Estranhos íntimos
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Sobre este e-book
escrito pela psicanalista Márcia Infante e publicado pela editora Outras Letras. Com a experiência de 30 anos de prática
clínica, na escuta diária de homens e mulheres às voltas com suas questões afetivas, a autora transformou uma conversa entre amigas no ponto de
partida para a criação do livro. Desde 2006, Márcia e mais quatro amigas se reúnem para conversar sobre os mais diversos assuntos, entre eles, claro, as venturas e desventuras amorosas de jovens mulheres maduras, independentes e inteligentes. "Esses encontros e desencontros ocorrem entre homens e mulheres recém separados, separados convictos, solteiros, viúvos, amantes, na faixa etária que pode iniciar-se a qualquer momento, na medida em que se esteja vivo e aberto para novas experiências", conta a psicanalista, na introdução do livro. Como se
encontrava debruçada sobre o estudo dos relacionamentos amorosos cotidianos, ela juntou o enredo do bate papo entre amigas aos relatos de consultório e transformou-os em deliciosas histórias.
Em sua narrativa, Márcia busca mostrar os diferentes ângulos de uma relação, ora focada no "eu" como o centro do universo desta, ora na visão que temos do "outro". Os diálogos entre amantes e aquilo que só ousamos falar em pensamento – ingredientes básicos de um envolvimento afetivo – também apimentam o livro, que, em seu capítulo final, traz uma reflexão da autora sobre as histórias nele contadas.
Para quem se delicia lendo sobre casos e acasos da vida amorosa, "Estranhos Íntimos" é uma excelente fonte de curiosas situações, que, no entanto, poderiam acontecer com qualquer pessoa. "São experiências de todas as pessoas que estejam abertas para viver o cotidiano. Certamente, leitor ou leitora, ao terminar de ler, você vai dizer: já vivi essa história", conclui Márcia.
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Pré-visualização do livro
Estranhos íntimos - Márcia Infante
Créditos
Copyright © by Márcia Infante
Capa
Pedro Costa
Diagramação
Alexandre Brum
Revisão
Andrea Dutra
Produção para ebook
Fábrica de Pixel
CIP-Brasil. Catalogação na fonte
Sindicato Nacional das Editoras de Livros, RJ
I36e
Infante, Márcia
Estranhos íntimos / Márcia Infante. – Rio de Janeiro: Outras Letras, 2011. 102p.
ISBN 978-85-88642-36-2
1. Relação homem-mulher. 2. Sexo (Psicologia). 3. Encontro (Costumes sociais). I. Título.
[2011]
Todos os direitos desta edição estão reservados à
Outras Letras Editora Ltda.
Rio de Janeiro, RJ
Tel./Fax: (21) 2267-6627
outrasletras@outrasletras.com.br
www.outrasletras.com.br
A Marcelo Cancela
(em memória)
e a Rafa e Carol,
nossos filhos.
Prefácio
Homens e mulheres e suas relações são sempre motivo de indagações, habitualmente feitas de forma estereotipada e voltadas apenas para as diferenças. É certo que existem diferenças, e também é fato que diferenças assustam. Mas serão tão grandes assim ou apenas questão de invólucros?
É dito que homens são guerreiros, batalhadores, persuasivos. São, mas não podemos dizer o mesmo das mulheres? Enquanto os homens partiam para suas guerras, as mulheres ficavam para trás – durante muitos séculos, sem meios de sustentar uma família. Se a humanidade não sucumbiu, contudo, é porque essas mulheres encontraram uma forma para dar de comer e criar seus filhos.
As mulheres, por outro lado, são ditas românticas e sonhadoras... Os trovadores, poetas, romancistas, homens que sempre falaram de amor e cantaram o amor, não o são também? Há mesmo tantas diferenças?
A autora de Estranhos Íntimos relata-nos, de forma divertida e nada maniqueísta, o enredo de relações entre homens e mulheres que vivem hoje nas grandes cidades. Relações que vão assumindo novos contornos, conforme os textos sucedem. O foco da autora é sobretudo nos momentos de encontro e paixão, prazer e cumplicidade, mas que, muitas vezes – ou até por isso mesmo – não se sustentam.
O acaso, o destino ou alguma coisa faz com que homens e mulheres se encontrem e desencontrem em jogos intermináveis. Conseguem usufruir de uma intimidade, mas não conseguem deixar de ser estranhos. Os homens estão sempre atrás daquela costela que lhes foi tirada – correm atrás do próprio rabo – e as mulheres, como não é possível se sustentar só com uma costela retirada de Adão, estão sempre atrás de algo reconfortante.
Mas vamos deixar que Márcia nos conduza nas suas reflexões, pois ela é fiel à sua crença de que todos esses embates, esses encontros e desencontros, a perplexidade ante essa intimidade e estranheza, mais do que nos enfraquecer, nos oferece oportunidade para viver mais a fundo.
Maria da Glória Wanderley
Psicóloga e psicanalista
Introdução
Três homens, especificamente, instigaram-me a uma reflexão mais complexa sobre encontros e desencontros entre homens e mulheres na atualidade. Ubiratan Muarek, com seu livro A corrida do membro; Marcelo Rubens Paiva, autor de O homem que conhecia as mulheres; e Rafael Cardoso, com Entre as mulheres. Cada um a seu estilo reflete e descreve, a partir do olhar masculino, a desconstrução da identidade masculina diante de uma nova mulher
que surge no cenário das noites das grandes cidades. Esses encontros e desencontros ocorrem entre homens e mulheres recém-separados, separados convictos, solteiros, viúvos, amantes, na faixa etária que pode iniciar-se a qualquer momento, na medida em que se esteja vivo e aberto para novas experiências.
Essa reflexão baseia-se também, e principalmente, na minha prática clínica como psicanalista em consultório particular, onde diariamente escuto
homens e mulheres às voltas com suas questões afetivas. Outro pilar de suma importância nessa reflexão é o fato de eu ser mulher e ter consciência de que não estou falando delas mulheres
e sim de nós mulheres
, num texto que visa ir ao encontro de algum sentido.
Diz o dito popular que caso a mulher queira come;ar um relacionamento com um homem, ela jamais deverá dar
, isto é, ter relações sexuais com ele no primeiro encontro. Caso isso ocorra, o homem não ligará no dia seguinte e em nenhum outro dia. Esse dito, proferido por homens e, também, por uma grande parte das mulheres, confirma-se na prática, recheando a coreografia dos encontros e desencontros entre homens e mulheres na atualidade. Aparentemente o homem sai se vangloriando de ter conquistado mais uma mulher dentre tantas e, a mulher, na ressaca moral do dia seguinte, sai com a autoestima baixa, perguntando-se o que fez de errado dessa vez.
O que realmente está em jogo nesse enredo? Desconfio que o que pode estar escondido por detrás dessa cena é algo bastante diferente desses chavões que, cada vez mais, são debatidos em rodas de amigos, em bares, em livros e nos consultórios de analistas.
A hipótese que levanto é a de que pouca ou quase nenhuma diferença existe entre o tabu da virgindade e esse tabu de que a mulher não pode dar
no primeiro encontro. Ambos determinam e normatizam a prática da vida sexual da mulher.
No tempo em que o tabu da virgindade imperava no seio da sociedade, a virgindade conferia à mulher o seu valor moral, a sua índole, a sua educação e os seus requisitos para que pudesse ser escolhida como boa rainha do lar. Cabia às prostitutas a esfera do pseudodesejo e pseudoprazer. Coloco pseudo
a partir de uma referência feminina, pois como profissionais do sexo, o desejo e o prazer dessas mulheres não eram o eixo desses encontros com seus clientes.
Hoje, o tabu é o do primeiro encontro, a mulher não precisa ser virgem, mas continua não podendo expressar e viver o seu desejo sem que isso a marque moralmente.
Que diferença realmente existe entre um momento e outro? O que, de fato, a revolução sexual transformou nas relações homem/mulher? Será que o que se operou foi somente um deslocamento, tendo se mantido a mesma estrutura? Continuam as mulheres oprimidas, julgadas e depreciadas? Se a minha hipótese procede, qual a resistência que vigora?
É recorrente no discurso masculino a alegação de que ao se conquistar
uma mulher, levando-a ou sendo levado por ela para a cama no primeiro encontro, o encanto se desfaz, o mistério acaba, o homem enjoa. O prazer estaria na conquista.
Fica a pergunta: o que um homem acredita verdadeiramente ter conquistado em uma mulher em um primeiro e único encontro? Não parece lógico que seria apenas o prazer sexual alcançado por ambos a partir dessa intimidade compartilhada, pelo gozo vivido? Se a experiência é prazerosa por