A Dimensão Da Alma
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A Dimensão Da Alma - Santo Agostinho
Santo Agostinho
A
Dimensão
da
Alma
Tradução: Souza Campos, E. L. de
Teodoro Editor
Niterói – Rio de Janeiro – Brasil
2018
A dimensão da alma
Santo Agostinho
Neste diálogo¹, o interlocutor de Santo Agostinho lhe propõe seis questões. Para tratar mais a fundo a terceira, a da grandeza da alma, o santo doutor distingue primeiramente dois tipos de grandeza: uma que consiste na extensão espacial e a outra no poder e na virtude. A primeira, sendo apanágio do corpo, não pode convir à alma, que é incorpórea. Desta forma, a grandeza da alma consiste em sua virtude.
Santo Agostinho identifica sete graus nesta grandeza, aos quais ele relaciona todo o poder da alma humana, seja em suas relações com o corpo, seja com ela mesma, seja perante Deus.
Introdução²
1
Foi em Roma que escrevi um diálogo onde são tratadas diversas questões relativas à alma. A saber: de onde ela é, o que ela é, qual é sua dimensão, por que ela foi dada ao corpo, o que ela se torna quando se une ao corpo e quando se separa dele.
Mas, o que nós debatemos com mais cuidado e dedicação foi sua dimensão, desejando demonstrar, se pudéssemos, que ela não tem a mesma dimensão do corpo, mas que, no entanto, é alguma coisa de grande.
Assim, esse estudo deu seu nome a todo o livro, que foi chamado A dimensão da alma.
2
Quando eu digo neste livro que: Parece a você que a alma não traz com ela nenhum conhecimento, enquanto que, em minha visão, ela os traz todos e o que chamamos de aprender não é outra coisa além de lembrar³, não se deve inferir destas palavras que eu suponho que a alma tenha vivido um tempo, seja neste mundo em outro corpo, seja em outro lugar em outro corpo ou sem um corpo, nem que ela tenha aprendido anteriormente em outra vida os conhecimentos sobre os quais ela responde quando é interrogada e sobre os quais ela não foi ainda instruída neste mundo.
O que deve ser entendido, de fato, como já observamos neste livro⁴, é que ela é capaz disso por que é de uma natureza intelectual, em relação não somente com as coisas intelectuais, mas também com as imutáveis e é ordenada de uma maneira tal que, quando ela se volta para os objetos com os quais ela está em relação ou para ela mesma, ela pode, na medida em que ela os vê, fornecer ao tema respostas verdadeiras.
Sem dúvida que ela não trouxe com ela e não conhece tudo desta maneira. De fato, ela não poderia, sem ter sido ensinada, falar dos conhecimentos relacionados aos sentidos corpóreos, como quase toda a medicina e como toda a astronomia. Mas o que o intelecto exclusivamente pode compreender, como eu disse, ela pode, quando ela se interroga ou quando é interrogada ou quando ela reflete, responder corretamente.
3
Em outro lugar, eu disse: Eu gostaria de dizer mais coisas sobre este assunto e me obrigar a só agir para voltar-me para mim mesmo __ mostrando que faço a lição __ que é a quem eu principalmente me devo⁵.
Eu deveria ter dito: Voltar-me para Deus, a quem principalmente eu me devo
. Mas, como o ser humano deve primeiro voltar-se para ele mesmo, para que, partindo de si mesmo como que a um degrau, ele se erga até Deus, como o filho pródigo, que se voltou para ele mesmo e disse: Levantar-me-ei e irei a meu pai⁶, eu disse o que disse em relação aos seres humanos. De fato, eu me devo muito mais a mim do que às outras pessoas, embora eu me deva muito mais a Deus do que a mim mesmo.
Este livro começa assim: Vendo você com tempo livre, peço que me responda algumas questões que me atormentam.
Capítulo 1
Evódio: __ Vendo você com tempo livre, peço que me responda algumas questões que me atormentam. Não sem motivo e sem propósito; pelo menos eu creio. Geralmente, quando eu te cubro com muitas perguntas, você me afasta com alguma máxima dos gregos, que nos proíbe de procurar o que está acima de nós. Mas hoje eu não creio que estejamos acima de nós mesmos. Ao te interrogar então sobre a alma, eu não mereço ouvir: O que nos importa o que está acima de nós?
⁷ Mas talvez eu mereça saber o que nós somos.
Agostinho: __ Diga, em poucas palavras, o que você quer saber sobre a alma.
Evódio: __ Farei isso, pois, há muito tempo tudo está preparado em minha mente. Eu te perguntaria então de onde vem a alma, o que ela é, sua dimensão, por que ela está unida ao corpo, no que ela se torna quando está unida a ele e depois de tê-lo deixado.
Capítulo 2
Agostinho: __ A questão de onde vem a alma tem, necessariamente, um duplo sentido. Perguntar, com efeito, de onde vem o ser humano, quando se quer saber sua pátria e perguntar de onde ele vem, quando se quer saber de quais elementos, de quais partes ele se compõe, são duas questões com sentidos bem diferentes. Em quais destes sentidos se deve responder, quando você pergunta de onde vem a alma? Você quer saber de qual região, por assim dizer, de qual pátria ela nos veio ou então qual é sua substância?
Evódio: __ Na verdade, eu gostaria de saber uma e outra e, quanto à questão que deve ter prioridade, eu prefiro que você avalie.
Agostinho: __ Eu creio que a alma tem uma certa habitação, uma certa pátria em Deus mesmo que a criou. Sua substância eu não posso classificar, pois não creio que ela seja das naturezas que entram em nossos usos e em nossos conhecimentos e que acessamos através dos sentidos corporais. A alma não me parece formada de terra, de água, de ar, de fogo. Nem de todos estes elementos e nem mesmo de uma mistura de alguns. Se você me perguntasse de que esta árvore é formada eu enumeraria os quatro elementos bem conhecidos, que se deve acreditar que ela seja composta. Mas se você viesse a me perguntar ainda de onde vem a terra, a água, o ar e o fogo, eu não teria mais nada a responder. Assim, quando você investiga do que é composto o ser humano, eu posso dizer que é de uma alma e de um corpo. Se, além disso, você me questiona particularmente com relação ao corpo, eu recorro aos quatro elementos e se é com relação à alma, como ela me parece ser alguma coisa de simples e ter uma substância própria, eu não poderia ficar mais embaraçado do que quando se você me perguntasse de onde vem a terra, como eu disse agora há pouco.
Evódio: __ Não compreendo por que, após ter dito que a alma é feita por Deus, você afirma que ela tem uma substância própria.
Agostinho: __ Eu não posso negar também que a terra seja feita por Deus, embora me seja impossível dizer quais são, por assim dizer, os outros elementos que a compõem. A terra é um corpo simples e, por isso mesmo, ela é terra. Por isso também ela é considerada um elemento de todos os corpos que são formados pelos quatro elementos. Não é, portanto, uma contradição dizer que a alma é feita por Deus e que ela tem uma substância própria, pois a natureza que lhe pertence propriamente, foi Deus quem a fez, como a do fogo, a do ar, a da água e a da terra, que devem entrar todas na composição das outras.
Capítulo 3
Evódio: __ Neste momento eu sei de onde vem a alma, ou seja, de Deus. Refletirei sozinho em tudo isso e com cuidado e, se encontrar alguma dificuldade, o procurarei mais tarde. Mas como você explica sua natureza?
Agostinho: __ A alma me parece ser semelhante a Deus, pois, se não me engano, você fala da alma humana.
Evódio: __ É isto precisamente o que eu quero saber. Explique como a alma é semelhante a Deus, pois acreditamos que Deus não foi feito por ninguém. Já a alma, como você