Andrew Jefford em seu livro “Whisky Island” descreve com precisão que Islay é “selvagem, austero, intransigente: Islay é a consciência do whisky escocês”. Apesar de não estar longe da capital Glasgow ou de Edimburgo, chegar lá não é tarefa fácil, em boa parte por culpa do litoral bastante recortado. Ainda que pontes e ferry boats cumpram a função em tempos modernos, a neve em boa parte do ano e a lotação no verão, especialmente duranteaFelsIsle (festival do whisky de Islay) torna o desafio relevante.
Claro que também existe a opção chegar voando, em cômodos 45 minutos de voo. Porém (e sempre há um porém) o voo pode ser carregado de emoção. Afinal, a principal das ilhas Hébridas é conhecida por quatro recursos naturais: o vento, a chuva, as nascentes e os pântanos gramados, que formam os campos de turfa. Os dois primeiros não costumam ser amigos da aviação; ao menos não na intensidade que ocorrem por lá.
Justamente a turfa (mas não apenas ela), simboliza e caracteriza a escola de whisky de Islay. Ainda que hoje possa se controlar o teor de defumados da turfa no whisky que se deseja produzir, em Islay o produto faz parte da cultura ilhéu. Hoje se fala em ppm de fenóis (partes por milhão da presença dos fenóis que aportam os aromas defumados e medicinais), se o trufado recai mais em guaiacol (defumado), cresol (medicinal) ou eugenol (especiaria). Os poucos habitantes da ilha, hoje cerca de 3.000 pessoas, utilizavam a abundante turfa como ao carvão, isto é fonte de energia e calor para manter as casas e estabelecimentos aquecidos nos longos meses de clima frio. Nas destilarias, o calor da suas brasas inundavam os pátios onde a cevada maltada era seca antes de seguir para a fermentação, impregnando os grãos com as notas defumadas. Neste caso um produto abundante no local e empregado com savoir-faire (o saber-fazer dos franceses); familiaridades com o conceito de terroir?
Basta dar os primeiros passos em Islay e você entende a personalidade das pessoas e como isto se reflete na bebida. Já era começo de novembro, considerada baixa temporada, onde todos os cronogramas são alterados; o regime das balsas diminui, muitos restaurantes fecham, horários de atendimento nas destilarias e o fluxo de viajantes diminui. Felizmente, as mudanças climáticas produziram dias de céu azul, com amenos 5ºC de temperatura média,