Histórias a quatro mãos
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Sobre este e-book
Comecei a leitura dos contos e, em poucos segundos, me vi imersa na vida de muitas famílias brasileiras, em lugares comuns de nossas cidades, em fatos que se repetem no dia a dia de todos nós.
As narrativas tematizam os aprendizados que a vida simples dos lares e da pequena cidade fizeram, no passado, a consciência histórica do presente de homens e de mulheres que reconhecem que a luta diária contra a opressão e o abandono do indivíduo na sociedade continua, agora na forma de discurso-arte.
[...]
Maria Aparecida Rodrigues
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Histórias a quatro mãos - Lacy Guaraciaba Machado
Lacy Guaraciaba Machado
Histórias a
quatro mãos
Goiânia-GO
Kelps, 2020
Copyright © 2020 by Lacy Guaraciaba Machado
Editora Kelps
Rua 19 nº 100 – St. Marechal Rondon
CEP 74.560-460 – Goiânia-GO
Fone: (62) 3211-1616
E-mail: kelps@kelps.com.br
homepage: www.kelps.com.br
Capa
Frei Nazareno Confaloni
Pintura ao óleo sobre tecido – 1973
Obra registrada no raisonné do artista
Preparação de originais
Gabriela Azeredo Santos
Programação Visual
Victor Marques
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
BIBLIOTECA MUNICIPAL MARIETA TELLES MACHADO
DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito da autora. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2020
Aos nossos colegas e alunos do
curso de Letras da PUC - Goiás.
E minhas mãos são agora
as asas da ave escura
que fugindo à ventania
acolheu-se em minha face.
[...]
Há sombras que passam, fantasmas que vão,
que vêm, que choram, que riem, que me beijam...
Há um livro aberto
Na minha mesa:
[...]
e você, meu Anjo-da-Guarda,
nunca me disse seu nome,
pra eu fazer um poeminha pra você.
Jorge de Lima
Sumário
A terceira margem: do imaginário artístico e das memórias perdidas (Maria Aparecida Rodrigues)
Dedilhando (Divino José Pinto / Lacy Guaraciaba Machado)
PARTE 1 – Lacy Guaraciaba Machado
Des(a)fio
Sonho interrompido
Nisso acredito
De(s)amparo
Des(pre)tensão
(Des)verdades
Sonhos solitários
PARTE 2 – Divino José Pinto
Duas cenas, um cenário
Dia de eleição
Desilusão
Visita
A noiva mal assombrada
Cachorro louco
Três momentos
SOBRE A AUTORA
A terceira margem: do imaginário
artístico e das memórias perdidas
Ler o livro de contos Histórias a quatro mãos, de dois críticos de obras de literatura, Lacy Guaraciaba Machado e Divino José Pinto é como percorrer e recuperar trilhas conhecidas de nossa infância, de nossas cidades do interior, de nossos cotidianos familiares, os nossos sonhos de liberdade, e, por fim, viajar por paisagens de nossa própria memória.
Comecei a leitura dos contos e, em poucos segundos, me vi imersa na vida de muitas famílias brasileiras, em lugares comuns de nossas cidades, em fatos que se repetem no dia a dia de todos nós.
As narrativas tematizam os aprendizados que a vida simples dos lares e da pequena cidade fizeram, no passado, a consciência histórica do presente de homens e de mulheres que reconhecem que a luta diária contra a opressão e o abandono do indivíduo na sociedade continua, agora na forma de discurso-arte.
Nos contos de Divino José, o leitor acompanha as buscas do narrador, sua viagem pelo passado, suas descobertas e revelações, e sente-se maravilhado com a possibilidade de resgatar o próprio tempo perdido, lendo e relendo as páginas passadas sob novos e surpreendentes ângulos, semelhante aos fragmentos do conto Duas cenas: um cenário
:
Do alto daquela casca de arroz, me lembro, podíamos avistar muito longe, lá onde a estrada ficava estreita e desaparecia feito cobra, no mato [...]. Lá sim, os carros eram pequenos, a poeira, a fumaça, o barulho quase inexistiam. E nossos olhos se deleitavam naquela paisagem que vinha abraçar as ruas da cidade, [...] (PINTO, p. 55).
O leitor segue os fios tecidos que recuperam o sentido de tudo que as personagens viveram e, nele, o leitor vê o reflexo de sua própria existência. Não se trata de regressar ao passado, o que é impossível, pois o contar passa a instrumento de reconstrução do mundo. O contar põe em cena fatos reais, cuja significação depende do que deles se apreende.
As narrativas de Lacy tematizam o encontro: da família, dos indivíduos, da mulher, e elabora, disfarçadamente, uma crítica ácida ao abandono dos filhos e das mulheres pelo pai e pelo marido, levando o leitor a refletir sobre um paternalismo sem causa e sem razão de ser. A voz feminina reina com força total e explora a necessária busca da liberdade da mulher, prisioneira do discurso opressor da imagem do pai e repressor de sua liberdade física íntima, como no trecho do conto Des(a)fio:
Você sabe que uma quarentona assim, perdida de intimidades esquecidas, sente-se vigiada se não esqueceu o doce hábito de amar, imbuída de desejos incertos [...]. Meu avesso foi mostrado. [...]. Como esquecer ali a minha intimidade? (MACHADO, p. 26-27).
No entanto, o desejo de liberdade não pressupõe perder os elos que constituem o encontro, embora pressuponha a marca da opressão à sexualidade feminina. O eu e o outro formam o uno. São contos que procuram representar o cotidiano feminino do século XXI.
Nos dois casos, a memória é meio e fim da leitura. Lacy cria o elemento surpresa pela recorrência discursiva e recupera os ditos populares sob