Paulo e seus convertidos: Como o apóstolo cuidou das igrejas que plantou
De F. F. Bruce
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Paulo e seus convertidos - F. F. Bruce
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Bruce, F. F. (Frederick Fyvie), 1910-1990
Paulo e seus convertidos : como o apóstolo cuidou das igrejas que plantou / Bruce F. F. ; tradução de Marcelo Gonçalves - São Paulo : Vida Nova, 2020.
ISBN 978-65-86136-38-8
Título original: Paul and his converts: how Paul nurtured the churches he planted
1. Paulo, Apóstolo, Santo 2. Bíblia. N.T. Tessalonicenses 3. Bíblia. N.T. Coríntios 4. Bíblia. N.T. Filipenses I. Título II. Gonçalves, Marcelo
Índices para catálogo sistemático
1. Epistolas : crítica e interpretação
©1985, de F. F. Bruce
Título original: Paul and his converts: how Paul nurtured the churches he planted,
edição publicada por
InterVarsity Press
(Downers Grove, Illinois, EUA).
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova
Rua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020
vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br
1.ª edição: 2020
Proibida a reprodução por quaisquer meios,
salvo em citações breves, com indicação da fonte.
Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram traduzidas diretamente da Revised Standard Version. As citações com indicação da versão in loco foram traduzidas diretamente da New International Version (NIV), da Authorized
Version (AV) e da New English Bible (NEB).
Direção executiva
Kenneth Lee Davis
Gerência editorial
Fabiano Silveira Medeiros
Edição de texto
Danny Charão
Norma Braga
Preparação de texto
Pedro Guimarães Marchi
M
arcia B. Medeiros
Revisão de provas
Rosa M. Ferreira
Gerência de produção
Sérgio Siqueira Moura
Diagramação
Sandra Reis Oliveira
Capa
OM Designers Gráficos
Conversão para eBook:
SCALT Soluções Editoriais
Para Raymond e Florence Payne.
SUMÁRIO
Prefácio
Introdução
1. Paulo e suas cartas
2. Uma palavra de esperança:
1Tessalonicenses
3. Uma palavra sobre o futuro:
2Tessalonicenses
4. Um conselho prático sobre questões morais:
1Coríntios
5. O ministério da reconciliação:
2Coríntios
6. Um chamado à unidade:
Filipenses
7. Palavra de Paulo para hoje
Bibliografia
PREFÁCIO
Esta obra foi originariamente publicada em 1962 como um dos volumes de uma série de 22 guias bíblicos e editada pelo falecido William Barclay e por mim. A série, publicada pela Lutterworth Press, teve um papel importante em sua geração e não há planos para que seja relançada.
De acordo com o planejamento daquela série, este volume tratava das cartas de Paulo aos Tessalonicenses e aos Coríntios. O texto foi agora revisado, e a obra, expandida, para que fosse acrescentada a Carta aos Filipenses. Assim, esta obra serve como manual de introdução à correspondência a qual temos acesso entre Paulo e seus convertidos na Europa.
Tempo Pascal, 1984
F. F. B.
INTRODUÇÃO
Neste livro analisaremos cinco dos primeiros escritos cristãos que chegaram até nós: a Primeira e a Segunda Carta aos Tessalonicenses, a Primeira e a Segunda Carta aos Coríntios e a Carta aos Filipenses. Os textos serão apresentados aqui na ordem em que foram escritos, e não na sequência em que aparecem na maioria das edições do Novo Testamento.
Essas cartas foram enviadas pelo apóstolo Paulo a seus convertidos em três cidades importantes das províncias gregas e macedônicas do Império Romano. Foram escritas entre o começo da década de 50 e o começo da de 60 do primeiro século d.C. — ou seja, de vinte a trinta anos depois da morte de Cristo. Naquela época, havia ainda centenas de pessoas vivas com lembranças intensas de quando viram Cristo e ouviram seus ensinamentos. Documentos desse tipo, escritos logo após a origem de um novo movimento religioso, têm grande valor histórico. Para os cristãos, entretanto, seu valor não é apenas histórico: eles são de grande ajuda para compreendermos a fé que temos e que, de tempos em tempos, somos chamados a defender.
O Novo Testamento nos apresenta os documentos fundamentais da nossa fé e, entre esses documentos, as cartas de Paulo têm interesse e importância singulares. À medida que as lemos, impressionamo-nos de ver como problemas básicos se repetem a cada nova geração. Apesar das vastas diferenças culturais entre os dias de Paulo e os nossos, a missão cristã hoje enfrenta situações que não diferem, no fundo, daquelas que Paulo confrontou, e as igrejas mais jovens do século 20¹ atravessam experiências que as igrejas jovens do primeiro século conheceram muito bem. Aliás, um grande e proeminente missionário do início do século 20, Roland Allen (autor de Missionary methods: St. Paul or ours?),² defendeu contundentemente que a estratégia missionária de Paulo permanece a melhor para os nossos tempos. De qualquer forma, tanto como estratégia a ser seguida para a propagação do evangelho quanto no que diz respeito aos problemas da vida cristã e ao testemunho das comunidades cristãs em um ambiente não cristão, as palavras de sabedoria de Paulo permanecem relevantes para nós, e desprezá-las seria tolice de nossa parte.
Este manual pretende nos ajudar no estudo dos livros aos quais ele se refere, e não substituí-los. Seria boa ideia fazer uma leitura rápida dessas cinco cartas antes de começar a usar esta obra, e depois lê-las novamente, parte por parte, junto com o manual. A versão bíblica utilizada aqui e mantida na tradução é a Revised Standard Version. Seria útil ter uma ou duas versões diferentes à mão para comparação, como a New English Bible, a New International Version ou a Good News Bible [sem falar de versões em língua portuguesa]. Todavia, para uma leitura rápida e preliminar dessas e de outras cartas de Paulo, talvez a versão mais esclarecedora seja a paráfrase de J. B. Phillips, The New Testament in modern English [lançada por Edições Vida Nova sob o título Cartas para hoje].
¹A primeira edição do livro foi publicada em 1962. (N. do E.)
²Edição em português: Os métodos missionários de Paulo e um estudo da expansão da igreja (São Paulo: Vida Nova, 2020).
1
PAULO E SUAS CARTAS
Cartas às jovens igrejas
No Novo Testamento, há 27 documentos — livros
, como normalmente os chamamos. Vinte e um desses documentos são cartas, escritas por vezes para indivíduos, mas com mais frequência destinadas a igrejas ou comunidades cristãs. Dessas 21 cartas, 13 levam o nome de Paulo como autor. Das 13, 9 caem na categoria que J. B. Phillips chamou cartas às jovens igrejas
; foram endereçadas, por assim dizer, a igrejas recém-fundadas, cujos membros se haviam convertido havia pouco e ainda não tinham muita experiência com o cristianismo. A maioria dessas igrejas havia sido fundada pelo próprio Paulo; seus membros haviam se convertido ao cristianismo por meio de sua apresentação poderosa do evangelho. Quando ele lhes escreve, é como um pai falando com os filhos. Paulo não consegue esconder a força e o calor de seu afeto por eles. Ele elogia tudo o que é digno de louvor neles (onde outros poderiam haver encontrado pouco a elogiar), repreende-os por suas deficiências, alerta-os de que, se não corrigirem seu comportamento, ele virá com a vara da próxima vez que os vir, incentiva-os por todo o seu valor e não faz segredo de seu grande desejo de que cresçam para se tornarem 100% cristãos, dignos do honroso nome que carregam.
A importância mundial de Paulo
Paulo é uma das figuras mais importantes na história da civilização. Para ele, muito mais do que para qualquer outro, isso se deve ao rumo que o cristianismo tomou na primeira geração depois da morte e da ressurreição de Jesus. Algumas vezes é interessante (e até mesmo útil) especular sobre os possíveis desdobramentos da história. Que teria sido do cristianismo se Paulo nunca se tivesse tornado cristão? Será que teria permanecido somente mais um entre vários movimentos nas fronteiras do judaísmo? Será que teria permanecido uma religião predominantemente asiática, como outros grandes movimentos oriundos do mesmo continente? Poderíamos continuar assim, fazendo perguntas cujo único valor é enfatizar a importância da vida e da obra de Paulo.
Hoje, em grandes regiões da terra, o cristianismo é considerado uma religião primordialmente europeia (e, para esse propósito, europeia
também inclui americana
). Mesmo que isso tenha sido considerado uma vantagem algum dia, hoje é uma deficiência a ser superada. Porém, se nos perguntarem como uma fé que surgiu na Ásia foi associada tão universalmente com a civilização europeia, devemos buscar essa resposta na vida e na obra de Paulo. Pela providência de Deus, o principal arauto da mensagem cristã durante as três primeiras décadas da era apostólica foi um cidadão romano que viu como os centros estratégicos e a comunicação do Império Romano poderiam ser explorados para os interesses do reino de Cristo, e plantou a fé nesses centros, próximo a essas linhas de comunicação. Ao lançar o evangelho dentro das principais províncias do Império Romano, Paulo garantiu que a mensagem acerca de Cristo continuaria a avançar de forma cada vez mais ampla. Por fim, o Império Romano, com sua rica herança da cultura grega e da lei e organização romanas, foi conquistado pelo cristianismo, e o cristianismo tem sido um elemento dominante em sua herança desde então. E isso porque a civilização europeia nunca deixou de ser, no fundo, a civilização legada pelo Império Romano cristianizado.
Também podemos fazer outra pergunta histórica interessante. Já que o cristianismo começou como um movimento dentro da comunidade de Israel, como é que, menos de um século depois de seu surgimento, passou a ter a aparência de uma fé fundamentalmente gentílica? A resposta a essa pergunta também recai sobre a eficácia do ministério de Paulo como apóstolo divinamente chamado aos gentios. Alguns destes, aliás, já haviam se convertido ao cristianismo antes de Paulo ser lançado à sua carreira apostólica, mas foi ele, acima de todos os outros, que levou o evangelho às terras dos gentios. Ele considerava seu apostolado um serviço sacerdotal, em que a conversão dos gentios era o sacrifício aceitável que desejava apresentar a Deus. Não sentia alegria alguma em ver os judeus tão relutantes em aceitar o evangelho, enquanto os gentios se aglomeravam para desfrutar de suas bênçãos; mas esperava, de fato, que o espetáculo das bênçãos inesgotáveis