Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem
Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem
Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem
E-book380 páginas3 horas

Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Liedo Maranhão é um dos mais famosos pesquisadores da cultura popular nordestina, cuja principal característica é a pesquisa de campo no meio do "povão", num nível de convivência e intimidade que lhe garante a confiança de ouvir sem filtros os diversos e saborosos "causos".
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de set. de 2015
ISBN9788578583279
Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem

Relacionado a Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem

Ebooks relacionados

Biografias literárias para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Classificação Popular Da Literatura de Cordel / Que só / Marketing dos Camelôs de Remédio ou o Mundo da Camelotagem - Liêdo Maranhão

    Nota do Editor

    Visando preservar o pitoresco sabor da linguagem popular, tão bem identificada pelo pesquisador Liêdo Maranhão, optamos por manter na forma original palavras como barguilha (braguilha), hôme (homem), bebo (bêbado), buceta (boceta), grané (granel), paió (paiol), urinó (urinol), Lucifé (Lúcifer) e outras, algumas das quais não dicionarizadas, inventadas pelos poetas populares com a finalidade de rimar seus versos, como no exemplo vaca que morreu do óca, para rimar com pipoca (página 69), ou mesclatizar na estrofe Ó Santo Deus incriado/ Não deixe esse rio secar/ Do teu poder sacrossanto/ Não posso recalcitrar/ Nem da tua onisciência/ Não devo mesclatizar (página 80). Outras são usadas com um significado diverso, como a palavra recurso, empregada por camelôs do Recife para indicar um bordel. O leitor também vai encontrar palavras pouco comuns, embora empregadas corretamente, como refraneiro (que gosta de dizer gracejos), emboança (conversa fiada), ou bexiga como varíola (página 172), e ditos que fazem sentido quando se sabe que têm origem num determinado fato ou época, como Por fora que só bandeira de higiene (página 172), que deriva do costume implantado pelas autoridades de saúde de colocar uma bandeira na frente das casas onde tinha sido promovida ação de controle de pragas urbanas; ou Sujo que só guardanapo de fateira (página 166), que se refere à profissão da pessoa que vende miúdos de gado, o fateiro ou a fateira, também conhecido por tripeiro ou tripeira.

    Na boca de Liêdo Maranhão sacanagem é coisa séria

    Geraldo Freire*

    Liêdo Maranhão é o nosso grande especialista em sacanagem. Mas, fique bem claro, ele trata sacanagem com muita seriedade. Uma coisa é contar uma piada, um caso sobre putaria, viadagem, cornice – isso qualquer um faz. Outra coisa bem diferente é fazer disso tema de um estudo, com bitola e balança de pesquisador. Isso é privilégio de Liêdo, e nosso, que conhecemos sua obra e convivemos com ele.

    Para nossa felicidade, sua seriedade de estudioso não o transforma num chato, muito pelo contrário, nele convivem muito bem o faro de antropólogo e o prazer do pilheriador de primeira, capaz de matar de rir os amigos – e a si mesmo – numa pequena roda de conversa ou um público maior num auditório.

    A face mais conhecida de Liêdo é a do colecionador de putarias, do guardador de histórias de putas e frangos, do garimpeiro de palavrões.

    Segundo Boris Trindade, Liêdo não é só pornográfico, mas também pornofônico e pornomímico, porque além de escrever e falar sacanagem, seus gestos são pura sacanagem visual. Certamente dos muitos livros que escreveu causam mais impacto O povo, o sexo e a miséria ou O homem é sacana e Rolando papo de sexo: memórias de um sacanólogo.

    Isso é verdade, mas não toda a verdade. Liêdo Maranhão caminha por vários becos da cultura popular. O seu trabalho abarca outras manifestações populares, como a literatura de cordel, as astúcias dos camelôs, os preparados [remédios], a culinária, a língua e os ditos do povo, assuntos que trouxe para suas obras. Assim, Liêdo tem de ser colocado na prateleira do homem que se interessa pelo modo de vida do povo, pela criação popular, o que inclui, naturalmente, a cultura do sexo e tudo que dela se espalha.

    Interessante destacar que Liêdo não age como o pesquisador que vai ao campo, recolhe amostras de ervas e depois passa a estudá-las no ar-condicionado de seu laboratório. Ele é o trabalhador que vai ao campo regularmente e observa o desenvolvimento natural das plantas, entendendo seus frutos e pragas. E o seu campo são as praças públicas e os mercados do Recife. Conforme ele mesmo diz, Lá é o meu roçado.

    Como não é um elemento estranho no meio da gente humilde, pois frequenta naturalmente os espaços do povo, angaria a confiança dos populares, que lhe contam as histórias sem o filtro da desconfiança, poupando-o de histórias para pesquisador ouvir.

    Agora, a Companhia Editora de Pernambuco – Cepe relança três importantes livros de Liêdo Maranhão: Classificação popular da literatura de cordel, Que só... e Marketing dos camelôs de remédio ou O mundo da camelotagem.

    Em Classificação popular da literatura de cordel – livro que se tornou referência para as pesquisas acadêmicas sobre o assunto – encontramos um Liêdo sério. Ele propõe um modelo de classificação dos folhetos que se distingue da realizada por outros teóricos justamente pelo método que emprega: em vez de sentar em seu birô e agrupar os cordéis em rótulos considerando certas características comuns, vai ouvir a gente que faz – cordelistas, declamadores, editores, vendedores, mas também leitores e ouvintes – para descobrir em quais ciclos os folhetos são classificados.

    No título Que só..., parte da comparação comum nos ditos populares, como em "Mole que só beiço de boceta", o autor reúne um grande número de provérbios colhidos da boca do povo, alguns ainda quentes de recém-criados, e os organiza em seções como Poéticos, Religiosos, Pornográficos.

    Já em Marketing dos camelôs de remédio ou O mundo da camelotagem, impressionam logo duas coisas: a maneira como os camelôs se abrem e contam seus truques, e a natureza do camelô em si, um misto de falsário e artista. O poeta e xilógrafo hoje internacionalmente conhecido, J. Borges, revela a fórmula do óleo de peixe elétrico: óleo de amêndoa, cânfora, salicato de metila e terebintina. Outro camelô, de nome Fazendeiro, usa uma cobra para atrair a atenção da roda. Essa cobra eu comprei ela agora. Ela veio de um lugar tão seco que a vaca dá leite em pó... É ainda Fazendeiro quem demonstra todo o poder de convencimento dos camelôs: Essa banha só não serve para dois tipos de dor: a dor da saudade e a dor da morte. Tem também a dor de corno, mas eu sei que não tem nenhum deles por aqui.

    Tira-Teima deita sabedoria com Eu só não sei muita Gramática Portuguesa porque o senhor sabe que o Latim é uma Gramática Portuguesa mal falada. Luiz Cariri recomenda que a mentira deve ser usada com parcimônia: A mentira sem a necessidade é um crime.

    A confiança conquistada pelo pesquisador é tão grande que os camelôs em seus depoimentos revelam mais que os segredos da profissão, dando a conhecer intimidades, como faz Bacurau, que, ao comentar as diferenças com a esposa, confidencia: ... eu tinha relações sexuais com ela mais por questões humanitárias.

    Assim, com a reedição destes três livros pela Cepe, Pernambuco salda um pouco de sua dívida com Liêdo Maranhão, que é um grande sacanólogo, mas é igualmente um pesquisador importante da cultura popular, com uma vasta obra que precisa ser mais conhecida.

    * Geraldo Freire é radialista.

    p7.jpg

    APRESENTAÇÃO

    Liêdo Maranhão é, hoje, um dos maiores conhecedores da Literatura de Cordel no Brasil. Com uma particularidade: enquanto todos nós — estudiosos, como Diégues Junior, ou simples curiosos, como eu — conhecemos os folhetos como um bando de eruditos de gabinete, Liêdo Maranhão vive e convive com todo o seu estranho, pobre, fascinante, mágico e duro mundo.

    A esse respeito dou um testemunho pessoal. Logo que assumi a direção do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco — cargo que, aliás, estou deixando agora — tentei executar um plano de ajuda à Literatura de Cordel. Neste sentido, entrei em contato com José de Sousa Campos, o célebre autor de O Veadinho Encantado e O Breve da Alegria. Mas, por motivo de ordem particular, José de Sousa Campos não pôde tomar a frente do plano, para executá-lo. E como, por outro lado, eu também não tinha, nem tenho, temperamento de homem de ação, o plano morreu antes de nascer.

    Foi quando, por intermédio do grande Gilvan Samico, conheci Liêdo Maranhão que, antes mesmo de eu lhe contar a minha tentativa frustrada, me sugeriu que o DEC da UFPE tomasse a frente de uma campanha destinada a preservar a Literatura de Cordel. Concordei imediatamente, sob a condição de que o próprio Liêdo Maranhão se pusesse à frente dela, para executá-la.

    Foi daí que surgiu todo esse movimento que, sem ter resolvido inteiramente o problema, abriu, no entanto, algumas perspectivas e possibilidades de sobrevivência para os folhetos e romances do Nordeste. Repito o meu testemunho: sem a dedicação e o trabalho incansável de Liêdo Maranhão nada disso teria sido possível.

    Esclareço tudo isso para que, através desse fato, se veja como a personalidade de Liêdo Maranhão explica, não só a linha que ele e eu imprimimos ao nosso trabalho no DEC, mas, também, o aparecimento deste curioso trabalho seu que estou apresentando, aliás com muita honra para mim.

    O assunto interessa-me há bastante tempo, conforme se pode ver por alguns trabalhos já publicados e também, de modo livre e literário, no Romance d’A Pedra do Reino. Trata-se de uma tentativa de classificação do nosso Romanceiro Popular do Nordeste. Gustavo Barroso já sugeria que se dividisse esse Romanceiro em dois grandes grupos — o da Poesia Improvisada e o da Poesia Tradicional, se não me engano. Outros estudiosos, a respeito dos folhetos, falavam em ciclo do gado, ciclo do Padre Cícero, ciclo de Lampião, etc. Sugeri uma variante da classificação de Gustavo Barroso: Poesia Improvisada e Literatura de Cordel, esta com seis ciclos principais — o heroico; o satírico, cômico e picaresco; o de amor; o religioso e de moralidades; o do maravilhoso; e o histórico e circunstancial — aos quais depois, em A Pedra do Reino, acrescentei o de safadeza e putaria.

    Mas, como já disse, enquanto todos nós só nos lembrávamos de nos basear em estudiosos anteriores ou em opiniões de nossas próprias cabeças, Liêdo Maranhão foi o único que teve a ideia de pesquisar o assunto em sua fonte — o conjunto de opiniões do próprio pessoal que tem o folheto como seu meio de vida, como preocupação fundamental, portanto. O resultado foi curiosíssimo, como se pode ver pela simples leitura de sua pesquisa. E para dar uma ideia da importância que atribuo ao presente trabalho de Liêdo Maranhão sirva este meu depoimento de escritor: eu teria escrito de modo muito mais detalhado, imaginoso e seguro o capítulo O Reino da Poesia, de A Pedra do Reino, se já conhecesse, entre outras coisas, a classificação dos ciclos que Liêdo Maranhão colheu dos folhetistas e folheteiros e a distinção que eles fazem entre folheto e romance.

    Mas, felizmente, O Rei Degolado ainda está sendo escrito. E como, nesse romance, eu volto à infância de Quaderna, vou aproveitar, num folheto, as inúmeras e imaginosas ideias que nosso Povo tem a respeito do assunto e que Liêdo Maranhão reuniu neste estudo — repito, um dos mais curiosos e sugestivos que já se fizeram no Brasil a respeito disso.

    Recife, 27/9/1974.

    Ariano Suassuna

    PRÓLOGO

    Viajando do Maranhão à Bahia por feiras e mercados das capitais e do interior, em contato quase diário com poetas, agentes e folheteiros, com o objetivo de conhecer-lhes as vidas, estudar o funcionamento do comércio dos livrinhos, ouvir-lhes as histórias e verificar o gosto do nosso matuto pelo folheto, descobrimos, ao longo dos quatro anos que nos tomaram tais andanças, várias denominações para o folheto e uma classificação popular dos mesmos, de uso comum entre os próprios poetas e agentes do comércio desta literatura, classificação de uma riqueza e pitoresco que acreditamos não poderem ser encontrados em nenhum estudo erudito. Sem querer negar o valor da contribuição trazida ao estudo da literatura de cordel pela classificação francesa de um Robert Mandrou, pela espanhola de um Júlio Caro Baroja, ou pelos estudos dos nossos Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Origenes Lessa, Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo, queremos ressaltar aqui a importância desta classificação popular, por nos parecer mais abrangente que as citadas e sobretudo, por trazer a marca da autenticidade dos autores, os próprios poetas e agentes da chamada literatura de cordel.

    Introdução

    Variando de uma região a outra, o folheto pode receber as denominações de livrinho de feira, livro, obra, livro de Ataíde, estória do meu padrinho, folheto e romance.

    Em Salvador, contou-nos o poeta Rodolfo Coelho Cavalcanti que, ao chegar à Bahia em 1945 para viajar com a poesia pelo interior, perguntavam-lhe os matutos, ao se aproximarem de sua barraquinha de folhetos, se tinha o ABC de João Grilo, o ABC de Juvenal e o Dragão e, diz Rodolfo, daí lhe veio a ideia de desenvolver o texto, contando-se hoje mais de trezentos abc’s entre os que publicou sobre Getúlio Vargas, Eduardo Gomes, Monteiro Lobato, Castro Alves, Rui Barbosa, Eurico Dutra, Jânio Quadros, Carlos Lacerda, Cosme de Farias e outras figuras. Em outras regiões da Bahia, ao invés de abc’s, pediam-lhe arrecifes: Tem o Arrecife do Pavão Misterioso?, O arrecife de Juvenal e o Dragão? Diz Rodolfo que tal denominação tem origem nos folhetos do poeta João Martins de Ataíde, impressos naquela época no Recife e que se espalhavam por todo o Brasil.

    A Classificação Popular divide, inicialmente, tais publicações em folhetos e romances, de acordo com o número de páginas que possuam, reservando a denominação de folheto para os trabalhos de oito e de 16 páginas, sendo os de 24, 32, 48 e 64 páginas conhecidos como romances. Destes, os dois últimos não são mais publicados por causa do alto custo da impressão tipográfica, encontrando-se hoje originais engavetados como relíquias dos bons tempos.

    A propósito, abriremos aqui um parágrafo para registrar o fato de ter sido o poeta Delarme Monteiro Silva o verdadeiro autor das últimas estrofes dos romances que João Martins de Ataíde viria a ampliar de 32 para 64 páginas entre os anos de 1943 e 1945, quando Delarme, que fora durante oito anos revisor dos trabalhos de Ataíde, recebera deste a incumbência de escrever as páginas complementares que constituíram o segundo volume de trabalhos como A Imperatriz Porcina, O Lobo do Oceano, O Triunfo da Inocência, Perdidos no Deserto, Um Amor Impossível, História de um Pescador, O Perdão de Dulcineia, etc., entre outros tantos assinados por Ataíde e outros autores. Romances mais curtos, como Juvenal e o Dragão ou As Proezas de João Grilo, foram acrescidos de apenas oito páginas, igualmente da lavra do obscuro Delarme, que recebia de Ataíde a quantia de doze mil réis por página que escrevesse.

    Os livros do poeta Leandro Gomes de Barros, considerado por seus pares como a figura de maior grandeza da poesia popular, eram-lhe entregues por Ataíde com a advertência: Cuidado, seu Monteiro, que este livro é do velho Leandro... Mal comparando, era como se lhe fosse dada a incumbência de escrever dois cantos adicionais para Os Lusíadas ou mais um ato para o Hamlet de Shakespeare. De nada disso se gaba o poeta Delarme, que até esta data guarda em segredo o que acima revelamos e que só conseguimos extrair dele após mais de dois anos de convivência. Confissão de amigo, que nos achamos no dever de expor de público para fazer justiça à pessoa do poeta, que conseguimos arrancar de um boteco em Brasília Teimosa onde passava bicho pela dormida, digno e resignado à sua sorte. Hoje, graças a Giuseppe Baccaro, conseguimos colocá-lo na Fundação da Casa da Criança de Olinda, onde trabalha de maneira condigna, ao lado de um colega seu, o poeta Palito.

    Retomando o objetivo central destas notas, passaremos a expor a maneira em que, na terminologia utilizada na Classificação Popular, são dispostos os temas, ou seja em folhetos de conselhos, de eras, de santidade, de corrupção, de cachorrada ou descaração, de profecias, de gracejos, de acontecidos, de carestia, de exemplos, de discussão, de pelejas, das bravuras, de abc, de Padre Cícero, de Frei Damião, de Lampião, de Antônio Silvino, de Getúlio, de política, de safadeza e folhetos de propaganda.

    Folhetos

    Folhetos de Conselhos

    São folhetos de pais aconselhando os filhos, do poeta dando conselhos à mocidade sem freios, aos casados e às mulheres que são falsas aos maridos. Dentre estes, são exemplos típicos O Conselho Necessário, de Antônio Neves dos Santos; Conselhos Paternais, de José Bernardo da Silva; Porque Faz Medo Casar, de Alceu Cabral de Vasconcelos; Os Conselhos de Padre Vitor ou o Incêndio na Procissão, de Minelvino Francisco Silva; Conselhos aos Solteiros, de Manoel Camilo dos Santos.

    No folheto Exemplo dos Quatro Conselhos, diz o poeta Vicente Vitorino, ao leitor:

    "Já ouvi alguém dizer

    conselho, não vai ninguém

    mas tenho visto conselho

    guiar o homem para o bem

    gosto de pedir conselho

    sou conselheiro também".

    Fala, mais adiante, do homem que trabalhava alugado e se destinou a sair pelo mundo e só voltar para casa com dinheiro e com comida:

    "Ele saiu sem destino

    viajou um mês inteiro

    aonde foi arranchar-se

    na casa de um fazendeiro

    um velho de 60 anos

    muito rico e conselheiro..."

    Um dos folhetos mais representativos deste gênero é o Conselhos aos Solteiros, do Poeta Manoel Camilo dos Santos, onde o autor, depois de estudar o sistema planetário no Lunário Perpétuo, diz:

    De acordo aos meus estudos

    aconselho a mocidade,

    nestes versos de gracejos

    onde contêm a verdade,

    são igualmente um espelho

    e quem tomar meu conselho

    não cai em fatalidade.

    Em um Lunário Perpétuo

    depois de muito estudar

    o sistema planetário

    posso agora aconselhar,

    com o meu conhecimento

    aos jovens no casamento

    pra nenhum se enrascar.

    Começo pelos rapazes

    depois as moças também,

    pra uns servirá de mal

    e para outros de bem,

    para entrar em discrição

    imploro logo um perdão

    se acaso agravar alguém.

    Rapaz não case com moça

    corcunda e pequenininha

    do nariz arrebitado

    e a testa muito curtinha,

    tem consciência de rato

    pra quebrar tigela e prato

    é pior do que galinha.

    Rapaz não case com moça

    do corpo muito comprido,

    e tendo um nó na goela

    quem casa é iludido,

    entrega pescoço à canga

    pois essa quando se zanga

    costuma dar no marido.

    Rapaz não case com moça

    calada e impaciente,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1