADA MAIS

    Cheguei em casa já passavam das 23h00. As

    luzes estavam apagadas, e apenas o abajur sobre a

    mesinha de canto permanecia aceso. Deixei a mochila

    sobre o sofá da sala e ali mesmo comecei a tirar a roupa.

    Caminhava em direção à cozinha quando o

    telefone tocou.

    -Alô?

    -Gael? – Questionou meu irmão do meio.

    -Fala, Jeferson?

    -A mãe tá ai?

    -Não... Hoje ela vai ficar na casa da tia Lúcia...

    26

    | A primeira Pedra |

    -Tá certo. Já saí da aula, vou dar um rolê com a

    galera...

    -Toma cuidado com esses cara que você tem saído...

    -Sei me cuidar, mano. O Dudu tá ai?

    -Não, a mãe levou com ela.

    -Então beleza!

    -Só voltam domingo.

    -Tá bom.

    Dudu, nosso irmão caçula, adorava passar os

    finais de semana na casa da tia Lúcia, onde podia

    brincar com nossos primos, todos na mesma faixa etária.

    Já eu e o Jeferson não gostávamos muito, pois quase

    não havia o que fazer para pessoas de nossas idades.

    Desliguei o telefone e troquei de roupa. Já que

    passaria o restante da noite em casa e sozinho, resolvi

    pedir uma pizza.

    Procurei o telefone da pizzaria na porta da

    geladeira, mas não encontrei. Embora estivesse um

    pouco

    cansado,

    não

    desisti

    e

    fui

    comprá-la

    pessoalmente, afinal, a pizzaria ficava apenas a duas

    quadras de casa.

    Entrei no elevador. Olhei no relógio e já eram

    quinze para meia-noite. De bermuda, regata e chinelo

    27

    Lu Mounier

    caminhava pela calçada sob um céu estrelado de uma

    noite de verão.

    Ao chegar na pizzaria avistei um belo rapaz

    sentado na porta. Imediatamente pensei besteira, e

    quando meu olhar foi correspondido empolguei-me

    ainda mais. Pele branquinha, mãos grandes. Aquele

    garoto não deveria ter mais que vinte anos, no ponto do

    abate. Cheguei a pensar que fosse um cliente

    aguardando pelo seu pedido, mas quando o rapaz

    questionou ao balconista quantas pizzas já estavam

    prontas para entregar descobri que era muito mais que

    um cliente. Fiquei excitado só de imaginá-lo em cima

    daquela moto, suando de tanto trabalhar.

    Mediante a situação, mudei de ideia. Pedi para

    que minha pizza fosse entregue em casa, já o

    imaginando indo entregá-la. Ao questionarem o sabor,

    respondi olhando para ele:

    -Calabresa!

    Esboçando um leve sorriso ele olhou-me ao

    mesmo tempo em que subia em sua moto. Que tesão!

    Moleque de tudo, corpo magro e pernas ágeis

    empurrando aquele pedal.

    28

    | A primeira Pedra |

    -Seu pedido já está em preparação. A previsão é de

    quarenta minutos. – Disse o rapaz do caixa, mal

    humorado e horroroso por sinal.

    Quando percebi que ele não era o único

    entregador daquela pizzaria deixei claro para o chato do

    caixa que só aceitaria se fosse aquele loirinho gostoso

    quem a levasse, obviamente não com essas palavras.

    Voltei pra casa e fui direto tomar banho. Minha

    imaginação estava a mil, claro, não perderia a

    oportunidade de arriscar naquele motoqueiro.

    Ao terminar, enrolei apenas uma toalha à

    cintura e tratei de interfonar para o porteiro pedindo:

    -Douglas... Logo mais deve chegar uma pizza que

    encomendei. Como não vou poder descer pra pegar,

    deixe que o rapaz suba, beleza?

    -Tudo bem...

    -Valeu.

    Voltei ao meu quarto e passei um óleo de

    amêndoas no corpo como sempre fazia. Na sala

    desliguei a TV e acendi o abajur. Não demorou muito e

    a campainha tocou. Liguei o rádio e coloquei uma

    música lenta pra tocar.

    Respirei fundo. Abri a porta e lá estava ele,

    segurando o meu jantar. Naquela noite ele ia ser meu,

    29

    Lu Mounier

    disso eu tinha certeza, e não sossegaria enquanto não

    conseguisse o que tanto queria.

    -Sua pizza! – Falou ele olhando-me de cima a baixo

    vestido com apenas uma toalha.

    -Entre...

    -Não posso, tenho outras entregas para fazer e...

    -Deixa disso... Não vai demorar!

    -Licença...

    Ele sabia muito bem o que eu queria, e eu

    também sabia que ele estava querendo. Propositalmente

    deixei a toalha cair, era o convite que faltava.

    Fechei a porta. Enquanto isso ele já foi pegando

    em minha cintura. Joguei aquela pizza sobre o sofá e

    começamos a nos beijar. Safado! Eu tinha certeza que

    ele estava me querendo, e antes que eu o pedisse já foi

    descendo suas calças.

    Enquanto aquele motoqueiro suado mordia

    minha orelha, ao mesmo tempo gemia em meu ouvido

    deliciosamente. Sem contar aquela língua rígida

    descendo pela minha virilha antes de provar do meu

    sabor.

    -Hum!... Eu sabia que você tinha a pegada.

    Sussurrei.

    30

    | A primeira Pedra |

    -Você quer rola? Então toma, filho da puta!

    Respondeu ele, também sussurrando.

    Transamos na sala mesmo, no sofá, no tapete,

    sobre a mesa. De bonzinho ele só tinha a cara, porque

    na transa ele era muito experiente. Sabia fazer muito

    bem, porém, não deixei a desejar, mostrei a que vim e o

    surpreendi, e a expressão em sua face foi notória e,

    acima de tudo, satisfatória.

    -Bom, agora preciso ir. – Disse o motoqueiro colocando

    a camisa.

    -Tá certo...

    -Valeu, cara!

    -Até.

    Após apertar minha mão como um amigo, saiu

    da mesma maneira que entrou, deixando em mim aquele

    vazio que me envolvia todas às vezes que terminava

    uma transa.

    Ainda no escuro, deitei-me ao tapete da sala, de

    corpo. Com o olhar perdido, refiz, como toda vez que

    algo desse tipo acontecia, uma reflexão. E a conclusão

    foi mais uma vez unanime: usado como um objeto.

    Transar sempre foi uma de minhas diversões prediletas,

    porém, depois de gozar eu sentia uma forte angústia,

    quase sempre um arrependimento instantâneo e

    31

    Lu Mounier

    temporário. Certa vez combinei de passar a noite com

    um rapaz que eu queria muito ficar, e depois de transar,

    uma vontade imensa de ir embora me tomou de tal

    forma a me incomodar. Assim que ele dormiu, deixei o

    motel e nunca mais quis vê-lo.

    Nessas horas de conflitos eu contava com uma

    amiga, Solange, única pessoa em quem eu confiava e

    desabafava sobre essas coisas.

    -Oi Gael!

    -Oi Sol! Tá ocupada?

    -Estou jantando... E você?

    -Também. – Respondi desanimado.

    -Olha, já entreguei seu curriculum aqui no RH do

    hospital, falei de você pra selecionadora e agora é só

    aguardar que logo eles te chamam. – Avisou-me ela.

    -Você acha que tenho chance? – Perguntei desanimado.

    -Claro! Você é uma ótima pessoa, ética, responsável...

    Só não vou afirmar que vão te chamar amanhã, por

    exemplo, porque você sabe que nesse período de festas

    o país para, né?

    -Sei bem como é.

    -Mas me conte... O que você tem? Sinto sua voz triste...

    -Será que existe depressão pós-sexo? – Perguntei.

    -Depressão pós-sexo? Como assim?

    32

    | A primeira Pedra |

    -Acabei de transar com o entregador de pizza... Estou

    me sentindo muito mal.

    -Gael! – Exclamou abismada. - Mas por que você está

    assim? Foi ruim?

    -Não... Foi muito bom até, mas sabe quando você olha

    pra pessoa e ela se vai como se nada tivesse

    acontecido?

    -Nunca passei por isso, mas acho que posso imaginar

    como seja...

    -Você transa com alguém que mal te beija e se despede

    como um amigo...

    -Credo!

    -Fico me sentindo um objeto... Bate uma angústia, um

    aperto no peito, como se você valesse apenas um jato de

    porra...

    -Oh amigo! Não fica assim...

    -Vamos deixar isso pra lá.

    -Mas Gael, isso é culpa sua também, porque você disse

    que não estava a fim de se envolver com ninguém.

    -Eu sei... Na verdade tenho medo de me envolver

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