Educação em casa, na igreja, na escola: Uma perspectiva cristã
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Idolatria do coração Nota: 4 de 5 estrelas4/5Certas ideias e suas consequências: aluno Nota: 2 de 5 estrelas2/5
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Educação em casa, na igreja, na escola - Filipe Fontes
Educação em casa, na igreja e na escola, de Filipe Costa Fontes © 2018, Editora Cultura Cristã
Todos os direitos são reservados.
F683e Fontes, Filipe
Educação em casa, na igreja, na escola / Filipe Costa Fontes. – São Paulo: Cultura Cristã, 2018
176 p.
Recurso eletrônico (e-Pub)
ISBN 978-85-7622-935-3
1. Educação cristã 2. Teologia prática I. Título
CDU 27-47
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé
, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.
Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP
Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099
www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br
Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
SUMÁRIO
PREFÁCIO
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
PARTE 1
O QUE É EDUCAÇÃO CRISTÃ? ESCLARECENDO E APROFUNDANDO O
ENTENDIMENTO DE UM CONCEITO
1. PRIMEIROS PASSOS
Educação formal e educação informal
2. UM CONCEITO EM CONFUSÃO
Educação cristã e educação secular
Educação cristã e educação secular: duas formas de educação
3. EDUCAÇÃO E RELIGIÃO
Educação laica e educação confessional
PARTE 2
UMA PERSPECTIVA CRISTÃ DA EDUCAÇÃO:
FAMILIAR, ECLESIÁSTICA E ESCOLAR
4. EDUCAÇÃO CRISTÃ: DEUS COMO PONTO DE REFERÊNCIA
O agente da educação
O conteúdo da educação
O propósito da educação
5. A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM CASA
A importância da educação familiar
A família e a instrução
Uma palavra sobre o culto doméstico ou familiar
A família e a correção
A família e a supervisão
Uma palavra sobre Homeschooling e educação clássica
6. A EDUCAÇÃO CRISTÃ NA IGREJA
A missão da igreja
A missão e as atividades da igreja
Os alvos da educação eclesiástica
Sugestões um pouco mais práticas
para a educação eclesiástica
Uma palavra sobre a Escola Dominical
Uma palavra aos professores do Departamento Infantil
Uma palavra sobre culto infantil
Uma palavra aos líderes de adolescentes e jovens
7. A EDUCAÇÃO CRISTÃ NA ESCOLA
A natureza e o desafio de uma escola cristã
A cosmovisão cristã e as disciplinas escolares
Artes e cosmovisão cristã
Ciências e cosmovisão cristã
Educação física e cosmovisão cristã
Geografia e cosmovisão cristã
História e cosmovisão cristã
Línguas e cosmovisão cristã
Matemática e cosmovisão cristã
O cristão na escola secular
O professor cristão na sala de aula da escola secular
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ENDOSSOS
PREFÁCIO
Educação é um tema central para os cristãos, questão evidenciada pela grande comissão (Mt 28.18-20), quando Jesus indica que a mensagem do evangelho deveria ter no ensino o ponto focal de transmissão de todas as coisas que os discípulos haviam aprendido. Ali estavam todos os cristãos representados, ouvindo essa diretriz. E assim tem sido através dos séculos. Em todos os seus aspectos, o ensino tem sido valorizado pela fé cristã, começando na família, estendendo-se à igreja, mas também no aspecto mais abrangente da educação escolar cristã.
Na Reforma do século 16, há um novo despertar para a importância do ensino. Em 1524, em uma carta Aos Conselhos de todas as Cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs
, Martinho Lutero escreveu: Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus e nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado que cometemos contra as crianças, quando não as educamos
. E substanciando o papel crucial e importante do professor, ele adiciona: Para ensinar e educar bem as crianças precisa-se de gente especializada
.
Quando o evangelho foi semeado no Brasil colonial, ele veio junto com a ênfase ao ensino e à educação. Ashbell Green Simonton (1833-1867), o primeiro missionário presbiteriano, em seu último sermão, proferido no Presbitério do Rio de Janeiro, quatro meses antes de sua prematura morte, delineou Os meios necessários e próprios para plantar o Reino de Jesus Cristo no Brasil
. Entre os cinco pontos desse sermão, dois falavam diretamente sobre o ensino. Um enfatizava a importância da literatura. O último tratava especificamente do estabelecimento de escolas
, para que os filhos dos fiéis fossem propriamente educados. Em seguimento a esse propósito, muitas escolas presbiterianas foram fundadas no país. Mas, obviamente, quando Simonton trata dos outros três pontos, vida exemplar, convite para a igreja e evangelização pessoal, e a pregação, ele também está falando do ensino, por exemplo, por palavras ou pela proclamação pública.
Educação é, portanto, uma atividade multiforme, que envolve a família, a igreja e a escola. Neste livro, o Prof. Rev. Filipe Fontes, mestre de muitos educadores e com o respaldo de estar envolvido no ensino e produção de literatura educacional, aborda a educação nessas três áreas. Com precisão cirúrgica ele esclarece os diferentes aspectos, não somente definindo-os, mas também especificando a abrangência e os limites de atuação de cada uma dessas três esferas.
No desenvolvimento desta obra, o autor não se furta a abordar temas contemporâneos e polêmicos, como, por exemplo, o homeschooling e a chamada educação clássica, que têm encontrado um ressurgimento no interesse de muitos cristãos, não somente no exterior, mas também no Brasil. O tratamento dado pelo Rev. Filipe Fontes é centrado no apreço e na utilização da Palavra de Deus como alicerce. Tendo-a como fio de prumo, ele aborda todas essas questões, procurando tirar da Bíblia suas conclusões e prescrições debaixo da vontade prescritiva de Deus. Sua exposição é, ao mesmo tempo, inteligível e prática, bem como erudita e acadêmica, eivada de pertinentes citações daqueles que têm se debruçado sobre a questão do ensino, tema tão crucial em nossos dias, para pais, educadores e para a igreja de Cristo.
Sendo essa uma área que tem galvanizado a minha atenção e produção nas últimas décadas, não poderia ter satisfação e privilégio maior do que ver mais um livro lavrado pelo Rev. Filipe Fontes sobre educação e ensino, nos quais encontro convergência de ideias e propósitos. Muito me honra prefaciá-lo. É bom, também, ver que ele termina conclamando mais cabeças pensantes de pais, líderes eclesiásticos e pessoas envolvidas com a educação escolar a que, despertados pela pertinência de uma visão cristã da educação, dediquem-se à aplicação dos princípios levantados no livro. A esse chamado, adiciono o desejo de que muitos também se empenhem na pesquisa e na continuidade de produzirem mais livros como este, para que o povo de Deus possa ser devidamente orientado na formação das gerações vindouras.
Solano Portela
AGRADECIMENTOS
Enquanto preparava este texto, eu pensava sobre quantas pessoas foram importantes para que ele existisse; pessoas que, ao longo de minha história, foram instrumentos de Deus em minha educação.
Os primeiros foram meus pais, Paulo Fontes e Eliane, que, dentro de suas possibilidades, não mediram esforços para me proporcionar as melhores condições educacionais. Recordo-me, com gratidão, de seus esforços para me manter em boas escolas, mas nada me faz tão grato quanto a lembrança do ambiente de disciplina e admoestação do Senhor (Ef 6.1-3) criado por eles em nosso lar. De vez em quando, ainda me lembro do dia em que, ainda criança, fui levado por eles à casa de alguém a quem eu havia ofendido para pedir perdão; e de outro em que recebi o castigo
de memorizar uma grande quantidade de versículos bíblicos referentes a um pecado que estava se tornando comum em minha vida infantil. A esses filhos de Adão resgatados por Cristo (meu pai e minha mãe), minha mais sincera gratidão. Creio que devo estendê-la à Pauliane e Paulo Jr. (meus irmãos), companheiros neste ambiente, bem como à Lenice (minha esposa), Ana Lívia e Daniel (meus filhos), as pessoas com quem eu mais tenho aprendido, ultimamente.
Depois da família, devo boa parte de minha formação à igreja. Foram algumas até aqui: a Primeira Presbiteriana de Governador Valadares e a de Barra de São Francisco, que me receberam em um tempo do qual tenho pouquíssimas recordações; a do Bom Jardim, em Ipatinga, e a Filadélfia, em Governador Valadares, que me aturaram nos anos difíceis da adolescência; a Igreja Presbiteriana Ebenézer de São Paulo, que me recebeu na juventude, viu nascer minha família e me colocou no ministério pastoral; e a da Freguesia do Ó, que tem sido meu rico ambiente de aprendizado nos últimos três anos. Muitas pessoas poderiam ser nomeadas aqui, representando as tantas que me abençoaram nestas igrejas. Eu até que tentei escolher, mas sempre que pensava em alguém, a sensação de estar sendo injusto com outros tomava conta de meu coração. Então, optei pelo agradecimento geral: irmãos do caminho, obrigado pela enorme contribuição em minha formação.
Na escola, foram muitos os professores, e há vários por quem nutro carinho especial. A escolha de nomes aqui foi tão difícil quanto a do parágrafo anterior, mas o tema do livro me deu o critério objetivo de que precisava para escapar da sensação de injustiça. Assim, na pessoa do Rev. Wilson Santana Silva, meu professor de Educação Cristã no Seminário JMC e, à época, um de meus maiores incentivadores à reflexão e à continuidade nos estudos acadêmicos, minha gratidão a todos aqueles que, ao longo de minha vida escolar, plantaram em mim o apreço pelo conhecimento.
Não poderia deixar de mencionar, neste espaço, os responsáveis por minha introdução no ambiente de reflexão a respeito da educação cristã escolar: o Rev. Mauro Fernando Meister, o Presbítero Francisco Solano Portela e a Professora Débora Bueno Muniz Oliveira. Nomeando-os, agradeço aos colegas do Sistema Mackenzie de Ensino, ACSI, ANEP, e do movimento de educação cristã escolar no Brasil, de modo geral, que constroem o ambiente colaborativo de pensamento sem o qual muitas das reflexões deste texto jamais teriam sido feitas. Minha gratidão também ao Rev. Davi Charles Gomes, ao Rev. Wellington Castanha de Oliveira, ao Presbítero Everton Levi Matos do Nascimento, ao Rev. Daniel Albuquerque de Freitas, e ao Rev. Tarcízio José de Freitas Carvalho; pessoas com quem o diálogo, neste aspecto particular, tem sido fundamental para a elaboração de minha visão de educação.
Algumas pessoas me ajudaram com a leitura deste manuscrito. Rev. Allen Ribeiro Porto, Rev. Bruno Manoel Souza Santos, Rev. João Batista dos Santos Almeida, Sandro Barbosa Benevides, Thais dos Santos Castanha de Oliveira e Lenice Laitz Cardoso Fontes, suas contribuições foram preciosas; vocês também merecem meu muito obrigado.
Finalmente, sou grato a Deus, origem, meio e fim de todas as coisas, sem o qual, certamente, este livro não seria possível. A ele honra, glória e louvor.
INTRODUÇÃO
Este é um texto didático. Ele foi escrito, originalmente, para as aulas da disciplina de Educação Cristã, ministrada no curso de especialização em Teologia Prática no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Seu propósito primário, portanto, é ensinar. Essa é a razão de sua estrutura analítica, natureza sistemática e preocupação com a clareza e distinção das ideias.
O livro é composto de duas partes. A primeira, formada de três capítulos, procura definir educação cristã. Ela parte do pressuposto de que este é um conceito cuja definição é, geralmente, confuso e superficial e que necessita, portanto, de maior clareza e profundidade. Nossa esperança é a de que essa primeira parte contribua para que tal necessidade seja diminuída.
A segunda, composta de quatro capítulos, apresenta uma perspectiva cristã da educação. Entre os capítulos que compõem essa parte, o primeiro (capítulo 4) oferece uma discussão geral sobre o agente, o conteúdo e o propósito da educação. Basicamente, ele procura mostrar quais são as maiores implicações da verdade bíblica de que Deus é o ponto de referência de nossa existência (Rm 11.36) para a nossa atividade pedagógica.
Os capítulos seguintes trabalham com a atividade de cada um dos agentes secundários da educação.
O capítulo 5 trata da educação cristã familiar. Ele defende a importância da família na educação de um indivíduo e procura delinear as principais atividades dela no cumprimento de sua tarefa pedagógica. Contém uma breve tratativa sobre o culto doméstico ou familiar e outra sobre o Homeschooling e a educação clássica.
O capítulo 6 trata da educação cristã eclesiástica. Ele argumenta em favor da educação como uma tarefa essencial da igreja no cumprimento de sua missão, e procura oferecer algumas sugestões para a elaboração de um programa de educação cristã eclesiástica. Incluímos nesse capítulo, um breve tópico sobre a Escola Dominical, uma palavra aos professores de crianças e um tópico sobre uma questão bastante polêmica na atualidade – a do culto infantil
, além de breves orientações para líderes de adolescentes e jovens.
O capítulo 7 trata da educação cristã escolar. Ele procura definir a natureza de uma escola cristã, discutindo, de maneira mais aprofundada, o seu desafio. O objetivo desse capítulo é convencer o leitor de que uma escola cristã é, não apenas um empreendimento importante, mas também possível. Incluímos nesse capítulo um tópico sobre uma questão espinhosa, embora bastante comum: a atuação do professor cristão na escola secular.
Além de didático, este texto é introdutório. Logo, não tem a pretensão de esgotar as discussões deste universo que é a educação cristã. O seu interesse é apresentar ao leitor esse conceito, oferecendo um entendimento mais claro, mais profundo e mais abrangente dele, e familiarizá-lo com uma abordagem cristã da educação, levantando questões importantes que carecem de maiores discussões e desenvolvimentos. Se, de alguma forma, isso for conseguido, ficaremos satisfeitos.
Não é fácil definir educação cristã. Em parte, porque não é fácil definir educação. Etimologicamente, ‘educação’ vem do latim Educare¹ e tem o sentido de criar, alimentar, ter cuidado com, instruir.²
Popularmente, o termo costuma ser utilizado em dois sentidos. O primeiro é o de bons costumes. Pessoas de fino trato nos relacionamentos são, comumente, denominadas educadas, o que revela que o termo educação costuma ser entendido em termos de sabedoria prática e procedimento pessoal. O segundo, tão comum quanto o primeiro, é o de instrução. Também costumam ser denominadas educadas, pessoas que receberam boa formação, demonstram habilidade reflexiva e se expressam com desenvoltura. Isso revela que o termo educação também costuma ser entendido como conhecimento intelectual. Nesse sentido, um sinônimo frequente de educação é cultura. O indivíduo educado frequentemente é chamado de culto.
Esses dois usos que fazemos do termo educação estão adequados à sua definição, como ficará mais claro ao final da primeira parte deste texto. Isso, no entanto, já pode ser percebido na definição que assumimos, preliminarmente, como ponto de apoio para os nossos primeiros passos em direção a uma definição detalhada, segundo a qual, educação é:
(…) um conceito genérico, mais amplo, que supõe o desenvolvimento integral do ser humano, quer seja da sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do caráter e personalidade social.³
Essa definição geral de educação chama a nossa atenção para duas questões importantes. A primeira é a de que educação tem a ver com o desenvolvimento do ser humano. O que desejamos esclarecer com isso é que a educação é um movimento, um processo. Ela é o meio pelo qual o homem se torna o que ele ainda não é. É importante evidenciar que, ao contrário do que defende grande parte das perspectivas pedagógicas contemporâneas – principalmente as de matriz antropológica darwinista –, na perspectiva cristã, a educação não é responsável pela humanização
do homem. Para a antropologia cristã, o que o homem se torna como produto da educação não é outra coisa completamente diferente daquilo que ele já é. A educação é o meio pelo qual dimensões estruturais da natureza humana são desenvolvidas e vêm a florescer.⁴
A segunda questão para a qual a definição geral que assumimos preliminarmente nos chama a atenção é a de que a educação é dirigida ao ser humano de modo integral. Se antes definimos educação como o processo pelo qual dimensões estruturais de nossa existência humana são desenvolvidas, agora devemos nos perguntar: que tipo de habilidades humanas são potencializadas por meio da educação? Estaremos corretos se respondermos a essa pergunta incluindo os mais variados tipos: as habilidades físicas, emocionais, intelectuais, morais, espirituais, e tantas quantas ainda possam ser apontadas como constituintes de nossa humanidade. Não é por acaso que, frequentemente, encontramos o termo educação acompanhado de qualificativos, compondo expressões que se referem ao desenvolvimento