Nas sendas do progresso: Cidade, educação e mulheres (Pindamonhangaba - 1860-1888)
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Sobre este e-book
A Imprensa foi o principal veículo de divulgação das ações civilizadoras, para a sociedade em geral e para as mulheres em particular, nela se podia denunciar os 'desvios' morais femininos, ao mesmo tempo em que apresentavam modelos de mulheres, mães, esposas virtuosas, dedicadas e dispostas a tudo para manterem o bem-estar e a felicidade de seus filhos e marido.
Conciliando com as 'funções' maternas, as mulheres empreenderam várias outras atividades, que permitiram expandir sua autonomia e ampliaram suas ações e poderes. Nos jornais, e em documentos oficiais como Cartas de Liberdade, encontram-se mulheres angariando fundos pela cidade em beneficio da seca nordestina, gerenciando escolas, casas comerciais, fazendas, organizando e participando de festas religiosas, fazendo doações para as Igrejas, alforriando seus escravos, o que as colocavam como agentes de experiências múltiplas no cotidiano pindamonhangabense.
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- Nota: 5 de 5 estrelas5/5o melhor livro que eu ja li na minha vida
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Nas sendas do progresso - Gislene Alves
Gislene Alves
Nas sendas do progresso:
cidade, educação e mulheres (Pindamonhangaba - 1860-1888)
São Paulo
e-Manuscrito
2019
PREFÁCIO
Ainda que muito me orgulhe a riquíssima história dessa cidade princesa
(Princesa do Norte, segundo o cronista Emílio Zaluar em 1860), dessa terra roxa do saber e da aptidão
, conforme um dia elogiou o escritor Monteiro Lobato, confesso o fascínio, a magia que suas reminiscências nuas e cruas exercem sobre mim. O dia a dia da Pinda de outros séculos, com seus casos e causos, me seduz a imaginação de poeta.
Daí minha satisfação ao ler Nas sendas do progresso
, de Gislene Alves. Pesquisa que coloca em evidência a vida na Pindamonhangaba entre os anos 1860 e 1888. Escritos acadêmicos isentos do apelo patriótico ou do bairrismo centrado na vida de seus filhos ilustres
, o livro vem revelar aspectos e fatos que envolviam a cidade imperial, com foco na educação e na vida das mulheres, naquela já bem longe segunda metade do século XIX. A obra questiona o comportamento dos antigos moradores de Pindamonhangaba, suas resoluções e regras legais e morais de convivência.
Conheci Gislene Alves, a autora, nos anos 1980. Aparecia sempre na redação do jornal Tribuna do Norte com suas apreciadas colaborações poéticas para a Coluna Literária
. Depois fomos nos encontrar na Academia Pindamonhangabense de Letras, nos tornamos colegas acadêmicos. Hoje professora, com mestrado em História, ela me ofereceu este importante trabalho para que eu tivesse a honra de prefaciar. Creio que ao publicar esta pesquisa, meritosamente, Gislene estará colocando seu nome na literatura referente à história de Pindamonhangaba.
Para que isso se concretizasse, a historiadora foi à árdua, porém reconfortante garimpagem que experimentam os pesquisadores mais compromissados com a investigação. Peregrina incansável e sedenta de respostas, não desprezou fontes. Visitou arquivos, bibliotecas e cartórios, vasculhou vários autores (entre eles o jornalista precursor da cobertura de cidades vale-paraibanas Emílio Augusto Zaluar), garimpou periódicos (microfilmagens e encadernações). Até que sua pepita
, a pesquisa, tomasse forma e sua cintilância escancarasse de luz as mazelas da evolução da mulher pindamonhangabense.
E foi assim que Gislene Alves concluiu Nas sendas do progresso
. Obra dividida em três partes que nos proporciona contato com os aspectos progressistas da Pinda antiga; põe em discussão os ideais de uma sociedade em busca da civilidade e as controvérsias provocadas pelos acontecimentos que diziam respeito à moralidade e bons costumes; revela uma sociedade preocupada com o saneamento (moral e ambiental), principalmente da área frequentada pelos cidadãos de bem
, pelas famílias
dos senhores (fazendeiros, coronéis e possuidores de títulos nobiliárquicos); conta sobre o incômodo que sentiam com a presença de negros, escravos, prostitutas, vadios e doentes dividindo o mesmo espaço urbano.
Pelo prisma da formação, o livro nos permite observar que a mulher era educada para servir ao patriarcado (para servir de mecanismo da instrução escolar e religiosa, servir ao marido e à procriação); tinha acesso limitado à cultura e aos estudos, assim como a determinados autores literários considerados leitura perniciosa; além disso, sua participação na política ainda era tida como imprópria; já a participação e os feitos sociais e beneficentes das mulheres, esposas ou viúvas dos senhores de posses eram destacados como baseados na tríade sensibilidade/ caridade/ benevolência
.
Nas sendas do progresso
também faz referência a fatos ligados à evolução e à emancipação da mulher na Pindamonhangaba de mais de 200 anos atrás. E quando menciona que às mulheres tolhia-se o direito de sentirem os seus corpos
, de gozarem a feminilidade de ser e do ser, sendo limitadas ao orgasmo materno
, único gozo com o qual deviam se contentar, evidencia a solidez e solidão da machista ignorância da época.
A quem traz a prosa em constante e amoroso flerte com o verso, como trago eu, é impossível não concluir com uma centelha de poesia o prefácio deste livro da autora que conheci poetisa. Poesia que senti viva no desejo das mulheres, honestas e servis cidadãs, que sonhavam com a liberdade do bendito voo aos penhascos da emancipação feminina, aos vales da sabedoria e do saber, libertas das paisagens rasteiras, dos grilhões que as limitavam, as prendendo a um único e bendito compromisso: o de formar famílias e venerá-las como maior tesouro.
Também senti poesia olhando para as mulheres que moravam quase perto da estação
(o título está pronto, um dia faço o poema), constantemente identificadas nos periódicos locais como amaldiçoadas rampeiras
. Eram excluídas, mas não menos mulheres. Ganhavam a vida, a difícil vida, me perdoem o trocadilho, como vulvas de escape
. Para o bem das famílias de bem, cabia a elas aplacar os desejos sexuais impróprios de serem consumados com as senhoras esposas
. Essas pobres, denominadas rameiras
, viviam quase perto da estação, porém a elas não era permitido um lugar no trem
da dignidade feminina...
Altair Fernandes Carvalho – jornalista MTB 23.420/SP
Ao Ângelo, irmão querido,
pela inexaurível confiança nas horas mais precisas.
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas foram solícitas para a realização deste trabalho, fruto do estudo desenvolvido durante o Mestrado em História concluído na PUC-SP, a elas, o meu muito obrigada.
Colaboradores: Paulino de Jesus, Lélio de Oliveira, Sônia (PUC), Sônia Brandão, Daniel, Alênio. Acredito que todos foram especiais, e todo agradecimento será pequeno, então, como gratidão, coloquei um pouco de vossas sabedorias pelo trabalho...
Auxílio inestimável: Toda a família, em especial minha irmã Angelina, pelo companheirismo constante, até em horas inoportunas, como às 4h30 da manhã, pelas compilações na Biblioteca, pelas noites com a luminária acesa...
Alexandre Campello, pelo amor, o que tornou possível compreender minhas preocupações e ausências.
Ao leitor incansável: Daniel Camurça, no silêncio já lhe disse tudo.
Funcionários públicos das bibliotecas e arquivos por onde peregrinei: Pindamonhangaba, Taubaté, Guaratinguetá, São Paulo e Rio de Janeiro.
Funcionários particulares do 1º e 2º Cartórios de Notas de Pindamonhangaba.
Hospedagens: Na Pauliceia desvairada
me foram caras Giselda, Jussara e Cecília. Já na Cidade Maravilhosa
, Maria do Carmo e Sérgio.
Amigos e professores do Programa de Estudos Pós-Graduados da PUC.
A CAPES, que viabilizou economicamente meu trabalho.
Banca de Qualificação: As atenciosas leitoras Sênia Bastos e Estefânia Fraga, que muito contribuíram com suas sugestões.
Orientadora Maria Izilda, um desejo enorme de ter correspondido a tamanha paciência e conhecimento. Mais do que orientadora, foi uma mestra amiga, que sempre levarei comigo, pois me auxiliou na realização de um dos meus sonhos.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
I - A CIDADE E O PROGESSO: PINDAMONHANGABA
1.1 O poder das ideias
1.2 A parte sã da sociedade
1.3 Signos do progresso
II - EDUCAÇÃO FEMININA: DESAFIO CIVILIZADOR?
2.1 Maior mal: falta de instrução
2.2 Educação feminina e os caminhos da família
2.3 Educação e emancipação feminina
III - ULTRAPASSANDO OS LIMITES DA HONROSA MISSÃO
3.1 Ofendendo a moral e bons costumes
3.2 Mulheres ideais
3.3 Os ideais das mulheres
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES E BIBLIOGRAFIA
APRESENTAÇÃO
A história das mulheres, que se desenvolveu muito nos últimos 25 anos, empenhou-se primeiro em descrever seus papéis privados, tomando-as ali onde elas estavam, o que pode ter como efeito encerrá-las neles, pela repetição do mesmo. Daí o desejo atual de segui-las pela cidade, pela nação, às voltas com uma cidadania social e política que lhes é proibida, que se furta, mas que elas vão progressivamente conquistando.¹
Pindamonhangaba é uma cidade do Médio Vale do Paraíba, que na segunda metade do século XIX tinha como atividade central a produção cafeeira e outras paralelas a esta. Como outras cidades, encontrava-se à procura de um modelo de sociedade, nesse processo se apropriou do discurso do moderno
² como meta, assim, aspirava à modernidade.
Procurando compreender este processo e as representações aí construídas, focou-se a construção do ideal de mulher para Pindamonhangaba. A pesquisa destaca os múltiplos mecanismos utilizados para a construção desse ideal feminino e como as mulheres corresponderam e/ou reagiram a ele.
Para tanto, a pesquisa envolveu uma trajetória árdua. Compilando escrituras de compra e venda de escravos no 1º e 2o Cartórios de Notas de Pindamonhangaba para um curso de Demografia Histórica³, as alforrias passadas por proprietárias me despertaram atenção. Passei a querer conhecer mais estas mulheres que estavam concedendo Cartas de Liberdades, saber sobre seu cotidiano, suas experiências e para isto documentos outros se fizeram pertinentes. Ainda no 1o e 2o Cartórios arrolei algumas Escrituras de compra e venda de imóveis e Procurações, no intuito de reencontrar
as mulheres dando andamento em seus negócios.
E procurei acompanhar as mudanças pela imprensa. Neste momento, a Imprensa pindamonhangabense passava por uma fase de expansão, tendo cerca de 16 periódicos, que foram em grande parte aqui analisados, sem a pretensão de esgotar a documentação, a compilação buscou atingir um corpo amplo para exemplificar as motivações e tensões de uma sociedade que se queria moderna e as representações femininas presentes.
Os periódicos selecionados foram: Tribuna do Norte, de caráter liberal, encontrado encadernado em ordem cronológica desde sua 1a edição (1882) no Arquivo Municipal de Pindamonhangaba e alguns números avulsos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Pindamonhangabense se colocava com o caráter de imparcial, em números avulsos microfilmados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, alguns números avulsos em estado precário no Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro I e Dna Leopoldina, de Pindamonhangaba – vale lembrar que o próprio museu não está aberto ao público, o mesmo