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Ferrovia Láctea
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E-book379 páginas36 minutos

Ferrovia Láctea

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Sobre este e-book

Um rapaz urbano (Lio Akbel) vai visitar sua mãe na longínqua cidade de Santo Expedito Setentrional e com auxílio de um misterioso chinês (Chen Enlai), de uma encantadora garota (Mirella Belleclair), de quatro crianças prodigiosas, de uma Aldeia Indígena e de uma Comunidade Quilombola, luta para que malfeitores não destruam o ecossistema da região, enquanto tenta entender se tal embate trata-se de um Combate Territorial ou de uma Batalha Espiritual.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jan. de 2020
Ferrovia Láctea

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    Pré-visualização do livro

    Ferrovia Láctea - Daniel Faiad

    FerroVia 

    Láctea 

    (Daniel Faiad). 

    PREFÁCIO 

    Dêmos  graças  a  tudo  que  reluz  no  Universo  e  proporciona 

    um vislumbre da magnificência divina.  

    Dêmos  graças  às  imensuráveis  localidades  do  Infinito  que 

    demarcam onde nossa toada evolutiva pode chegar.  

    Mas, tudo isso, cônscios que a Teofania mais bonita é o Cris-

    to...  

    Dêmos  graças  à  indefectível  engenhosidade  em  que  nossa 

    casa planetária foi fixada no Firmamento, permitindo as estações pa-

    ra emergir o milagre Vida.  

    Dêmos graças à similaridade do núcleo do átomo ao Macro-

    cosmo, denotando o capricho do Criador.  

    Mas, tudo isso, cônscios que a Teofania mais bonita é o Cris-

    to...  

    Dêmos graças a todas as maravilhas das irmãs Fauna e Flora, 

    notoriamente maestrinas magistrais.  

    Dêmos graças às sementes que caem no solo  gerando mais 

    terricolaridades,  assim  como  o  fruto  para  germinar  a  Vida  também 

    está dentro de nós, sendo sublime presente. 

    Mas, tudo isso, cônscios que a Teofania mais bonita é o Cris-

    to...  

    Dêmos graças à aquarela da Aurora Boreal, ao salto do golfi-

    nho,  à  metamorfose  da  crisálida,  o  pairar  do  beija-flor,  o  rugido  do

    leão e o pouso do condor.  

    Dêmos graças também a todo esplendor do etéreo, do ima-

    terial, do invisível, a todo mistério que poetiza nossas buscas, e toda 

    libertação provinda de nossas revelações e descobertas.  

    Mas, tudo isso, cônscios que a Teofania mais bonita é o Cris-

    to...!  

                                                          (Daniel Faiad). 

    FerroVia 

    Láctea 

    —  Penso  que  a  expressão  Amor  Incondicional  é  um 

    pleonasmo inconsciente e acidental, pois se há genuinamente 

    Amor, necessariamente é altruísta e pleno  ( disse Lio Akbel ao 

    espelho, sendo sua primeira frase proferida no dia).  

    Notou que o espelho era mero instrumento, na verda-

    de  ele  verbalizou  tal  ideia  a  si  mesmo,  e  tinha  explanado 

    também ao Mundo, mesmo que naquele momento aparente-

    mente  só  ele  ouvira,  a  energia  de  toda  frase  emite  vibração, 

    principalmente as ditas ou emanadas com fervor.  

    Mas se emitira o recado a si mesmo e ao Mundo, isso 

    sinalizava que o Mundo interior e exterior, em um enredo de 

    circunstâncias,  um  espelhava-se  no  outro,  trazendo  aconteci-

    mentos  que  eram  indícios  do  panorama  de  quais  eram  suas 

    Missões na Terra e consigo mesmo.  

    Porém,  se  tinha  dito  a  si  mesmo,  ao  Mundo  interior, 

    era porque tratava-se de algo que ele necessitava aprender. E 

    se tinha dito simultaneamente ao Mundo exterior, era porque 

    tratava-se de algo que ele poderia ensinar também.  

    Entretanto, se sentia que tinha o potencial de lecionar 

    crucial  axioma, era  porque  já  havia  nele  a  semente  de  tal  sa-

    bedoria.  Então,  talvez  não  necessitasse  aprender,  e  sim 

    reaprender, redescobrir sua Real Essência.  

    Investigou intimamente se tal insight provinha da men-

    te ou do coração, da psique ou do emocional, se era o autor ou 

    se tinha sido conselho de algum Guardião Metafísico.  

    Não chegou à conclusão alguma. 

    Olhou  para  o  espelho,  lembrou-se  que  tinha  exatos 

    quarenta anos.  

    E ele que era fã de esportes, fez uma analogia ao jogo 

    de  Futebol,  não  sentia-se  aos  quarenta  do  Primeiro  tempo, 

    com  uma  gama  de  possibilidades  a  realizar,  e  sim,  sentiu-se 

    aos  quarenta  do  Segundo  tempo,  onde  a  ansiedade  de  fazer 

    algo acontecer o atabalhoava.  

    Então não queria mais olhar para o espelho de lâmina 

    de cristal, e sim para o espelho de dentro, mas mais uma vez as 

    circunstâncias do Mundo interior reverberavam no Mundo ex-

    terior, e ele entendeu que sentia-se atrasado e com pressa.  

    Atrasado  à  vida  que  um  dia  prometera  a  si  mesmo  e 

    com  pressa  de  mudar  tal  realidade,  sem  respeitar  o  autopro-

    cesso.  

    Ele só não houvera absorvido ainda o porquê a Evolu-

    ção  Espiritual  que  reivindicara  a  si  mesmo,  teimava-se  em 

    postergação  insistente,  mas  tinha  projetado  seus  sonhos  em 

    cima de uma miragem, pois se ainda não se conhecia integral-

    mente,  não  poderia  ofertar  as  graças  certas  a  um  parcial 

    desconhecido.  

    Sentiu  falta  do  finado  pai  que  não  conhecera,  mas  ti-

    nha  a  convicção  que  o  amava,  e  saudade  da  longínqua  mãe 

    que conotava mimadamente como sua pessoa preferida.  

    Seus pais apaixonaram-se efusivamente, casaram, mas 

    passaram anos sem sucesso no intuito que tinham em gerar fi-

    lhos, quando finalmente decidiram-se dar entrada na papelada 

    burocrática para adoção de uma criança, sua mãe engravidou, 

    felicitando o casal, mas o destino os surpreendeu e no meio da 

    gestação de Lio Akbel, seu pai falecera.  

    Além  de  sua  natural  vocação  maternal,  sua  mãe  ape-

    gou-se mais ainda ao nascituro para amenizar a dor do luto. Lio 

    Akbel nasceu e assim passaram-se os anos sendo mãe e filho e 

    melhores amigos.  

    Em uma determinada Primavera, surgiu uma oportuni-

    dade para sua mãe, a Senhora Glória Akbel, realizar o sonho de 

    ter um sítio.  

    O sítio era muito parecido aos moldes que ela sempre 

    desejou e o preço extremamente abaixo de seu valor estimado 

    por causa de um desentendimento em que os herdeiros do ex 

    dono quiseram se desfazer do imóvel, não fazendo muita ques-

    tão da manutenção da propriedade.  

    Houve  um  impasse  porque  Lio  Akbel  não  poderia  e 

    nem queria sair da cidade grande, pois era o local que seu im-

    pulso boêmio gostava e também devido seus projetos.  

    A Senhora Glória Akbel por sua vez, igualmente ao seu 

    filho,  não  abria  mão  de  viverem  juntos,  além  de  certa  idade 

    avançada para morar só e distante, adotaria o sítio apenas co-

    mo  lugar  de  descanso  eventual,  mas  como  havia  muitos 

    detalhes a serem restaurados e organizados no sítio, suas idas 

    começaram  a  ser  cada  vez  mais  frequentes  para  sua  própria 

    supervisão,  até  chegar  a  situação  que  ela  foi  adaptando-se  e 

    sentindo-se  tão  responsável  pelo  local  que  já  fazia  três  anos 

    10 

    que ela morava no sítio, sem conseguir se desvencilhar das ta-

    refas  que  a  prendiam  lá,  e  concomitantemente  com  extremo 

    pesar pois queria o filho para junto de si, então respeitava sua 

    paixão pela cidade grande, mas tentava convencê-lo de morar 

    no  campo  e  ajudá-la  naquela  empreitada  que  ela  adotara co-

    mo  Propósito  de  vida,  porém,  ele  não  entendia  o  intuito 

    daquilo tudo e queria sua mãe de volta à zona urbana, tanto é 

    que  mesmo  sendo  filho  zeloso,  só  foi  até  o  local  no  dia  da 

    compra, quando se viam era sempre ela que ia até ele, indo à 

    cidade  grande,  aproveitando  para  fazer  compras  de  certos 

    mantimentos que não havia em sua nova cidade.  

    Mas mesmo com a distância devido à laboriosidade da 

    empreitada da Senhora Glória e a correria do cotidiano de Lio 

    Akbel com seus projetos urbanos e com os sobrecarregamen-

    tos  das  exigências  da  sobrevivência,  o  Amor  em  nada 

    diminuíra,  o  laço  entre  os  dois  mantinha-se  irreparável  e  a 

    cumplicidade vencia todas essas barreiras separatistas.  

    Lio Akbel arrumou-se para trabalhar, fez um café e du-

    as  preces,  uma  ao  passar  pela  sala,  outra  ao  passar  pelo 

    quintal. Já em meio ao povo, sentindo a cidade grande pulsar, 

    Lio Akbel asseverou a si mesmo que se cada pessoa é a prota-

    gonista  de  sua  própria  história,  é  salutar  lembrar  que  essas 

    sagas  se  interseccionam,  originando  destinos  cruzados,  então 

    estamos todos interligados.  

    Lio Akbel olhou ao seu redor e viu o Mundo como um 

    campo minado, uma arena a qual lutavam o bem e o mal, per-

    cebeu  que  o  bem  lutava,  mas  não  brigava,  então  era  muito 

    11 

    mais que mero ringue, era a benevolência da depuração espiri-

    tual digladiando com a ignorância limitante.  

    Entre o Agora e a Ágora, visualizou o que era transitó-

    rio  e  o  que  era  sempiterno,  conectando-se  com  cada  irmão, 

    entrelaçando-se  com  cada  ser.  Não  soube  medir  se  sentia-se 

    convergente ao Tudo e ao Todo.  

    Viu seus semelhantes e concebeu que o grande drama 

    humano era não saber quem se é, o esquecimento do poten-

    cial de sermos Eternos por sermos Filhos de Deus.  

    Lio  Akbel  sentiu-se  bagunçado  ao  não  saber  quantos 

    matizes  separavam  os  sonhos  pessoais  dos  anseios  coletivos, 

    se  é  que  se  separavam,  talvez  fossem  tinta  do  mesmo  pote, 

    apenas  multiplicando  os  tons  variantes  e  complementares  de 

    uma aquarela em comum.  

    Lio Akbel observava o Mundo e o Mundo o olhava, mas 

    cada um o via com a respectiva lente, então alguns viam nele 

    um moço, outros um senhor, alguns viam nele um derrotado, 

    outros um felizardo, alguns viam nele um limitado, outros um 

    ilimitado,  alguns  viam  nele  um  filho  de  Deus,  outros  matéria 

    inteligente condensada. 

    Ao chegar à academia a qual lecionava Yoga no horário 

    em que a aula era específica para terceira idade, viu em cada 

    uma das senhoras entusiasmadas em vê-lo, um pouco de  sua 

    mãe, lembrou que estranhamente já fazia quase uma semana 

    que  sua  figura  materna  não  o  telefonava,  ligações  as  quais 

    sempre partiam dela, pois no sítio não havia linha telefônica e 

    nem sinal para celular, ela ia até o pequeno centro da cidade 

    12 

    interiorana  e  usava  o  aparelho  telefônico  de  uma  amiga  que 

    trabalhava em um estabelecimento de jogo do bicho.  

    Foi quando enquanto cumprimentava as senhoras pre-

    sentes uma a uma, e já tinha saudado mais da metade quando 

    seu  telefone  celular  tocou  e  apareceu  o  número  habitual  das 

    ligações  de  sua  mãe,  ele  logo  animou-se  para  conversar  com 

    sua mãe, mas ao atender, era outra voz feminina.  

    Uma voz bem mais jovial que se apresentou como Mi-

    rella  Belleclair,  informando  que  sua  mãe  quebrara  o  fêmur  e 

    estava no hospital do centro de sua nova cidade.  

    Ele  agradeceu  à  tal  moça  a  informação  e  os  cuidados 

    narrados os quais ela estava direcionando à sua mãe, a ligação 

    encerrou-se,  preocupado  e  esbaforido  despediu-se  de  suas 

    alunas, explicitando-as o adiamento daquela aula e à adminis-

    tração  da  academia  seu  afastamento  temporário,  mas  sem 

    data exata de retorno.  

    Voltou para casa, fez sua mochila e organizou uma sa-

    cola  com  toalhas,  cuecas  e  meias,  passou  apressado  por  um 

    corredor que além do toalete, levava ao seu quarto e a outro 

    mobiliado a sempre esperar a volta de sua mãe, entrou em ca-

    da quarto cortinando janelas já fechadas, foi à sala, olhou para 

    o quadro que retratava o dia do casamento de seus pais, asso-

    prou o pó e o endireitou, pediu ao Pai Celeste, força, pediu ao 

    Filho Messias, boas venturas, e ao Espírito Santo, serenidade.  

    Fechou a porta, passou pelo quintal sem olhar para o 

    passado e com futuro incerto, trancou o portão e foi aos vizi-

    nhos.  

    13 

    Seu amigo Gael Zunigan ainda dormia, se restaurando 

    de sua labuta na boemia noturna, músico que era, mas a espo-

    sa  do  mesmo,  Mariê  Lira,  também  amiga  de  Lio,  já  se 

    preparava para suas atividades cotidianas e o atendeu.  

    Lio explicou o acontecido com sua mãe e pediu à Mariê 

    que regasse suas plantas em sua ausência, e que Gael uma vez 

    por  dia,  arejasse  a  casa  abrindo  janelas  e  cortinas,  ou  vice-

    versa caso preferissem.  

    Deixou as chaves de sua casa nas mãos da vizinha e ela 

    por sua vez disse que o casal com certeza executaria tais ativi-

    dades, o tranquilizou pontuando o quanto sua mãe era forte e 

    desejando-lhes boa sorte.  

    Lio  Akbel  foi  rumo  à  Estação  Ferroviária,  e  no  guichê 

    para  compra  da  passagem  pensou  como  certos  acontecimen-

    tos são como Frutas Temporãs que caem dos galhos do Hoje, 

    podendo amargar os solos dos Amanhãs.  

    Faltavam  apenas  alguns  minutos  para  o  trem  que  Lio 

    Akbel iria embarcar, seguir viagem, e ele viu um homem mais 

    velho, grisalho e barbudo que possivelmente era o Maquinista 

    devido à vestimenta e que se direcionava ao específico vagão 

    de quem conduziria o trem.  

    Lio  Akbel  apressou  o  passo  para  alcançá-lo  e  quando 

    estava alinhado com ele, disse:  

    — Olá, com licença, tudo bem? O senhor é o Maquinis-

    ta? 

    — Tudo na Santa Paz de Deus, e contigo? Sim, eu sou. 

    14 

    — Tudo bem comigo, mas é que eu vou para Santo Ex-

    pedito Setentrional e estou com certo receio de errar a estação 

    devida, reparei que nessa Linha há pouca sinalização.  

    — Não há o que errar, Santo Expedito Setentrional é a 

    estação  final  dessa  malha  ferroviária.  Não  há  pouca  sinaliza-

    ção, basta ter olhos de enxergar Sinais. Fique tranquilo irmão, 

    não  há  como  errar, mesmo  que  você  tente  se  desviar  do  seu 

    Destino, ele encontrará você. 

    Lio Akbel aliviado com a informação, apenas agradeceu 

    em verbo e gesto. 

    Foi para o vagão e  localizou seu assento e  refletiu so-

    bre o Maquinista. 

    O  considerou meio doido, entendeu que  na frase que 

    ele disse  "não há pouca sinalização, basta ter olhos de enxer-

    gar  Sinais" ,  faltou  certa  empatia,  pois  nem  todos  estavam 

    acostumados  com  o  trajeto  como  ele.  Achou  estranho  ser 

    chamado de irmão, não entendeu se gíria, expressão religiosa 

    ou lampejo de intimidade.  

    E  na  frase  que  ele  disse,   "mesmo  que  você  tente  se 

    desviar  do  seu  Destino,  ele  encontrará  você",   achou  prática 

    demais,  pois  havia  chance  de  erro  do  passageiro  sim,  já  que 

    Santo  Expedito  Setentrional  era  a  última  estação,  mas  não  a 

    única, caso não perguntasse, poderia errar e descer em alguma 

    estação anterior.  

    Mas  para  Lio  Akbel, o  importante  era  que  tal  homem 

    lhe elucidara e por isso o tinha certa gratidão, só não entendeu 

    15 

    como  que  uma  pessoa  que  ele  vira  pela  primeira  vez,  fazia 

    emergir nele um sentimento de extremo bem-estar.  

    O trem começou a dar seus primeiros trotes e a paisa-

    gem começou a passar pela sua janela, ou era sua janela que 

    passeava pela vista, e Lio rumou para Santo Expedito Setentri-

    onal em um dia equidistante entre o Inverno e o Verão.  

    Lio Akbel direcionava bem mais seu olhar para janela, 

    mas de vez em quando olhava para o interior do vagão, passa-

    geiros em sua maioria em silêncio, alguns conversavam, porém 

    devido à distância e barulho do trem, era como se estivessem 

    quietos apenas movimentando os lábios.   

    Um bebê ensaiou um choramingo, mas logo silenciado 

    por sua mãe que começou a amamentá-lo.  

    Lio  Akbel  vendo  aquela  bonita  interação  entre  mãe  e 

    filho, quis que o trem acelerasse para logo ver a sua, beijá-la, 

    acalenta-la, e quis apressar também o Tempo para que aquilo 

    tudo passasse logo e sua mãe ficasse bem.  

    Entreteve-se olhando as diferentes telas pintadas pela 

    Mãe  Natureza,  aquela  linha  ferroviária  após  sair  de  sua  terra 

    natal, não passava por cidades grandes e nem de médio porte, 

    e  sim  por  vales  bucólicos,  riachos  cristalinos,  pastos  com  ani-

    mais que pareciam presépios vivos mas com a Sagrada Família 

    não  mais  na  Manjedoura  e  sim  labutando  pelo  Universo,  e 

    também passava em vilas e vilarejos com Igrejas banhadas pe-

    lo  Sol  e  singelas  capelinhas  iluminadas  pela  esperança  de  Lio 

    Akbel.  

    16 

    Lio Akbel olhava para horizontes que o faziam sentir-se 

    observado por Deus reciprocamente, e sentia-se zelado, então 

    logo  mais  tudo  passaria  e  sua  mãe  estaria  disposta  locomo-

    vendo-se  como  uma  locomotiva  compondo  realizações. 

    Chegou a Santo Expedito Setentrional nos primeiros passos da 

    noite.  

    Apesar da cidade ter praticamente parado no tempo e 

    nada mudara, Lio sentiu-se perdido, fazia anos já da única vez 

    que tinha ido lá, além de que daquela vez, logo tinha rumado 

    ao sítio, e não andou pelo pequeno centro.  

    Parado na estação, sem saber ao certo o que fazer, viu 

    o  Maquinista  saindo  da  cabine  e  direcionou-se  até  ele  nova-

    mente.  

    Chegando bem próximo ao Maquinista, ficou surpreso 

    ao vê-lo agora com cabelos e barba negros, estava mais jovial, 

    ficou  estarrecido,  indagando-se  de  como  alguém  poderia  ser 

    tão dinâmico de guiar um trem e mudar a estética, tingindo-se 

    ao  mesmo  tempo,  ficando  mais  intrigado  ainda  ao  notar  que 

    não parecia tintura, e Lio Akbel disse:  

    — Como é o nome do senhor?  

    — Senhor é o Nosso Pai Celeste, me chamam de Manú, 

    Mané e alguns de Ema.  

    Lio  subentendeu  que  seu  nome  era  Manuel,  mas  que 

    ele gostava de ser chamado pelos pré-fixos, só não entendeu o 

    porquê do apelido Ema, aquele homem não tinha os traços de 

    tal ave.  

    17 

    — Meu nome é Lio (mesmo sem ter sido perguntado, 

    apresentou-se).  Desculpe  incomodá-lo,  mas  saberia  me  dizer 

    onde é o Hospital da cidade?  

    —  Você  nunca  incomoda.  Vá  até  à  rua  entre  aquela 

    farmácia e aquela mercearia, siga reto e o verá.  

    Lio Akbel achou cômico ouvir de um estranho que ele 

    nunca  incomodava,  mas  o  vital  era  que  tinha  absorvido  a  in-

    formação e disse:  

    — Obrigado Manú.  

    Lio  manteve  a  mochila  nas  costas,  mas  a  sacola  com 

    toalhas, meias e cuecas pôs no chão para abraçar aquele solíci-

    to homem.  

    O abraço foi correspondido e quando Lio Akbel já esta-

    va virando-se para ir embora, o Maquinista disse:  

    — Pode Sempre contar comigo.  

    Lio  Akbel  achou  inusitado,  uma  pessoa  que  bem  pro-

    vavelmente  nunca  mais  veria  na  vida,  dizer  tal  frase,  apenas 

    acenou e foi em sentido à rua entre a farmácia e a mercearia.  

    Chegando  ao  hospital,  Lio  Akbel  mostrou  os  devidos 

    documentos provando que era filho da paciente Glória, mas foi 

    informado  que  o  horário  de  visita  findara-se  há  alguns  minu-

    tos, porém, que logo cedo veria sua mãe e conversaria com o 

    médico e que o acompanhante de sua mãe já estava descendo 

    para conhecê-lo e fazê-lo companhia.  

    18 

    Lio  Akbel  ficou  surpreso,  desconhecia  o  fato  que  sua 

    mãe estava com um acompanhante, não demorou muito, um 

    senhor  oriental  lacrimejante,  calvo  porém  com  tranças,  com 

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