O Comportamento Sexual é Aprendido?
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Sobre este e-book
A diferenciação entre os comportamentos femininos e masculinos sofre influência de múltiplos fatores, sendo eles genéticos, sociais, culturais e individuais, os mais mencionados pela Psicologia. Desse modo, serão abordadas as multiplicidades que recaem sobre a constituição do sujeito, exceto a última obviamente, porque diz respeito à subjetividade particular e deve ser analisada de maneira individual, variando de pessoa a pessoa. Ademais, as outras influências que se manifestam no comportamento humano referente à seleção e à escolha de um parceiro serão abordadas.
Diante disso, considera-se que o ser humano é equipado biologicamente com genes herdados dos antepassados, que induzem os homens a apreciarem determinadas características nas mulheres e vice-versa. No entanto, para além das predisposições genéticas que influenciam homens e mulheres na hora de escolher um parceiro, a maneira como a sociedade se constituiu e criou regras sociais a serem seguidas também influenciou os comportamentos humanos, os distinguiu de acordo com o gênero e sua aprovação é relativa ao fato de ser homem ou mulher. Assim, determinados comportamentos são considerados femininos e incentivados socialmente a serem reproduzidos pelas mulheres, já outros são considerados masculinos e incentivados entre os homens pela sociedade, comportamentos esses presentes também na hora de escolher um parceiro tido como adequado.
Por fim, serão abordados conceitos referentes ao conservadorismo, ao patriarcado e ao moralismo social, a fim de contextualizar o leitor sobre os fatores históricos que socialmente foram impostos e têm implicações na maneira como pensamos hoje em dia.
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O Comportamento Sexual é Aprendido? - Bruna Benício Rodrigues
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro aos meus familiares, em especial à minha mãe, Célia Benício, em quem me inspiro diariamente como ser humano e modelo de professora humanizada e empática que desejo me tornar, e foi quem apoiou minha carreira acadêmica desde o início da graduação; à minha madrinha, Lígia, que demandou esforços durante vários dias debatendo ideias sobre aplicativos de relacionamento comigo e enviando reportagens que contribuíram para a elaboração da minha proposta de mestrado. Agradeço os ricos e pacientes ensinamentos do meu orientador de mestrado, Prof. Sandro Caramacshi, que exerce a docência com ânimo e fez com que eu viesse a admirar ainda mais as pesquisas científicas.
Agradecimento
Agradeço à ciência psicológica e aos estudos sociais em geral, que me tornaram mais crítica, menos conservadora e moralista a cada trabalho lido.
Como diria Frida, eu não me Kahlo
(Kell Smith)
Apresentação
De acordo com Polippo, Ferreira e Wagner (2016), Figueiredo (2016) e Silva (2006), a maior diferença existente entre homens e mulheres está presente no comportamento sexual e na escolha de parceiros amorosos.
Diante disso, a curiosidade sobre essas condutas distintas entre os sexos e as explicações que o senso comum apresentava sobre elas não me convenciam. Portanto, decidi me dedicar ao estudo das relações amorosas e às múltiplas influências que distinguem o comportamento entre homens e mulheres. Durante a minha graduação, somente os fatores sociais foram abordados sob esse viés. Então, ao realizar uma revisão de literatura, constatei que as pesquisas científicas brasileiras pouco dão ênfase aos fatores biológicos e genéticos que estão presentes no comportamento humano e as grades curriculares universitárias, em sua maioria, não contemplam disciplinas significativas sobre o tema. Perante isso, decidi pesquisar a fundo ambas as implicações que recaem sobre o ser humano e após a conclusão do mestrado na área, venho explaná-las neste livro.
Pretendo, no decorrer da obra, desmistificar os tabus sociais que recaem sobre a sexualidade humana e as diferenças existentes entre homens e mulheres no exercício dela e na escolha de parceiros por meio de evidências científicas que contemplem desde os fatores genéticos e biológicos relacionados à atratividade, os fatores hormonais que se manifestam e agem de modo diferente de acordo com o sexo, até os fatores sociais e culturais que influenciaram na maneira de o ser humano interpretar e lidar com a sua sexualidade, de acordo com o que lhe foi imposto como moral e correto a ser seguido. Nesta última perspectiva, será explanada a influência dos processos históricos passados.
Os dados da pesquisa apresentados neste livro foram coletados a partir de um questionário semiestruturado (Anexo 1) aplicado em 210 estudantes universitários, o qual visou obter informações a respeito das relações amorosas permeadas pelo uso dos aplicativos de relacionamento e do perfil de seus usuários.
Sumário
1
As construções sociais sobre gênero e a maneira de lidar com a sexualidade 15
2
As manifestações genéticas que se expressam na
sexualidade e influenciam na seleção de um parceiro 25
3
O que é o feminismo? 31
4
Aplicativos de relacionamento e a contemporaneidade das relações humanas e amorosas 57
5
Dados obtidos na pesquisa da autora 67
6
Discussão dos dados 87
7
Conclusão 95
Referências 99
Anexo 1 105
ÍNDICE REMISSIVO 115
1
As construções sociais sobre gênero e a maneira de lidar com a sexualidade
Atualmente, o que se sabe é que o ser humano é constituído por uma multiplicidade de fatores referentes aos aspectos sociais e culturais, genéticos e biológicos, além de subjetivos e individuais. Apesar de não sabermos ao certo a porcentagem exata e a influência no indivíduo de cada um deles, sabemos que eles estão presentes e se manifestam em todos nós. Portanto, abordamos inicialmente neste capítulo a influência da cultura e da sociedade na construção do sujeito e, no capítulo seguinte, explanamos os fatores genéticos e biológicos.
Neste capítulo, um ponto fundamental a ser esclarecido é a diferença existente entre sexo biológico e gênero. O primeiro (sexo biológico) diz respeito ao órgão genital que se tem, isto é, caso você nasça com um pênis é nomeado como um sujeito do sexo masculino, por sua vez, se nascer com uma vagina, do sexo feminino.
A definição de gênero, por outro lado, está permeada por fatores sociais e culturais, ou seja, no decorrer da história humana e da civilização foram-se estabelecendo regras sociais, condutas morais e comportamentos considerados bons modos a serem seguidos a depender do sexo do sujeito, com isso, atribuíram-se condutas ideais a serem realizadas por mulheres e outras diferentes a serem desempenhadas por homens. Simplesmente um determinado grupo inventou essa distinção que antes não existia e lançou-a socialmente, como um modelo correto e único a ser seguido a depender do seu sexo.
Diante disso, diferenciaram-se as vestimentas (vestidos, joias e maquiagem para as mulheres; gravatas, cintos e suspensório para os homens), os trejeitos considerados adequados a depender do gênero (a mulher deve ser delicada, falar baixo, ter uma boa coordenação motora fina para exercer os trabalhos domésticos; os homens, ao contrário, devem ser grotescos, falarem alto e terem uma coordenação motora grossa para executarem os trabalhos externos ao lar), a maneira de lidar com a sexualidade (os homens misticamente foram considerados hipersexualizados e as mulheres assexuadas) e, obviamente, a forma de se relacionar consigo mesmo e suas relações com o mundo, pautadas em seu gênero. Para exemplificar, reflita sobre uns trechos conhecidos popularmente na cultura brasileira, que representam os valores sociais que recaem sobre o gênero e influenciam na nossa interiorização dos valores sociais, isto é, ao nascermos nos deparamos com um mundo já pronto que, a partir do simbólico e da linguagem, nos ensina como devemos agir, nos comportar, pensar e até sentir:
− Todo homem trai – é um mito popular divulgado amplamente de modo que passa a ser compreendido como natural e inerente ao homem. Isso se reforça socialmente com a música do funkeiro MC Mascote chamada Tem que ter uma amante
em que o refrão se repete: O homem de verdade tem que ter uma amante
(TEM QUE TER UMA AMANTE, [2000?]).
− Mulher só pensa em dinheiro – existe em contraponto, a expectativa cultural de ser a mulher materialista e facilmente agradada quando recebe joias ou presentes. Desse modo, desvaloriza-se seus sentimentos (de traição, por exemplo) e remete ao inconsciente coletivo de não se importar com o sexo a ponto de relevar facilmente uma traição, reproduzindo o mito de ser assexuada, como mencionado acima. A cantora Valesca rebate a música anterior e propaga os valores culturais construídos cantando a música chamada Um otário para bancar
em que o refrão diz: Ele chega no baile de cordão e celular, quando vê uma gatinha ela corre para azarar, mas no final na conta é um otário para bancar. Mulher de verdade quer um otário pra bancar
(UM OTÁRIO PARA BANCAR, 2005).
Pode parecer pouco científico até então, mas isso é Psicologia e mais especificamente, Psicologia Social. Perceba como os exemplos citados de