Política e Entretenimento
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Sobre este e-book
José Santana Pereira
José Santana Pereira (Nisa, 1982) é investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor auxiliar convidado no Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas do ISCTE-IUL. É doutorado em Ciências Políticas e Sociais pelo Instituto Universitário Europeu de Florença (2012). Os seus principais interesses de investigação são o comportamento eleitoral e as atitudes políticas dos portugueses, os sistemas mediáticos europeus e os efeitos dos media nas atitudes e comportamentos políticos das suas audiências.
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Política e Entretenimento - José Santana Pereira
Siglas e Abreviaturas
BBC – British Broadcasting Corporation (Companhia Britânica de Radiodifusão)
BE – Bloco de Esquerda
CDS-PP – CDS-Partido Popular
EUA – Estados Unidos da América
ICS – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
ITV – Independent Television (Televisão Independente)
PAN – Pessoas-Animais-Natureza
PCP – Partido Comunista Português
PCTP/MRPP – Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses/Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado
PD – Partito Democratico (Partido Democrático)
PS – Partido Socialista
PSD – Partido Social Democrata
PTP – Partido Trabalhista Português
RAI – Radiotelevisione Italiana (Radiotelevisão Italiana)
RTP – Rádio e Televisão de Portugal
SIC – Sociedade Independente de Comunicação
TVI – Televisão Independente
Introdução
A política está cada vez mais presente nos sectores do entretenimento televisivo e do jornalismo de celebridades. Até há relativamente pouco tempo, a comunicação política era baseada em mecanismos tradicionais de contacto com os eleitores e a presença dos temas e dos protagonistas políticos na televisão e na imprensa estava, em grande medida, restrita aos telejornais, programas de debate e entrevista política e às secções de política e de economia dos jornais de referência. Nos dias de hoje, os temas políticos são discutidos em talk-shows da manhã e da tarde, em programas de humor e em séries de ficção. Os líderes políticos não são entrevistados apenas por jornalistas, mas por apresentadores de entretenimento e humoristas. Algumas personagens do mundo da política fazem aparições em filmes e séries de televisão; as suas vidas privadas são frequentemente apresentadas nas revistas cor-de-rosa e os seus percalços e pecadilhos aparecem nas capas dos jornais. Parece que se está a passar de um mundo em que a política era vista como importante mas cinzenta e aborrecida, povoada por homens sisudos, maçadores, pertencentes ao mundo dos ricos e/ou dos intelectuais, para um mundo em que a política é vista como divertida, povoada por homens e mulheres simpáticos, brilhantes, com percursos e vidas privadas interessantes e/ou inspiradoras.
O propósito deste ensaio é o de debater os vários aspectos e as consequências desta progressiva aproximação das esferas da política e do entretenimento. Nas próximas páginas, apresento algumas hipóteses de resposta às seguintes perguntas: até que ponto tem havido, nas sociedades democráticas, uma apropriação dos temas e conteúdos políticos pelos programas televisivos e pela imprensa de entretenimento, e com que consequências? Como e porque é que os líderes partidários se tornaram, cada vez mais, personalidades com características de celebridades do mundo do espectáculo, e quais as consequências deste fenómeno? Até que ponto é que estes dois fenómenos têm vindo a transformar os cidadãos em meros espectadores? Orientado e inspirado pelos principais trabalhos de investigação relativos à mediatização e à personalização da política realizados nos âmbitos da ciência política, das ciências da comunicação e da psicologia social, este ensaio analisa alguns exemplos concretos destes fenómenos nos continentes europeu e americano, não deixando de incluir referências ao contexto português. O objectivo não é o de apresentar respostas prontas, únicas e inequívocas, às perguntas acima colocadas, mas o de convidar o leitor a reflectir sobre a natureza e as consequências da relação íntima entre política, entretenimento e celebridade.
Este ensaio é composto por três capítulos. No capítulo seguinte, abordo o esbatimento de fronteiras entre televisão informativa e programas de entretenimento, fenómeno que seguiu várias vias: o surgimento de programas de infotainment (género televisivo que mistura elementos de programas de entretenimento e de informação), o sucesso de programas humorísticos dedicados à política ou a grande popularidade de séries de televisão que retratam os bastidores da política. A apresentação de alguns casos, mais ou menos famosos, de apropriação da política por programas de entretenimento nos Estados Unidos e na Europa é acompanhada por uma discussão sobre os efeitos deste fenómeno na relação entre os cidadãos e a política: mais informação e interesse pela política vs. um maior cepticismo e menor confiança nos partidos políticos e nos seus líderes?
Em seguida, o enfoque passa para os líderes de partidos políticos e outras personalidades políticas de topo, que têm vindo a tornar-se, quer por vontade própria, quer pelas dinâmicas dos media contemporâneos, celebridades. A discussão deste fenómeno é enriquecida pela análise de casos concretos de protagonismo de líderes partidários e da sua equiparação a celebridades, bem como de ascensão de personagens do mundo do espectáculo à esfera política.
O último capítulo constitui uma reflexão sobre as consequências destes dois fenómenos para o funcionamento e a qualidade das democracias contemporâneas, nomeadamente sobre as vantagens da aproximação das esferas da política, do entretenimento e da celebridade e o risco de transformação das sociedades contemporâneas em democracias de