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Cárcere
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E-book164 páginas2 horas

Cárcere

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Sobre este e-book

Um sequestrador leva a filha mais nova de um homem para o lugar mais perigoso da cidade, chamado de Vale Áureo, e a exigência do sequestrador é que Abel, protagonista, vá para lá com seu filho e fique numa casa específica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de mar. de 2021
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    Cárcere - Pedro L. De Souza

    CÁRCERE

    Pedro Loiola de Souza

    2020

    .

    Meu único amigo é Deus. E algumas pessoas que eu escolher.

    Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum.

    Salmos 23:4

    "Qualquer verdade passa por três estágios: primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente combatida.

    Terceiro, é aceita como óbvia e evidente"

    Schopenhauer, A.

    PRÓLOGO

    -Vamos andando. Não querem mais viajar? – gritou Abel, o pai, do andar de baixo, colocando uma mão em cada extremidade da boca.

    -Calma aí, pô. Tô descendo já! Meu Deus do Céu, cara –

    respondeu João, o filho, puxando sua mala preta com uma alça de metal, descendo as escadas de forma rápida, fazendo com que as rodas batessem nos degraus e fizessem estrondos a cada passo dado.

    Finalmente com os dois no andar de baixo, o pai disse, tapando os olhos e acenando com a cabeça, em negativa:

    -Você poderia ter pego a mala pela parte lateral, moleque.

    Não precisava fazer esse barulho todo – fez uma pausa. -

    Viu sua irmã por aí?

    -Ah... sei lá. Deve estar se arrumando. Daqui a pouco desce.

    -É, mas queremos sair de casa nesse século ainda, não é?

    – disse Abel, revirando os olhos e virando para a porta.

    -Tá... tá tudo bem, pai? Você parece meio estressado.

    -Tá sim, garoto. Só coisas do trabalho que estão matando cruelmente meu cérebro, mas tá tudo bem.

    Abel abriu a porta, e foi levar sua mala e a do filho para o carro. Olhou para seu veículo vermelho empoeirado e pensou: "rapaz, como não escreveram ‘lave-me’ ainda?

    Estou batendo meu recorde".

    Abriu o porta-malas, colocou as bagagens, fechou com força, e, quando olhou para o quarto da filha, a janela estava escancarada, a ponto de as cortinas ficarem voando, saindo pela abertura. Abel estranhou, afinal eles estavam de saída, mas deu de ombros.

    Entrou em casa, subiu as escadas, virou à direita rumo ao quarto da filha. Estendeu a mão à maçaneta, abriu a porta e... não tinha ninguém!

    Como assim?! Cadê ela?, pensou Abel, olhando de um lado a outro no quarto.

    -João! –disse elevando o tom de voz.

    -Que foi, pai?! –João, do andar de baixo, prontamente respondeu.

    -Vem aqui. Agora!

    João veio com rapidez e teve a mesma reação. Eles se olharam e perguntaram a mesma coisa ao mesmo tempo:

    -Ela fugiu?!

    Abel andou até a cama da filha e lá tinha um bilhete. Abel quis chorar pois já imaginou que, de fato, tinha partido.

    Abriu o envelope e caiu encostado na parte lateral da cama, boquiaberto.

    Na carta, estava escrito:

    "Não, sua filha não fugiu. Na madrugada, entrei na sua casa e a levei. Deve estar se perguntando o porquê.

    Simples: quero que você vá até um lugar específico, pois sua filha está lá. Terão que cancelar a viagem em família, a propósito. Aliás, vocês vão ficar juntos (muito juntos) mas quero que vá para uma casa e fiquem lá, todos juntos.

    Quero me divertir. Vocês serão meus convidados. Inclusive, não me comunicarei por telefone... deixarei cartas na frente da casa com frequência para saber as coordenadas. Eu tenho meus motivos para ter feito isso. Vá até o outro lado da cidade, até o Vale Áureo, e vai ver a casa. Até breve.

    P.S.: ah, e antes que eu me esqueça... a partir do momento em que entrarem lá, não poderão sair, e isso é óbvio ( a menos que eu queira)."

    -Não acredito nisso, João. Não estou acreditando. Lê isso aqui. Entregou a carta ao filho.

    O menino leu, teve a mesma reação que o pai tivera; sentou na poltrona bege que tinha no quarto da irmã, suspirou, olhou para Abel e proferiu:

    -Você não está pensando em fazer isso não, né?

    -Óbvio, né, João?! ÓBVIO!

    -Mas e se for uma armadilha?

    -Você não leu a carta? Ele a levou. Como mesmo disse, têm motivos para ter feito. Se fez isso, é porque quer algo

    em troca. Daremos o que ele quer, entendeu? -perguntou Abel, inclinando-se para frente e abraçando os próprios joelhos e coçando seus cabelos loiros, fazendo-os cair nos seus olhos.

    -Tá, aí a gente dá o que ele quer e, depois, nos mata. Essa é uma maneira muito estranha de cometer suicídio. Sério.

    -Sei que é louco ouvir o que vou dizer, garoto –disse o pai.

    –, mas nós vamos ter que confiar nele.

    João riu alto:

    -Você é engraçado às vezes –disse, em seguida olhando para o chão e colocando as mãos no rosto. –Nós estamos muito mortos.

    JORNADA

    -Entra no carro! –exclamou o pai.

    -Relaxa, cara –disse João, abrindo a porta, e entrando.

    -O que eu tô tentando entender é: por que o Vale Áureo?

    Por que lá?

    -Talvez ele goste de escuridão –João riu.

    -Já que tocou no assunto, eu admiro muito o sarcasmo de alguém que coloca o nome do lugar mais sombrio da cidade de Vale ÁUREO. Que ser humano irônico, não?

    -Não tenha dúvidas –disse João.

    Eles passaram pela cidade com muita pressa, avançando vários semáforos, quase batendo em vários carros. Uma viatura policial veio atrás deles, e tudo que Abel pensava era: conta pra eles, cara. Conta tudo pra eles, isso vai se resolver rápido, mas logo depois: é, mas aí o sequestrador vai atirar na cabeça dela no momento em que nós chegarmos lá. Fica... na... sua, Abel

    O carro da polícia se aproximou do carro onde pai e filho estavam e sinalizou para que parasse. O oficial abriu a porta da viatura, andou até a janela do Abel e bateu no vidro, pedindo para que abrisse. Ele obedeceu. O vidro desceu de forma lenta, produzindo ruídos por conta dos mecanismos de dentro do carro. Abel disse, olhando com muita veemência para o homem do lado de fora:

    -Pois não, seu guarda.

    -Eu reparei que seu veículo estava acima da velocidade permitida, cidadão. Gostaria de ver os seus documentos, por favor.

    -Tudo bem –disse Abel, virando para o seu filho. –João, pega minha carteira no porta-luvas, por favor.

    O filho obedeceu, se inclinou para frente, abriu o compartimento, pegou a carteira, entregou ao pai, que rapidamente a abriu, puxou o documento e entregou ao policial. O mesmo olhou, analisou-a minuciosamente, entregou de volta ao homem e disse:

    -Pelo o que estou vendo, está tudo certo. Mas quero saber: por que estava correndo tanto?

    -Bom... É... –riu, coçando a parte lateral da cabeça- nós...

    estávamos... indo... pro médico! –disse, terminando a frase de forma abrupta, aliviando-se por ter achado uma resposta.

    O tenente olhou para ele, cerrou os olhos, levantou uma sobrancelha e disse:

    -Pro... médico?!

    -É, nós estávamos atrasados. Não é, filho? –disse Abel, virando o rosto para João, arregalando os olhos para o menino quando virou.

    O garoto ficou sem jeito, olhou para o chão, oscilou o olhar de um lado para o outro e disse:

    -É... Muito... atrasados.

    -Enten... di –disse o policial, fazendo uma pausa.

    -Será que a gente pode ir, seu guarda? A gente precisa realmente chegar ao... hospital. –disse Abel, abrindo um sorriso não tão natural.

    -É, podem sim. Mas tenham cuidado.

    -Tudo bem... Bom, sabendo que a gente já pode ir, tenha um bom dia.

    Quando o policial virou as costas, Abel sentiu um toque brusco no seu braço. Se virou e João perguntou:

    -Qual é o seu problema? Por que me envolveu nisso?

    -Queria passar credibilidade. E, pelo jeito, funcionou. Me agradeça depois –disse, abrindo um sorriso largo e sarcástico, olhando para frente, acelerando o carro.

    -Eu preciso lembrar a você que isso é uma má ideia ou já se deu cont...

    -Garoto, calma! Fica tranquilo. Vem comigo que você passa de ano. Não vai acontecer nada. Eu já disse que ele quer a gente lá. Ele precisa tanto da gente quanto dela viva. Ele vai nos chantagear, e isso é óbvio, mas é, claramente, melhor que a morte, tanto nossa quanto da sua irmã, não acha? –perguntou, olhando de relance na direção do garoto enquanto dirigia.

    João olhou incrédulo para o pai, revirou os olhos, virou o

    rosto para a janela, encarando a paisagem que projetava-se em movimento dando a impressão de ser apenas um borrão, e disse:

    -Você sabe o que eu penso a respeito disso.

    -Exatamente, você pensa demais. Lembra muito a sua mãe.

    -Se ela tivesse aqui, socaria a sua cara até ela virar do avesso, a propósito.

    -É, eu sei – Abel franziu o cenho. –Sinto falta daquela cabeça dura.

    -Eu também.

    -Bom, vamos parar de pensar nisso porque não vai ser nada legal chegar lá com esse ânimo todo. O lugar já não é animador... estar lá com depressão vai ajudar mais ainda...

    -Mas foi você quem tocou no assunto primeiro... –disse João.

    Um silêncio constrangedor tomou conta e Abel disse:

    -É, você lembra muito ela.

    -------------------

    -É, é aqui – disse o pai, olhando para a escuridão à sua frente, que começava logo a alguns passos. -João, você trouxe a lanterna, né?

    -Eu tenho celular que tem uma lanterna. Você parou em que década?

    -Filho, suas respostas são tão doces quanto beber ácido sulfúrico. Enfim, vamos parar de enrolar porque a escuridão aqui está me deixando com vontade de me enfiar num cobertor e gritar pela minha mãe.

    -É, já que não temos escolha, vamos.

    Usando a lanterna do celular do João, os dois passaram por várias ruas desertas, tentando ver se tinha algum sinal de que casa seria, e então aconteceu: viram uma

    diferente das demais, com bastante vida para um lugar tão sórdido quanto o Vale Áureo. As paredes eram vermelhas, num tom mais forte que o normal; a porta era branca, enquanto as casas naquele lugar eram todas cinzas. Nessa mesma porta branca estava escrito aqui no mesmo tom de vermelho da parede, e dentro da casa havia luz.

    Os dois viraram as cabeças devagar na direção um do outro, se entreolharam por alguns segundos. Voltaram a atenção à casa.

    -Mas o quê?! –proferiram em uníssono.

    Entraram e se espantaram: aquela era, de fato, a única casa no Vale Áureo que tinha luz. Não era ilusão. Nas demais casas só existia breu. Aquilo não poderia ser real.

    Aquela casa era, de fato, diferente das outras. Se entreolharam novamente e suspiraram, abrindo um sorriso, mesmo com um sequestrador à espreita. Eles entraram.

    -Filha! Cadê você? Está aqui? –gritou Abel, olhando de um canto a outro de maneira frenética.

    -Oi, papai. Tô aqui –disse Camile, a filha, vindo na sua direção, chorando.

    -Oi, bebê! Estou aqui –abraçou a menina, enquanto colocou um dos joelhos no chão.

    -Eu estava com muito medo, papai.

    -Eu sei, querida. Eu sei. Nós também. Mas calma que agora a gente vai ficar bem. O papai promete, tá bom?

    -Tá bem –disse a menina, enxugando as lágrimas com a manga comprida rosa.

    -Oi, garota –disse João, olhando para o chão enquanto falava. –Eu tô vendo você aí, heim?!

    -Oi, maninho! –correu para o irmão, abraçou suas pernas.

    Ele ajoelhou e agarrou a parte de trás da blusa da irmã com muita força.

    -Não vou deixar que façam isso de novo –disse João. –Não vai haver um de novo, mas, se houver, farei com que ele me leve, e não a você.

    -Mas aí eu e o papai teríamos que ir pra te buscar –disse Camile, rindo enquanto parava de chorar.

    -Sua palhaça –disse João.

    Camile olhou com ternura pro irmão, sorriu e disse, encostando a cabeça do peito de João:

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