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A chama dentro de nós
A chama dentro de nós
A chama dentro de nós
E-book386 páginas4 horas

A chama dentro de nós

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Sobre este e-book

Seriam as reviravoltas do destino e as feridas do coração capazes de apagar para sempre a chama que há dentro nós? Logan Silverstone e Alyssa Walters não têm nada em comum. Ele passa os dias contando centavos para pagar o aluguel, sofrendo com a rejeição dos pais e tentando encontrar um rumo para sua vida caótica. Ela, por outro lado, parece ter um futuro brilhante. Um dia, porém, um simples gesto dá origem a uma improvável amizade. Ao longo dos anos, o sentimento que os une se transforma em algo até então desconhecido para os dois. Alyssa e Logan não conseguem resistir à atração que sempre sentiram um pelo outro e finalmente descobrem o amor. Mas uma tragédia promete separá-los para sempre. Ou pelo menos é isso que eles pensam.
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento3 de mar. de 2017
ISBN9788501110251
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    Pré-visualização do livro

    A chama dentro de nós - Brittainy C. Cherry

    Tradução de

    Meire Dias

    1ª edição

    2017

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    C449c

    Cherry, Brittainy C.

    A chama dentro de nós [recurso eletrônico] / Brittainy C. Cherry ; tradução Meire Dias. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro : Record, 2017.

    recurso digital

    Tradução de: The fire between high and lo

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN: 978-85-01-11025-1 (recurso eletrônico)

    1. Ficção americana. 2. Livros eletrônicos. I. Dias, Meire. II. Título.

    17-39540

    CDD: 813

    CDU: 821.111(73)-3

    Título original:

    THE FIRE BETWEEN HIGH AND LO

    The Fire Between High and Lo © Brittainy C. Cherry 2016

    Esta obra foi negociada pela Bookcase Literary Agency.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais da autora foram assegurados.

    Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.

    Produzido no Brasil

    ISBN: 978-85-01-11025-1

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    Atendimento e venda direta ao leitor:

    mdireto@record.com.br ou (21) 2585-2002.

    Para aqueles que têm uma chama dentro de si,

    que se esforçam por um futuro melhor.

    Para aqueles que precisam saber que seus erros

    do passado não os definem.

    Este livro é para vocês.

    Sumário

    Prólogo

    Parte um

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Parte dois

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Epílogo

    Agradecimentos

    Prólogo

    Alyssa

    O garoto de moletom vermelho ficou me olhando na fila do caixa.

    Eu já o tinha visto muitas vezes, inclusive mais cedo naquela segunda de manhã. Todos os dias, ele e os amigos ficavam à toa no beco atrás da mercearia onde eu trabalhava. Sempre os encontrava ali quando meu patrão me mandava amassar caixas para jogá-las fora.

    O garoto de moletom vermelho estava ali todos os dias com seus amigos. O grupo era barulhento, fumava cigarros e falava muitos palavrões. Ele se destacava dos demais, pois os outros davam risadinhas e gargalhadas. Ele parecia mudo, como se sua cabeça estivesse longe dali. Seus lábios quase nunca se moviam; eu me perguntava se ele sabia sorrir. Talvez ele apenas existisse em vez de viver.

    Às vezes nossos olhares se cruzavam, e eu sempre desviava o meu.

    Eu não conseguia encarar seus olhos cor de caramelo, pois eram mais tristes do que os de qualquer pessoa da sua idade. Profundos, com olheiras e linhas de expressão, mas, ainda assim, ele era bonito. Uma beleza exausta. Nenhum cara deveria parecer tão cansado ou tão bonito, tudo ao mesmo tempo. Apesar de jovem, ele aparentava ter vivido cem anos de sofrimento e ter enfrentado conflitos pessoais muito piores do que os da maioria das pessoas. Sua postura o denunciava: ombros caídos, cabeça baixa.

    Mas nem tudo era desanimador.

    Seu cabelo castanho escuro estava sempre perfeito. Sempre. De vez em quando, ele pegava um pente pequeno e passava pelas mechas como se fosse um daqueles carinhas dos tempos da brilhantina, da década de 1950. Sempre usava o mesmo tipo de roupa: camiseta branca ou preta, lisa, e, às vezes, o casaco de moletom vermelho. A calça era sempre de jeans escuro, com sapatos pretos amarrados com cadarços brancos. Não sei por que, mas, mesmo as roupas sendo simples, elas me causavam arrepios.

    Suas mãos também chamavam minha atenção. Sempre seguravam um isqueiro, que ele apagava e acendia repetidamente. Eu me perguntava se ele tinha consciência de que fazia aquilo. Era quase como se a chama do isqueiro fosse parte de sua existência.

    Uma expressão entediada, olhos cansados, cabelo perfeito e um isqueiro na mão.

    Que nome combinaria com um cara assim?

    Hunter, talvez. Parecia nome de bad boy — coisa que ele era, imaginei. Ou Gus. Gus, o cara da brilhantina. Ou Mikey — um nome fofo, o extremo oposto do que ele parecia ser, e eu gostava de coisas assim.

    Mas o nome não importava.

    O que importava mesmo era que ele estava de pé na minha frente. Seu rosto era mais expressivo do que em qualquer uma das ocasiões em que eu o tinha visto no beco. Estava vermelho como uma beterraba, e os dedos, inquietos. Havia certo constrangimento em seus olhos ao passar o cartão vale-alimentação de novo. Tinha sido recusado todas as vezes. Saldo insuficiente. Seu semblante foi ficando cada vez mais fechado. Saldo insuficiente. Ele mordeu o lábio.

    — Isso não faz sentido — murmurou para si mesmo.

    — Posso tentar passar em outra máquina, se quiser. Às vezes, elas dão defeito. — Dei um sorriso, mas ele não retribuiu a gentileza. Seu rosto estava repleto de linhas de expressão. Tinha o cenho franzido ao me entregar o cartão, uma expressão agressiva. Eu o passei em outra máquina. Saldo insuficiente. — Aqui diz que não há dinheiro suficiente no cartão.

    — Obrigado, Srta. Óbvia — murmurou ele.

    Grosso.

    — Impossível — continuou o garoto, bufando, o peito subindo e descendo. — Nós vimos que o dinheiro foi depositado nele ontem.

    Quem seria o nós? Não é da sua conta, Alyssa.

    — Você tem outro cartão? Podemos tentar passá-lo?

    — Se eu tivesse outro cartão, não acha que eu já teria tentado? — gritou ele, quase me fazendo pular da cadeira. Hunter. Ele só podia se chamar Hunter. Ou melhor, o bad boy Hunter. Ou, quem sabe, Travis. Li um livro que tinha um Travis, e ele era tão bad boy que tive que fechar o volume várias vezes para não enrubescer.

    Ele respirou fundo, olhou para a fila de pessoas que se formava atrás de si e, em seguida, me fitou.

    — Sinto muito. Não queria gritar com você.

    — Tudo bem — respondi.

    — Não. Não está tudo bem. Sinto muito. Posso deixar essa merda aqui por um segundo? Tenho que ligar para a minha mãe.

    — Sim, claro. Vou cancelar tudo por enquanto, e passaremos novamente os produtos quando você resolver o problema. Não se preocupe.

    O garoto quase sorriu, e eu quase perdi esse instante. Não imaginei que ele soubesse como quase sorrir. Talvez fosse apenas um rápido movimento dos lábios, mas, quando se curvaram, ele ficou tão bonito! Eu podia jurar que ele não sorria com muita frequência.

    Assim que se afastou e ligou para a mãe, tentei ao máximo não escutar a ligação. Fui passando as compras dos outros clientes, mas ainda assim meus olhos e ouvidos curiosos ficaram atentos.

    — Mãe, eu me sinto um idiota. Passei o cartão, e ele continua sendo recusado... Eu sei a senha. Digitei certo, sim... Você usou o cartão ontem? Pra quê? O que você comprou?

    Ele afastou o aparelho e revirou os olhos antes de colocá-lo de volta no ouvido.

    — Como assim você comprou trinta e dois packs de Coca-Cola? — gritou. — Que diabos vamos fazer com trinta e dois packs de Coca-Cola? — Todos no mercado olharam para ele. Seus olhos encontraram os meus, e o constrangimento voltou ao seu rosto. Sorri. Ele franziu o cenho. Era bonito demais, do tipo que arrasa corações. Lentamente, ele virou de costas para mim e voltou para sua ligação. — O que vamos comer no próximo mês?... Sim, eu recebo amanhã, mas isso não vai ser suficiente para... Não. Não quero pedir dinheiro ao Kellan de novo... Mãe, não me interrompa. Tenho que pagar o aluguel. Não vou conseguir... Mãe, cala a boca, ok? Você gastou todo o dinheiro da comida com Coca-Cola!

    Uma pausa curta. E então, movimentos raivosos com os braços.

    Não! Não, não me importo se era Coca diet ou zero! — Ele suspirou, passou os dedos pelo cabelo. Abaixou o telefone por alguns instantes, fechou os olhos e respirou fundo. Voltou a colocar o aparelho junto ao ouvido. — Está bem. Vou dar um jeito. Não se preocupe com isso, tá? Vou dar um jeito. Vou desligar. Não, não estou com raiva, mãe. Sim, tenho certeza. Vou desligar. Sim, eu sei. Está bem. Não estou com raiva, está bem? Desculpe por ter gritado. Sinto muito. Não estou com raiva. — Sua voz se tornou muito baixa, mas eu não conseguia deixar de ouvir. — Sinto muito.

    Quando ele se virou para mim, eu tinha terminado de atender o último cliente da fila. Ele se aproximou, passando a mão pela nuca.

    — Não vou conseguir comprar essas coisas hoje. Desculpe. Vou colocar tudo de volta nas prateleiras. Desculpe. Desculpe. — Ele continuou se desculpando.

    Meu coração ficou apertado.

    — Tudo bem. Sério. Eu cuido disso. Já terminei o trabalho aqui mesmo. Vou colocar tudo no lugar.

    Ele franziu o cenho novamente. Eu queria que ele parasse de fazer aquilo.

    — Certo. Desculpe.

    Eu também queria que ele parasse de pedir desculpas.

    Quando ele foi embora, espiei o interior das sacolas. Ver aqueles itens ali dentro partiu meu coração. Somavam um total de onze dólares; nem isso ele podia pagar. Macarrão instantâneo, cereais, leite, manteiga de amendoim e pão — coisas que, de tão essenciais, eu não pensaria duas vezes antes de comprar.

    Você nunca se dá conta das coisas boas que tem até ver o que outra pessoa não pode ter.

    — Ei! — gritei, indo atrás dele no estacionamento. — Ei! Você esqueceu isso!

    Ele se virou e semicerrou os olhos, confuso.

    — Suas sacolas — expliquei, entregando-as a ele. — Você as esqueceu.

    — Você pode ser demitida.

    — O quê?

    — Por roubar essas coisas.

    Hesitei por um instante, um pouco confusa por ele ter pensado que eu havia roubado a comida.

    — Eu não roubei. Paguei por elas.

    A perplexidade tomou conta de seu olhar.

    — Por que você faria isso? Você não sabe nada sobre mim.

    — Sei que está tentando cuidar da sua mãe.

    Ele ficou em silêncio por um momento. Em seguida, assentiu.

    — Vou pagar por isso.

    — Não, não se preocupe. — Fiz que não com a cabeça. — Não foi nada.

    Ele mordeu o lábio inferior e passou a mão pelos olhos.

    — Eu vou pagar. Mas... obrigado. Obrigado... humm... — Seus olhos se desviaram para o meu peito e, por um segundo, senti certo desconforto, até que percebi que ele estava lendo meu nome no crachá. — Obrigado, Alyssa.

    — De nada. — Ele se virou e voltou a caminhar. — E você? — gritei em sua direção.

    — O que tem eu?

    — Qual é o seu nome?

    Hunter?

    Gus?

    Travis?

    Mikey?!

    Ele definitivamente poderia se chamar Mikey.

    — Logan — respondeu e continuou andando, sem olhar para trás.

    Mordi a gola da camisa; era um péssimo hábito, e minha mãe sempre gritava comigo quando eu fazia isso. Mas ela não estava ali, e eu sentia um friozinho no estômago.

    Logan.

    Pensando bem, Logan também combinava com ele.

    * * *

    Ele voltou alguns dias depois para me pagar. Então, começou a aparecer toda semana para comprar pão, macarrão instantâneo ou chicletes. Sempre vinha ao meu caixa. Em algum momento, nós começamos a conversar enquanto eu registrava os itens. Descobrimos que o meio-irmão dele estava saindo com a minha irmã, e que os dois estavam juntos havia séculos. Um dia, ele quase sorriu. Outro dia, eu podia jurar que o vi sorrir de fato. Nós meio que nos tornamos amigos e passamos das rápidas trocas de palavras para conversas mais longas.

    Quando eu saía do trabalho, encontrava-o sentado na calçada do estacionamento, esperando por mim, e conversávamos ainda mais.

    Ficamos bronzeados sob o sol ardente. Saímos todas as noites sob as estrelas.

    Conheci meu melhor amigo na fila do caixa de uma mercearia.

    E minha vida nunca mais foi a mesma.

    Parte um

    Sua alma estava em chamas,

    e ele queimava qualquer um que

    ousasse se aproximar.

    Ela se aproximou,

    sem temer as cinzas em que

    estavam prestes a se transformar.

    Capítulo 1

    Logan

    Dois anos, sete namoradas, dois namorados,

    nove términos e uma amizade

    ainda mais forte depois.

    Assisti a um documentário sobre tortas.

    Passei duas horas da minha vida sentado em frente a uma televisão pequena, assistindo a um DVD da locadora sobre a história das tortas. As tortas remontam à época dos antigos egípcios. A primeira de que se tem registro foi criada pelos romanos; foi feita com queijo de cabra e mel e coberta com centeio. Parecia ser muito nojenta, mas, de alguma forma, no final do documentário, tudo que eu queria era comer aquela maldita torta.

    Eu não era muito de comer tortas, gostava mais de bolos, mas, naquele momento, eu só conseguia pensar em comer aquela massa folheada e crocante.

    Eu tinha todos os ingredientes necessários para prepará-la. A única coisa que me impedia de fazer isso era Shay, minha agora ex-namorada, para quem mandei algumas indiretas nas últimas horas.

    Eu era péssimo em terminar relacionamentos. Na maioria das vezes, enviava mensagens de texto com um simples não está dando certo, desculpe ou dava um telefonema de cinco segundos, mas Alyssa havia me dito que terminar com alguém pelo telefone era a pior coisa que uma pessoa poderia fazer.

    Então, eu tinha que me encontrar com Shay. Péssima ideia.

    Shay, Shay, Shay. Quem me dera não ter transado com ela. Três vezes. Depois que eu terminei com ela. Mas agora já passava de uma da manhã e...

    Ela. Não. Ia. Embora.

    Também não parava de falar.

    Nós estávamos em frente ao meu prédio, e caía uma chuva fria. Eu só queria ir para o meu quarto e relaxar um pouco. Era pedir muito? Fumar um baseado, ver outro documentário e fazer uma torta. Ou cinco tortas.

    Queria ficar sozinho. Ninguém gostava mais de ficar sozinho do que eu.

    Meu celular apitou e vi o nome de Alyssa aparecer na tela.

    Alyssa: Já fez a boa ação?

    Sorri, sabendo que ela se referia ao término com Shay.

    Eu: Sim.

    Vi os três pontinhos aparecerem no meu telefone, indicando que ela estava respondendo.

    Alyssa: Mas você não transou com ela, transou?

    Mais pontinhos.

    Alyssa: Meu Deus, você transou com ela.

    Mais pontinhos.

    Alyssa: O QUE HOUVE COM AS INDIRETAS?

    Não pude deixar de rir, porque ela me conhecia melhor do que ninguém. Nos últimos dois anos, eu e Alyssa nos tornamos melhores amigos, apesar de sermos o extremo oposto um do outro. A irmã mais velha dela estava namorando meu irmão Kellan, e, no começo, nós achávamos que não tínhamos nada em comum. Ela ia à igreja, enquanto eu fumava maconha na esquina. Ela acreditava em Deus, enquanto eu enfrentava meus próprios demônios. Ela tinha um futuro, enquanto eu, de alguma forma, parecia preso no passado.

    Mas tínhamos, sim, algumas coisas em comum, e, de um modo estranho, elas davam sentido à nossa amizade. A mãe dela apenas a tolerava; a minha me odiava. O pai dela era um idiota; o meu era satanás em pessoa.

    Quando percebemos as pequenas coisas que tínhamos em comum, passamos mais tempo juntos, e nossa amizade se fortaleceu ainda mais.

    Ela era a minha melhor amiga, o ponto alto dos meus dias de merda.

    Eu: Transei com ela uma vez.

    Alyssa: Duas vezes.

    Eu: Sim, duas vezes.

    Alyssa: TRÊS VEZES, LOGAN?! MEU DEUS!

    — Com quem você está falando? — choramingou Shay, e meu olhar se desviou do telefone. — Quem poderia ser mais importante do que a nossa conversa agora?

    — Alyssa — respondi sem rodeios.

    — Sério? Ela simplesmente não consegue largar do seu pé, não é? — reclamou Shay. Isso não era novidade; todas as garotas com quem eu saí nos últimos dois anos tinham ciúmes de Alyssa e do nosso relacionamento. — Aposto que você transa com ela de vez em quando.

    — É — eu disse.

    Essa foi a primeira mentira. Alyssa não era fácil e, mesmo se fosse, não seria fácil comigo. Ela tinha padrões, padrões aos quais eu não correspondia. Além disso, eu também havia estabelecido padrões para os relacionamentos dela, padrões aos quais nenhum cara correspondia. Ela merecia o mundo, e a maioria das pessoas em True Falls, Wisconsin, tinha apenas migalhas para oferecer.

    — Aposto que ela é o motivo de você estar terminando comigo.

    — Sim, é.

    Essa foi a segunda mentira. Eu fazia minhas próprias escolhas, mas Alyssa sempre me apoiava, independentemente de qualquer coisa. No entanto, ela nunca deixava de dar sua opinião e sempre me dizia quando eu estava errado em meus relacionamentos. A sinceridade dela era dolorosa às vezes.

    — Ela nunca levaria você a sério. Ela é uma boa menina, e você... Você é um merda! — gritou Shay.

    — Você está certa.

    Essa foi a primeira verdade.

    Alyssa era uma boa menina, e eu era o cara que nunca teria a chance de ficar com ela. Às vezes, eu até olhava para aquele cabelo encaracolado e pensava em como seria abraçá-la e saborear seus lábios lentamente. Talvez, em um mundo diferente, eu fosse bom o suficiente para ela. Talvez, em um mundo diferente, eu tivesse uma vida melhor e não fosse um merda. Eu faria faculdade e teria uma carreira, algo que me daria muito orgulho. Então, eu a convidaria para sair, a levaria a um restaurante chique e diria a ela que pedisse qualquer coisa no cardápio, porque dinheiro não era um problema.

    Eu poderia dizer a ela que seus olhos azuis sempre sorriam, mesmo quando ela franzia o cenho, e que eu amava o modo como ela mordia a gola da camisa quando estava ansiosa ou entediada.

    Eu poderia ser digno de ser amado, e ela me permitiria amá-la também.

    Em um mundo diferente, talvez. Mas eu só tinha o aqui e agora, e Alyssa era minha melhor amiga.

    Eu tinha sorte de tê-la dessa forma.

    — Você disse que adorava ficar comigo! — As lágrimas de Shay rolavam por seu rosto.

    Há quanto tempo ela estava chorando? Aquela garota era uma chorona profissional.

    Olhei para ela e enfiei as mãos nos bolsos da minha calça jeans. Meu Deus. Ela estava péssima. Ainda estava meio chapada, e a maquiagem, borrada, manchava o rosto todo.

    — Eu não disse isso, Shay.

    — Sim, você disse! Mais de uma vez! — jurou ela.

    — Você está imaginando coisas.

    Rastreei minha memória em busca do instante em que eu teria pronunciado aquelas palavras, mas eu sabia que isso não havia acontecido. Eu não adorava ficar com ela, não a amava; mal gostava dela. Meus dedos massagearam minhas têmporas. Shay realmente precisava entrar no carro e ir para bem longe.

    — Não sou idiota, Logan! Eu sei o que você disse! — Pelas suas palavras, ela acreditava mesmo naquilo. Isso era muito triste. — Você disse isso hoje cedo! Lembra? Você disse que adorava ficar comigo.

    Hoje?

    Ah, droga.

    — Shay, eu disse que adoro trepar com você. Não que eu adoro ficar com você.

    — É a mesma coisa.

    — Acredite, não é.

    Shay pegou a bolsa e me atacou, e eu permiti que ela me batesse. A verdade era que eu merecia aquilo. Ela girou a bolsa de novo, e eu deixei que me atingisse mais uma vez. Quando ela estava prestes a me atacar pela terceira vez, agarrei a bolsa e puxei-a. Pousei a mão na parte inferior de suas costas, e ela estremeceu ao meu toque. Pressionei seu corpo contra o meu. Sua respiração era pesada, e as lágrimas ainda rolavam por seu rosto.

    — Não chore — sussurrei, usando meu charme para tentar fazê-la ir embora. — Você é bonita demais para chorar.

    — Você é um idiota, Logan.

    — E é exatamente por isso que você não deve ficar comigo.

    — Nós terminamos há três horas, e você se tornou uma pessoa completamente diferente.

    — Que engraçado — murmurei. — Porque, pelo que lembro, foi você que ficou diferente quando saiu com Nick.

    — Ah, nem vem. Foi um erro. Nem rolou sexo. Você é o único cara com quem transei nos últimos seis meses.

    — Humm, estamos saindo há oito meses.

    — Quem é você, um guru da matemática? Isso não importa.

    Shay foi o meu relacionamento mais longo dos últimos dois anos. Na maioria das vezes, meus casos duravam apenas um mês, mas fiquei com ela durante oito meses e dois dias. Eu não sabia exatamente por que, além do fato de sua vida ser praticamente idêntica à minha. A mãe dela também não era nada estável, e o pai estava na prisão. A irmã foi expulsa de casa pela mãe porque engravidou de um idiota. Ela não tinha ninguém.

    Talvez a escuridão dentro de mim tenha se identificado com a escuridão que existia dentro dela. Nossa relação fazia sentido. Mas, à medida que o tempo passava, percebi que era justamente por causa das semelhanças que não dava certo. Nós éramos muito confusos. Estar com Shay era como olhar para um espelho e ver todas as minhas cicatrizes me encarando.

    — Shay, vamos acabar com isso. Estou cansado.

    — Certo. Eu esqueci. Você é o Sr. Perfeito. Todo mundo toma decisões erradas na vida.

    — Você saiu com o meu amigo, Shay.

    — É isso mesmo: saí! E só fiz isso porque você me traiu.

    — Eu nem sei como responder a isso, porque nunca traí você.

    — Talvez não com sexo, mas emocionalmente, Logan. Você nunca esteve cem por cento nesse relacionamento. É tudo culpa da Alyssa. Ela é o motivo de você nunca ter se entregado a essa relação. Ela é uma vad...

    Levei meus dedos à boca de Shay, interrompendo o fluxo de palavras.

    — É melhor parar por aqui. — Abaixei a mão, e ela permaneceu em silêncio. — Você sabia como eu era desde o primeiro dia. É culpa sua pensar que poderia me mudar.

    — Você nunca vai ser feliz com ninguém, e sabe por quê? Porque está obcecado por uma garota que nunca vai ser sua. Você vai acabar triste, sozinho e amargurado. Então vai sentir falta de quando estava comigo!

    — Você poderia ir embora?

    Suspirei e passei as mãos pelo rosto. Aquilo era tudo culpa da Alyssa.

    Termine com ela pessoalmente, Lo. É assim que um homem de verdade deve agir. Você não pode terminar com alguém pelo telefone.

    Ela tinha péssimas ideias de vez em quando.

    Shay não parava de chorar.

    Meu Deus, quantas lágrimas.

    Eu não conseguia lidar com aquilo.

    Depois de fungar algumas vezes, ela baixou os olhos. Pareceu ter recuperado a autoconfiança, pois logo ergueu a cabeça novamente.

    — Acho que deveríamos terminar.

    Fiquei chocado.

    — Terminar? Mas nós já terminamos!

    — Acho que estamos seguindo caminhos diferentes.

    — Ok.

    Ela pousou os dedos em meus lábios para me silenciar, apesar de eu não estar falando nada.

    — Não fique tão chateado. Sinto muito, Logan, mas não vai dar certo.

    Eu ri por dentro, por Shay querer dar a impressão de que o rompimento era ideia dela. Dei um passo para trás e cruzei as mãos na nuca.

    — Você está certa. Você é boa demais para mim.

    Por que você ainda está aqui?

    Ela se aproximou de mim e tocou meus lábios com a ponta dos dedos.

    — Você vai encontrar alguém. Sei disso. Quero dizer, talvez ela seja meio desajeitada, mas, ainda assim...

    Shay finalmente foi até o carro, abriu a porta e entrou. Quando o veículo começou a andar, senti um aperto no estômago e percebi que havia cometido um erro. Comecei a correr debaixo de uma chuva torrencial, gritando seu nome.

    — Shay! Shay! — berrei, acenando na escuridão.

    Corri por pelo menos cinco quadras, até que

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