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James Hetfield: O lobo à frente do Metallica
James Hetfield: O lobo à frente do Metallica
James Hetfield: O lobo à frente do Metallica
E-book303 páginas6 horas

James Hetfield: O lobo à frente do Metallica

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Sobre este e-book

Nas mais de três décadas em que o Metallica se manteve em evidência tanto entre as bandas de thrash metal dos anos 1980 quanto em meio aos atemporais gigantes do rock, uma figura se destacou como fator de mudança e de retorno às raízes musicais: o vocalista, guitarrista e compositor James Hetfield. A cada dramático passo da banda rumo à sua popularização e ao que muitas vezes pareceu ser o fim definitivo do quarteto, ele estava lá.

Mas o que se passa na cabeça - e na vida - desse carismático frontman? Como ele lidou com os inúmeros problemas internos do Metallica, com a morte de familiares, com seus vícios e batalhas pessoais? Com relatos de amigos e músicos de bandas contemporâneas da cena, esta biografia veio para mostrar a verdadeira personalidade do lobo à frente da alcateia mais celebrada do heavy metal.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de out. de 2014
ISBN9788582350805
James Hetfield: O lobo à frente do Metallica

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    É um livro de leitura rápida, fácil. Não oferece informações inéditas em si (isso é bastante relativo; para um leitor de primeira viagem sobre o Metallica, as informações são novas, se não é o seu caso, muito do que está dito aqui foi dito em outros lugares). Ainda assim, é bacana ler sobre uma das figuras centrais do Metallica - foi bastante divertido, já que eu adoro a banda. A minha avaliação não conta mais estrelas porque o livro fala mais do Metallica do que do James Hetfield, saindo do tema do livro.

Pré-visualização do livro

James Hetfield - Mark Eglinton

Copyright © 2010 Independent Music Press

Copyright © 2010 Mark Eglinton

Copyright © 2014 Editora Gutenberg

Título original: James Hetfield: The Wolf at Metallica’s Door

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

GERENTE EDITORIAL

Alessandra J. Gelman Ruiz

EDITOR ASSISTENTE

Denis Araki

ASSISTENTES EDITORIAIS

Felipe Castilho

Carol Christo

REVISÃO DE TRADUÇÃO

Marcelo Hauck

REVISÃO

Vero Verbo Serviços Editoriais

Eduardo Soares

CAPA

Ricardo Furtado

(sobre imagem de Paul Bergen/Getty Images)

DIAGRAMAÇÃO

Jairo Alvarenga Fonseca

PRODUÇÃO DO E-BOOK

Schaffer Editorial

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Eglinton, Mark

    James Hetfield : o lobo à frente do Metallica / Mark Eglinton ; tradução Eliel Vieira -- 1. ed -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2014.

    Título original: James Hetfield: The Wolf at Metallica’s Door

    ISBN 978-85-82350-80-5

    1. Discografia 2. Hetfield, James, 1963- 3. Metallica (Banda de rock) 4. Músicos de rock- Estados Unidos - Biografia I. Título.

Índices para catálogo sistemático:

1. Músicos de rock : Biografia e obra 782.42166092

EDITORA GUTENBERG LTDA.

São Paulo

Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I, 23º andar, Conj. 2.301

Cerqueira César . 01311-940

São Paulo . SP

Tel.: (55 11) 3034 4468

Belo Horizonte

Rua Aimorés, 981, 8º andar

Funcionários . 30140-071

Belo Horizonte . MG

Tel.: (55 31) 3214 5700

Televendas: 0800 283 13 22

www.editoragutenberg.com.br

SUMÁRIO

Prefácio, de Chuck Billy

Apresentação, de Mark Eglinton

Capítulo 1: Jamie

Capítulo 2: Entra Lars...

Capítulo 3: Mettallica

Capítulo 4: A Mansão Metallica

Capítulo 5: Kill ‘Em All

Capítulo 6: De 1984 em diante...

Capítulo 7: O Mestre

Capítulo 8: Jason, Jaymz e Eric

Capítulo 9: Doris

Capítulo 10: Liberdade ou Morte

Capítulo 11: Piloto automático

Capítulo 12: De volta à garagem

Capítulo 13: Playboy

Capítulo 14: A fonte secou

Capítulo 15: Man In The Box

Capítulo 16: Amigos de novo?

Capítulo 17: Guitar Hero

Referências e fontes bibliográficas

PREFÁCIO

Não consigo me lembrar do ano exato em que todos nós nos encontramos, mas sei que foi muito antes de o Metallica se destacar e se tornar a banda que é hoje. Como tínhamos amigos em comum, costumávamos ir a muitas festas de fim de ano e tal. Fiquei impressionado a primeira vez em que vi James tocando. Era muito bom ver aquele cara no palco. Fui à festa achando que o veria cantando e tocando guitarra e ele estava na bateria, o que me deixou de cara. Ele era ainda mais legal do que eu achava. James deixou uma grande marca na área da Baía de São Francisco, na Califórnia, com sua atitude e seu som singular. Ele costumava tocar com uma banda chamada Spastic Children, que tinha Fred Cotton no vocal. Naquela época, o negócio era zoar e se divertir. Desde o início, foi James que começou o movimento e o conduziu até o final. Na minha concepção, ele é um dos melhores, senão o melhor, guitarrista/letrista do metal, com certeza.

Consigo me lembrar do momento em que o Metallica realmente estourou. Eu estava jogando basquete na minha academia, que, por sinal, servia cerveja... Depois que o jogo acabou, passariam em primeira mão o novo vídeo do Metallica. Baixaram um telão de quase 50 polegadas e nós ficamos esperando. O vídeo começou. Aquela foi a primeira vez que vi o vídeo do Metallica de Enter Sandman. Para uma banda que nunca fazia vídeos e não se preocupava em tocar no rádio ou na televisão, eles tinham feito um vídeo da pesada! Vendo aquilo, falei pra mim mesmo: Caceta.... Naquele momento, eu soube que o Metallica seria uma das maiores bandas de todos os tempos.

Outra história sobre James e o Metallica de que nunca vou me esquecer aconteceu em um domingo ensolarado durante a nossa habitual festinha no estacionamento do estádio antes dos jogos do Oakland Raiders. Antes das partidas, a gente se encontrava para festejar. Em certo domingo, circulava um rumor de que o Metallica tocaria no estacionamento do estádio antes do jogo. Escutei aquilo e na mesma hora pensei que era boato, mas as pessoas pareciam ter certeza de que aquilo rolaria mesmo. De fato, do outro lado do estacionamento havia um caminhão-plataforma lacrado de todos os lados. Alguma coisa estava acontecendo. Quando enxerguei os carros estacionados ao lado do caminhão e vi Hetfield sair, o sorriso arreganhado no rosto dele dizia tudo... em seguida, ficamos sabendo que os caras do Metallica estavam indo para o caminhão. Minutos depois, a frente se abriu e lá estava o Metallica tocando ao vivo para as pessoas que festejavam no estacionamento do estádio antes do jogo dos Raiders. Essa experiência foi totalmente alucinante e algo que nunca vou me esquecer.

Esta é uma das coisas mais legais do James e do Metallica. Não interessa quanto se tornaram gigantescos, eles ainda fazem coisas excepcionais, como tocar para as pessoas em um estacionamento antes de um jogo de futebol americano, sem contar outros tantos shows especiais que fazem para seus fãs. Felizmente este livro vai reavivar algumas lembranças especiais sobre um dos mais carismáticos e importantes indivíduos do metal.

Chuck Billy (Testament)

APRESENTAÇÃO

James Hetfield é um virtuoso não valorizado. Seu vocal e o som da sua guitarra, juntamente com as ideias que tem para as músicas, permitiram que o Metallica deixasse de ser considerado ao lado de bandas como Motörhead e Venom e passasse a ser agrupado com Bruce Springsteen e U2. Essas são as importantes palavras de Alex Skolnick – guitarrista dos pioneiros do thrash metal, Testament, além de integrante da Trans Siberian Orchestra e de ter sua própria banda. O próprio Skolnick é um virtuoso, bem como um astuto analista do amplo mundo do rock. Embora o início da carreira de Hetfield tenha sido caracterizado por uma agressiva atividade que transformou sua banda underground na nata do thrash metal em 1986, foi o impacto de sua carreira mais recente que acabou se transformando em algo mais marcante.

Entretanto, se me perguntassem lá em 1986 se eu imaginava avaliar a carreira e a vida de James Hetfield e escrever sobre elas, tenho certeza de que a resposta teria sido não. Igualmente, se sugerissem que o sujeito nitidamente reservado que encontrei depois de um show no Edinburgh Playhouse naquele ano se transformaria em um verdadeiro ícone do rock ao lado de estrelas como Bono ou Springsteen, a resposta teria provavelmente sido a mesma.

Como se vê, muita coisa mudou nestes vinte e quatro anos e o resultado é este, a primeira biografia precisa de James Hetfield, líder do Metallica, de longe a maior banda de heavy rock da era moderna.

Doze de setembro de 1986: o Metallica e o Anthrax, banda de thrash metal de Nova York, estavam fazendo a parte britânica da turnê chamada Damage, Inc. e deixavam o público do metal boquiaberto Europa afora. Mais do qualquer outra, essa turnê serviu particularmente para apresentar o thrash metal para o público do Reino Unido, e isso causaria, a partir de então, uma mudança na estrutura da música pesada, que passaria a dar mais ênfase à velocidade e agressividade pura e simplesmente. Mas não era apenas isso, o Metallica também já tinha, à essa altura da carreira, adquirido uma queda por estruturas musicais complexas e essa combinação de inteligência e ferocidade absoluta estava se provando uma mistura matadora.

Contudo, essa não era uma turnê normal, pois Hetfield – não pela última vez, como se veria mais tarde – havia fraturado um osso, naquela ocasião, o pulso esquerdo, resultado de um acidente de skate ocorrido naquele ano ao desafiar um morro em Evaston, na Indiana. O gesso inevitavelmente descartou qualquer possibilidade de fazer gracinhas com a guitarra em várias apresentações daquela turnê.

Felizmente, John Marshal – o técnico de guitarra de Kirk Hammett, o outro guitarrista do Metallica – estava disposto e preparado para assumir responsabilidades rítmicas de algum lugar dos bastidores enquanto a banda destruía no palco, com Hetfield restrito ao vocal. Posteriormente durante a turnê, após uma inicial e compreensível resistência, Marshal foi encorajado a se juntar efetivamente à banda no palco, o que deve com certeza ter sido uma experiência surreal dado o completo frenesi com que esses clássicos shows foram recebidos. Ironicamente, a habilidade legendária como guitarrista base de precisão quase inumana foi a única coisa que não testemunhamos em primeira mão aquela noite, porém, seus vocais latidos e sua intimidadora presença de palco definitivamente deixaram uma impressão duradoura.

Como se aquela noite não tivesse sido suficientemente memorável, Hetfield e o falecido Cliff Burton, baixista do Metallica na época, foram para o bar no fim da rua da casa de shows onde alguns de nós bebiam e conversavam sobre o show. Através de uma neblina de tempo e álcool, eu me recordo vagamente de uma rápida conversa e com certeza me lembro de que Burton foi o mais atencioso dos dois, tendo Hetfield optado por uma postura mais distanciada. Não que isso importasse para nós, já que encontrar alguém da banda depois de um show que teve o poder de mudar nossas vidas era um bônus enorme. Desde aquele dia, sempre senti que nossos caminhos tinham se cruzado de alguma maneira, apesar de ter certeza de que para eles aquilo foi apenas um encontro com fãs facilmente esquecido.

Não é preciso dizer que o Metallica cru e em desenvolvimento daquela época era uma banda muito diferente do monstro que viria a se tornar, já que seu zênite comercial ainda estava a cinco anos de distância. Da mesma maneira, as personalidades envolvidas ali foram submetidas a um considerável desenvolvimento no decorrer dos anos devido ao enorme sucesso comercial que atingiram e à exposição que vem agregada a ele. Desde o início, a força motriz por trás do Metallica tem sempre sido a coligação entre Hetfield e o baterista Lars Ulrich, e essa relação no decorrer dos anos tem sido frequentemente tensionada no nível pessoal – o que não chega a ser uma surpresa, tendo em vista as suas experiências pessoais radicalmente diferentes. Apesar de tudo isso, particularmente antes de 1992, os resultados sonoros tinham sido inquestionáveis, e a influência que Hetfield teve nisso compõe parte significativa deste trabalho.

Além de reconhecer Hetfield como um guitarrista de habilidades de outro mundo, um vocalista de estatura colossal e um letrista e compositor muito subestimado, o livro também tem outro propósito que não apenas inserir o homem no panteão dos grandes e influentes músicos de rock. Ele também almeja comprovar que James Hetfield é realmente uma pessoa mais sensível e atenciosa do que a persona pública que tem sido projetada ao longo dos anos. Conhecemos bem a imagem do homem hirsuto e beberrão, que gosta de caçar e de hot rods, mas ele não é só isso.

Aqui nós tentamos entender, desmistificar e até humanizar uma lenda do rock que durante a maior parte da carreira permaneceu impenetrável... se você não é um fã da música dele, espero que goste deste livro em um nível puramente humano. Você pode até mesmo, como resultado, se pegar sendo sugado para dentro do arrebatador mundo do Metallica, e neste caso a semente terá sido plantada e meu trabalho, feito.

Foi simplesmente maravilhoso receber um suporte incondicional e generoso de tantas pessoas importantes – dentro do contexto deste livro, pelo menos –, a maioria das quais nunca encontrei em carne e osso. Sem tudo isso, esta biografia teria saído menos brutal e provavelmente sequer existiria. O heavy metal é verdadeiramente uma comunidade muito unida, em que a atitude de tratar as pessoas com respeito – um valor das antigas, talvez – resiste até hoje. Lembre-se, era uma época anterior à internet e aos telefones celulares. Informações sobre bandas impressionantes da Bay Area e shows memoráveis eram transmitidas a Los Angeles e outras áreas quase sempre via cartas entre amigos com interesses pessoais similares. Uma parte desses camaradas está aqui neste livro por esse motivo – alguns comentando acontecimentos pela primeira vez – e foi uma honra ter participado do mundo deles, mesmo que por uma pequena parte da minha vida.

Uma conversa com Joel McIver em 2005, creio eu, representa o início desta jornada. Havia acabado de ler o seu excelente Justice for all: The Truth About Metallica (se você ainda não leu, faça isso imediatamente, mas depois de ter terminado de ler este aqui, é claro), e ele tinha cometido o equívoco de colocar nele o seu e-mail...

A partir de então, mensagens esporádicas foram trocadas ao longo dos dois anos seguintes, a maioria sobre o Metallica, mas também sobre assuntos mais normais. Sem Joel – e ele sabe por que – eu não teria escrito este livro e serei sempre grato por isso. Sinceras saudações, parceiro.

Sobre os outros que ajudaram, segue uma lista que não está organizada em ordem alguma, e eles são todos importantes: Martin Roach and Dave Hanley, da Independent Music Press, Chuck Billy (Testament), pelo prefácio, Ron Quintana, Brian Slagel (Metal Blade), Bill Hale, Brian Lew, Ron McGovney, Mike Tacci, Eric Braverman, Fred Cotton, David Ellefson, Charlie Benante (Anthrax), Bob Nalbandian (Hardradio), Jerry Cantrell (Alice In Chains), Brian Fair (Shadows Fall), Malcolm Dome (Total Rock Radio), Eric Braverman, David Tedder, Katon de Pena (Hirax), John Doran and Luke Turner (The Quietus), Alex Skolnick (Testament, Trans Siberian Orchestra, e The Alex Skolnick Trio), Dave Marrs, Hugh Tanner, John Kornarens, Michael Alago, Flemming Rasmussen, Lloyd Grant, Mille Petrozza (Kreator), Lonn Friend, Bobby Schneider, Dan Beehler (Exciter, Beehler), Jeff Waters (Annihilator), Michael Wagener, Sammy DeJohn, Jim Durkin (Dark Angel), Rex Brown (Pantera, Down), Rikki Zazula (Adrenaline PR), James Arnold and Jonny Zazula.

Na esfera pessoal, as pessoas a seguir me deram inestimável apoio: Yvonne Modu, Mum, Richard e Michele, Andrew Eglinton, Jack Eglinton, Al Rutherford, Ren Rhodes, Seth Chappell, e minha crescente lista de amigos no Facebook, sem os quais eu teria gastado pelo menos metade do tempo para concluir este projeto!

Mark Eglinton

Essex, Inglaterra, 2010

CAPÍTULO 1

JAMIE

Há um debate contínuo sobre se os traços que os seres humanos carregam pela vida são determinados no nascimento, como um resultado de herança genética, ou se nós os manifestamos por conta do ambiente em que somos criados. Embora seja inteiramente possível que ambos os fatores contribuam para moldar nossa forma final, há pouca dúvida de que, nos primeiros anos da vida, as pessoas absorvem de maneira especial os efeitos do estresse e conflito familiar.

No que se refere ao ambiente, Downey, na Califórnia, é tão sem graça e desinteressante quanto muitas das outras cidadezinhas naquela área. Com uma história que remete à época da colonização espanhola, no início da década de 1770, a cidade de hoje está localizada na confluência entre várias importantes rodovias, num ponto aproximadamente vinte quilômetros a sudeste da glamorosa e agitada vida urbana do centro de Los Angeles.

Ela consiste de três áreas distintas: sul de Downey, região de classe baixa, parte central de Downey, região de classe média, e a parte norte de Downey, que é a região luxuosa da cidade. Sem a menor sombra de dúvida, Downey não faz parte do roteiro turístico tradicional de LA, apesar de a Disneylândia estar relativamente perto, na vizinha Norwalk.

Dos McDonalds abertos, o sobrevivente mais antigo que existe está localizado na Avenida Lakewood, em Downey, e está lá desde 1953. É muito representativo da identidade de uma cidade o fato de que um de seus poucos prédios que deveriam ser tombados como patrimônio histórico seja um restaurante fast-food. E para completar o cenário, o primeiríssimo Taco Bell foi aberto em Downey, em 1962. Apesar da história impregnada de folclore sobre fast-food, Downey não passa de uma pequena cidade suburbana operária.

Aproximadamente um ano depois dos moradores de Downey herdarem a parca habilidade de comer tacos em público, James Alan Hetfield nasceu, em 3 de agosto de 1963. Nesse contexto, aquele foi um ano significativo para o cenário musical de Downey, não apenas porque nascia um futuro ícone do rock, mas também porque se mudaram para lá os irmãos cantores do The Carpenters, que tinham deixado Connecticut, sua cidade natal.

Cynthia, a mãe de Hetfield – uma cantora de opereta – já tinha sido casada antes de conhecer Virgil, o pai de James. Cynthia era, como seu filho uma vez a descreveu, uma Berkley Mom, ou seja, aparentemente ela não ligava para música alta e cabelo comprido. Virgil, por outro lado, era motorista de caminhão e tinha uma pequena distribuidora. Consequentemente, Cynthia assumiu a maior parte da criação de James, já que o pai estava frequentemente ausente devido às longas viagens de trabalho e, apesar de muito conhecido como um homem gentil, era – em comparação com sua descontraída esposa – consideravelmente mais reservado e conservador.

James tinha dois meios-irmãos, Chris e Dave, que tinham 11 e 12 anos, além de uma irmã, Deandra. Era um ambiente de amor e que estimulava a criatividade. Contudo, havia um aspecto que unia todos eles... os Hetfield eram uma família de fé, e essa fé estava no ramo da religião conhecido como Igreja da Ciência Cristã. É importante conhecer pelo menos os parâmetros básicos dessa religião para melhor compreender Hetfield e a maneira como vai abordar a vida quando adulto. Apesar de presente apenas em seus anos formativos, essa fé influenciou alguns dos momentos mais importantes de sua vida e, sendo assim, essa influência não pode ser impertinentemente desconsiderada.

Frequentemente confundida com a Igreja da Cientologia, as duas são, de fato, mundos completamente separados. A Ciência Cristã compartilha aspectos com o que seria normalmente considerado Cristianismo comum (no que se refere a almejar um mundo melhor) e está relacionada a ele. O foco supremo da devoção e da crença é Deus. Fundado em 1866 por Mary Baker Eddy, de Nova Hampshire – uma mulher que suportou uma doença consideravelmente crônica na infância –, o sistema de crença sustenta, entre outras coisas, que o poder da cura está presente em todos nós, e que precisamos simplesmente recorrer a escrituras bíblicas para termos todas as respostas. A igreja também considera que o universo e toda a humanidade possuem uma natureza espiritual em oposição a serem entidades materiais. Confuso? Calma aí, há bem mais que isso...

Ela também sugere que devido à absoluta pureza e perfeição de Deus, o pecado, a doença e a morte não poderiam ter sido criados por ele, portanto não existem. Importante para os propósitos do que discutimos aqui é que ela considera um sistema de cura espiritual, de longe, preferível em relação à medicina convencional quando o assunto é tratar de enfermidades e doenças. A cura por intermédio da oração é um dogma central do sistema de crença deles (a medicina não é proibida, mas a oração é a rota preferencial para muitos). É essa limitação que se tornaria particularmente pertinente para a família Hetfield nos anos seguintes, e trata-se de um aspecto de sua criação pelo qual James expressou algum desconforto em sua vida futura.

De fato, ele deixou isso bem claro na revista Playboy quando refletia sobre sua infância em uma entrevista de 2001. Fui criado num lar que acreditava na Ciência Cristã, uma religião estranha. A regra principal é: Deus vai consertar tudo. Seu corpo é só uma casca, você não precisa de médico. Era alienante e difícil de entender. Essa perspectiva não convencional e a mentalidade restritiva em relação à medicina impactariam significativamente tanto a família Hetfield quanto o próprio James, à medida que sua vida adolescente progredia.

Quando lhe perguntaram se ele alguma vez resistiu às diretrizes impostas pela família, Hetfield, na mesma entrevista publicada pela Playboy, explicou: Uma vez, eu e minha irmã fugimos. Nossos pais nos encontraram a umas quatro quadras de casa. Eles nos espancaram pra caralho, muito mesmo.

James se dava bem com seus meios-irmãos, em particular com David, uma grande influência, já que era sete anos mais velho (Chris era naturalmente menos importante, pois já tinha ido embora da casa da família). Desde bem novo, o jovem James foi direcionado para o caminho da música, principalmente por sua mãe, que o encorajou a seguir a rota familiar e tomar aulas de piano. Elas começaram quando ele tinha 9 anos e continuaram por quase dois anos.O garoto mostrava muito potencial, mas ele mesmo confessou que não era uma experiência muito gratificante ficar tocando apenas temas clássicos. Isso era compreensível, tendo em vista que aquelas não eram as músicas que as crianças na Califórnia estavam ouvindo no rádio na época, e esse fato fez com que o piano, como era de se esperar, fosse uma distração de vida curta.

De qualquer forma, não foi uma perda de tempo total e recentemente James chegou a reconhecer a importância daquela antiga exposição a um instrumento tocado com as duas mãos, mesmo que os resultados na época não tenham sido exatamente o que ele estava procurando. Também admitiu, meio encabulado, que os biscoitos que ganhava, provavelmente um incentivo no final de cada aula, eram um grande atrativo.

Em pouco tempo o jovem Hetfield estava ficando com a cabeça virada pela bateria de seu meio-irmão mais velho, David, e pelas opções mais roqueiras e barulhentas que ela oferecia. Nessa época, David já tinha uma banda e tocava bateria regularmente em um grupo chamado The Bitter End. Era mais uma questão de quando do que de se seu irmão menor seguiria a mesma direção, armado com um novo e flamejante desejo de tocar guitarra.

Como a maioria dos jovens, James tinha suas bandas favoritas e muitas delas estavam entre as mais pesadas na época, como Black Sabbath, ZZ Top, e Kiss. Porém, se havia uma banda que, acima de todas as outras, alimentava o desejo de cair no rock ’n’ roll, essa banda era o Aerosmith.

Nessa época, o Aerosmith era uma banda de rock extravagante e com influências de blues, derivada de uma linhagem pesada de gente como o Rolling Stones. É de conhecimento geral que eles gostavam de festejar e o que se relata é que tinham uma conduta bem depravada durante os anos de 1970. Entretanto, apesar de viverem no limite, de alguma maneira eles ainda conseguiram se sustentar no palco tempo suficiente para fazerem shows ao vivo na área em que James um dia os veria (um show no LA Forum em 1978 teria sido o primeiro).

O Aerosmith tinha em Joe Perry o guitarrista de nervos de aço que definitivamente atraiu o olhar de James, e aquele era um tipo de imagem em que ele certamente podia se ver refletido. As outras bandas também foram influências, mas Perry era para James um objeto de sua ambição muito maior do que qualquer outro artista da época.

O fato de David fazer faculdade – estudava para ser um auditor independente – também foi bom para James, pois o irmão estava frequentemente fora de casa estudando. Consequentemente, sua considerável coleção de discos – que era composta não somente de bandas de hard rock, mas continha também muitos vinis de 45 rotações de rock ’n’ roll antigo – ficou à mercê do jovem James, que se aproveitou dela ao máximo e transformou a horda de vinis do irmão em sua base de influências.

Isso, contudo, não passava despercebido por David, e em uma parte do documentário Some kind of monster, lançado anos depois,

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