Um Disciplinador Nada Comum
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Um Disciplinador Nada Comum - Maximiliano Leonardo Canteli
Parte A
Capítulo I — Uma amizade incomum
Várias vezes eu me peguei observando o estranho sujeito sentado sozinho debaixo da velha macieira do jardim do ginásio central, as quartas-feiras, onde alguns amigos nerds e eu nos reuníamos para um basquete. Até que no final de uma dessas partidas, analisando aquele solitário homem, aparentemente em profunda meditação, uma bolada violenta em minha cabeça capacitou-me com a coragem necessária para interrogar o misterioso indivíduo.
— Bando de esquisitos, terminem a partida sem mim. Preciso satisfazer uma curiosidade.
Assim deixei meus amigos nerds e fui ter com o homem que meditava. Nessa ocasião eu acabava de completar vinte anos e sem sombra de dúvida foi a melhor curiosidade que saciei em minha vida. Aproximei-me dele e arrisquei:
— Perdoe-me por interromper sua meditação. É, oi, meu nome é Yoan — estendi-lhe a mão.
Como se de um transe retirado, ele fixou em mim um par de olhos verdes que me atravessaram. Confesso que pensei em recuar, porém, após alguns segundos ele me convidou a sentar ao seu lado. Como ele demorava a falar, tomei nova iniciativa na conversa.
— Uma semana sim e uma não vejo-o aqui debaixo dessa macieira cansada não sei pensando o quê. Pensei que, talvez, gostaria de companhia. Se posso me atrever a perguntar, o que o leva a estar neste lugar tão profundamente ligado a seus pensamentos?
Após momentos, quando já estava certo de que o incomodara com minha pergunta, ele, depois de atravessar-me novamente com o olhar, respondeu, para meu alívio:
— Costumo vir aqui quando sou vencido por minhas limitações. Às vezes eu gostaria que uma dessas maçãs caísse em minha cabeça. Mas não tive essa sorte ainda¹.
— É, como assim? Não entendi sua colocação — tornei-lhe. Após o que, ele observou atentamente minhas mãos, que mantinha cruzadas sobre o colo. Depois atentamente perscrutou meu rosto, o que me deixou um pouco sem jeito. Logo após respondeu:
— Tenho certeza que, em um curto tempo, você vai entender, jovem Yoan. Você é um simples, embora, potencial observador.
Eu nada respondi a essa afirmação. Continuou ele:
— Sou inegavelmente um solitário. Eu analiso o comportamento das pessoas e todos os dias me surpreendo com o que vejo.
— Ah, você é psicólogo? — perguntei-lhe.
— Não, eu tenho mais o que fazer. Mas sou fascinado pela mente humana. Yoan, parcialmente meus pensamentos trabalhavam em entender minha estranheza ao comportamento comum das pessoas. Simplesmente não me encaixo. Comumente sou rotulado como um chato. Não nego, preciso ser muito direto as vezes. E sei agora que começo a perturbá-lo com o que ocupava meus pensamentos.
Deveras leitor, já estava desanimado com o desenrolar da conversa e pensava numa maneira gentil de encerra-la. Ademais repreendia minha curiosidade por abordar um estranho tão, estranho. Contudo ele não tardou em me tranquilizar. Prosseguiu:
— Não se chateie, meu jovem. Essa conversa já me instruiu o suficiente a seu respeito.
Leitor, até então o que eu havia contado para ele estar suficientemente instruído a meu respeito? [Cara esquisito... Ah Yoan, amarre sua curiosidade! Prenda essa insolente atrevida! Onde fui me meter, pensei].
— O que você pretendia fazer esta noite, Yoan? — perguntou-me.
— Eu PRETENDO ir ao cinema com uma bela amiga do trabalho, por quê? — respondi-lhe com uma mescla de firmeza e forçosa delicadeza.
— Tem um grupo de pessoas que se proclama muito religioso e culto, interessado em me questionar sobre o comportamento humano. Solicitaram minha ajuda, por meio de um conhecido meu, sábio advogado e membro do grupo, para esclarecer um pouco sobre a hipocrisia impregnada no homem. Não recusei o convite, embora saiba que mais de 90% deles não aceitarão as verdades que revelarei.
— Como assim não aceitarão? Você ainda não os conhece.
— Não preciso conhecê-los pessoalmente, caro Yoan. Como, sabiamente, disse uma vez Winwood Reade²: o homem pode ser um mistério quando analisado isoladamente. Em grupo ele é eficientemente decifrável. Nas minhas palavras, essa foi sua grande conclusão. Esteja lá, Yoan. Será na Igreja... Bem próxima a praça da S... Agora são dezoito e quinze. Você tem uma hora e quarenta e cinco minutos para ser um participante pontual dessa palestra. Conto com sua agradável presença, jovem escritor. Prometo fornecer-lhe fomento para teus escritos. Até lá.
Depois ele simplesmente levantou, virou as costas e foi embora. Perplexo gritei:
— Mas eu nem sei seu nome, nem o que faz! Como sabe que gosto de escrever?!
— Você terá suas respostas, mas há tempo para tudo. Aprenda isso desde já. Não se atrase!
Não me lembro de outra vez ter ficado tão confuso, desorientado e excitado pela curiosidade como naquela ocasião. BENDITA insolente curiosidade, vencera-me novamente. Eu não fui ao cinema aquele dia. Transcrevo aqui, slide por slide, a palestra que revelou o caráter do melhor e maior amigo que já tive:
"Título: Hipócrita!!!
Bom dia!!! Que a paz do Senhor esteja com vocês!!!
•Que tipo de paz?
•Segundo nosso mestre Jesus: Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada" — Mateus 10:34, NVI.
•No evangelho de Lucas, no lugar de espada está divisão
. Logo, Jesus Cristo nos incita à mudança de comportamento, transformação, o que nos separa do mundo, da escravidão do pecado.
•Há alguém dentre vós fraco? Quem, aqui dentro, considera-se fraco, rogo que vá embora. Este conhecimento não é válido para os fracos.
•Quem é fraco?
•Aquele que tem medo da verdade.
•Aos que ficarem, aparentemente fortes, não me responsabilizo por qualquer problema de ordem física e espiritual detonado pelas verdades que serão expostas na palestra.
•Última chance aos fracos, sejam humildes e vão embora.
•Suas vidas não mais serão as mesmas, prometo.
•Afinal, Não existe informação neutra. Toda informação transforma. Ao homem a informação pode trazer-lhe luz, ou trevas. Se é luz ao homem, é evolução do Ser. Um ser evoluído pode ser luz para muitos. Logo, ao homem, a informação é a energia mais bela e reativa (transformadora) que existe, o que implica que o pior de seus males é a ignorância. Mas não é o homem mais cheio de luz o mais valoroso, e sim o que mais ilumina os outros, o que mais reage com a Energia
— extraído do livro "A epifania