Fortunato Garcia é um personagem. Dos bons. Quem, como nós, tem a oportunidade de passar algumas horas na pitoresca adega do Czar capta-lhe o coração bondoso, o olhar de menino, a vontade férrea de contrariar o impossível, a convicção inabalável nos destinos a que a Natureza, em cada ano, se predispõe. Se fazer vinho no Pico é uma loucura, insistir num vinho licoroso não aguardentado é doidice. Das boas.
Não há um enquadramento legal unânime que contextualize os vinhos Czar. Chamamos-lhe licoroso mas verdadeiramente não o é, na medida em que nada é adicionado à fermentação espontânea de uvas sobrematuradas que acabam por desdobrar o açúcar em álcool. Em tempos idos dizia-se ser vinho passado do Pico; nos próximos tempos, à luz da legislação europeia, talvez o Czar possa tornar-se no primeiro vinho português a ser reconhecido como vinho produzido a partir de uvas sobreamadurecidas.
Esta forma de fazer vinho foi particularmente proveitosa nos séculos XVIII e XIX. Os registros de exportação dos