A verdadeira história de Bimba, o bambambã do colégio
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Sobre este e-book
A verdadeira história de Bimba, o bambambã do colégio conta a história de um garoto de 15 anos e sua turma barra-pesada, conhecida no colégio como "a galerinha do mal". Para se afirmar, Bimba inventa milhares de histórias, transformando-se numa lenda viva da escola e ídolo da garotada. No livro, ele é "o cara que transa com milhares de garotas, que arma todas e nunca é pego, saca de futebol a drogas pesadas, sempre se dá bem, nunca dança... Enfim, o bambambã do colégio". Mas no final do ano, na noite de reveillon, ele percebe o quanto está sufocado pelo personagem que criou e resolve se libertar. Afinal, é muito fácil enganar os outros, difícil é enganar a si mesmo.
O livro narra, com muito bom humor, as confissões do narrador-personagem diante do computador. Escrever a verdade, somente a verdade, foi a maneira que o garoto encontrou para iniciar o seu plano de desmascarar o bambambã. E, para cumprir a promessa que fez para si mesmo, Bimba toca em assuntos como preconceito, bad boys, medo de não ser aceito pelo grupo, bullying, drogas e outros temas espinhosos, enquanto relembra as aventuras e armações da galera no colégio com uma narrativa espontânea e divertida.
Em linguagem ágil e coloquial, bem ao gosto do público adolescente, Bimba oscila entre o medo de perder o status de líder da galera e de ser ridicularizado por todos; a vontade de poder voltar a ser ele mesmo e, quem sabe, finalmente, conquistar o amor da única e verdadeira dona do seu coração, a Tânia, "mesmo ela não sendo a garota mais gostosa do colégio". É por este menino em busca da sua essência que o leitor torce a cada página, esperando que, assim como ele, outros adolescentes consigam experimentar a liberdade de ser o que são, independentemente do que os outros vão pensar, e assim se afirmar diante do grupo e da própria vida.
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A verdadeira história de Bimba, o bambambã do colégio - Ricardo Hofstetter
1
Meu nome é Bimba. Quer dizer, meu apelido é Bimba. O meu nome... melhor não falar, odeio meu nome! Prefiro Bimba mesmo. Eu estudo no colégio... melhor não falar também. Não quero queimar ninguém, nem me queimar.
Hoje é dia 31 de dezembro. Daqui a pouco não será mais. A galera lá fora está gritando, comemorando a chegada do ano-novo. Eu estou trancado no meu quarto pensando se vou nessa festinha de reveillon na casa do Babalu. Não tô muito animado. Será que eu tô deprimido? Não, esse negócio de depressão é pra zémané! Comigo não tem dessa. Só tô desanimado. Só isso. Mas por quê?... Acho que sei por quê...
O problema é que eu me meti numa grande cilada. A minha vida virou uma grande cilada. E não sei como sair dela. Eu explico. Vou começar pelo meu apelido, Bimba. Vem de bimbada. Todo mundo sabe o que é dar uma bimbada, né? É isso mesmo: transar, ir pra cama, fazer amor, fazer sexo, trocar o óleo... Me chamam de Bimba porque eu tenho fama de bimbar muito. Sou o maior bimbador do colégio! Mas é só fama. Eu ainda sou virgem. Pode rir. Também acho esquisito: 15 anos e ainda não mandei ver! Todos os meus amigos já transaram. Aliás, acho que não tenho amigos de verdade. Tenho companheiros de zoação, galera de armação, de programas. Mas amigo de verdade, acho que não tenho nenhum. Depois explico por quê. Agora só vou falar do meu apelido.
Como todos os meus amigos já tinham transado há muito tempo, eu ficava na maior vergonha de assumir que ainda era virgem. Por isso inventei um monte de histórias: que transei com todas as minhas primas (não tenho prima nenhuma), com as empregadas lá de casa (faz tempo que não temos uma), com a caixa do supermercado perto do colégio (a gente ficava conversando sobre gramática, ela fazia supletivo e tirava dúvidas comigo). E todo mundo acreditou. Acho que sou um bom fingidor. Finjo tão completamente que chego a fingir que é dor a dor que sinto de verdade. Li isso em algum lugar, não sei onde. Só que exagerei na mentira e acabei virando ídolo da galera: o cara que mais bimbou no colégio, um fenômeno! Por isso passaram a me chamar de Bimba.
Quer dizer, o cara que mais bimbou no meu colégio, ídolo da galerinha do mal, é virgem! Por aí já dá pra sentir o nível da galera do meu colégio, né?
Acabei inventando um personagem pra mim, o Bimba: o cara que transa com milhares de garotas, que arma todas e nunca é pego, que sabe das bocadas, saca de futebol a drogas pesadas, que sempre se dá bem, nunca dança... Enfim, o bambambã do colégio.
Lembro bem quando essa história começou. A galerinha do mal tava entrando numa de fumar cigarro. Eu não gostava, não via muita graça e tinha um pouco de medo de acabar viciado. Dizem que cigarro é a droga que mais vicia. Neguinho insistiu pra que eu fumasse. Eu falei que já tinha fumado e tinha sido uma barra largar depois. Não queria mais saber disso. E fiz uma cara de quem sofreu muito por causa do vício. Neguinho acreditou, sei lá por quê! Devem ter me achado superexperiente, vivido, com minha cara de ex-tabaco-addict-sofredor. Alguns até desistiram de fumar por causa da minha experiência traumática
com o tabaco. Cara, como é fácil enganar os outros!
Foi aí que tudo começou. Quando vi que a coisa dava certo não me controlei mais. Mentir e coçar é só começar! Inventei tudo quanto é história! Era tanta história que nem que eu tivesse 40 anos poderia ter vivido tudo aquilo. Mas nunca ninguém parou pra fazer as contas e sacar que nada daquilo era possível. Neguinho é muito ruim em matemática mesmo!
A galera passou a me respeitar: eu era o cara que já tinha experimentado todas, que sabia das coisas, virei uma lenda viva. Só que acabei numa sinuca de bico: com a fama que tenho agora, não posso mais abrir o jogo com ninguém, seria uma decepção pra galera, eles podem me linchar se souberem a verdade! Minha vida virou um inferno. Sou obrigado a representar o tempo todo, fingir uma coisa que não sou. Se bem que acho que todo mundo lá no colégio finge ser uma coisa que não é. Até os professores. Mas os outros, pelo menos, devem ter alguém pra quem não precisam mentir. Eu não tenho ninguém. Estou sozinho no mundo com a minha mentira. E parece que não tem volta: vou ter que morrer com esse personagem que inventei. Por isso tô achando a minha vida um saco! Nunca posso ser eu mesmo! E eu tô cansado do Bimba...
Acho que não vou à festinha do Babalu, não. Amanhã conto pra galerinha do mal que a caixa do supermercado me ligou, querendo passar o reveillon transando comigo, e eu, claro, topei na hora. Mais uma mentira!...
Não! Chega! Pelo menos aqui, na frente desse computador, só vou escrever a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. É! Vai ser bom demais! Sabe o que é isso, cara?! Poder falar tudo o que vem na cabeça, sem segurar nada?! Estou adorando escrever! Dane-se a festinha do Babalu! Vou passar o reveillon fazendo uma coisa que não faço há muito tempo: falando a verdade! Só eu e você, computador! E a verdade! Nada mais que a verdade! Vai ser demais! Demais!
2
Mas vou escrever o quê?! Sobre o quê?!... Bom, seja lá o que for, vai ter que ser a verdade, nada mais que a verdade. Isso já tá decidido. É isso que eu mais tô gostando nessa onda de passar o reveillon trancado aqui no meu quarto: a verdade.
Já sei! Vou contar a verdadeira história do Bimba, o bambambã do colégio. Cara! Parece até nome de livro: A verdadeira história de Bimba, o bambambã do colégio...
, não, o nome do meu colégio eu não vou contar. Nem o meu nome, que é muito ridículo. Me perdoa, computador, mas essa vai ser a única verdade que não vou contar. Essas duas: meu nome e o nome do meu colégio. Mas o resto, vou contar tudo, tudo o que aconteceu esse ano, como foi de verdade! Lá vai!
No meu colégio só tem figura. Uma galera muito maluca, sempre numa de curtir, zoar com os outros e