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De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual
De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual
De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual
E-book404 páginas6 horas

De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual

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Sobre este e-book

O discernimento é imprescindível para a viagem espiritual, e é uma das qualidades mais difíceis de cultivar. Diretrizes simples e claras ajudam a separar o verdadeiro do falso e a evitar muitas das armadilhas que surpreendem o viajante. O despertar psicológico e o espiritual são inseparáveis. O conhecimento adquirido, quando praticado, se transforma em sabedoria, sabedoria real, concreta, necessária aos buscadores dos nossos tempos conturbados e abundantes. Mariana Caplan apresenta aqui o resultado de sua experiência pessoal, inteligência e honestidade, nos longos anos de pesquisa e contato com mestres originais e pouco convencionais. Esboça os fundamentos de um mundo saudável, um mundo do coração. E mostra que, embora seja uma viagem bem difícil, vale a pena.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2019
ISBN9788561080556
De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual

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    Leitura essencial para todos aqueles que buscam o discernimento necessário para o despertar espiritual.

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De olhos bem abertos - Mariana Caplan

2008.

Capítulo 1

O que é espiritualidade, afinal de contas?

Não existe a menor dúvida de que há um mundo invisível. O problema é a que distância ele está do centro da cidade e até que horas fica aberto.

– Woody Allen, Without Feathers [Sem plumas]

Quando eu tinha 19 anos e estava num avião para a Cidade do México, onde seria aprendiz de um célebre xamã asteca – imaginando a mim mesma como uma nova e promissora versão de Carlos Castañeda – escrevi em meu diário: Estou confiante que, se eu praticar pra valer, aprender todos os rituais e fizer tudo o que o xamã sugerir, estarei iluminada daqui a três anos.

Além de me apresentar aos poderosos rituais astecas e de me apresentar a pessoas excepcionais, Kuiz, o meu xamã, mostrou ser um alcoólatra que agressiva e repetidamente tentou arrancar de mim favores sexuais – o preço de seus ensinamentos. Quando demonstrei minha falta de vontade em pagar por meio do comércio sexual, ele tentou me coagir a dar-lhe os 300 dólares remanescentes que eu havia economizado para o resto do meu verão no México. Desnecessário dizer que, durante essa viagem, aprendi mais sobre obscurecimento do que sobre iluminação espiritual – e ela foi só o começo.

Kuiz foi meu primeiro mestre espiritual formal. Por sorte, não desisti dos mestres depois daquela desilusão chocante, e também não desisti depois da desilusão seguinte – nem com a que veio depois dessa. Continuei estudando com psicólogos transpessoais, deusas e feiticeiras autoproclamadas, judeus, budistas, indianos e nativos norte-americanos. Mesmo muito jovem e com pouca experiência, eu sabia que a psique e o espírito humanos eram vastos e complexos e que é preciso ter uma capacidade profunda e rara de orientação para aprender a andar pelo labirinto do mundo interior e tornar-se uma pessoa de conhecimento e sabedoria.

Embora eu não tivesse um prazo, compreendia de alguma forma que devia aprender o que mais tarde passei a ver como a necessidade de cultivar o discernimento espiritual. Descobri que havia ensinamentos e metodologias bem desenvolvidos para guiar o viajante ao longo do caminho espiritual. Mas, sendo como era uma mulher jovem com um coração faminto, eu ainda não tinha um mapa que me levasse até aquele destino fugidio ao qual desejava chegar, mas para o qual não tinha um nome. Também não tinha um manual de instruções que me ajudasse a entender como levar a minha vida. Iluminação era um termo jogado na roda a todo momento nos ambientes que eu frequentava; mas o seu significado, quem poderia me ajudar a descobri-lo, qual era o melhor lugar para o procurar, quem e o que devia ser evitado ao longo do caminho, e que armadilhas sutis havia dentro de mim, tudo isso continuava sendo um mistério profundo. O discernimento era algo que seria descoberto na base da tentativa e erro.

Agora aquela viagem ao México já tem duas décadas e acabei encontrando um mestre espiritual íntegro com quem estudei durante a maior parte da vida. Por meio de tantos erros quanto foram as tentativas, aprendi algumas coisas sobre o discernimento e também a fazer distinções entre os vários caminhos, práticas, mestres e processos internos. Embora cada jornada humana seja única – e ninguém possa trilhar o caminho no lugar de outra pessoa, nem impedir os outros de cometer os próprios erros e aprender as suas lições – é possível aprender a cultivar o discernimento. Com isso aprendemos cada vez mais a fazer escolhas cada vez mais inteligentes e efetivas e a minimizar desvios e sofrimentos desnecessários causados por falta de educação e de consciência. A lâmina do discernimento descrita em tantas tradições espirituais é nossa maior proteção no caminho espiritual.

À medida que os movimentos espirituais continuam evoluindo na cultura ocidental, há um número cada vez maior de escolas e abordagens espirituais que se concentram em aspectos diferentes da integração espiritual. Com base na sabedoria de muitas tradições e práticas, este livro oferece um modelo integral de transformação aplicável aos praticantes de todas as religiões e linhas espirituais – um modelo que leva em conta, especificamente, os tempos difíceis em que vivemos, as sutilezas envolvidas no trabalho com a mente egoica e a psicologia ocidental, e o imperativo de integrar nossa transformação em todos os níveis.

No decorrer deste livro, vamos considerar uma grande variedade de processos, perspectivas e princípios com que a maioria das pessoas que se envolvem com um caminho espiritual durante um longo período de tempo provavelmente vai se deparar. Independentemente da tradição dentro da qual fazem suas práticas, os aspirantes sinceros vão enfrentar desafios como autoengano, crises de desmoronamento e cura, e desilusão com o sonho de iluminação e com os mestres que afirmam ser iluminados. A tarefa imensa de navegar pelas complexidades de trabalhar só com a psique e o ego requer uma capacidade aguçada de discernimento.

Percepção e julgamento perspicazes, a capacidade de apreender e compreender o que é obscuro, a característica de julgar sábia e objetivamente são algumas das formas pelas quais o discernimento é definido nos dicionários mundanos. Enquanto praticantes espirituais, nossa tarefa é aprender a ver com clareza, manter os olhos bem abertos, distinguir o verdadeiro do falso e trazer para a luz da consciência aquilo que está inconsciente dentro de nós.

Nestes tempos, percorrer o caminho espiritual com clareza e julgamento criterioso pode ser uma tarefa desanimadora, e toda jornada humana traz consigo suas necessidades únicas. O supermercado espiritual está feericamente iluminado e provido com uma quantidade impressionante de mercadorias. Fazer escolhas que sejam saudáveis, alimentadoras e econômicas em qualquer ponto da sua viagem é um desafio e tanto. Mesmo aqueles que estão envolvidos com a prática espiritual há muitos anos vão se deparar inevitavelmente com o desafio de discernir, entre a miríade de práticas e mestres à disposição, qual é a opção mais efetiva para aprofundar a prática em qualquer estágio dado de sua vida.

Para iniciar nossas considerações sobre o discernimento enquanto instrumento essencial para percorrer o caminho espiritual, começamos com uma investigação do estado da espiritualidade contemporânea no mundo ocidental. Como foi que a espiritualidade e a iluminação deixaram de ser uma busca da alma e passaram a ser um grande negócio? Que propaganda da espiritualidade e da iluminação estão nos vendendo no supermercado espiritual? Por que tantos gurus admiráveis chegaram à fama e depois foram arrastados na lama do escândalo, deixando desiludidos com o caminho espiritual aspirantes que um dia foram devotos e acabaram optando por uma vida comum? Por que o Dalai Lama cativou o mundo, e por que o budismo é um caminho tão atraente e tão popular? Afinal de contas, o que é iluminação? E o que é que realmente queremos?

Nada tem tanta fome quanto o coração humano. Um desejo intenso, um anseio enorme por vida espiritual, bem como por realização e plenitude humana, fazem-se sentir tão profundamente em nós que a maioria não ousa reconhecer sua presença por medo de que ela venha a nos consumir. Sentimos um vulcão de potencialidade armazenada agitando-se por baixo da superfície de nossa consciência. Sentimos que universos inteiros existem dentro de nós. Intuimos nossa própria existência subterrânea. Estamos morrendo para nascer: para liberar em nós o potencial desatrelado, para transcender nossas limitações, para descobrir uma intimidade que saboreamos por meio da experiência de vida ou intuímos através dos sonhos. Este anseio vive em todas as fibras de nossas células.

Incapazes até mesmo de nomear essa fome, a maioria de nós simplesmente a reprime e continua tocando uma vida previsível, mecânica. Como meu amigo Zak – um produtor de filmes de Bollywood – disse-me certa vez, Não ouso fazer a primeira pergunta a mim mesmo, porque sei que ela abriria a porta para milhares – milhões – de outras e tenho medo de que ela destrua a minha vida tal como a conheço.

E poderia destruí-la, sim. Mas, para muitos de nós, chega um momento em que não podemos mais negar essa fome. O sofrimento pessoal é grande demais. A consciência nos atormenta; nossa vida não está sendo nada do que tínhamos imaginado, ou está acontecendo no plano mundano; mesmo assim, não encontramos a felicidade mais profunda que sentimos que é possível. A consciência nos atormenta e não conseguimos mais negar a necessidade de saber em que consiste nosso potencial ainda por viver. E, por isso, partimos em busca de alguma forma de orientação e prática que nos ajude a alimentar o coração faminto, e nos surpreendemos naquilo a que designam vagamente como o caminho espiritual.

Para outros de nós, parece que o caminho vem em nossa direção, insinua-se em nossa existência. Estamos simplesmente tocando a nossa vidinha comum quando uma pessoa, um livro ou uma experiência chega de repente e abala o nosso mundo, falando conosco numa voz alta demais para ignorar. Vem como uma grande revelação e, apesar disso, parece muito intimamente familiar. O caminho espiritual é assim muitas vezes. Algo aparentemente novo entra na nossa vida e, mesmo assim, sentimos que sempre esteve presente.

Quer nossa busca seja consciente, quer não, encontrar o caminho espiritual costuma ser um momento de festa no coração humano. Ele chega como um rito de passagem particular e íntimo: Fui encontrado. Também costuma trazer consigo insights ou experiências esclarecedoras. O caminho parece fácil e óbvio. Tudo quanto precisamos fazer é estudar, compreender, aquietar a mente e realizr umas práticas que, com o tempo, o autoconhecimento e uma paz de espírito duradoura serão nossos.

E Deus achou muita graça por você ter tentado ser santo um dia, escreve o místico persa Hafiz. Se tivermos sorte, os primeiros insights da vida espiritual – a maravilhosa lua de mel espiritual – vão durar tanto quanto a fase de lua de mel de um grande amor: meses, anos talvez. Por fim, é feito um acordo entre o eu limitado e o eu ilimitado, ou entre você e Deus, ou a Verdade, e então começa o trabalho profundo do caminho.

O mercado espiritual

Ao despertar o nosso interesse pelo caminho espiritual, faríamos muito bem em dar ouvidos à advertência Atenção, consumidor!, porque a espiritualidade autêntica é frequentemente cooptada e manipulada para se transformar em uma mercadoria que é comprada e vendida no mercado. A espiritualidade não é só um caminho para a liberação, a verdade e a compaixão; é também um grande negócio. A espiritualidade fundiu-se a tal ponto com a cultura capitalista que agora existe uma economia do espírito literal, que é surpreendentemente fácil de confundir com a espiritualidade genuína.

Em seu artigo Yogis Behaving Badly[Iogues mal comportados], o jornalista Paul Keegan diz que, em 2002, estimava-se em 18 milhões o número de praticantes de ioga moderna nos Estados Unidos, e que o mercado de produtos saudáveis benéficos ao meio ambiente era estimado em cerca de US$ 230 milhões. Os tapetinhos para fazer ioga podem ser comprados nas lojas das redes Kmart e Wal-Mart e até em muitos supermercados e postos de gasolina de beira de estrada – será que é para aqueles que desejam praticar âsanas [posturas] dentro do carro? Muitos retiros espirituais de grande porte oferecem cursos de tudo – de divórcio consciente a meditação com tricô – e trabalham com orçamentos de milhões de dólares. Budas de plástico podem ser obtidos em máquinas que vendem goma de mascar e, em Sedona, Arizona, marqueteiros descolados afirmam ter engarrafado o vórtice espiritual especial que dizem existir neste lugar. Em consequência do encontro Oriente-Ocidente e das tendências de globalização, intensificadas pelo consumismo que caracteriza a cultura norte-americana e seu impacto crescente sobre o resto do mundo, surgiu uma miríade de movimentos espirituais que está se espalhando por todo o mundo tão depressa quanto os McDonald’s e os Starbucks.

Se você não tem ideia da vastidão que o mercado espiritual tem de fato, vá a uma conferência importante sobre mente-corpo-espírito, ou a uma exposição do movimento Nova Era, e permita-se levar um choque, curtir muito, ficar estarrecido e fascinado pelos milhares de produtos surpreendentes e nem tão surpreendentes assim que vai encontrar lá. Há mercados enormes de artigos para o culto à Deusa, roupas espirituais e toda a parafernália da meditação e do ioga, inclusive despertadores zen, pirâmides de cristal para pôr em cima da cabeça para ativar seus chacras e objetos de plástico para ajudar a abrir os artelhos durante a prática de ioga. A lista é interminável e, além disso, existe também o mercado de livros espirituais que está supersaturado com tudo, desde romances que giram em torno da espiritualidade, mistérios, ritos e doutrinas secretas a livros de autoajuda que prometem ensinar tudo, de como se tornar um xamã a praticar sexo

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