Barbozeira: Antologia Textual
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Barbozeira - Jorge Barboza
Jorge Barboza
Barbozeira:
Antologia
Textual
Esta é uma obra de ficção, resultado da
criação artística de seu autor, sem compromisso
com a realidade, qualquer semelhança de nomes e
de fatos é resultado de mero acaso.
BARBOZA, Jorge.
Barbozeira: Antologia Textual/ Jorge
Barboza – São Paulo, 2015.
ISBN: 978-85-69448-42-6
1. Teatro Brasileiro. 2. Literatura
Brasileira. 3. Ficção Brasileira. I. Título.
Proibida a reprodução total ou
parcial desta obra, de qualquer
forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive
através
de
processos
xerográficos, incluindo ainda o
uso da internet, sem permissão
expressa do autor e do editor (Lei
nº 9.610 de19/02/1998).
1
"O sapo não pula por boniteza, mas
porém por precisão" (João Guimarães Rosa).
2
3
ÍNDICE
LOUCURA POR LOUCURA (Peça Teatral) .... 8
Personagens ....................................................... 10
Prólogo ................................................................ 11
Mudanças ............................................................ 12
Mania por Danado ............................................. 19
Loucura de Nancy .............................................. 24
Zabelê, a perseguida ......................................... 30
Insetos ................................................................. 32
A rainha do hospício .......................................... 36
Manchas azuis ................................................... 38
Um amigo especial ............................................ 42
Na solidão do louco ........................................... 43
CHUPADOR (Peça Teatral) ............................. 48
Personagens ....................................................... 50
Novo Começo ..................................................... 51
1º Ato – Começo da Entrevista ........................ 52
A Cigana .............................................................. 54
Primeiros Erros ................................................... 59
Festa .................................................................... 69
Chupador ............................................................. 82
2º Ato - A verdade .............................................. 86
Confessos e confusos ....................................... 90
A loucura de Gilson ......................................... 101
Traição ............................................................... 110
3º Ato – O Jantar .............................................. 112
Vingança ........................................................... 116
Viver e Esquecer .............................................. 120
Mais um dia ....................................................... 122
4º Ato – Fim da Loucura do Gilson ............... 124
Uma saída ......................................................... 125
4
Sem segredo .................................................... 128
ESCARPES (Peça Teatral) ............................ 132
Personagens ..................................................... 134
Cenário .............................................................. 135
Prólogo .............................................................. 135
1º Ato ................................................................. 136
2º Ato ................................................................. 153
Prologo II ........................................................... 166
3º Ato ................................................................. 168
4º Ato ................................................................. 170
DEPOIS (Peça Teatral) ................................... 174
Personagens ..................................................... 176
Cena 1 ............................................................... 177
Cena 2 ............................................................... 187
Cena 3 ............................................................... 192
Cena 4 ............................................................... 198
Cena 5 ............................................................... 203
Cena 6 ............................................................... 208
Cena 7 ............................................................... 218
Cena 8 ............................................................... 224
Cena 9 ............................................................... 226
Cena 10 ............................................................. 229
Cena 11 ............................................................. 232
Cena 12 ............................................................. 236
Cena 13 ............................................................. 239
Cena 14 ............................................................. 240
O PASCTO (Peça Teatral) ............................. 244
Prólogo .............................................................. 247
Ato I .................................................................... 248
Ato II ................................................................... 249
Ato III .................................................................. 251
Ato IV ................................................................. 253
5
Ato V .................................................................. 256
Ato VI ................................................................. 258
Ato VII ................................................................ 261
Ato VIII ............................................................... 265
Ato IX ................................................................. 269
Ato X .................................................................. 283
Ato XI ................................................................. 286
Ato XII ................................................................ 292
Ato XIII ............................................................... 294
Epilogo ............................................................... 303
NETHER BRUXO (Peça Teatral) .................. 306
Personagens ..................................................... 308
Primeiro episódio: A Ressurreição ................ 310
Segundo Episodio: O Sol ............................... 316
Terceiro Episódio: O Julgamento .................. 318
Quarto Episodio: O Mundo ............................. 328
Quinto Episódio: O Louco ............................... 342
Sexto Episódio: O Mago ................................. 351
Sétimo Episodio: A Papisa ............................. 353
Oitavo Episódio: A Imperatriz ........................ 356
Nono Episódio: O Imperador ......................... 362
Décimo Episódio: O Papa .............................. 365
Décimo Primeiro Episódio: O Enamorado ... 367
Décimo Segundo Episodio: O Carro ............. 370
Décimo Terceiro Episódio: A Justiça ............ 372
Décimo Quarto Episódio: O Eremita ............. 376
Décimo Quinto Episódio: A Roda da Fortuna
............................................................................ 379
Décimo Sétimo Episódio: O Enforcado ........ 383
Décimo Oitavo Episódio: A Temperança ..... 384
Epilogo: O Diabo .............................................. 386
PRIMEIRA GUERRA DIVINA (Fanfic CDZ) 388
6
Invasores no Santuário ................................... 390
A Primeira Guerra contra Poseidon .............. 392
Flashback zero ponto um: Scilla de criaturas
do mar versus Loki .......................................... 417
A Primeira Guerra contra Poseidon – Segunda
Parte ................................................................... 419
Flashback zero ponto dois: A Canção da
Morte .................................................................. 426
A Primeira Guerra contra Poseidon – Terceira
Parte ................................................................... 427
Flashback zero ponto três: A decisão de
Hipnos ................................................................ 441
Flashback zero ponto quatro: A Ânfora ........ 444
7
LOUCURA
POR
LOUCURA
(Peça Teatral)
2000
8
Este texto é uma coprodução com: Beth
Kaczorowski e Jaqueline Kaczorowski
9
Personagens
Um repórter;
Um narrador;
Fabio Duran, um competente e maduro editor
de revista;
Estela, a nova dona da revista;
Mara, uma solitária baiana que vive em São
Paulo;
Nancy, uma jovem desiludida com o amor;
Helen, a jovem amiga de Nancy;
Loucura, um homem sujo que usa saia e
vários sacos pelo corpo;
Zabelê, uma moça linda que não gosto de seu
próprio nome;
Valeria, a amiga de Zabelê;
Edna, esposa de Luis;
Luis, um alcoólatra sem jeito;
Priscila, a rainha do hospício;
Marcondes, um jovem maníaco que espera o
retorno do pai;
Fran Eva, mãe de Marcondes;
10
Roberta, uma louca que fala com um amigo
invisível.
Prólogo
Repórter – Você já confundiu um sonho com
realidade? Falar sobre isso é uma ameaça,
um desafio? Vamos ver. Por favor, você, isso,
você mesmo (aponta uma pessoa qualquer na
platéia), pode subir aqui, um minutinho? Eu
tenho uma pergunta para lhe fazer, tudo bem?
Você saberia me dizer o que aquele homem
usa no pescoço? (Aponta para um dos atores
que está misturado na platéia, usando uma
gravata. Espera que a pessoa responda)
Muito bem, uma gravata. Ele(a) disse uma
gravata, todos ouviram? Obrigado, pode voltar
ao seu lugar. Pois bem, uma gravata. Uma
resposta normal, coerente, lógica, como todos
nós esperamos ouvir. Mas o que temos hoje
para apresentar à vocês é totalmente o invejo
disso, um universo que dizemos conhecer,
11
sem ter nem ao menos idéia do que estamos
falando. Vocês já devem ter imaginado do que
se trata: isso mesmo. A loucura.
Mudanças
Narrador – A revista Olha
, agora mudou de
dono de vez e estilo, pois com amorte de seu
pai, Wilson e Estela assumem a frente dos
negócios. Eles exigem mudanças para uma
maior venda da revista, assim como o número
de
leitores.
Inconformado
com
essas
mudanças o senhor editor-chefe Fabio Duran,
tenta argumentar com Estela:^
Fabio Duran – desculpe incomodar a Srta.,
mas gostaria de falar com você e seu irmão.
Estela – Sr. Fabio Duran, eu presumo.
Fabio Duran – Sim!
Estela – O que tiver que falar conosco pode
falar somente comigo, pois Wilson já meu deu
as coordenadas.
12
Fabio Duran – Antes demais nada, eu não
trabalho aqui tanto tempo para ver uma
barbaridade dessas.
Fabio Duran apresenta um papel, com
as alterações exigidas.
Estela – Estas barbaridades, como o senhor
chama, são o fruto de uma profunda pesquisa
de mercado, com uma geração cada vez mais
jovem.
Fabio Duran – Mas a revista Olha
, já tem um
público fiel, e não é qualquer revista que é
premiada por cinco anos pela ‘Palma de Ouro’
e o premio ‘Maravilhas do Ano’.
Estela – Sr. Fabio Duran, não vejo o que
alguma
foto
do
ensaio
de
modelos
consagradas podem interferir nos textos e
contextos da Olha
.
Fabio Duran – Bem, srta. Estela Merani, se
você acha que isso não interfere num
jornalismo sério, então me diga que matérias
13
há na Playboy ou na Sexy desse mês?
Estela – Não sei, não li até hoje nenhuma.
Fabio Duran – Pois bem, eu vou lhe dizer,
nada, pois o público que lê ou vê não se
preocupam com o texto que nelas pode haver,
mas sim como se mostram as chochotas das
modelos.
Estela fica envergonhada, respira fundo
e continua com seu discurso.
Estela – Tenho que concordar com o senhor,
mas isso nós vamos mudar a partir do
momento que mantivermos os padrões de
textos da Olha
.
Fabio Duran – Mais como manter padrões de
texto, se eu vivo num país miserável e
subdesenvolvido, onde as revistas são
subdivididas
em:
infantis,
femininas,
masculinas, políticas e de entretenimento.
Estela – muitas revistas estrangeiras seguem
esse linha de qualidade.
14
Fabio Duran – Que qualidade, minha filha, nós
vivemos no Brasil e essas fotos não serão de
nu artístico.
Estela – Não serão de nu artístico, mas
acredito que podemos chegar a um acordo
Fabio Duran – Acredito que minha assinatura
é indiferente para você e seu irmão.
Estela – Wilson e eu concordamos que seu
auxilio é estimado, mas na verdade sabemos
que uma nova abordagem, na sua idade, é
difícil, como também o emprego em outra
redação.
Fabio Duran – Tenho que concordar que
tenho mais alguns anos até a aposentadoria.
Estela – E que tal agora, assegurar o futuro.
Fabio
Duran
começa
a
rir
descontroladamente e a ironizar:
Fabio Duran – É verdade, o que são algumas
fotos?
Estela – O senhor está pegando o espírito da
15
coisa!
Fabio Duran – E que tal algumas receitas
culinárias e mais comerciais.
Estela – É isso mesmo!
Fabio Duran – E que tal eu mudar meu visual,
também?
Estela – O que?
Fabio Duran tira a roupa enlouquecido,
ficando só de gravata e samba-canção,
enquanto grita:
Fabio Duran – Vamos mudar tudo! Vamos
mudar tudo! Quem sabe o país muda ou a
gente muda!
Fabio Duran vai para o fundo e o
repórter volta dizendo:
Repórter – Creio eu que vocês ainda não
entenderam porque eu fiz aquela pergunta do
ínicio, sobre a gravata. Vejamos agora. Você
que subiu aqui anteriormente, poderia subir
16
novamente? Obrigada, aqui está uma pessoa
sã mentalmente, que respondeu que uma
gravata é simplesmente uma gravata. Fique
aqui por um tempo, por favor. Agora, vamos
ver como uma pessoa considerada louca por
nós responde a esta pergunta. (Fabio se
aproxima e a repórter faz um sinal e pergunta)
Por favor, senhor. Você poderia me responder
uma simples pergunta?
Fabio Duran – Depende da pergunta?
Repórter – Você poderia me dizer o que está
usando no pescoço? (indica a pessoa ao lado
que veio da platéia) Ele(a) respondeu que é
uma gravata. E você, o que me diz?
Fabio Duran – Eu diria que é um pano colorido
ridículo,
inútil,
amarrado
de
um
jeito
complicado, dificulta os movimentos da
cabeça e exige maior esforço para o ar entre
nos pulmões. Se alguém se distrair quando
estiver perto de um ventilador, pode morrer
estrangulado por esse pano. Para que serve
uma gravata? (pergunta para o repórter, que
17
não responde) isso mesmo, você não
responde porque sabe: para nada. Uma
gravata não serve para absolutamente nada,
estou errado? Nem mesmo para enfeitar,
porque hoje em dia tornou-se um símbolo de
escravidão, poder, distanciamento. A única
utilidade de uma gravata consiste em chegar
em casa e tira-la, dando a sensação de que
nos livramos de algo que nem sabemos o que
é.
Repórter – Realmente, a sensação de alivio
não justifica a existência da gravata. Mesmo
assim, se eu perguntar o que é uma gravata à
essas duas pessoas, será considerada sã a
que responder uma gravata. Agora a decisão
é de vocês: quem vocês acreditam ser o
louco? O que responde que uma gravata é um
objeto inútil, sendo considerado mentalmente
insano por isso? Ou o são, que acredita que
tudo é o que parece ser? Vamos fazer uma
votação, quem acha que o louco é o que está
a minha esquerda levante a mão, por favor.
18
Quem acha que o louco é o da direita,
permaneça com as duas mãos abaixadas,
certo? Bem o número maior de votos é foi
para... E agora? Quem será o louco? Apenas
lembrem-se que nem tudo é como parece ser.
Fabio, o repórter e a pessoa deixam o
palco.
Mania por Danado
Narrador – Depois que veio para São Paulo a
baiana Mara, se decepcionou um bocado com
os paulistas. Esperava não ter que ficar mais
treinando conversas com o seu telefone,
porquê? Por que assim não falaria sobre si,
mas sobre tudo... e bem verdade que ela acha
sua vida chata e parada, não tem mais a
graça de alguns anos, mas é uma senhora
bonita. No prédio que mora as pessoas mau
se vêem e também se falam... Cansada de
tanto silêncio o que ela faz é falar com
19
Danado, seu telefone, telefone sim!
Numa canteira ao lado da poltrona na
sala de Mara fica o Danado, telefone, ela
agora senta na poltrona e logo pega ele no
colo, enquanto com muito carinho pedi-lhe
atenção.
Mara – Não foge não, Danado! Olha pra mim,
olha. Vamo treina conversa, vamo! Eu mais
tu! Depois a gente acorda os vizinhos com um
daqueles forrozão bem alto! É pra mode eles
se queixa, gritando né. (Pausa como se
faltasse assunto) Sabia que Jorge Amado
morreu. Eh! Eh! E eu não li até hoje um livro
só dele! Também pudera é caro. Mas eu vou
comprar um, um dia desses eu leio par nós. E
eu juro pro Nosso Senhor do Bonfim, que não
vou ficar fazendo comentário como durante as
novelas, certo! Agora deixa eu ligar para o
padeiro, fica bem quietinho Danado.
20
Ela liga para o padeiro, mau ele atende
e ela começa.
Mara – Bom dia, seu Manuel já sabe o que eu
quero? Quem é? Eu mesma dona Mara do
401 e por favor venha logo como os meus
quatro pães. Brigada pro senhor também.
Visse Danado, ele sabe quem liga a essa hora
para pedir pães e quantos! Não é uma
beleza? Quem sabe ele vem sem pressa e
conversa um bocadinho, não que eu não
goste mais de falar com tu, Danado, mas de
vez em quando é bom falar com gente. Não
fique abichado não! Me abrace Danado.
O telefone toca.
Mara – Quem será? Nunca recebo ligação,
deixa eu atender logo. Alonsio. Não tem
ninguém com esse nome, mas pode falar
comigo. Ah! A senhora discou o número
errado,
mas
não
quer
conversar
um
21
bocadinho. Não, então... alonsio.
Pausa, ela respira fundo e desanimada.
Mara – Deve ter caído a linha, qualquer coisa
ela erra de novo e me liga né, Danado.
Tomara né, assim quem sabe eu falo com
mais gente. Danado, danado será que o
padeiro vai demorar muito, porque se demorar
eu vou ligar para outro Disk. Qual? Sei não
qual pode ser o Disk água ou Disk
Eletropaulo. Mas eu sei que vou senão for
agora e mais tarde...
Danado escorrega das mãos de Mara e
cai no chão. Aflita ela pula em cima dele e
começa a fazer massagem cardíaca, alem de
outros procedimentos de primeiros socorros,
enquanto berra...
Mara – Danado fala comigo! Danado não
morra pelo amor de Deus! Danado.
22
Ela põe o gancho no ouvido, ele está
funcionando.
Mara – Danado nunca mais faça isso, senão
eu não sei, agora deixe me arrumar que o
padeiro deve estar chegando. E falando nisso,
que roupa tu acha que eu devo vestir?
Mara sai e o repórter entra.
Repórter – O que é a loucura? Segundo
Birman,1983. "Enlouquecer é ser submetido à
angústia e ficar prisioneiro do universo do sem
sentido, em que nossa linguagem fica aquém
da possibilidade de interpretar o que
experimentamos.
E o que é autentico louco?
É um homem que preferiu ficar louco, no
sentido socialmente aceito, em vez de trair
uma determinada idéia superior de honra
humana.
Assim,
a
sociedade
mandou
estrangular nos seus manicômios todos
23
aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou
defender-se porque se recusaram a ser seus
cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois
o louco é o homem que a sociedade não quer
ouvir e que é impedido de enunciar certas
verdades intoleráveis". Este texto, escrito por
um
louco,
um
marginalizado
e
incompreendido, enquanto viveu, revela-nos a
interpretação de quem assistiu ao mundo de
outro prisma, do lado dos que, para nós
perderam a identidade. (Repórter sai e entra a
Loucura)
Loucura de Nancy
Gritando no corredor principal, como
caminhando pela rua, vem um homem com
vários sacos, saias, aparência estranha. Seu
olhar é de extrema dualidade, satírico e ódio
juntos. Olha uma mulher lavando a louça e
começa a gritar:
24
Loucura – Troca-se moedas velhas por novas!
Troca-se moedas velhas por novas!
A mulher pára, pega uma velha moeda
no bolso do avental, por uns instantes
deslumbra a idéia louca de troca, enquanto o
homem