A história ainda vai a meio
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Sobre este e-book
Isto é uma carta para ti, meu amor. Quem te escreve sou eu enquanto falas comigo sobre outra coisa que em nada tem a ver. Desculpa-me. Perdoa-me. Não sei se te amo.
Não sei se o que sinto por ti é atração. É paixão. É amor ou ódio de te perder. É não saber o que fazer com tanto amor e depositar em ti a ideia de minha amada. É saber que vou morrer sozinho, mas ficar perturbado e vir a correr para os teus braços. Não sei se é a ideia de acabar sozinho. Não sei sequer se é a ideia que alguém como tu acabe sozinha. Não sei se é da tua beleza. Se é da tua estranheza. Ou se é da minha. Não sei se é uma vitória ou uma derrota. Não sei se te estou a prender a ti ou tu a mim. Não sei qual de nós é o mais livre. Não sei se és boa de mais para mim ou eu bom demais para ti. Não sei sequer se me amas. Não sei se é dos teus olhos ou da ausência deles. Não sei se é da proximidade ou da antítese. Não sei se é amor. Não te conheço, sabes? Acho que não te conheço. E acho que tu não me conheces. Porque sim, é necessária uma atração interior. Mas eu preciso de te ver. Oh! Se preciso!
Um incrível romance de Miguel Ricardo Simões que promete comprometer os mais cépticos a sentimentos mais profundos através de sua escrita arrebatadora.
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A história ainda vai a meio - Miguel Ricardo Simões
A história ainda vai a meio
ou
Nem todos os monstros são maus
de
Miguel Ricardo Simões
Agradecimentos:
Quero agradecer a quem dispensou do seu tempo para ler este livro. É por si e para si que escrevo.
Quero também agradecer aos meus pais e à minha irmã. A toda a minha família num todo. Aos meus amigos.
Um agradecimento especial à minha avó. Este livro é teu.
Um agradecimento especial ao Vara pela força incrível que sempre teve e que sempre terá.
E para terminar, um agradecimento especial a esta pessoa que nunca irá ler este livro, mas ele foi escrito para ela, a história ainda vai a meio porque ainda mal comecei, e nem todos os monstros são maus porque ela ensinou-me a não ser tão monstruoso como era. Obrigado a ti que nunca lerás isto.
Amores (poemas):
A uma passante:
A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntuosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.
Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fina.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,
A doçura que envolve e o prazer que assassina.
Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?
Longe daqui! tarde demais! nunca
talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução, introdução e notas de Ivan
Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Lua:
Não volto a dizer que te amo até à lua
Pois da lua até aqui é pouco
Teria de dizer que me pertences nua
Juntar-se-á Vénus a Ares louco
Escondem-se os poderes de um feitiço macabro
De um lado inacabado para proteger a Terra
Eu julgo saber que é amor que a lua sente por nós
E nesse amor a minha visão ficou perplexa
Paixão:
Estou apaixonado
E faço disso caso
Não vá eu desvanecer no infinito
Procurando um destino
E querendo o melhor de mim
E querendo o melhor de ti
Acabo revelando o pior de nós
E enfim sós, onde a sós com a lua
Uma dúvida em nossas mentes perpétua
Quem és e o que queres fazer da vida?
Sou eu que te paro ou és tu que queres andar ao meu ritmo?
És tu a mais bela donzela ou espero pelo amanha?
Esperei então e numa tentativa vã de piorar a situação
De descrever a experiência como ilusão
Eis que acabo deitado ao lado dela, chamo a isto paixão.
Figura 1 - Photo by Francesco Mazzoli on Unsplash
Olhos:
Patenteio a sucinta arte de te amar
Porque das poucas aves que cantam
No momento de meu soslaio
Lembro-me de momentos vagos
E de propostas em aberto
Que ou não quiseste aceitar
Ou levavam a um destino incerto
Como que um momento de revolta
Vendo o futuro perspetivado à nossa volta
Sinto-me um ser nefasto por tudo e por nada
Se o nada é ter-te
então tendo tudo, não tenho nada
E perder a razão na confusão do quotidiano
É mais fácil do que não ter razão para falar
Dou de mim para algo tão leviano
Que os poucos pássaros da rua pararam de cantar
E se a cortina mudou de cor
E se o mundo mudou de cor
E se até a minha face mudou
Porque fazes tu parte deste meu mundo?
7 sois para 7 luas:
Não sei por onde me levas,
Leva-me para nem tu sabes onde
Simplesmente te chamo princesa
Simplesmente levanto voo
Oh Ícaro, teu sol nasceu
Umas sete vezes
Teu sol sou eu
Sobre orbita, Vénus em mim cresceu
Não choro,
Pois valentes homens em campos batalham
Meus campos são caminhos
Que para ti se espalham
Quero-te, e sei que podia
Entre ventos e sargentos
Discutir à luz do dia
Compassos sangrentos
Descarnando a música da melancolia
Suscetível:
Suscetível a problemas
E lágrimas cairão
É inevitável
Nesta nossa relação
Mas abraço e acolho
E se escolho não largo
A verdade nos teus olhos
Onde nado como no lago
Olhos verdejantes
De prado incontável
Sempre prestável
Deveras amável
Mas hoje não,
Hoje não houve entendimento
Faz parte de nós
E da nossa expressão
Nem o expressamos
Não precisamos
Sabemos que somos
E que para sempre ficamos
Mas hoje foi diferente
E pela primeira vez
Quis desaparecer
E abandona-la de vez.
Que olhos:
Que olhos são esses
De tão grande vivacidade
E de muito mais do que amizade
Dizem sistematicamente não te amo
Sem ser necessariamente verdade.
Que olhos são esses
Que de tão brilhante matéria se convertem
E a expressão que expressam os outros advertem
Um espelho de alma imaculada e sã
Basta olhar para não encontrar ideia vã
Que olhos são esses
Que nem sei de que cor são
Porque o que representam está para lá da paleta
E se algum