O Mundo Secreto
De Bobby Wright
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O Mundo Secreto - Bobby Wright
O Mundo
Secreto
BOBBY WRIGHT
Copyright © 2018 Bobby Wright
Todos os direitos reservados.
Agradeço a todos aqueles que acreditaram em
minhas histórias.
CAPÍTULO UM
O Gato Perdido................................ 9
CAPÍTULO DOIS
O Caçador Lou................................ 27
CAPÍTULO TRÊS
A Escuridão..................................... 47
CAPÍTULO QUATRO
A Empatia........................................ 67
CAPÍTULO CINCO
A Gata Sincera................................. 89
CAPÍTULO SEIS
A Telepatia..................................... 109
CAPÍTULO SETE
O Gato Norueguês Hersi............... 129
CAPÍTULO OITO
O Apanhador De Sonhos............... 149
CAPÍTULO NOVE
Resquício da Resistência............... 169
CAPÍTULO DEZ
O Plano Mirabolante..................... 189
CAPÍTULO ONZE
A Noite De Lua Cheia.................... 209
CAPÍTULO DOZE
O Sonho versus A Realidade...... 233
CAPÍTULO TREZE
A Pedra Azul................................ 263
CAPÍTULO QUATORZE
O Círculo de Pedras................... 285
EPÍLOGO...................................... 301
SOBRE O AUTOR......................... 303
CAPÍTULO UM
O Gato Perdido
Por incrível que pareça eu começo essa história de uma
forma inusitada, mas que eu descobriria mais tarde ser a coisa mais
normal de acontecer com alguém como eu.
A primeira lembrança que tenho desde que vim à existência
é escuridão. Isso mesmo, por algum tempo vivi totalmente isolado
do mundo, não conseguia ver nem ouvir nada, não sabia quem era
ou onde estava. Meu passatempo consistia em me virar de um lado
para o outro e esperar que não durasse muito tempo. Mas também
não sabia mais o que esperar.
Se eu soubesse contar os dias, ou saber quando era dia e
noite lhe diria quanto tempo fiquei ali, mas o fato é que não sabia
distinguir mais o que era sonho do que era real. Vultos
assombravam minha mente, insistiam em desanimar meu espírito,
a fome e a sede eram tantas que no fim já não tinha mais forças
para me revirar de um lado para o outro e nem sabia se isso me
ajudava de alguma forma. Cheguei até a duvidar se seria mesmo necessário respirar, mas a verdade era que eu estava esgotado,
logo todos os movimentos do meu corpo parariam inclusive minha
respiração e meu coração.
Quando por fim estava aceitando minha condição e estava
pronto para desistir, por que acredito que ninguém desista do nada
sempre há um motivo, no meu caso tinham acabado todas as
minhas energias. Comecei a desenvolver o sentido da audição.
Lembro como se fosse ontem. Pequenos cristais líquidos, gotas de
água ritmadas e combinadas tocavam o chão de forma harmoniosa
e lúdica, carros e seus motores de sons graves e metálicos
passavam constantemente por perto, e algo passava como que
assobiando e soprando minha face.
Depois de um tempo assimilando todos os sons possíveis e
tentando entender o que eu era ou onde estava, comecei também
a desenvolver o sentido da visão. Também me lembro com muita
clareza do que vi depois que meus olhos se acostumaram a
enxergar. Tudo estava escuro ao meu redor, havia tijolos quebrados
e todo tipo de entulho. Uma luz insistia em vir na direção das
minhas costas. Quando me virei e comecei a subir o olhar, pensei se
tratar de uma deusa, uma salvadora, um anjo ou algo do tipo, mas
o fato era que o ser mais lindo que eu veria em toda minha vida estava ali parada iluminando com o celular o local.
Como eu havia acabado de ganhar a visão, a luz que o
celular emitia me fez associar sua imagem à de um anjo e por isso
confiei nela no mesmo instante. Também pelo fato de ser meu
primeiro contato com uma fonte de luz. Estar acostumado com a
escuridão me fez valorizar a luz de forma grandiosa, ainda mais por
ser direcionada a mim. Os únicos e primeiros sons que lembro ter
emitido foram:
– Me ajude, me tire daqui!
Mas pelo visto ela não entendera nada, pois ela dizia
acariciando as minhas costas:
– Você mora aqui? Onde estão seus pais? Qual o seu nome?
Péssima hora para perguntas. Por isso insisti com gritos
ainda mais estridentes:
– Me ajuda! Por favor! Preciso de ajuda!
Ela me pegou em seus braços e me levou com ela. Seus
braços eram tão calorosos que dormi em apenas dois
minutos. Acordei com o barulho do carro depois voltei a
dormir. Acordei novamente nos braços de outro estranho e
comecei a gritar sem parar quando ele me fez comer algo ruim e
nojento, mais tarde descobri se tratar de remédios para vermes e
que eu estava com alguém preocupado com a minha saúde. Depois fui novamente para os braços dela e dormi.
Quando acordei estava deitado em cima de uma cama que
mais parecia um forte, era uma caixa de papelão, e dentro era feita
de roupas velhas e macias, de tão macia que eu parecia ter
acordado em nuvens do céu. Meu corpo necessitava de algo e me
fazia chorar sem parar, e quando eu menos espero ela aparece com
um líquido milagroso. Tinha um cheiro tão gostoso e era tão
quentinho, ela me pegou em pé no seu colo e me deu leite em um
tipo de mamadeira que havia comprado. Tomei tanto leite aquele
dia que fiquei com dor de barriga, mas pelo menos descobri que
precisaria encher a barriga para fazer qualquer outra coisa. A cada
três horas ela vinha e me alimentava. E vez ou outra limpava minha
cama.
Por dias a fio essa foi minha vida, acordar beber leite,
dormir um pouco, fazer minhas necessidades, mais leite e depois
dormir até acordar novamente. Ainda não sabia que existia
diferença entre dia e noite. E lá estava eu novamente em um
cantinho escuro, pelo menos agora sabia a diferença entre luz e
escuridão, mas como sempre vivi na escuridão ela se tornou minha
amiga, já estava acostumado com ela, mas quando fui resgatado é
que fui saber o que era luz, aquela sensação de afeto, carinho e amor que minha salvadora transmitia ao sorrir, ao me acariciar ou
ao me abraçar, me fazia lembrar quando entrei em contato pela
primeira vez com a luz. Acredito que todos temos luz brilhante e
radiante dentro de nós. Gostar de viver na escuridão ou estar
acostumado a ela, não muda a luz que existe dentro de mim.
Por um instante descobri que tinha tudo que precisava
naquele quarto escuro, as sombras sempre me acompanharam,
mas tinha agora onde me aconchegar e o que eu tanto precisava e
não sabia, alimento. Sem contar minha cama quentinha. Você não
deve saber do que se trata isso. Ficar sem alimento? Por acaso você
já ficou um dia sem se alimentar? E dias? Consegue imaginar pelo
que passei? O leite, Ah! Como era bom o leite, parecia que eu já
conhecia do que se tratava, pois mamava até me saciar
insistentemente. Nesse instante me lembrei de algo que até agora
eu não lembrava e que comecei a sentir falta. Antes de estar na
escuridão completa, lembro-me de viver em outro tipo de
escuridão, uma escuridão boa, onde eu tinha alimento, em que eu
tinha um leite bem quentinho. Infelizmente era muito novo para
me lembrar de algo mais. Mas o que eu lembrei foi do cheiro
acolhedor, cheiro de mãe.
Em dez dias aquele pequenino saquinho de ossos se
transformou em uma ligeira bolinha. O que eu fiz nesse tempo
quando não estava dormindo ou conversando com as
sombras, foi beber leite e vez ou outra me agraciava com as visitas
da luz, que vinha me pegar e ficava horas conversando comigo, me
especulando. Ela queria saber de qualquer jeito de onde eu tinha
vindo. Será que ela achava que eu guardava algum mistério? Até
comecei a pensar sobre isso no início, mas depois desencanei, eu
não sabia de nada na verdade, não poderia ajudar nem ela nem
eu. Passaram-se dez dias desde a minha chegada e eu já estava
tomando leite na vasilha. Na manhã do décimo primeiro dia ela
veio com algo diferente, era seco e mais duro. Foi então que
percebi o motivo de eu querer morder todas as coisas, alguns
dentes já tinham nascido. Comecei a comer ração que por sinal era
muito boa também.
Depois de um tempo comecei a arriscar me aventurar pelo
ambiente, havia passado muito tempo inerte e minhas pernas
formigavam de tanto ficar deitado, estava ansioso para andar,
correr, pular e deslizar por aí. O lugar onde eu estava era bem
amplo, além da minha havia mais duas camas, só que bem maiores
que a minha. Logo concluí que a luz tinha tirado mais alguém como
eu da escuridão, não via a hora de conhecê-los. Subi nas camas,
deitei, esperei, fui descansar debaixo delas, depois fui descansar debaixo de uma estante de livros. Essa era minha nova rotina. E
comer claro, mas agora eu comia algo menos saboroso que o leite,
no entanto era gostoso e crocante.
O cheiro do lugar não me era estranho, era bem familiar,
como se eu já tivesse tido contato com ele, as roupas das camas
grandes, logo achei que poderia dormir lá também. Infelizmente
fico meio confuso onde devo ir ao banheiro que simplesmente faço
onde estou, sempre que faço no chão ou na minha cama, a luz vem
e limpa. Mas nesse dia o que aconteceu me deixou extremamente
confuso e perdido. Resolvi fazer ali mesmo onde eu estava, na
cama grande. Quando a luz chegou, vi a decepção em seu olhar, ela
estava muito chateada, mas mesmo assim insistiu em sua doçura e
carinhosamente me explicou coisas que eu ainda não podia
entender. Então me colocou em minha cama e tirou todas as
roupas da cama grande e levou embora.
Mais tarde naquele mesmo dia ela trouxe algo que me
deixou ainda mais confuso, e também muito mais curioso. Parecia
até a terra de onde eu vim só que mais sequinha e mais grossinha e
tinha um cheiro bem diferente e agradável. Ela ficou lá comigo todo
o tempo naquela tarde, deitou na outra cama com um bom livro
para ler e ficou lá. Quando fui fazer xixi no chão, foi que eu entendi
o motivo dela ter trazido a caixa misteriosa de areia, ela me pegou com cuidado pelas costas e me colocou lá dentro, ficou apontando
o dedo para lá, daí entendi que era ali que eu deveria fazer minhas
necessidades. Até hoje ainda sinto vergonha por certas vezes fazer
em minha cama e por ter feito na outra grandona. Mas antes eu
não sabia.
A luz sempre era de uma atenção esplêndida, ela vinha
várias vezes por dia me visitar. Teve uma vez que ela decidiu abrir a
janela e deixar aberta, e eu fiquei lá perto durante todo o dia, me
maravilhando com os passar das horas e o cair da noite. Comecei a
perceber que todas as manhãs ela vinha me ver, colocar água e
comida para mim, sempre que tinha sujeira na caixa de areia ela
limpava também. A tarde ela fazia os mesmos procedimentos, no
entanto nesse período eu tinha o privilégio de ficar mais com ela.
Tirando os dias em que eu queria ficar sozinho, eu amava ficar em
sua companhia, deitar ao seu lado e ouvir todas as histórias que ela
lia em seus livros, aprendi muito sobre o mundo e sobre ela.
Uma tarde me aconteceu o inesperado:
– Seu nome será Snow. – Disse ela.
– E qual é o seu nome? – Eu disse, mas acredito que só eu a
entendia, porque ela não me respondeu.
– Sabia que todos nós temos um nome, isso nos difere dos
outros, e também demonstra um pouquinho de quem somos ou
que viemos fazer nesse mundo. Você se chamará Snow, Jon Snow,
meu personagem preferido de Game Of Thrones, pois você assim
como ele usa preto e não sabemos direito quem são seus pais, e
pelo visto você será um grande guerreiro também.
– Mas porque eu devo ter um nome?
– Queria tanto que nos entendêssemos! Você não entendeu
nada do que te disse até agora, não é? – Disse ela.
– Eu te entendo, é você que não me entende. – Eu disse a
ela e como estava apertado dei meia volta e ia fazer xixi bem ali do
lado dela. Foi quando percebemos que nos entenderíamos.
– Não Snow, aí não é lugar!
Ela percebeu que a entendia, pois fui fazer no lugar certo,
ficou toda animada e começou a pular de alegria. E quando voltei
ela resolveu me contar uma de suas histórias.
– Parabéns Snow, você é muito inteligente! Mais inteligente
que eu pelo visto que fui parar de fazer xixi na cama só com seis
anos de idade.
Eu balançava a cabeça sempre no fim de cada sentença para
ela ter certeza de que eu a entendia.
– A propósito meu nome é Lúcia. Quanta indelicadeza
insistir em lhe dar um nome sem ao menos lhe dizer o meu. Parece
que você gostou de saber disso, não é? Que bom, fico muito feliz
em ter alguém como você aqui...
Agora sim eu tinha entendido o que era ter um nome. Não
sabia muito o significado das palavras, mas quando ela me disse seu
nome comecei a entender que todas as coisas no mundo têm um
nome. O meu era Snow, gostei muito de ter um nome. Mas o que
mais queria saber era quem eu era, quem ela era e onde
estávamos. Apesar de ter vivido tanto tempo na escuridão, adoraria
sair e conhecer o mundo. Pelo menos conheceria o mundo dela
naquela noite.
– Quando vim ao mundo eu era magrinha igual você era,
nasci abaixo do peso, num parto muito arriscado. Mesmo assim,
mamãe fez de tudo para que eu nascesse, inclusive dar a sua vida
pela minha. A noite em que eu nasci foi a mesma noite em que
mamãe se foi. E antes de partir, papai disse que ela falou algo
memorável para mim: Você é minha luz
. Mas as enfermeiras
acharam que ela tinha dito: Você é minha Lúcia
. Por isso que
papai colocou esse nome em mim. – Lúcia começou a contar sua
história.
O anjo que agora tinha nome provou ter os mais nobres
sentimentos quando suas lágrimas começaram a cair sobre nós.
Tudo só por se lembrar de memórias, que pessoas lhe contaram.
Pena eu não ter ninguém para me contar as memórias de minha
mãe, o que eu mais queria era saber sobre ela e qual nome ela teria
me dado. Quem sabe esse anjo, de nome Lúcia, não pudesse ser
minha mãe? Pois, a partir de hoje seria! Selei o acordo lambendo
seu rosto e a acariciando com a cabeça. Ela parece ter entendido,
pois o mais lindo sorriso se abriu e ela disse:
– Isso mesmo Snow. Você é meu filho e eu serei sua mãe.
Ok?
Percebi então que ela realmente se importava comigo e
queria que eu fizesse parte da família. Eu não precisaria mais temer
ser abandonado ou ter que viver sozinho novamente. Desde que
cheguei ali, eu me perguntava até quando ela iria querer que eu
ficasse. E sabia agora que eu não tinha motivos para partir.
– Dizem que o gato de papai ainda é vivo, faz muito tempo