Dos 10 Aos 19

De Cacá Aguirre

Ah, a adolescência, uma fase de tantas dúvidas e sentimentos. É na adolescência que se descobre o corpo, os desejos, o sexo, a identidade, os amores, as paixões, as ideologias, os perigos, as drogas e, principalmente, quando surgem os conflitos com a família, amigos e com o mundo. As dúvidas surgem intensamente nessa fase de transição, tão intensa, marcante e decisiva para o futuro. Todas essas experiências e emoções são relatadas por Cacá, em suas agendas, durante nove anos. Uma história real de dúvidas constantes e experiências marcantes para toda a vida.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 2 de mai. de 2018

Pré-visualização do livro

Cacá Aguirre

Dos 10 aos 19

Minhas pirações de adolescente

ISBN: 978-85-924744-0-9

Diagramação: agenciaimagem.com

Ao meu vovô Zezé, felicidades ao senhor, onde quer que esteja

Cacá Maguire – Dos 10 aos 19: minhas pirações de adolescente

PREFÁCIO

Dos 10 aos 19 fez-me lembrar o filme Borboleta negra, do

diretor Brian Goodman, em que o personagem Paul, um escritor

- Antonio Banderas - diz Toda escrita é sacrifício. Ao ler o livro

de Cacá Aguirre senti o que a maioria dos escritores sente ao

escrever. Escrever requer abdicar de momentos rotineiros e

mergulhar num mar de momentos densos, é dar voz a

sentimentos, conhecimentos, sensações e ideias, através

de personagens diferentes do autor. É fazer-se compreender, a fim

de que os leitores consigam entender por que escreve determinada

obra.

Cacá Aguirre publica suas verdades de adolescente através

do diário, companheiro de viagem dos 10 aos 19 anos, passados

15 anos. Se contarmos que a primeira vez que escreveu tinha 10

anos, decorreram-se 24 anos, tempo bastante para apresentar seu

confidente, o que sabia ouvir, como forma de contribuição aos

que julgam ser os únicos a terem problemas existenciais, uma

bagunça na cabeça, um monte de perguntas sem respostas e

vergonha de perguntar.

Escrever um diário é sacrifício. Contar, mesmo a um diário,

mesmo que ele só ouça, contentamentos, felicidades, prazeres,

entusiasmos, bem como as contrariedades, aflições e desgostos,

não é fácil.

Em suma, o diário é sacrifício e alívio para Cacá Aguirre e

a adolescência é o momento em que o ser se torna vulnerável,

árbitro de si mesmo, nem sempre condescendente. Surgem as

culpas, os fardos e muitas vezes a troca de um sentimento por

outro, como da tristeza por uma falsa alegria. Ele pode substituir

a família de Cacá Aguirre, que por mais estudada e atenta, não

conseguiu, e aqui não faço cobrança alguma, pois todos têm

falhas na criação dos filhos. E também acertos. O importante é a

3

Cacá Maguire – Dos 10 aos 19: minhas pirações de adolescente

família vivenciar diálogos sinceros, irrestritos e não deixar de fora

questionamentos dos filhos e temas considerados tabus.

Dos 10 aos 19, visa a tirar os adolescentes de qualquer

forma de opressão, aliviando-lhes as dores, criando, por vezes,

um lugar divertido, lúdico e libertador - o diário. Ele é um lugar

santo para quem escreve. Para os céticos, um lugar especial e

acolhedor. Só quem escreve nele pode manuseá-lo. No caso de

Cacá Aguirre, ela o teve profanado.

Um livro para pré-adolescentes e adolescentes lerem e se

tornarem senhores de seus próprios destinos na fase adulta, visto

precisarem da cumplicidade, do amor e da abertura que a família

e um diário podem lhes dar dos 10 aos 19, principalmente.

Dulce Aguirre

4

Cacá Maguire – Dos 10 aos 19: minhas pirações de adolescente

10 – 11 anos

 A PRIMEIRA VEZ QUE AMEI E DESAMEI

A primeira vez que amei eu tinha uns 10 anos (isso faz um

ano) e comecei a amar um vizinho meu, o Augusto. Eu o achava

um gatão e pensava que ele sabia tudo. Até que um dia, eu estava

sozinha em casa e a irmã dele, Vânia, me chamou para ajudá-la a

arrumar a casa. O Augusto estava lá e disse que eu poderia entrar,

porque ele já estava saindo. Ele saiu e eu entrei. Eu estava

conversando com a Vânia, quando ouvimos um barulho e fomos

ver quem era. Era ele! Fomos os três para a cozinha e ele falou

que estava com algumas dúvidas, pois a Vânia disse que se ele

estivesse no aniversário dela eu ficaria com ele. Ele me perguntou

se era verdade e eu disse que não. E não era mesmo. Ele pediu

para ela nos deixar conversando sozinhos na cozinha. Ele

começou me perguntando se eu gostava dele e eu disse que não.

Depois me perguntou se mesmo eu não gostando dele, se eu

ficaria com ele e eu respondi que se eu quisesse, sim. Aí, meu avô

começou a me chamar e tive que ir embora. Fiquei pensando

naquilo e até contei para minha mãe. Pensei muito tempo, dias e

dias. Eu brigava com a minha mãe por causa disso. Até que a

minha mãe contou para o meu pai e nós conversamos. Um dia a

Vânia me contou que achava que ele usava drogas, fazia coisas

erradas e tentava abusar dela. Imagine só, eu com 10 anos e

quantos problemas deve ter uma menina de 16 anos? A minha

cabeça era igual a de uma adolescente. Na verdade, de uma

adolescente por fora e por dentro. Assim que eu comecei a

entender a vida, tentei parar de gostar dele. Após muito tempo, a

Vânia me disse que ele tinha mandado me chamar aquele dia. Ele

era bem mais velho e, até que um dia, minha mãe foi falar com

ele, pedindo que ele se afastasse de mim, senão ia denunciá-lo.

5

Cacá Maguire – Dos 10 aos 19: minhas pirações de adolescente

Que perigo! Eu apaixonada por um cara desses, bem mais velho.

Se não fosse meu avô me chamar aquele dia, vai saber o que

poderia ter acontecido.

 AVÔ AMOROSO

Eu estava me lembrando de uma coisa que aconteceu quando

eu era criança. Eu estava na casa do meu vovô Zezé e o namorado

da minha tia Dolores chegou com um monte de balas, eu pedi uma

e ele não quis me dar. Meu avô viu aquilo e saiu para comprar

balas para mim. Só que era noite e ele andou muito até achar um

lugar aberto. Lembro de nós dois chupando bala sentados na

escada da casa dele. Sinto vontade chorar. Meu vovô é tudo para

mim. Ainda bem que minha tia terminou o namoro com aquele

cara.

 SOLIDÃO

Nesse dia, eu me senti muito sozinha, como me senti em

outros dias. Eu tinha acabado de arrumar a minha casa e comecei

a brigar com a minha irmãzinha. Eu achava que minha mãe só me

tratava bem enquanto eu fizesse o serviço de casa. Comecei a

responder para ela e a gritar. Depois pensei e achei que eu estava

errada. Estava assim porque precisava de uma amiga para

conversar.

 LIBERDADE

Eu tenho 11 anos e uma menina dessa idade, dependendo da

cabeça dela, deve ter liberdade. E para isso eu era uma menina

decente. Comecei a me sentir trancada. Eu não podia sair na rua

porque tinha meninos. Não podia sair na rua porque estava

6

Cacá Maguire – Dos 10 aos 19: minhas pirações de adolescente

escurecendo. Isso me prendia tanto, mas tanto que quando meu

pai deixou eu ir pela primeira vez sozinha com minhas colegas ao

shopping eu fiquei sem fala e pensei que era mentira. Quando

chegavam visitas em casa eu não podia me sentar com elas

porque... porque eram adultos. Às vezes eu tinha vontade de levar

algumas colegas diferentes na minha casa, então diziam não, "eu

nem conheço a mãe dela". Comecei a me sentir presa, mas eu

sabia que algum dia eu ia me livrar disso.

 PRIMEIRO BEIJO

Meu primeiro beijo foi demais. Foi com o Marcos, primo da

minha amiga Ana e foi na casa dela. Quando encostei a minha

boca na dele, senti um arrepio em meu corpo, em minha barriga.

 PEDINDO

Quero, Deus, te pedir uma coisa do fundo do meu coração,

aliás, várias coisas. Quero que esse fim de semana que vem seja

um dos melhores da minha vida em relação ao Marcos. Outra

coisa: queria voltar a namorar com ele este fim de semana e queria

que minha mãe me