Cunicultura: didática e prática na criação de coelhos
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Cunicultura - Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Geni Salete Pinto de Toledo
CUNICULTURA
DIDÁTICA E PRÁTICA NA CRIAÇÃO DE COELHOS
Santa Maria – 2017
APRESENTAÇÃO
O coelho sempre foi considerado um animal prolífico, dócil e de fácil manejo. Nesse sentido, a cunicultura constitui-se uma ciência de fácil aplicação, sobretudo em pequenas propriedades rurais. Se bem planejada, essa atividade proporciona aos criadores excelentes lucros com baixo investimento inicial.
No entanto, para que qualquer atividade rural seja lucrativa, são necessários alguns conhecimentos teóricos e práticos por parte do produtor. Da mesma maneira, é necessário que os técnicos busquem informações que auxiliem os produtores rurais interessados em iniciar a exploração cunícola.
Visto que existem, na literatura brasileira, poucas obras sobre o assunto, a professora doutora Geni Salete Pinto de Toledo e a mestra em zootecnia Ana Carolina K. Klinger preocuparam-se em organizar o presente livro, a fim de abordar, de forma simples e didática, conceitos da cunicultura.
Escrito de forma simplificada, este livro propõe-se a auxiliar profissionais da área de produção animal, bem como produtores que pretendem iniciar uma criação de coelhos ou conhecer mais sobre cunicultura e sua aplicação prática. Dessa forma, Cunicultura: didática e prática na criação de coelhos apresenta, clara e objetivamente, aos leitores de diversas áreas do conhecimento um tema significativo para a academia.
SOBRE AS AUTORAS
Ana Carolina Kohlrausch Klinger é zootecnista e mestra em Produção Animal pela UFSM.
Geni Salete Pinto de Toledo é professora, doutora e pesquisadora do Departamento de Zootecnia da UFSM. Atualmente é responsável pelo Laboratório de Cunicultura da Instituição.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
SOBRE AS AUTORAS
1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CUNICULTURA
1.1 A ORIGEM DO COELHO
1.2 CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA
1.3 HISTÓRICO NO BRASIL
1.4 PRODUTOS E SUBPRODUTOS DA CUNICULTURA
2 CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DA ESPÉCIE
2.1 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS
3 RAÇAS DE COELHOS
3.1 CONCEITO DE RAÇA
3.2 QUANTO AO PESO OU TAMANHO
3.3 QUANTO À FUNÇÃO ECONÔMICA
3.4 QUANTO À COR
3.5 QUANTO AO COMPRIMENTO DO PELO
3.6 PRINCIPAIS RAÇAS DE CORTE
3.7 RAÇAS TIPO PELE
3.8 RAÇAS TIPO PELO OU LÃ
3.9 RAÇAS TIPO PET
4 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS EM CUNICULTURA
4.1 INSTALAÇÕES AO AR LIVRE
4.2 INSTALAÇÕES EM GALPÕES
5 SISTEMAS DE CRIAÇÃO
5.1 EXTENSIVO OU EM LIBERDADE
5.2 SEMI-INTENSIVO
5.3 INTENSIVO OU CELULAR
6 REPRODUÇÃO
6.1 APARELHO REPRODUTOR FEMININO
6.2 APARELHO REPRODUTOR MASCULINO
6.3 MANEJO DE REPRODUTORES
6.4 FATORES QUE INFLUEM NA FERTILIDADE E NA PRODUTIVIDADE
6.5 COBERTURA
6.6 MANEJO DA FÊMEA PRENHE
6.7 MANEJO NAS FASES DE CRIA E RECRIA
7 SELEÇÃO E CONTROLE ZOOTÉCNICO
7.1 SELEÇÃO DE REPRODUTORES
7.2 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO
8 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO
8.1 APARELHO DIGESTÓRIO
8.2 FUNCIONAMENTO DO TRATO DIGESTÓRIO DO COELHO
8.3 NUTRIENTES E EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS COELHOS
8.4 ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL
8.5 RAÇÕES
8.6 SISTEMAS DE ALIMENTAÇÃO DOS COELHOS
9 HIGIENE, PROFILAXIA E DOENÇAS MAIS COMUNS
9.1 HIGIENE E PROFILAXIA
9.2 SINAIS DE DOENÇAS
9.3 PRINCIPAIS DOENÇAS
10 ABATE
10.1 ESTADO DO ANIMAL PARA ABATE
10.2 JEJUM
10.3 CONTENÇÃO DO ANIMAL
10.4 SANGRIA, ESFOLA E EVISCERAÇÃO
10.5 PREPARO DA CARCAÇA
10.6 PREPARAÇÃO DA PELE
11 RECEITAS
11.1 CHURRASCO DE COELHO
11.2 COELHO À FRANCESA
11.3 COELHO À MILANESA
11.4 COELHO COM SUCO DE LARANJA
11.5 COELHO AO ALHO E ÓLEO
11.6 ESTROGONOFE DE COELHO
11.7 COELHO PRIMAVERA
11.8 ROCAMBOLE DE CARNE DE COELHO COM MOZARELA AO MOLHO DE CERVEJA PRETA
REFERÊNCIAS
CRÉDITOS
1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CUNICULTURA
1.1 A ORIGEM DO COELHO
Tecnicamente, os coelhos hoje explorados no mundo todo descendem do coelho europeu, que sofreu domesticação tardia, se comparado aos demais animais de produção. Em decorrência disso, embora seja considerado ‘animal doméstico’, o coelho ainda mantém muitos de seus instintos selvagens.
O coelho europeu, originário do sul da Europa e norte da África, é cientificamente denominado Oryctolagus cuniculus e teve seu processo de domesticação no início do primeiro milênio. Acredita-se que, durante a invasão da Espanha pelos romanos, o coelho teria sido introduzido por eles em terras espanholas. As criações europeias iniciais eram em áreas cercadas, sendo os animais utilizados para caça esportiva e alimentação.
Em 600 d.C., o papa Gregório autorizou os monges a criarem os coelhos selvagens em gaiolas para seleção de tamanho, cor, pelos e conformação corporal. Deu-se então o início do processo de domesticação com as recomendações dos monges de guardar os coelhos caçados nos leporários. Já no século XVI, várias raças de coelhos eram conhecidas, e há indícios de criações controladas desde então. No século XIX, a criação em cativeiro desenvolveu-se em toda a Europa. Até o século XX, a carne e os subprodutos dos coelhos eram consumidos principalmente no continente europeu. Por essa razão, diz-se que a difusão da cunicultura pelo mundo ocorreu até o século passado.
Do início do século XX até a década de 50, em virtude da Segunda Guerra Mundial, houve a necessidade de se produzir, de forma mais rápida e eficiente, produtos de origem animal. O fato de o coelho ser um animal prolífico, dócil e de ciclo rápido desperta o interesse em otimizar o desempenho dos animais. Surgiram, então, os primeiros estudos a respeito, que forneceram subsídios para que, na década de 60, surgissem as primeiras raças puras de coelhos criadas por seres humanos.
Na década de 70, com o advento do melhoramento genético animal, foram realizados os primeiros cruzamentos das raças sintéticas, que passaram a dominar a Europa. A partir de duas raças, novas foram criadas. Daí provêm os coelhos de pelagem colorida, que, dessa forma, melhoraram o mercado de peles. Já na década de 80, com a tecnologia avançada, os animais de corte passaram a ganhar até 40 g de peso vivo/dia. Na Europa, estabelecem-se, então, as grandes empresas especializadas.
Da década de 90, destaca-se a descoberta dos híbridos zootécnicos, com a utilização das raças gigantes na linha macho (principalmente Gigante de Flandres) e prolíficas na linha fêmea (Califórnia e Nova Zelândia). Quanto à evolução das características produtivas dos coelhos nos últimos 60 anos, é possível perceber que o animal sofreu profundas modificações fisiológicas, de forma a reduzir seu ciclo produtivo e aumentar sua eficiência produtiva (Tabela 1).
Tabela 1 – Evolução no desempenho de coelhos entre 1950 e 2010
Fonte: Elaborada pelas autoras. Valores válidos apenas para animais de raças médias alimentados com rações peletizadas próprias para a categoria de crescimento (dos 30 aos 90 dias).
1.2 CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA
O coelho é um animal pertencente ao filo dos cordados, ao subfilo dos vertebrados e à classe dos mamíferos, sendo que apresenta cinco pares de mamas. É da ordem dos Lagomorfos, que difere da ordem dos roedores por apresentar quatro incisivos na arcada dentária superior