A Arte da Lucidez
De Edson Alves
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Sobre este e-book
Prepare-se porque você se deparará com um texto ora terno, ora provocativo, ora generoso, ora esperançoso.
Com sua postura assertiva, o autor se expõe, escancara suas inseguranças, seus medos e carências desde a mais tenra idade quando se viu órfão aos 6 anos de idade até a vida adulta quando passou a fazer uso das diversas máscaras que o ego oferece para ocultar o Eu Verdadeiro.
Ao adquirir consciência dos artifícios e ciladas do ego, Edson não guarda apenas para si as novas percepções e ganhos, mas propõe ao leitor que estiver aberto que também faça essa mesma trajetória de autoconhecimento. Somente quem estiver disposto o acompanhará sem receios, sem erguer barreiras ou ficar na defensiva. Sim. Porque há momentos em que o autor chega a ser duro. Pode ser que a carapuça lhe sirva; pode ser você negue fazer parte do grupo a que ele se refere, ou negue fazer as coisas não tão belas que ele escancara. Enfim, um texto destinado ao corajosos, prontos ou não, para que reflitam, reconheçam e enfrentem as armadilhas criadas pelo ego.
Compreender e colocar em prática a Arte da Lucidez é entrar em sintonia com a Nova Consciência.
Permita-se e tudo em ''A Arte da Lucidez'' ecoará e fará sentido.
Kyanja Lee.
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A Arte da Lucidez - Edson Alves
Nascimento
O Nascimento do Ego
Persevero. Por ser verdadeiro, deixo fluir...
Aos quatro anos tive o meu primeiro contato com a morte ‒ meu avô paterno, José Isaias ‒, depois, aos seis anos perdi minha mãe, Ana Cecília, e, finalmente, aos dez anos minha avó materna, Cecília Maria.
Era uma vez um menino que chorava muito. Por não gostar de ouvi-lo chorar, seu pai às vezes batia nele. A mãe do menino carregava um amor imenso no coração. Porém, era um coração cansado que batia bem fraquinho. Um dia, o menino acordou no meio da noite e chamou a mãe. Chamou, chamou, mas ela não acordou. O pai também acordou ao ouvir a voz do filho, ao olhar a esposa percebeu que ela estava morta. Como ninguém sabia explicar a morte, disseram ao menino que a mãe tinha ido para o Céu. Depois de várias explicações, o menino entendeu que o Céu deveria ser um lugar muito bonito, onde só as pessoas boas vão quando morrem.
Desde então, a imagem da morte passou a ser uma cruz que eu arrastava e uma coroa de espinhos fincada na minha cabeça. De algum modo, esse sofrimento me fazia sentir importante. Claro que nunca havia feito nenhuma reflexão anterior sobre todas as leis que segui. Muitas delas eu as acatava como verdades. Não sabia como proteger as minhas verdadeiras emoções. Esse sofrimento me deixou inseguro e com medo. Somente agora, ao me aproximar dos cinquenta anos me dou conta de ainda conviver com a mesma fragilidade emocional de uma criança. O fato é que o medo não me permitia ir mais longe. Enquanto o meu lado emocional gritava por vida, o racional traçava uma linha reta ‒ o perfil de alguém tranquilo, realizado, feliz e conformado.
No entanto, vivia rodeado pelo sentimento de autopiedade que me levava ao sentimento de culpa. Essa combinação de culpa e autopiedade estava me anulando. Isso aconteceu porque o meu ego criou diversas máscaras, muitas recheadas de emoções negativas: orgulho, inveja, soberba, luxúria, insegurança, preconceito, entre tantas outras. Claro que não estava lúcido para perceber tudo isso. A lucidez é um processo permanente de reflexão, que leva o indivíduo a fazer escolhas emocionais de maneira consciente. Ou seja, o que eu escolho sentir me faz bem, não cria problemas para o outro, principalmente para mim mesmo. Se por uma razão ou outra a sua vida afetiva não flui, seus erros se repetem e você não encontra a pessoa que gostaria, então o problema é você. Por mais doloroso que seja, se tiver coragem de aceitar que você se tornou um entulho de emoções ruins, já estará no caminho certo.
O orgulho fazia com que me sentisse o centro do Universo (egocentrismo). Inconscientemente, pensava que podia suportar tudo, que era capaz de lutar sozinho. Por outro lado, me sentia injustiçado pela vida. O orgulho me cegou por muitos anos, me impediu de perceber que o desejo de ser bom para os outros era uma vaidade estúpida, funcionando como uma espécie de capataz do medo, a serviço do ego. O meu ego criou o orgulho sob o pretexto de me proteger. Porém, o que ele fez foi criar uma falsa realidade emocional, uma autoimagem distorcida. Isso era claro para algumas pessoas que entendiam a minha bondade como uma fragilidade, ou como uma atitude de soberba.
Muitas vezes fiquei triste e chateado por pensar assim também. Porém, se há algo claro e belo em mim é a minha natureza: sou naturalmente bom. Não saberia me vingar, desprezar, tratar mal, ou até mesmo prejudicar alguém agindo de modo consciente, lúcido. Sei que terei de aprender a conviver com frustações diversas. Mas sofreria muito mais fazendo algo que não é natural em mim. Ser bom é uma autorização que me dou. Claro que não vou doar o meu carro para nenhuma Igreja com o intuito de receber uma bênção divina em dobro. Isso, a meu ver, é falta de lucidez. Realmente fico triste ao ver algumas pessoas se enganando, como reflexo de um ego ganancioso. Fico triste por elas, pois sei que estão sendo iludidas.
O meu ego havia criado um mundo de calmarias. Assim, Deus funcionava como uma espécie de PROCON, com quem eu fazia os meus acordos. Estranhamente me sentia lesado pela vida. Digo estranhamente porque, querendo ou não, a vida irá fluir. Independe do que eu faça, pense ou sinta. A vida é um acontecimento, um fato. A vida é um ciclo de transformações contínuas, irreversível, necessário e inevitável. O que muda as minhas emoções é o conhecimento, ou a crença que eu tenho no momento dos acontecimentos. É uma reflexão profunda. Quanto mais lúcido, quanto mais monitoro os meus pensamentos, mais me afasto do ego (o ego vive no cartório, no banco, na busca de prazeres diversos). Quanto mais forte é o ego, mais orgulhosa a pessoa se torna.
Por que eu sofro com a ignorância alheia? Por que eu me importo quando alguém toma decisões que prejudicam a todos à sua volta, principalmente a si mesma? Por que sinto tanta responsabilidade em relação às atitudes negativas dos outros? Por que fico tão angustiado em querer mostrar a luz que eu vejo no outro, quando ele mesmo não quer enxergar? Para onde os meus pensamentos querem me levar? Sei que as minhas palavras refletem o meu caráter e a minha bondade. Nem sei quantas vezes fiquei frustrado por agir com compaixão e ser tratado com indiferença ‒ quando não chamado de hipócrita.
Enquanto desenvolvia este texto reflexivo, compreendi que emocionalmente muitas pessoas sequer foram alfabetizadas. Eu mesmo já vivi no analfabetismo emocional. Agi por ignorância (falta de conhecimento), ou seja, sem a consciência de que os meus pensamentos e, consequentemente, as minhas atitudes residiam somente em um desejo externo, em uma necessidade material. Hoje compreendo que existe uma pessoa linda, cheia de luz, dentro de mim. E por compreender isso ficava angustiado para mostrar a luz que existe no outro também. Principalmente naqueles que vejo que estão vivendo como eu vivia. O ego cria tantas máscaras que afasta a pessoa de quem ela é de verdade; depois, com o tempo, escraviza o indivíduo que quando se olha no espelho, vê o retrato da vaidade, do egoísmo, da ganância, da luxúria, do orgulho. Enfim, do sofrimento.
Esse esforço e angústia do meu ego são a projeção do meu próprio sofrimento. Por ter tido uma infância sofrida, acabei criando inconscientemente uma raiz emocional vinculada ao sofrimento, à dor e ao medo. O meu ego havia desenvolvido uma espécie de apego a essas emoções do passado e, querendo ou não, estava vivendo o meu presente com elas. É triste ver alguém de quem você gosta tendo as mesmas atitudes emocionais que você já teve e por isso sabendo das futuras consequências. Sei que cada um deve seguir as próprias escolhas, porém, é difícil ficar indiferente. Tive tantas pessoas boas no caminho que quero retribuir o que aprendi, porque sinto gratidão pela vida. Hoje tenho um pensamento muito bom para me livrar dessa emoção negativa. Não olho o outro mais como um ingrato. Considero que é alguém que ainda vive de modo inconsciente, cujo ego é tão poderoso que, além de ignorar as atitudes de bondade para com ela, ainda interpreta a bondade do outro como atitude de soberba.
É difícil não ficar chateado com a ingratidão. Se fico chateado é porque o meu ego foi ferido de algum modo; de alguma maneira estava querendo ganhar algo em troca, agindo com uma bondade vaidosa. E não por compaixão. Penso que ficar chateado com a ignorância (falta de conhecimento) emocional do outro não é inteligente. As atitudes do outro são de responsabilidade dele. Portanto, posso afirmar que os meus atos sempre foram por compaixão e por gratidão. Compreendo a ingratidão como uma doença tão devastadora quanto o câncer. A ingratidão nunca anda só, mas vem de mãos dadas com o orgulho, acompanhada da inveja e da arrogância. Pergunto-me constantemente se estou sendo ingrato. Reconheço que já fui ingrato, do contrário não poderia entender como essas emoções são prejudiciais à saúde e ao fluxo da vida.
Posso saber pouco sobre mim, mas de uma coisa tenho certeza: se rumino algo que só me leva para o passado, ao sofrimento e faz sofrer as pessoas de quem eu gosto, tenho consciência de que são pensamentos ruins. Então, simplesmente trago essa emoção para o agora, confronto com os fatos que estão acontecendo nesse exato momento. Com essa atitude mental passo a perceber que estou ansioso, deprimido, ou que a minha mente não desliga. Se tudo isso está acontecendo somente dentro da minha cabeça, de imediato identifico que o meu ego quer alguma coisa, ou está preocupado com o futuro. O ego tem no seu DNA células de medo, células de sentimento de culpa; o ego vive numa loucura tão grande que tudo que acontece é por culpa de alguém. Essa ausência total de responsabilidade que o ego cria para o indivíduo o leva à irritação por qualquer coisa,