Nasci para ser traída
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Nasci para ser traída - Swellen Sauer
7
PREFÁCIO
Começo escrevendo esse livro de maneira, no mínimo, estranha, como tudo de mais legal que acontece na minha vida. Dentro do carro, na estrada, voltando de uma jornada de dezenove horas de trabalho.
Falo com uma amiga no WhatsApp, enquanto um produtor e um figurinista dormem no banco de trás.
Falamos sobre minha mais recente dor de amor, e ela, pela milésima vez, diz que eu deveria escrever um livro. Muitas pessoas me falam isso há muitos anos, mas apesar de eu amar escrever, sempre tive preguiça.
Porém, já há alguns meses vinha considerando a ideia de um livro com crônicas. Textos que já publiquei em minhas redes sociais e fizeram sucesso
.
Agora não! O bichinho mais louco que habita em mim disse: VAI! E quando ele diz… eu me jogo! Em tudo! Escolhi o curso da Faculdade assim, fui morar em Londres assim, e já fiz muitas loucuras assim! Pois bem, vou contar sobre uma vida amorosa muito louca, feliz, dolorida e com grandes aprendizados assim também!
Tenho certeza que se algum louco quiser ler meu livro, vai ao mesmo tempo gargalhar e sentir as dores físicas que senti por sempre amar demais! Ou por me apaixonar rápido demais!
Eu espero que quando eu colocar o ponto final desse livro, eu tenha descoberto o motivo pelo qual dói tanto amar alguém, se já passei pelo hospital do amor tantas vezes.
Meu coração remendado quer contar e aprender, se olhando no espelho das histórias a seguir, e frear a dor ou no mínimo aprender a lidar com ela. Partiu?
1995, ARRAIAL DO CABO
Eram minhas férias, e naquele final de semana meus pais resolveram fazer o que faziam toda semana, e eu, a antissocial da família, odiava viajar.
Fomos, meus pais, tia Sá, a sobrinha dela que não lembro o nome, mas me chamava de prima, e eu.
Meus pais ficaram dois dias e me deixaram com aquela tia
super pra frente, e a sobrinha que se não fosse minha prima
eu chamaria de desinibida. Na primeira noite sem meus pais fomos a um bar e a prima desinibida veio no meu ouvido dizer que precisava de ajuda. Levantei e fomos até uma área com mesas de sinuca. Chegando lá ela me explica que estava afim de um menino, mas que a condição pra que ele ficasse com ela, era que eu desse um beijo no primo dele. Acho que naquele dia começou a minha péssima relação com a palavra NÃO.
De cara neguei por que nunca havia beijado na boca. Mas ela insistiu tanto, e fez parecer que eu apenas emprestaria algo rapidamente ao guri. No caso, minha boca, língua e saliva.
Pois bem. Fui conhecer o tal. Não me recordo muito bem da aparência. Mas era um menino branco, na época da minha estatura e pro meu estranho gosto, feio! Mas, prometi e cumpri! Beijei o garoto. Me lembro de muita saliva, uma língua nojenta, enorme e áspera, bem áspera. E eu abrindo os olhos para ver se aquilo terminaria logo. Resultado: Hospital Geral de Arraial do Cabo, vomitando e com enjoo. Diagnóstico: Meu psicológico fodeu meu corpo. E daqui em diante vocês verão quantas vezes meu psicológico mandará na minha vida, na minha alma!
Só fui beijar novamente quatro anos depois. Acho que fiquei traumatizada.
2000, IGREJA SÃO JUDAS TADEU, SÃO GONÇALO
Se o Marco Antônio soubesse a confusão que ele se meteria, ele jamais teria ido naquela missa e pedido à minha mãe para ficar comigo!
Ficamos na rua ao lado da igreja, enquanto minha mãe me aguardava na igreja lotada. A coroa foi muito parceira por que ela nem gostava muito de ir à Missa.
Depois dessa ficada
, namoramos alguns meses sentados na calçada da minha casa. Detalhe, dávamos apenas selinhos. Eu era uma perfeita retardada aos quinze anos. E até hoje não entendo o porquê de não permitir ser beijada. Será que pelo trauma do primeiro beijo?
O Marco, óbvio, não aguentou namorar uma das meninas mais populares da escola, mas que não beijava na boca.
Mas eu tinha concorrência, e forte.
Camille, corpo desenhado, lindos cabelos cacheados, e dona de uma personalidade tão forte quanto a minha.
Camille e eu disputávamos tudo nessa época. Fazíamos jazz em escolas diferentes, mas modéstia à parte, sempre ganhei os primeiros lugares de qualquer competição que minha academia participava. Quando chegava a época de gincana na escola, não era academia contra academia. Era Swellen x Camille. Nós coreografávamos nossa turma e disputávamos como fosse final da Copa do mundo. Não me lembro de ter perdido uma única vez. Só quando se tratou de Marco Antônio. Esse ela levou o campeonato e ostentou a taça. Ele terminou comigo. Aliás, ele simplesmente sumiu e apareceu namorando ela. Com isso descobri que havíamos terminado.
Fiquei bem triste, mas antigamente me recuperava da fossa de forma bem diferente.
Ah Marco Antônio! Nada comigo ficava barato e era tão simples.
Minha afilhada de casamento, Jaqueline, prestava tão pouco quanto eu. No computador, fizemos uma arte interessante. Pegamos o desenho de um burro, animal, pintamos seus olhos de azul e sua crina de amarelo. Marco era loiro do olho azul. E deixamos um recado mais ou menos assim: O IBAMA está procurando esse animal da foto ao lado que atende pelo nome de Marco Antônio e o sobrenome que não lembro agora. Caso você tenha informações, ligar pra xxxxxxx.
Imprimimos muitos cartazes e um grupo de roqueiros amigos da Jaque colou por muitos postes no caminho do nosso colégio e da casa dele. A farra foi geral! Mas não parou por aí! Eu era cruel, mesmo com as limitações de idade e recursos.
Mandei fazer uma faixa, aquelas de ráfia, que anunciava também algo falando mal dele e de madrugada penduraram na entrada da rua sem saída que ele morava.
E para finalizar as homenagens
, fui a uma rádio comunitária com um rascunho na mão e pedi pra que o locutor gravasse uma fita com uma linda mensagem, que me lembro ter como música de fundo, uma do N´SYNC, grupo que eu era super fã na época. Contratei um carro de som (aqueles que anunciavam as ofertas do mercado do bairro) e no dia do aniversário dele, diante de todos os amigos, o carro de som parou em frente à festa e começou a anunciar uma bela homenagem que no final terminou em lágrimas torrenciais de ódio de mim!
PRONTO! Eu estava realizada! E claro, depois arrependida.
Passei o mês seguinte levando cestas de café da manhã na casa dele todos os sábados, antes de ir pro inglês.
Hoje, só penso em uma coisa… Minha mesada era ótima!
No ano seguinte, eu já super velha
, no auge dos meus dezesseis anos, trabalhando e já na universidade, tive um namoro de oito meses com o melhor amigo do Marco e por sinal, ex namorado de uma amiga minha, a Cibele. Terminamos por que ele me traiu.
A PRIMEIRA TRAIÇÃO
Raphael era moreno com olhos cor de mel, sobrancelhas grossas e um sorriso de menino bom.
Antes de tudo, gostava dele como pessoa. Escutava a Cibele falar dele, embora ela não gostasse dele para namorar. Acho que ela colocou pilha pra ficarmos para se sentir menos culpada por ter terminado com ele.
E eu confesso que achei legal ficar com o melhor amigo do meu ex. Ainda com uma sensação de vingança.
Nosso namoro era metódico. Dias marcados e sem muita diversão.
Tínhamos um problema. Eu trabalhava e ele muito mal estudava.
Na verdade, o problema foi criado pelo pai machista dele. Me lembro que dei um celular de presente, e o pai depois de um tempo fez ele devolver com a justificativa que ele jamais poderia me dar algo à altura. Apesar de discordar, aceitei o telefone de volta. Enfim, não vou entrar nesse mérito.
Vamos aos fatos.
Adorei o dia que pus fim ao namoro.
Não pensem que nessa época eu não sofria, mas a minha racionalidade era muito mais aguçada do que esse emocional desequilibrado que hoje manda em mim. Namorávamos terça, quinta e sábado.
Nessa época eu já trabalhava período integral.
Em uma quarta, resolvi almoçar em casa. Nunca havia feito isso por que trabalhava longe.
Quando terminei de comer, alguém me chamou no portão de casa. Era uma menina da sala do Raphael.
Nessa época, mesmo não estudando mais no colégio, eu ainda era muito popular por lá. Por ter estudado onze anos lá e por morar em frente à escola.
Pois bem, a menina foi até a minha casa contar, que havia dado um prazo pro Raphael me contar que havia me traído em um aniversário de quinze anos que ele foi Príncipe. Não me lembro de ter agradecido a informação. Mas liguei pra ele e pedi pra que fosse mais tarde até minha casa, com a desculpa que estava com saudade, já que não era dia de namorar. Ele não desconfiou e foi presa fácil.
Usávamos um anel de compromisso, claro, comprado por mim.
Quando ele chegou fui até a varanda e perguntei de forma direta: Raphael, você ainda quer namorar comigo?
Ele achando aquela pergunta no mínimo estranha, respondeu que claro. E perguntou por que. Eu disse: Por que eu não mais!
E expliquei que a amiga dele havia me contado sobre a traição e que ele não tinha nada para me oferecer. Ele saiu chorando. Tirou o anel e jogou no meu quintal como uma menina sensível e desnorteada. Eu nem procurei pelo anel… Coitado!
Soube a uns três anos que ele é policial.
Ah! O Marco casou com minha colega de infância, Julie. Não sei se ainda estão juntos. Mas o papo que eu ouvia quando ia a São Gonçalo há alguns anos, era que estava perdido
, Entendam como quiser.
PAIXONITES SEM BEIJO NA BOCA
Antes de namorar para valer, eu me apaixonei por muitos meninos. E escrevia muito sobre eles. Pena não ter meus diários da época. Minha mãe achava que eu copiava textos de livros. Por que os poemas eram bonitos e sofridos demais pra uma