A Primeira Pedra
De Lu Mounier
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A Primeira Pedra - Lu Mounier
| A primeira Pedra |
"Nós descobrimos que liberdade nada tem a ver com
experimentar todas as drogas, vícios ou virtudes do
mundo. Liberdade é poder escolher." – Aline Diedrich
5
Lu Mounier
Lu Mounier 2015
Todos os Direitos reservados ®
6
| A primeira Pedra |
O AUTOR
Aos 30 anos de idade ele já conquistou mais de
100 mil leitores, tornando-se o autor de e-livros mais
lido da internet. Luiz Renato é Lu Mounier. Nascido na
cidade de São Paulo em novembro de 1985, começou a
escrever já nos tempos de escola, passando a escrever
peças de teatro.
Desde suas primeiras peças teatrais, até os dias
atuais, Lu Mounier já conta com dez títulos divulgados
na forma de e-books. Aquilo que começou como uma
diversão entre amigos tornou-se algo muito maior,
atingindo a faixa de 100 mil leitores já em 2009. Sua
intenção é democratizar a leitura, por isso se preocupa
em ser direto e simples em suas narrativas. Escreve para
aqueles que não gostam de ler, e se inspira na realidade
em que vivemos no mundo atual, relatos de amigos e
transgressões culturais.
Lu Mounier já abordou temas atuais como
AIDS, primeira transa, Segunda Guerra Mundial,
Prostituição, Pedofilia, Primeiro emprego, Drogas,
Bullying, Transsexualidade entre outros. Em uma
linguagem simples, seus escritos agradam públicos de
7
Lu Mounier
diversas idades e níveis literários. Até o momento já
disponibilizou dez títulos: @mor.com.br; A marca de
batom; Um estranho dentro de mim; Quase Levy um
fora; Prazer em conhecer; Eles perguntam, ele responde;
O que olhos não veem, coração também sente; Profissão
Amante, O Jardim da Luz e O Reencontro do Amor
Eterno.
8
| A primeira Pedra |
SUMARIO
PREFACIO.........................................................16
INTRODUCAO.......................................................19
CAPITULO 1
DESILUSÕES DA VIDA..................................22
CAPITULO 2
UMA TRANSA E NADA MAIS.........................26
CAPITULO 3
FAZENDO UM BOM TRABALHO....................35
CAPITULO 4
CAINDO DE BÊBADO.....................................43
CAPITULO 5
A NOVA GERENTE........................................53
CAPITULO 6
UM AMIGO INCOMODA MUITA GENTE........63
9
Lu Mounier
CAPITULO 7
INDO À DENTISTA.......................................67
CAPITULO 8
PAQUERA NO TRÂNSITO.............................71
CAPITULO 9
DE CABO A RABO........................................78
CAPITULO 10
O FILHO DA FAXINEIRA..............................81
CAPITULO 11
DESCANSO MERECIDO.........,,,,....................89
CAPITULO 12
PERDIDO NO MUNDO..................................96
CAPITULO 13
DE REPENTE...............................................100
CAPITULO 14
DESCUBRA-ME............................................104
10
| A primeira Pedra |
CAPITULO 15
QUANDO TUDO COMEÇA............................111
CAPITULO 16
A CACHOEIRA............................................126
CAPITULO 17
NÃO HÁ MAIS O QUE DECIDIR...................132
CAPITULO 18
AS APARÊNCIAS ENGANAM.......................137
CAPITULO 19
MELANCOLIA..............................................147
CAPITULO 20
LOUCO PRA TE ENCONTRAR.....................156
CAPITULO 21
É PROIBIDO FUMAR....................................165
CAPITULO 22
CORRUPÇÃO ESTÁ EM TODO LUGAR........173
11
Lu Mounier
CAPITULO 23
FALTANDO NO COLÉGIO............................178
CAPITULO 24
ANOTE O TELEFONE...................................182
CAPITULO 25
NO ESCURINHO DO CINEMA......................191
CAPITULO 26
UMA CENA INESQUECÍVEL........................201
CAPITULO 27
Ê LÁ EM CASA.............................................207
CAPITULO 28
PAREDES TEM OUVIDO..............................213
CAPITULO 29
EU VOU TE ENCONTRAR............................216
CAPITULO 30
LIÇÃO DE CASA..........................................222
12
| A primeira Pedra |
CAPITULO 31
FELIZ NATAL!.............................................228
CAPITULO 32
UM ANO NOVO RECOMEÇA........................244
CAPITULO 33
CONSELHO MISTERIOSO............................255
CAPITULO 34
A PESQUISA...............................................261
CAPITULO 35
GRAÇAS A DEUS........................................269
CAPITULO 36
FUMANDO ESCONDIDO..............................276
CAPITULO 37
O INÍCIO DA MUDANÇA..............................281
CAPITULO 38
TRAQUEOSTOMIA.......................................286
13
Lu Mounier
CAPITULO 39
BRINCADEIRA INOCENTE...........................303
CAPITULO 40
LÁ VEM O VESTIBULAR.............................309
CAPITULO 41
PROVANDO QUE SABE...............................313
CAPITULO 42
A SOCIEDADE MODERNA..........................315
CAPITULO 43
CHURRASCO POLÍTICO..............................325
CAPITULO 44
TODA AÇÃO GERA REAÇÃO.......................337
CAPITULO 45
CARNAFACU..............................................347
CAPITULO 46
O PREÇO DA FÉ..........................................363
14
| A primeira Pedra |
CAPITULO 47
E O BRASIL CALOU-SE...............................366
CAPITULO 48
ATUALMENTE EX.......................................373
CAPITULO 49
QUEM DIU?.................................................379
CAPITULO 50
NOSTALGIA................................................392
CAPITULO 51
GOSTARIA DE DANÇAR?............................402
CAPITULO 52
OS LADOS DA MOEDA................................410
CAPITULO 53
A INOCÊNCIA DO CULPADO.......................416
AGRADECIMENTOS...............................................431
BIBLIOGRAFIA....................................................432
15
Lu Mounier
PREFACIO
Complexidade, essa é a palavra que define o
tempo que levei para escrever essa obra que, mesmo
tratando de temas tão atuais e saturados de informação,
ainda assim são delicados e pouco discutidos nas
residências das famílias brasileiras.
Em meus tempos de escola, e olha que não faz
tanto tempo assim, a criança que tinha os pais separados
era a exceção da sala de aula. Menos de 20 anos depois
a situação é contrária, e agora, exceção são aquelas que
voltam para seus lares com pai e mãe presentes. Pra
quem sobra a responsabilidade de acompanhar o
desenvolvimento dessas crianças e sua formação moral?
Quem fiscalizará os deveres escolares, se o banho foi
bem tomado e as orelhas bem lavadas?
Com a rotina moderna onde pai e mãe
trabalham, as crianças passam a ficarem em segundo
plano. A atenção dos pais é substituída por videogames
de última tecnologia, enquanto a Educação fica encargo
da escola, programas de TV e internet. Apartamentos,
cada vez menores, transformam as novas gerações em
crianças domesticadas, amedrontadas e vulneráveis à
16
| A primeira Pedra |
realidade, vivendo em um ciclo de mil amigos em redes
sociais, enquanto não sabem o nome do vizinho do
apartamento ao lado.
O mundo globalizado reúne famílias em volta
das mesas do McDonald's para discutir o novo modelo
do iPhone. Os pais podem espiar a rotina de seus bebês
pela internet através das câmeras do colégio, saber se
estão bem. Conhece de cor o número do celular dos
filhos, mas desconhece sua cor preferida, o nome da
professora, em quem deram o primeiro beijo.
É nesse cenário que o caráter das novas
gerações está sendo formado. A ausência da família, os
medos e falta de conhecimento para lidar com a
realidade deixam uma lacuna nesses jovens que
precisam ser preenchidas, e na maioria das vezes essa
companhia é o cigarro, álcool e outras drogas.
A primeira pedra discutirá o papel da família na
sociedade moderna, seus valores e efeitos. O que
podemos considerar como raiz
, essa educação que
vem se defasando há mais de duas gerações resulta na
corrupção de todos os setores sociais, violência nas
escolas, desigualdade social, consumo de drogas e
álcool.
17
Lu Mounier
A história gira em torno de um romance entre
dois personagens centrais, Gael e Ruric, que enfrentarão
situações em suas rotinas pertinentes a rotina brasileira,
vivenciando e levantando discussões sobre Bullying,
legalização do Aborto e Drogas, Corrupção, estrutura
familiar, Homofobia. Um romance homossexual
cercado de tormentos, confusões e muito amor.
A partir de agora, comece a notar o
comportamento dos personagens da história, e qualquer
semelhança com sua rotina não é mera coincidência.
18
| A primeira Pedra |
INTRODUCAO
Depois de ter sua família abandonada pelo pai,
Amor para o jovem Gael torna-se mais uma palavra
qualquer. Com a responsabilidade de homem da casa,
precisou adiar temporariamente seu sonho de fazer
faculdade, em contrapartida, sua vida sentimental torna-
se um abismo sem fim. Garoto promíscuo, de muitos
amantes, incompreende o vazio que habita em seu peito,
vivendo em um mundo material criado por ele para se
blindar de tudo e todos. O que Gael não esperava, era
descobrir no amigo de seu irmão, Ruric, o Amor que um
dia jamais pensou existir.
Paixão, desejo e amor. A junção de três
sentimentos em sua maior plenitude passam a correr nas
veias desses dois rapazes que descobrem juntos o que
nunca descreverão em palavras. Mas da mesma maneira
que a vida dá, ela cobra. Apenas os merecedores serão
dignos de vivenciar o ápice desse sentimento que
transforma e intriga, e ao se deparar com Ruric
envolvido com Drogas, Gael passa a lutar contra o mal
dos tempos modernos, assumindo pra si a rejeição e
exclusão da Sociedade brasileira, que finge, omite e
19
Lu Mounier
ignora a existência daqueles que vegetam à luz do dia
pelas ruas das maiores e mais ricas cidades do país.
20
| A primeira Pedra |
Esse livro é baseado em relatos de pessoas e
situações reais.
Lu Mounier
21
Lu Mounier
CAPITULO 1
DESILUSÕES DA VIDA
Para a humanidade, o sentido da vida
ainda é
uma incógnita. Já para os poetas e caretas, o "sentido da
vida" é Amar, o que pra mim não passava de uma tolice.
O mundo em que um dia eu acreditei fazer
parte, na verdade nunca existiu. Minha vida inteira,
passado, presente e sonhos foram construídos sobre
mentiras, como um castelo de cartas esperando a
primeira ventania para se dissipar. Somente quem
passou pela experiência que eu passei pode descrever a
dor incurável que nos tormenta, a paz tirada e nunca
mais devolvida. Por que eu, Deus? Por que me faz,
ainda hoje, lembrar como se fosse ontem? Até quando
serei condenado a carregar essa dor de uma alma que se
tornou hemofílica?
A história que contarei a partir de agora, é a
vida de um cara que conheceu, mesmo desacreditando,
o verdadeiro Amor. De um garoto arrependido, que
daria sua vida para poder voltar no tempo e fazer
diferente.
-Gael... Gael... Já são oito e meia! – Acordava-me
minha mãe.
22
| A primeira Pedra |
-Já vou levantar... – Respondi cheio de preguiça.
-Deixei leite quentinho no fogão. Na geladeira tem
salame, manteiga, requeijão e peito de peru defumado.
O pão e a geleia estão sobre a mesa. Não se atrase! –
Disse dando-me um beijo na testa.
Sempre morei em São Paulo. Quando eu tinha
dezoito anos meu pai foi embora de casa, fugindo com a
melhor amiga de minha mãe. Semanas depois veio a
surpresa: ganharíamos um irmão.
Meu sonho de iniciar a faculdade parecia ter
chegado ao fim, tendo eu a responsabilidade de ajudar a
sustentar a casa, pois era o filho mais velho, já com o
terceiro a caminho. Mas logo a esperança voltou a
reinar, pois minha mãe foi promovida na empresa em
que trabalhava como Corretora de Imóveis. Com uma
renda maior, o dinheiro que eu ganhava passei a investir
na tão sonhada graduação em Enfermagem.
Ouvi a porta da sala fechar. Coberto apenas por
um lençol, de corpo nu, levantei-me. Caminhei até o
banheiro, cambaleando de sono em meio ao silêncio da
casa vazia. Levantei a tampa do vaso sanitário com os
olhos entreabertos, de pênis ereto e bexiga cheia.
Aliviado, voltei ao quarto, peguei uma roupa e fui tomar
23
Lu Mounier
um rápido banho quente. A preguiça era muita, mas a
necessidade de cumprir os compromissos era maior.
Todos os dias eu seguia a mesma rotina.
Acordava, ia pra faculdade e depois ao shopping, onde
trabalhava como Vendedor em uma loja de grife
esportiva. Naquele dia, em especial, eu pude acordar um
pouco mais tarde devido a ter apenas a entrega de um
trabalho acadêmico.
Sentei-me à mesa da cozinha para tomar café.
Fiz um breve sanduiche de pão, queijo branco e salame,
acompanhado de um suco de laranja que já estava
pronto na geladeira.
Segui para a faculdade feliz da vida por ser
sexta-feira. A manhã estava ensolarada, brisa suave,
prometendo um dia perfeito para curtir.
"Se o seu coração é absoluto e sincero, você
naturalmente se sente satisfeito e confiante, não tem
nenhuma razão para sentir medo dos outros." – Dalai
Lama
Embora não houvesse aula normal, aquela
sexta-feira foi corrida. O shopping estava lotado, a loja
24
| A primeira Pedra |
teve um ótimo movimento e consegui fazer várias
vendas boas.
A única coisa ruim, ou melhor, as coisas ruins
em trabalhar em shopping é o tempo que nos consome e
a inveja de algumas pessoas que não conseguem se
destacar naquilo que fazem.
-Parabéns, Gael! Arrasou hoje! – Disse Gabriela, uma
das vendedoras da loja.
-Obrigado! Bateu sua meta?
-Finalmente! Dois dias antes de fechar... Agora tô
suave! E você?
-Consegui também. Hoje vou dormir em paz. –
Brinquei.
-O mês que vem vai ser paulera...
-Nossa! Nem me fale, Natal vai ser corrido...
-Vou indo, gatão.
-Tá certo. Até amanhã!
-Até. Beijo gente! – Despediu-se ela passando por baixo
da porta da loja entreaberta.
Assim que deixei o trabalho telefonei pra casa.
Ninguém atendeu. Mandei uma mensagem de texto pra
minha
mãe
que
logo
respondeu
com
outra,
comunicando-me que não voltaria pra casa.
25
Lu Mounier
Num volto hj pra ksa
To na casa da sua tia
Bjs
Entrei no metrô, que por sinal estava lotado.
Para alguns a diversão estava só começando, enquanto
que para mim, a cama era meu destino final.
CAPITULO 2
UMA TRANSA E NADA MAIS
Cheguei em casa já passavam das 23h00. As
luzes estavam apagadas, e apenas o abajur sobre a
mesinha de canto permanecia aceso. Deixei a mochila
sobre o sofá da sala e ali mesmo comecei a tirar a roupa.
Caminhava em direção à cozinha quando o
telefone tocou.
-Alô?
-Gael? – Questionou meu irmão do meio.
-Fala, Jeferson?
-A mãe tá ai?
-Não... Hoje ela vai ficar na casa da tia Lúcia...
26
| A primeira Pedra |
-Tá certo. Já saí da aula, vou dar um rolê com a
galera...
-Toma cuidado com esses cara que você tem saído...
-Sei me cuidar, mano. O Dudu tá ai?
-Não, a mãe levou com ela.
-Então beleza!
-Só voltam domingo.
-Tá bom.
Dudu, nosso irmão caçula, adorava passar os
finais de semana na casa da tia Lúcia, onde podia
brincar com nossos primos, todos na mesma faixa etária.
Já eu e o Jeferson não gostávamos muito, pois quase
não havia o que fazer para pessoas de nossas idades.
Desliguei o telefone e troquei de roupa. Já que
passaria o restante da noite em casa e sozinho, resolvi
pedir uma pizza.
Procurei o telefone da pizzaria na porta da
geladeira, mas não encontrei. Embora estivesse um
pouco
cansado,
não
desisti
e
fui
comprá-la
pessoalmente, afinal, a pizzaria ficava apenas a duas
quadras de casa.
Entrei no elevador. Olhei no relógio e já eram
quinze para meia-noite. De bermuda, regata e chinelo
27
Lu Mounier
caminhava pela calçada sob um céu estrelado de uma
noite de verão.
Ao chegar na pizzaria avistei um belo rapaz
sentado na porta. Imediatamente pensei besteira, e
quando meu olhar foi correspondido empolguei-me
ainda mais. Pele branquinha, mãos grandes. Aquele
garoto não deveria ter mais que vinte anos, no ponto do
abate
. Cheguei a pensar que fosse um cliente
aguardando pelo seu pedido, mas quando o rapaz
questionou ao balconista quantas pizzas já estavam
prontas para entregar descobri que era muito mais que
um cliente. Fiquei excitado só de imaginá-lo em cima
daquela moto, suando de tanto trabalhar.
Mediante a situação, mudei de ideia. Pedi para
que minha pizza fosse entregue em casa, já o
imaginando indo entregá-la. Ao questionarem o sabor,
respondi olhando para ele:
-Calabresa!
Esboçando um leve sorriso ele olhou-me ao
mesmo tempo em que subia em sua moto. Que tesão!
Moleque de tudo, corpo magro e pernas ágeis
empurrando aquele pedal.
28
| A primeira Pedra |
-Seu pedido já está em preparação. A previsão é de
quarenta minutos. – Disse o rapaz do caixa, mal
humorado e horroroso por sinal.
Quando percebi que ele não era o único
entregador daquela pizzaria deixei claro para o chato do
caixa que só aceitaria se fosse aquele loirinho gostoso
quem a levasse, obviamente não com essas palavras.
Voltei pra casa e fui direto tomar banho. Minha
imaginação estava a mil, claro, não perderia a
oportunidade de arriscar naquele motoqueiro.
Ao terminar, enrolei apenas uma toalha à
cintura e tratei de interfonar para o porteiro pedindo:
-Douglas... Logo mais deve chegar uma pizza que
encomendei. Como não vou poder descer pra pegar,
deixe que o rapaz suba, beleza?
-Tudo bem...
-Valeu.
Voltei ao meu quarto e passei um óleo de
amêndoas no corpo como sempre fazia. Na sala
desliguei a TV e acendi o abajur. Não demorou muito e
a campainha tocou. Liguei o rádio e coloquei uma
música lenta pra tocar.
Respirei fundo. Abri a porta e lá estava ele,
segurando o meu jantar. Naquela noite ele ia ser meu,
29
Lu Mounier
disso eu tinha certeza, e não sossegaria enquanto não
conseguisse o que tanto queria.
-Sua pizza! – Falou ele olhando-me de cima a baixo
vestido com apenas uma toalha.
-Entre...
-Não posso, tenho outras entregas para fazer e...
-Deixa disso... Não vai demorar!
-Licença...
Ele sabia muito bem o que eu queria, e eu
também sabia que ele estava querendo. Propositalmente
deixei a toalha cair, era o convite que faltava.
Fechei a porta. Enquanto isso ele já foi pegando
em minha cintura. Joguei aquela pizza sobre o sofá e
começamos a nos beijar. Safado! Eu tinha certeza que
ele estava me querendo, e antes que eu o pedisse já foi
descendo suas calças.
Enquanto aquele motoqueiro suado mordia
minha orelha, ao mesmo tempo gemia em meu ouvido
deliciosamente. Sem contar aquela língua rígida
descendo pela minha virilha antes de provar do meu
sabor.
-Hum!... Eu sabia que você tinha a pegada
. –
Sussurrei.
30
| A primeira Pedra |
-Você quer rola? Então toma, filho da puta! –
Respondeu ele, também sussurrando.
Transamos na sala mesmo, no sofá, no tapete,
sobre a mesa. De bonzinho ele só tinha a cara, porque
na transa ele era muito experiente. Sabia fazer muito
bem, porém, não deixei a desejar, mostrei a que vim e o
surpreendi, e a expressão em sua face foi notória e,
acima de tudo, satisfatória.
-Bom, agora preciso ir. – Disse o motoqueiro colocando
a camisa.
-Tá certo...
-Valeu, cara!
-Até.
Após apertar minha mão como um amigo, saiu
da mesma maneira que entrou, deixando em mim aquele
vazio que me envolvia todas às vezes que terminava
uma transa.
Ainda no escuro, deitei-me ao tapete da sala, de
corpo. Com o olhar perdido, refiz, como toda vez que
algo desse tipo acontecia, uma reflexão. E a conclusão
foi mais uma vez unanime: usado como um objeto.
Transar sempre foi uma de minhas diversões prediletas,
porém, depois de gozar eu sentia uma forte angústia,
quase sempre um arrependimento instantâneo e
31
Lu Mounier
temporário. Certa vez combinei de passar a noite com
um rapaz que eu queria muito ficar, e depois de transar,
uma vontade imensa de ir embora me tomou de tal
forma a me incomodar. Assim que ele dormiu, deixei o
motel e nunca mais quis vê-lo.
Nessas horas de conflitos eu contava com uma
amiga, Solange, única pessoa em quem eu confiava e
desabafava sobre essas coisas.
-Oi Gael!
-Oi Sol! Tá ocupada?
-Estou jantando... E você?
-Também. – Respondi desanimado.
-Olha, já entreguei seu curriculum aqui no RH do
hospital, falei de você pra selecionadora e agora é só
aguardar que logo eles te chamam. – Avisou-me ela.
-Você acha que tenho chance? – Perguntei desanimado.
-Claro! Você é uma ótima pessoa, ética, responsável...
Só não vou afirmar que vão te chamar amanhã, por
exemplo, porque você sabe que nesse período de festas
o país para, né?
-Sei bem como é.
-Mas me conte... O que você tem? Sinto sua voz triste...
-Será que existe depressão pós-sexo? – Perguntei.
-Depressão pós-sexo? Como assim?
32
| A primeira Pedra |
-Acabei de transar com o entregador de pizza... Estou
me sentindo muito mal.
-Gael! – Exclamou abismada. - Mas por que você está
assim? Foi ruim?
-Não... Foi muito bom até, mas sabe quando você olha
pra pessoa e ela se vai como se nada tivesse
acontecido?
-Nunca passei por isso, mas acho que posso imaginar
como seja...
-Você transa com alguém que mal te beija e se despede
como um amigo...
-Credo!
-Fico me sentindo um objeto... Bate uma angústia, um
aperto no peito, como se você valesse apenas um jato de
porra...
-Oh amigo! Não fica assim...
-Vamos deixar isso pra lá.
-Mas Gael, isso é culpa sua também, porque você disse
que não estava a fim de se envolver com ninguém.
-Eu sei... Na verdade tenho medo de me envolver