Tratado Sobre a Graça: Uma reflexão bíblica sobre a diferença entre a graça salvadora e graça comum
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Sobre este e-book
- Jonathan Edwards
Em Tratado sobre a graça, Jonathan Edwards lança os fundamentos da obra graciosa de Deus na salvação do homem, apresentando o Espírito Santo como agente na aplicação da graça.
O autor estabelece a distinção entre graça comum e graça salvadora, desenvolve a relação da graça com o amor divino e explica a forma bíblica de apresentar a graça de modo personificado, como o próprio Espírito Santo atuando em nós e aplicando a graça conquistada por Cristo na cruz.
Somos lembrados de que a única esperança para o homem morto e perdido em seus pecados é a manifestação da graça de Deus, que opera perdão, liberdade, redenção e vida eterna.
Leia, medite e estude este livro. O Senhor Deus de toda a graça certamente o usará para sua glória, para edificação e santificação dos leitores, e para fortalecimento de sua igreja.
Jonathan Edwards
Jonathan Edwards (1703–1758) was a pastor, theologian, and missionary. He is generally considered the greatest American theologian. A prolific writer, Edwards is known for his many sermons, including "Sinners in the Hands of an Angry God," and his classic A Treatise Concerning Religious Affections. Edwards was appointed president of the College of New Jersey (later renamed Princeton University) shortly before his death.
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Tratado Sobre a Graça - Jonathan Edwards
Expressões como graça comum e graça especial ou salvadora podem ser compreendidas como formas da influência do Espírito de Deus sobre o coração humano ou como os diversos frutos e efeitos dessa influência.
Algumas vezes se supõe que o Espírito de Deus tenha alguma influência sobre a mente dos que não são cristãos verdadeiros e que as disposições, estruturas e práticas da mente que sejam de boa inclinação e que sejam partilhadas com os santos se devem, de algum modo, a alguma influência ou auxílio do Espírito de Deus. Contudo, como existem algumas coisas no coração dos verdadeiros cristãos que lhes são peculiares e mais excelentes que qualquer coisa que possa ser encontrada nos não cristãos, imagina-se que haja outra operação do Espírito de Deus, e também que o valor que os distingue decorra de maior influência e assistência do que as virtudes dos não cristãos.
Às vezes, a expressão graça comum é usada para denominar esse tipo de ação ou influência do Espírito de Deus resultante dos feitos religiosos ou morais comuns entre santos e pecadores, significando, portanto, o auxílio comum. Outras vezes, as próprias realizações morais ou religiosas resultantes desse auxílio são indicadas pela expressão.
O mesmo acontece com a expressão graça especial ou salvadora, às vezes usada para denotar esse tipo ou grau de operação ou influência peculiar do Espírito de Deus, em que as ações e as conquistas salvadoras surgem no divino ou, o que é a mesma coisa, no socorro especial e salvífico, ou então para denotar essa virtude salvadora peculiar em si mesma, que é fruto desse socorro. Essas expressões são mais frequentemente compreendidas no último sentido, ou seja, não por auxílio comum e auxílio especial, mas por virtude comum e virtude especial ou salvadora, que é o fruto desse auxílio. É desse modo que pretendo ser compreendido ao utilizar aqui essas expressões.
Nesse sentido, agora quero demonstrar que a graça especial ou salvadora não é apenas diferente da graça comum em grau, mas também inteiramente distinta em natureza e tipo, e que os homens naturais, além de não terem um grau suficiente de virtude para se mostrar santos, não têm nenhum grau dessa graça que se revela nos homens piedosos.
A evidência dessa verdade
nas palavras de cristo
Em João 3.6, passagem em que Cristo fala da regeneração, ele diz: O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito
. Ora, o que quer que Cristo queira dizer com os termos carne e espírito, é evidente e incontestável que Cristo pretende mostrar a Nicodemos a necessidade de um novo nascimento ou de outro nascimento que não seja o natural e que, a partir desse argumento, um homem que foi objeto apenas do primeiro nascimento não tem nada em seu coração que lhe possibilite entrar no reino. Ele não tem absolutamente nada daquilo que Cristo chama de espírito, seja lá o que for. Tudo o que um homem que foi objeto apenas de um nascimento natural tem não ultrapassa o que Cristo chama de carne, pois, por mais refinado e exaltado que seja, não pode ser elevado acima da carne. É claro que, com carne e espírito, Cristo aqui tenciona mostrar duas coisas de natureza totalmente distinta, que não podem ser concomitantes. Nada do que o homem pode alcançar sem nascer de novo pode ser de natureza superior à carne, razão pela qual devemos nascer de novo
. Em outros textos, fica evidente que carne e espírito significam certos princípios morais, naturezas ou qualidades inteiramente diferentes e opostos em sua natureza, como vemos especialmente em Gálatas 5.17: Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer
. E, no versículo 19: Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia
etc. Depois, no versículo 22: Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade
etc. E, em Gálatas 6.8, lemos: Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna
. Em Romanos 8.6-9: Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz
etc. E em 1Coríntios 3.1: Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo
. Desse modo, conclui-se que os homens que foram sujeitos apenas ao primeiro nascimento não têm nenhum grau do princípio moral ou da qualidade que os nascidos de novo têm, pois estes têm uma designação para o reino dos céus. Esse princípio ou qualidade não surge senão por nascimento, e o nascimento a ser obtido não é, nem pode ser, o primeiro nascimento, mas, sim, um novo nascimento. Se os homens sem designação para o reino dos céus pudessem obter algo do Espírito como obtêm da carne, o argumento de Cristo seria falso. É manifesto, segundo o raciocínio de Cristo, que aqueles que não estão em um estado de salvação não podem ter, ao mesmo tempo, esses dois princípios opostos em seus corações, um pouco de carne e um pouco de espírito, lutando um contra o outro tal como ocorre dentro dos piedosos, pois aqueles têm apenas carne.
A evidência dessa verdade
nas escrituras
Nos convertidos para a salvação, o único princípio do qual fluem os atos graciosos (que, na linguagem da Escritura, se chama Espírito e se opõe à carne) é que os outros, além de não terem um grau suficiente do Espírito, não têm absolutamente nada dele, o que é evidente, pois a Escritura sustenta que aqueles que não têm o Espírito não são de Cristo.
O texto de Romanos 8.9 diz: Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele
. E também [positivamente] que aqueles que têm o Espírito são seus. A passagem de 1João 3.24 afirma: E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu
. E o fato de termos o Espírito de Deus habitando em nosso coração é visto como um sinal inequívoco de que as pessoas têm direito ao céu, o que chamamos de penhor da herança futura
(2Co 1.5,22; Ef 1.14), o que seria diferente caso outros sem a designação da herança pudessem participar do penhor que habita neles.
Sim, o fato de aqueles que não são santos verdadeiros não terem nada do Espírito nem parte ou porção dele, se mostra ainda mais evidente, porque, além de contar com uma ação particular do Espírito,