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O Agente Secreto Do Dia Dos Namorados
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O Agente Secreto Do Dia Dos Namorados
E-book273 páginas3 horas

O Agente Secreto Do Dia Dos Namorados

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Sobre este e-book

Julie, Giles, Miranda, Michael... e o dia do amor que se aproxima.
Quatro destinos se encontram e (acima de tudo) colidem nas ruas de Dublin. Será uma “missão impossível” para apaixonar-se?


A jovem Juliette Bonnet mudou-se de Genebra para Dublin. Ela tem uma extraordinária habilidade de ficar irremediavelmente solteira no dia dos namorados. Preocupada com sua melhor amiga, Valerie, que supostamente deveria casar-se com seu namorado no dia dos namorados, mas levou um fora ao invés disso, ela está determinada a encontrar uma maneira de animá-la. Uma chance de encontra-se com um americano, Giles McGrath, faz com que ela entre em contato com uma agência particular administrada pela cínica e desencantada empresária britânica Miranda Crossing. “Por que não viver um conto de fadas de uma semana com um homem que a venera e faz você sentir-se a mulher mais bonita e desejada na festa do amor?”
Isso é o que a agência “Agentes Secretos à Sua Disposição” oferece. Então por que não contratar um “Agente Secreto do dia dos namorados”?
Julie acha a ideia um pouco patética e fora de mora, mas ao mesmo tempo, a iniciativa a agrada. Afinal, ela não tem nada a perder. Desta maneira, ela melhorará sua relação com Giles para fazê-lo sair com Valerie, fora do contrato com a agência. Enquanto isso, Miranda está em embate com um de seus funcionários, o jovem, incansável e impetuoso “agente secreto”, Michael Wrighton, a quem está determinado em ganhar seu amor. Porém Giles, o primo e colega de quarto de Michael, acredita que o interesse de Julie está mais relacionado a ousar e experimentar um “agente secreto”.
Vários personagens vão entrelaçar suas vidas com as dos protagonistas, animando uma comédia de erros que, até o seu final derradeiro, parece mais uma troca de cartas a cada rodada: um camboy charmoso e desinibido, uma mulher que ainda acredita em contos de fadas, um homem que com alma sensível e romântica que não quer desistir do amor...

Somente o amor poderá aquecer os corações em uma mágica e sensual Dublin envolta por um inverno congelante. Somente o amor poderá ainda dar esperanças.
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento28 de dez. de 2023
ISBN9788835460206
O Agente Secreto Do Dia Dos Namorados

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    O Agente Secreto Do Dia Dos Namorados - Barbara Morgan

    CAPÍTULO 1

    Julie

    Ainda está um pouco longe, percebo isso agora. Portanto, eu não deveria já sentir esse sentimento de opressão apertando a minha garganta, ameaçando a me esganar.

    Enquanto folheio o último livro de receitas que comprei em Eason, na rua O’Connell, em uma oferta imperdível, rapidamente olho minha agenda que quase sempre tenho em mãos. Sim, ainda é 25 de janeiro. E o que deveria me aborrecer mais é este frio que se infiltra nos meus ossos, este vento congelante que perfura minha pele como milhares de pequenas agulhas de gelo, todas apontadas para mim como armas engatilhadas.

    Admito também porque é inútil negar. Eu sou alérgica aos Dia dos Namorados. Começo a pensar sobre ele no meio de janeiro, pois o Natal já passou, e quando começamos a respirar agora o distinguível (pelo menos para mim) e infame ar de festa do amor, com corações de chocolate e vitrines decoradas para a ocasião. Quanto a mim, se tenho uma certeza nesta vida, é que em 14 de fevereiro, eu passo o dia sozinha. Mesmo que eu tenha um namorado loucamente apaixonado por mim até o dia anterior, sempre foi assim, tenho provas.

    Provavelmente, o Dia dos Namorados é alérgico a mim. Saber disso faz do meu dia ainda mais deprimente do que o Natal é para algumas pessoas. Mas sei não há um Grinch para o dia do amor. Devemos inventar um.

    Poderia ser pior para mim? Talvez não. Além do fato de que meu nome é Julie. Juliette, na verdade. Em resumo, é a personagem feminina mais romântica e infeliz na história da literatura mundial. Eu me chamo de Julie mesmo. Melhor não contrariar.

    O clima de Dublin não ajuda. Eles estão falando que o inverno deste ano provavelmente será mais gélido também, com um frio que não acontece há muito tempo. Consegue ficar pior do que agora? Eu nem quero saber.

    Voltando a festa da solidão resignada, pelo menos para mim, o problema não sou eu. Porque eu estive resignada por muitos anos, parei de contá-los já há algum tempo. O problema é com minha amiga Valerie.

    Sim, minha melhor amiga, Valerie, aquela que deveria ter casado com seu namorado, Trent O cuzão Richards, no Dia dos Namorados.

    Deveria ter são, nesta circunstância, as palavras-chave. A cada situação, alguém diz que um deveria encontrar conforto no fato de que poderia ter sido pior. Alguém já levou um fora diretamente no altar, admito.

    Não, não… não fui eu! Pelo menos, evitei isso até agora.

    Então, para resumir… estou planejando uma maneira efetiva de mitigar o sofrimento e desconforto de Valerie. Quando estas coisas acontecem, a dor é geralmente acompanhada pela necessidade inescapável de explicar para o resto do mundo que, infelizmente, nada mais acontecerá. Nada, fim de história. Obrigada por participar (metaforicamente); voltem para casa e aproveitem esta suculenta e deliciosa fofoca. Porque, cada vez mais, percebo que este mundo, ou pelo menos parte dele, sente um prazer quase que demoníaco em curtir os infortúnios dos outros.

    Talvez eu esteja exagerando. Contudo, eu fiquei a cargo de cancelar tudo para a Valerie e dar explicações para os amigos e familiares. Foi uma das tarefas mais tristes e embaraçosas da minha vida. Minha amiga Valerie vem de uma família em que todos são muito próximos. Então, ela tem um certo número de familiares e, se não amigos verdadeiros, um imenso número de conhecidos de seus pais. Se isso acontecesse comigo, pelo menos por esta perspectiva, eu sou mais sortuda.

    Eu parto do princípio também do que eu gostaria que alguém fizesse por mim se me encontrasse na mesma circunstância. Suspiro, baixando meu livro de receitas, cheio de imagens convidativas e coloridas. Talvez não torta de batatas ou peru recheado…

    Não, isso demanda algo mais estimulante. Deixo o livro de receitas, lindo, mas pesado como uma pedra gigante, e vou da pequena poltrona para a cadeira ao lado da mesa onde deixei meu laptop.

    Começo a olhar, nem sei o que exatamente. Um tipo de festa? Ou talvez um show de strip-tease seja melhor? Tudo bem, não. Muito deprimente! Então, o quê? Não, não acho que eles ofereçam tal serviço… tipo, serviço completo! Enquanto isso, eu darei uma olhada. Nada virá disso, mas eu olho. Exceto o fato que alguns shows arriscam a serem mais deprimentes do que divertidos. Como uma ressaca. Tanta graça e alívio no começo, então a tristeza, melancolia, solidão e náusea. Não, isto não é bom, nem como piada. Eu correria o risco de apenas enfatizar o problema.

    Provavelmente a única coisa que Valerie quer é que o Trent repense e volte para ela. Isso é exatamente o que ela continua repetindo até duas semanas atrás. A única coisa pior do que levar um fora antes do Dia dos Namorados, e data de seu casamento, é levar um fora bem depois do Natal. A Valerie conseguiu os dois.

    Eu não acho que ele irá reconsiderar, o Trent. Não é por nada que ele é conhecido por ser o Trent o cuzão Richards. Geralmente, eu nunca o chamo assim na frente da Val (tudo bem, às vezes faço isso!) para assim não piorar o problema. Mas ele é um cuzão. Eu achava isso até mesmo antes. Ele tem uma atitude de cuzão. Ele até poderia ser um cuzão sexy, um cuzão irresistível. Mas de jeito nenhum. Trent é um cuzão malvado, um cuzão sabe-tudo. Ele era assim na França também, onde ele e Valerie se conheceram. E, além disso, eu fiz o mesmo erro repetidamente com outros espécimes de…, sim, eu preciso dizer… de cuzões.

    Eu tendo a usar bastante palavras de baixo calão, especialmente quando estou nervosa. E quando eu começo a pensar em outra língua que não é a minha, elas parecem menos ofensivas e dolorosas para mim.

    De qualquer jeito, de volta à Valerie. Talvez, eu consiga arranjar outro namorado para ela. Como dizem por aí… um namoradinho tapa-buraco apenas preencher o vácuo. Sim, um namorado novo. Como se ele fosse cair do céu.

    Desisto de qualquer outra busca absurda e retorno para companheira fiel, meu amor único e para sempre: Netflix. Preciso tirar o atraso das séries de comédia romântica natalinas que adicionei na minha lista. Eu deveria compensar. Ou poderia tentar sair, pegar um pouco mais de frio, me jogar em um pub aleatório e conhecer alguém. Funciona assim aqui, pelo menos é o que dizem. Eu deveria tentar. Mas um dia desses…, sim, um dia desses, eu tentarei. Talvez o homem dos sonhos (não sei se dos meus, da Valerie ou de qualquer outra mulher) está escondido atrás ou em frente da barra de um bar e, neste exato momento, está bebendo uma cerveja Guinness.

    Giles

    Eu já sabia. É claro, eu já sabia. Era óbvio que mais cedo ou mais tarde, eu teria problemas! Mas ser demitido pelo meu chefe por ser encontrado com meu zíper das calças aberto em frente a sua esposa já é demais! E então… se eu o tivesse aberto pelo menos! Ele ficou desajeitadamente preso no bracelete de Annette Trask, e… Gerrit tirou suas conclusões apropriadas.

    Está bem, eu admito. Nós já estávamos de brincadeira por aquelas áreas, mas na específica situação em que Gerrit apareceu, não era nada disso, pelo menos de minha parte. Porém, sendo um cavalheiro que sou (ou pelo menos tento ser), assumi quase toda a culpa. O resultado não teria mudado de qualquer maneira.

    Annette estava em lágrimas (falsas), Gerrit Trask estava furioso igual a um búfalo em ataque e eu… saindo daqui! Ele realmente se parecia como um búfalo; juro que vi vapor saindo de suas narinas!

    A coisa mais embaraçosa era que nós não conseguimos soltar o bracelete de Annette, então aquilo ficou lá, como um presente agarrado no meu…, mas isso poderia ter sido pior para mim. Se o bracelete tivesse algum valor e os Trask quisessem o de volta, eu poderia acabar na Rua Henry, perto do shopping center Jervis, somente com minha roupa íntima. Não somente no sentido figurado.

    Eu fiz algo, pelo menos, nos últimos meses. Evito contar para o Michael porque, conhecendo-o, sei que ele encheria meu saco pelo resto da vida. E riria tanto até roncar, me chamando de idiota atrapalhado crônico. Porque ele, Michael, teria realmente se dado bem com a Annette. E tenho certeza que ele teria feito isso até mesmo de baixo do nariz do Gerrit, sendo ele muito espertamente capaz de não ser pego pelo chefe.

    Meu pobre e vergonhoso resultado é que não tendo um trabalho, eu logo corro o risco de não ter mais dinheiro. Ou nunca, e aqui enfatizo o nunca, conseguirei pagar o aluguel do apartamento na Rua Parnell que divido com meu primo Michael Wrighton.

    Na real, nós somos primos de segundo ou terceiro grau; não investiguei isso. Ele se mudou para a Inglaterra com sua mãe quando tinha somente alguns anos de vida, embora ele tenha nascido nos Estados Unidos. Então veio para Irlanda, onde nos encontramos há uns seis meses quando vim de Nova Jersey. Nossos avós eram primos, é isso.

    Tenho quase certeza que o búfalo do Gerrit Trask não virá atrás de mim, mesmo que ele vá à bancarrota sem mim. Entendi seu caráter nos limitados três meses em que trabalhei com ele. Digo quase com certeza porque eu não aposto a minha vida nem nada e nem em ninguém agora.

    Ao contrário, eu não posso (e acima de tudo não quero) voltar para os Estados Unidos. Não em Nova Iorque, onde vivi nos últimos dez anos desde que comecei a frequentar a Universidade de Columbia e, então, abandonei o curso na metade do caminho.

    Meu avô Séamus me encorajou a escolher a Irlanda como destino, mesmo que eu tenha preferido a Espanha ou Portugal porque, além de ser no continente, eu teria uma mudança satisfatória de clima também. Eu me senti moralmente obrigado em agradá-lo como se fosse um último desejo de um condenado. Para deixar claro… Eu geralmente me sinto obrigado a agradar a todos. Isso também resultou na bagunça com os Trask.

    Mas de volta para meu energético avô, que é mais saudável do que eu sou agora. Ele me mandou para cá, ele diz, para procurar por nossas raízes. Eu nunca entendi esse lance de raízes. Quem se importa com raízes? Se os pais dele queriam se erradicar, eles deviam ter suas razões. Razões sérias, sei disso. Eram tempos difíceis e ficar na Irlanda teria sido um desafio. Como mudar-se para o outro lado do mundo e começar tudo de novo do zero. O que foi quase o mesmo que fiz há quase um século. Voltando para o começo então.

    A verdade é que eu nem saberia por onde começar a procurar por essas raízes. Mas acabei encontrando o Michael. Nossos avós têm conversado por telefone por muitos anos. O avô de Michael tem vivido nos EUA, somente para voltar. Sua filha Elize, a mãe de Michael, casou-se com um cara de Phoenix, então eles se mudaram para Londres com suas duas crianças, Michael e sua irmã Jennifer.

    Em resumo, como geralmente acontece depois, eu entrei em contato com o Michael pelo Facebook após pesquisar um pouco. Lembro de ter o visto somente algumas vezes na infância, e ele não era muito amigável. Ele me deu um empurrão, me jogou no chão e fez meu nariz sangrar.

    Cheguei a Dublin, onde Michael já vivia por muitos anos; estou tentando lembrar quantos escolheram a capital ao invés dos arredores de Cork, região de onde nossa família vem. Irei lá mais cedo ou mais tarde. Ou talvez não. Quando contei para o Michael sobre o pedido de meu avô, ele reagiu com um desdém. Ainda temos familiares lá, isso com certeza. Mas em todos esses anos, ele nunca sentiu a necessidade de visitá-los. Ele diz que suas raízes estão onde sua bunda está agora. Isso não é muito irlandês, como ideia. Nem mesmo americano, mas não acho que posso culpá-lo. Talvez eu não teria expressado desta maneira, mas acho que acredito na mesma maneira, no final das contas. Finjo ficar por aqui procurando por raízes que, para mim, nunca tiveram significância ou importância particular. Deixei para trás uma vida e uma história que já não pertencem mais a mim. O final do capítulo, o começo de outro. Mas, provavelmente, este novo capítulo não durará muito tempo. Ele pode já ter finalizado ou será finalizado daqui a alguns dias de qualquer maneira.

    CAPÍTULO 2

    Julie

    Levei um certo tempo para me acostumar a viver aqui. Continuo trabalhando nisso, dizendo de uma maneira bonita.

    Valerie e eu moramos na área de Rathmines, que é legal, mas um pouco cara. É bem central, com conexão para tudo, pelo menos. Tivemos sorte porque encontramos um apartamento razoavelmente acessível para alugar. É bem pequeno, mas confortável para nós, mesmo que, às vezes, a sensação de opressão me faz sair e encarar o frio lá de fora.

    Estou aqui por mais ou menos oito meses e após ter vivido alguns anos em Paris, eu precisava de uma mudança. Em Genebra, onde nasci, não tinha muito para o que retornar depois do enésimo e mais recente fora. Mas, a verdade é que senti a absoluta necessidade de encontrar um lugar sem laços. Portanto, me prevaleci com a mudança de Valerie e tentei segui-la. Inicialmente, para ajudá-la a se adaptar, apesar de que ela tinha o Trent o cuzão para protegê-la. Mais uma vez, eu não havia percebido que certos relacionamentos não protegem, mas destroem.

    Ninguém realmente nos protege. Estamos sozinhas; essa é a verdade. Estamos sozinhas. Como eu mesma no Dia dos Namorados. Eu já não acredito mais no amor. Como poderia?

    Se não fosse por algumas tragédias, minha situação seria quase cômica. Possuo uma fantástica habilidade; é inato, mas eu poderia ter refinado isso ao longo dos anos em levar fora e permanecer completamente solteira no Dia dos Namorados. Eu fui descartada no dia anterior. Também fui deixada no topo da Torre Eiffel quando pensava que meu namorado faria algo diferente. Pelo jeito que ele conferia seus bolsos de sua jaqueta e pelo olhar languido que ele me dava, eu estava quase convencida que ele se ajoelharia (ou talvez não, não vamos tão longe assim), mas de qualquer jeito… Então descobri, para meu desapontamento extremo, que ele estava procurando por seu celular e que sua nova namorada (a qual tomou meu lugar logo depois) queria saber se ele já tinha terminado comigo. Agora eu falo pouco disso, mas… de fato, talvez seja melhor não falar nada sobre isso. Contudo, era muito cedo para um pedido de casamento. Nós estávamos namorando só fazia duas semanas. Melhor desse jeito, pois eu não saberia como me livrar da situação.

    A verdade…, sim, em resumo, a verdade é que eu ainda me sinto magoada com aquilo. Machucaria qualquer um, certo? Isso me machucou ainda mais quando tomei o fora enquanto ele dirigia para uma festa. Saímos de Genebra e estávamos no meio do interior da França, após a fronteira com a Suíça. Então, eu nem podia pedir a ele para me deixar sair e desaparecer. Eu tive que lidar com a festa e esperar alguém para me levar para casa.

    A pior coisa foi a música Something about the way you look tonight, do Elton John soando ao fundo, no rádio do carro do bastardo. Aqui a letra da música contrastou tão horrivelmente com as palavras daquele monstro cínico, meu ex, que eu… prestei parcialmente a atenção no Elton e parcialmente nele. E no final, eu ri na cara dele porque tudo parecia uma piada. Então percebi imediatamente que ele não havia planejado aquilo de propósito. O idiota não sabia tão bem inglês para planejar algo tão sorrateiro. E a música não vinha de um de seus CDs, então tudo aconteceu de uma maneira pura e sadicamente aleatória.

    Esta é uma das razões do porquê, após uma breve parada em Paris, eu não retornei mais para Genebra. E não conseguia ouvir Something about the way you look tonight da mesma maneira. Ou seja, com o espírito romântico e esperançoso apropriado para a letra e ritmo da música. Quero dizer, ele a arruinou para mim! Quando a ouço, mesmo sem querer, me vejo em frente a ele, com sua expressão idiota, em seu carro no meio do nada… Sim, ele, que certamente não estava prestando a atenção na letra da música, que eu, ao invés disso, comecei a acompanhar com mais atenção do que o usual, me distraindo das palavras dele. Ele estava somente preocupado em me deixar o mais rápido possível para oficialmente se juntar com sua outra namorada que estava esperando por ele na festa.

    Contudo, essa situação repetia-se destemidamente desde o ensino médio. Portanto, eu comecei a acreditar que não importa o cuzão em questão, mas sim, sou eu o problema. Parece quase como se fosse uma maldição. Meu primeiro namorado me deixou com um bilhete no dia 12 de fevereiro.

    Portanto… na Torre Eiffel, pela letra, em música… agora eu apenas espero pelo avião e os fogos de artifício com os dizeres Adeus Julie Bonnet, irei te deixar, arranje uma nova vida. Superei isso, mas a ideia de que minha história falha por volta desta data é quase assustadora. Eu já dei o fora em alguém também, tudo bem…, mas foi em outra ocasião, pelo menos.

    Isso também significa que eu nunca consegui manter um relacionamento duradouro, apesar de tentando me convencer em acreditar nisso. E isso é um tanto triste e humilhante. Mas tento não pensar nisso agora, prefiro me concentrar na Valerie, que está muito pior do eu agora.

    No Natal e no Ano Novo, pelo menos, há uma espécie de consolo da solidariedade humana em ser solteiro. Não no Dia dos Namorados. Especialmente se você está solteiro contra a sua vontade, como Valerie e eu. Porque no Dia dos Namorados, parece que todo o universo de pessoas alegremente noivas, casadas ou em qualquer outra maneira comprometida, conspira contra você e sua inevitável, deprimente e maléfica solidão.

    Giles

    Do barulho que escuto vindo da porta quando ele procura desajeitadamente por suas chaves em sua mochila, sei que Michael estará em casa em alguns segundos. O andar térreo de nosso prédio está sendo usado por uma escola de inglês, a qual tem aulas à noite, então frequentemente encontramos a porta principal já aberta.

    Eu tento me recompor e arranjo uma expressão de aparente calma.

    — Porra! — Sim, é ele mesmo. Realmente não há mais dúvidas agora.

    Finjo procurar por uma cerveja na geladeira. Estou realmente procurando, na verdade. Assim que me viro, Michael me lança um olhar mal-humorado. Não que suas típicas expressões sejam muito diferentes disso.

    Nós não somos notadamente parecidos. A não ser os olhos, nós dois temos olhos verdes, mas isso é totalmente devido ao acaso porque nosso parentesco é bastante distante.

    Eu me viro com a garrafa de cerveja na mão e fecho a geladeira enquanto Michael joga sua jaqueta no sofá.

    — Dia de merda? — pergunto a ele, simulando indiferença. Um dia de merda é um normal para nós; está dentro de nossos padrões. O que aconteceu comigo, entretanto, não é. É algo perigosamente perto do desastre.

    — Eu arrisco perder meu segundo emprego! Aquela puta tirará vantagem disso para me dar um chute para fora!

    Eu não entendo qual é a vantagem que a puta usará contra ele. Contudo, o segundo emprego do Michael é… como posso dizer… bem, só direi. Michael é um tipo de acompanhante de damas solitárias. No meu entendimento, as damas solitárias o alugam para um tempo necessário, talvez até elas superarem sua solidão. Como se fosse uma doença, e o Michael é o remédio. A puta que ele está se referindo, ao invés, é…

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