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FIM DA LINHA

Talvez nenhum avião na história tenha sido mais famoso e icônico do que o Boeing 747 Jumbo Jet, que nasceu já com uma alcunha que se tornaria sinônimo de aeronaves de grande porte. Ao longo de 55 anos, entre o roll-out e o último avião entregue, o veterano 747 deu orgulho a dezenas de empresas aéreas, foi o sonho de viagem de muitos passageiros, estrelou diversos filmes e histórias, emprestou sua silhueta para o imaginário popular de transporte aéreo e começa a se despedir do mercado. Embora a expectativa seja a de que os 747-8 cargueiros sigam operando regularmente ao menos até meados de 2050, o último avião novo foi entregue para a Atlas Air.

O 747 Jumbo Jet, como foi apresentado pela Boeing na metade da década de 1960, surgiu em um momento de intensa atividade aeroespacial no mundo. Aliás, o ano do primeiro voo, 1969, é até hoje um dos mais importantes da história da aviação. O quadrimotor norte-americano nasceu como uma resposta à enorme demanda por transporte aéreo que despontava já nos anos 1960, quando jatos como o Boeing 707, o Douglas DC-8, o Boeing 727, o Sud Aviation Caravelle e, até certa medida, o de Havilland Comet, tornavam o mundo menor. Viagens internacionais que antes levavam vários dias nos Lockheed Constellation, Douglas DC-6 e DC-7, entre outros, passaram a ser realizadas em poucas horas. Voos entre as costas Leste e Oeste dos Estados Unidos, ou entre destinos europeus, deixaram de ter escalas. No Brasil, o Norte ficou mais perto do Sul. Porém, havia um entrave.

GUERRA FRIA

O mundo estava mais próximo e isso gerou uma demanda por transporte aéreo inédita. Mais pessoas queriam voar, em especial em países na época chamados de primeiro mundo. No bloco soviético, a aviação seguia um caminho particular, dentro de uma política de Estado que valorizava os interesses tecnocratas e não das pessoas. Ainda assim, Moscou avançava em um território inexplorado e ganhava cada vez mais vantagem: o espaço sideral.

Os russos lideravam a corrida espacial e se aproximavam cada vez mais da linha de chegada, ou seja, pisar na Lua. Os europeus terminavam de reconstruir seus países destruídos pela Segunda Guerra e o Muro de Berlim chocava o mundo ao formalmente definir que havia dois lados, o ocidente liberal e o bloco soviético. Que pesem as nuances políticas e ideológicas, muitas vezes presas a ideais, o mundo real mostrava que os dois blocos queriam garantir ao menos sua sobrevivência, mas, se possível, ter a hegemonia global.

A aviação militar avançava tão rápido quanto os foguetes que disputavam o prêmio de se chegar na Lua e além. Os Estados Unidos mantinham sua vasta presença global, que, em tempos de temor de guerra nuclear total, dentro da insana doutrina de destruição mútua assegurada, ou seja, a certeza de ambos os lados de que não haveria vencedor em um conflito atômico, exigia a capacidade de estar em qualquer ponto do planeta 24 horas por dia, sete dias por semana.

NOVO CARGUEIRO

A aviação estratégica norte--americana demandava aviões cargueiros cada vez maiores e com maior alcance. Da mesma forma, os então modernos bombardeiros B-52 e B-58 exigiam que a USAF, a força aérea dos Estados Unidos, pudesse reabastecê-los em qualquer lugar do mundo, e ainda fornecer suprimentos e armas.

Os C-141 Starlifter nem haviam ainda sido entregues e, mesmo bastante avançados, mostravam-se já pequenos demais para a demanda. Em 1964, um ano antes de serem declarados operacionais, a USAF fez um requerimento para um supercargueiro, que deveria ser maior que os C-141, C-133 Cargomaster

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