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Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 1
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Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 1
E-book842 páginas23 horas

Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 1

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Sobre este e-book

Ao longo dos séculos, o livro profético de Zacarias sofreu acusações de obscuridade e frustrou os leitores que procuravam descobrir seus tesouros. Este trabalho de Mark Boda fornece um comentário perspicaz sobre Zacarias (Capítulos 1 a 6), com grande sensibilidade para suas dimensões históricas, literárias e teológicas. Incluindo uma nova tradução do original hebraico, Boda oferece uma profunda reflexão sobre um livro do Antigo Testamento muitas vezes negligenciado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mar. de 2023
ISBN9786559891061
Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 1

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    Excelente comentário para não apenas entender as lições textuais, mas o contexto, as evidências arqueológicas e o pano de fundo do retorno dos judeus vindo da Babilônia para a antiga morada.

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Comentários do Antigo Testamento - Zacarias - vol. 1 - Mark J. Boda

Sumário

Sumário do Volume I

Prefácio do autor

Abreviações

Introdução

I. Texto

II. História referencial

A. O período babilônico

B. Ciro (539-530 a.C.)

C. Cambises (530-522 a.C.) e Dario (522-486 a.C.)

D. Xerxes (486-465 a.C.)

E. Artaxerxes (465-424 a.C.)

III. História composicional

A. O profeta Zacarias

B. Zacarias 1-8

C. Zacarias 9-14

D. Zacarias 1-8 e 9-14

E. Zacarias e o Livro dos Doze

F. Composição e história

IV. Estrutura e forma literária

V. Alusão bíblica interna

VI. Mensagem

A. Deus

B. Liderança

C. Pecado

D. Restauração

E. Zacarias para hoje

VII. Bibliografia

Texto e comentário

I. Sermão e narrativa: o chamado de Yahweh e a promessa de retorno (1.1-6)

A. Introdução narrativa (1.1)

B. Sermão: Voltem para mim e eu voltarei para vocês (1.2-6a)

C. Conclusão da narrativa: o retorno do povo (1.6b)

II. Relatos de visão, oráculos, sinais-atos: retorno de

Yahweh e promessa de renovação (1.7-6.15)

Orientação para Zacarias 1.7–6.15

A. Introdução narrativa (1.7)

B. Relato de visão 1: visão e oráculo – cavalos

e conforto (1.8-17)

1. Visão: cavalos, espias e clamores (1.8-13)

2. Oráculos: vingança e restauração (1.14-17)

C. Relato de visão 2: visão dos chifres e dos lavradores

(2.1-4[1.18-21])

1. Visão: chifres (2.1-2[1.18-19])

2. Visão: lavradores (2.3-4[1.20-21])

D. Relato de visão 3: visão e oráculo – muros de Jerusalém e presença de Yahweh (2.5-9[1-5])

1. Visão: parando a medição (2.5-8[1-4])

2. Oráculo: Yahweh como muro e glória (2.9[5])

E. Oráculo: retorno do povo e de Yahweh (2.10-17[6-13])

1. Chamado para escapar: exilados (2.10-13[6-9])

2. Chamado para a alegria: Filha de Sião (2.14-17[10-13])

F. Relato de visão 4: visão de Josué, sinal-ato

para o rebento (3.1-10)

1. Visão: cena do tribunal e da investidura (3.1-5)

2. Visão: acusação a Josué (3.6-7)

3. Oráculo acerca do Rebento (3.8-10)

G. Relato de visão 5: visão e oráculo – o candelabro, as oliveiras e Zorobabel (4.1-14)

1. Visão: o candelabro e as oliveiras – observação (4.1-6a)

2. Oráculos de encorajamento para Zorobabel (4.6b-10a)

3. Visão: o candelabro e as oliveiras – interpretação (4.10b-14)

H. Relatos de visão 6 e 7: visão, oráculo, visão – o rolo voador e o efa voador como juízo de Deus sobre a injustiça e a idolatria (5.1-11)

1. Visão do rolo voador (5.1-4)

a. Visão: rolo voador (5.1-2)

b. Interpretação da cena (5.3)

c. Oráculo: juízo (5.4)

2. Visão do efa voador (5.5-11)

a. Descrição e interpretação da cena 1: efa (5.5-6)

b. Descrição e interpretação da cena 2: a mulher sentada (5.7-8)

c. Descrição e interpretação da cena 3: mulheres aladas e voo (5.9-11)

I. Relato de visão 8: visão das quatro carruagens (6.1-8)

1. Descrição da cena (parte um) (6.1-3)

2. Interpretação da cena (parte um) (6.4-6)

3. Descrição da cena (parte dois) (6.7)

4. Interpretação da cena (parte dois) (6.8)

J. Sinal-ato profético: relato das duas coroas (6.9-15)

1. Fórmula profética (6.9)

2. Exortação: produção de coroas (6.10-11)

3. Exortação: dirigindo-se a Josué (6.12-13)

4. Exortação: coroas como memorial (6.14)

5. Explanação (6.15)

Sumário do Volume II

III. Sermão, narrativa e oráculos: de jejuns a banquetes (7.1–8.23)

Orientação para Zacarias 7.1–8.23

A. Introdução narrativa (7.1)

B. Narrativa e sermão parte 1 (7.2-14)

1. Questão de delegação acerca do ritual de jejum:

buscando o favor de Yahweh (7.2-3)

2. Zacarias contesta o ritual de jejum (7.4-6)

3. Revisão da palavra e da disciplina de Deus no passado (7.7-14)

C. Oráculos e sermão de esperança (8.1-13)

1. Fórmula profética (8.1)

2. Deus salva o remanescente: oráculos (8.2-8)

3. Deus salva o remanescente: sermão (8.9-13)

D. Sermão parte 2 (8.14-23)

1. Nova determinação de Yahweh (8.14-15)

2. Exigência ética da parte de Yahweh (8.16-17)

3. Transformação de jejuns em festividades (8.18-19)

4. Impacto sobre as nações: buscando o favor de Yahweh (8.20-23) IV. Oráculos e unidade sobre pastor-rebanho: restauração da esperança e frustração (9.1–14.21)

Orientação para Zacarias 9–14

A. Oráculos para Jerusalém, Judá e Efraim (9.1–11.17)

1. Yahweh retorna em triunfo (9.1-8)

a. Introduzindo o oráculo (9.1-3)

b. As ações de Yahweh contra as nações (9.4-7)

c. Yahweh acampa em Jerusalém (9.8)

2. Yahweh apresenta seu rei a Sião (9.9-10)

3. O retorno do povo ao reino (9.11-17)

a. O discurso de Yahweh (9.11-13)

b. O discurso do profeta (9.14-17)

4. Contrastando pastores (10.1-3)

5. Transformando Judá e José (10.4-12)

a. Judá (10.4-5)

b. José (10.6-12)

6. Juízo sobre a vegetação e os pastores (11.1-3)

7. Atos-sinais proféticos de pastor e rebanho (11.4-16)

a. Relato ato-sinal 1 e 2: o bom pastor (11.4-14)

(1) Relato ato-sinal 1a (11.4-12)

(2) Relato ato-sinal 2 (11.13)

(3) Relato ato-sinal 1b (11.14)

b. Relato ato-sinal 3: o pastor insensato (11.15-16)

8. Juízo violento sobre um pastor inútil (11.17)

B. Oráculos para Jerusalém, Judá e as nações (12.1–14.21)

1. Introduzindo o Deus do oráculo (12.1)

2. Vitória futura e purificação do povo de Deus (12.2–13.6)

a. Vitória de Jerusalém e Judá contra as nações (12.2-9)

b. Arrependimento e purificação para as vitoriosas Jerusalém e Judá (12.10–13.6)

(1) Arrependimento entre os clãs (12.10-14)

(2) Limpeza e purificação da comunidade (13.1-6)

3. O pastor ferido, o rebanho espalhado (13.7-9)

4. Vitória futura e submissão das nações (14.1-21)

a. Juízo de Yahweh sobre Jerusalém (14.1-2)

b. Juízo de Yahweh sobre as nações e o estabelecimento do governo (14.3-21)

(1) Resumo da batalha (14.3)

(2) Aparecimento de Yahweh (14.4-5)

(3) Transformação do cosmos e suposição de governo por Yahweh (14.6-11)

(4) Yahweh derrota as nações (14.12-15)

(5) Adorando Yahweh (14.16-21)

Zacarias 7. Atos-sinais proféticos de pastor e rebanho (11.4-16)

Prefácio do autor

Eu iniciei o estudo de Zacarias em meu primeiro ano de estudos no seminário, sob a tutela de Raymond Dillard, que usou Zacarias como seu exemplo para a leitura dos profetas. Olhando para trás agora, após 21 anos, posso dizer que sou grato por ter escolhido pregar o livro de Zacarias para aquela pequena congregação na extremidade da Filadélfia. Mesmo em meus estudos para o doutorado eu não pude me afastar para muito longe de Zacarias. Em meu trabalho de conclusão do doutorado defendi que os responsáveis pelo livro de Zacarias também produziram a oração penitencial de Neemias 9. Imediatamente após haver terminado a minha dissertação, voltei com determinação ao estudo de Zacarias. Nesse livro eu encontrei encorajamento e desafio, uma visão do passado, do presente e do futuro que tem nutrido a minha própria fé e estimulado o meu intelecto. Ao longo do caminho tenho desfrutado da companhia de muitos, abrangendo desde as congregações que ouviram os sermões em Zacarias, passando por estudantes que assistiram meus cursos, ouvindo e respondendo as palestras enquanto eu traduzia e interpretava esse livro, até estudiosos que têm ouvido, lido e respondido as minhas teses, artigos e livros sobre esse livro profético. Muito do que escrevi neste comentário foi encorajado por essas muitas pessoas e foi refinado por inúmeras conversas. Quero expressar os meus agradecimentos também à diretoria e ao conselho administrativo da McMaster Divinity College por me dar uma licença para pesquisa durante a qual eu pude completar esse manuscrito. Além disso, sou grato ao editor da série, Robert Hubbard; primeiro, por me convidar a participar, e depois, por interagir com o meu material e por aperfeiçoar os resultados. Sou grato a Anthony Pyles, meu professor assistente, que trabalhou meticulosamente o meu manuscrito para transformar o texto hebraico em transliteração e que também sempre trouxe xícaras de café para o meu escritório para encorajar a comunhão e o coleguismo. Agradeço muito ao meu professor assistente Alexander Stewart por seu olhar cuidadoso sobre as provas finais e também a Steven Griffin e Andrew Dyck que meticulosamente organizaram o índice do volume. Agradecimentos também são devidos a Allen Myers e à equipe editorial na Eerdmans por trabalhar no meu manuscrito, conduzindo-o cuidadosamente até a publicação.

Eu dedico este livro ao meu antigo professor de hebraico e Antigo Testamento, Bruce Waltke, que me ensinou a me dedicar a leituras atentas do texto em suas línguas originais. O trabalho fiel dele por mais de meio século produziu frutos na vida daqueles que aprenderam sob sua tutela e continuam a tradição exegética que ele inspirou.

Espero que este comentário encoraje uma leitura atenta e cuidadosa desse livro profético antigo e, baseado em tal leitura, promova a pesquisa, a pregação e o ensino mais precisos dessa mensagem. O alvo final, contudo, é que tudo o que tenha sido escrito promova maior glória ao Deus cujo discurso e ação são retratados dentro do livro de Zacarias.

Ego ex eorum numero me esse profiteor qui scribunt proficiendo, et scribendo proficient.

(Agostinho, Epístola 143,2, por João Calvino)

Abreviações

Introdução

Desde Jerônimo, no início do 5o século (obscurissimus liber Zachariae prophetae), até Mark Cameron Love, no fim do século 20 (The Evasive Text), o livro de Zacarias é acusado de ser obscuro, supostamente frustrando os leitores que tentam ter acesso aos seus tesouros.¹ Essa acusação, contudo, é injustificada, pelo menos ao compará-lo com outros livros proféticos em que é possível encontrar uma abundância de desafios interpretativos e debates intermináveis sobre o seu significado. Certamente há várias questões a serem consideradas, e é bem provável que muitas delas jamais sejam resolvidas, mas isso se aplica a toda interpretação e, é claro, justifica mais um comentário sobre o livro de Zacarias. A presente introdução busca esclarecer algumas das principais questões introdutórias relacionadas ao livro de Zacarias e orientar o leitor para a abordagem deste comentário, além de fornecer perspectivas sobre questões essencias que surgirão em vários pontos deste comentário. Traduções de Zacarias por todo este comentário são feitas pelo autor. Outras passagens do Antigo Testamento são da Almeida Revista e Atualizada, exceto quando indicado, ocasionalmente modificadas para inclusão de gênero.

I. Texto

O livro de Zacarias tem sido preservado ao longo do tempo por meio da reprodução minuciosa do texto de geração em geração, iniciando nos dias antigos, quando tudo o que se tinha disponível era papiro ou pergaminho e tinta, depois mudando para caracteres móveis de prensas de impressão, e, finalmente, para a variedade de formatos digitais desfrutada hoje. O texto que é lido em uma abundância de línguas modernas está baseado na seleção cuidadosa de testemunhos antigos para a tradição escrita associadas ao nome do profeta Zacarias.²

De máxima importância são as fontes antigas na língua hebraica, e os dois testemunhos completos mais antigos existentes do livro de Zacarias são o Códice Cairense (Códice do Cairo, 895 d.C.) e o Códice de Leningrado (1008 d.C.), ambos manuscritos da corrente de Ben Asher da tradição escriba massorética. Um terceiro testemunho de Ben Asher é o Códice de Alepo (930 d.C.), que infelizmente contém somente Zacarias 9.17b–14.21. É o Códice de Leningrado que é usado como a base para a maior parte da leitura e tradução do AT hoje, especialmente graças à sua publicação como um texto diplomático com notas críticas na Bíblia Hebraica Stuttgartensia, bem como na Bíblia Hebraica Quinta, agora em alta, cujo fascículo sobre os Doze Profetas Menores recentemente apareceu.³ O acesso ao Códice de Alepo agora é possível por meio da edição impressa, bem como por meio da internet.⁴

Embora os manuscritos medievais sejam as cópias mais antigas existentes do livro inteiro de Zacarias em hebraico, foram descobertos vários manuscritos que pré-datam essas cópias a até um milênio.⁵ A cópia mais antiga de um texto hebraico de Zacarias é o manuscrito de Qumran da metade do 2o século a.C., 4QXIIa (4Q76), no qual apenas duas porções de um verso de Zacarias sobreviveram (Zc 14.18).⁶ 4QXIIe (4Q80) é um texto fragmentado que contém Zacarias 1.4-6,9-10,13-14; 2.10-14; 3.2–4.4; 5.8–6.5; 8.2-4,6-7; 12.7-12, e data de cerca de 75-50 a.C.⁷ Também da mesma caverna em Qumran vem 4QXIIg (4Q82), que contém somente Zacarias 10.11–11.2; 12.1-3 e data de cerca de 50-25 a.C.⁸ Todos esses manuscritos de Qumran refletem a tradição não alinhada de Qumran e seguem a prática escriba de Qumran.⁹ Textos sectários de Qumran também contêm evidência limitada para o texto de Zacarias, por exemplo, 4QpIsac (4Q163 f8:8-9, Zc 3.9; f21.7, Zc 11.11); 4QTanḥ (4Q176, Zc 13.9); 4QCatena A (4Q177 2.2, Zc 3.9); Documento de Damasco (CD 7.14, Zc 6.8; CD-B 19.7, Zc 13.7; CD 19.9, Zc 11.11); e 4Q254 f4.2 (Zc 4.14).¹⁰ O manuscrito MurXII (Mur 88) de uma caverna em Murabbaʿat contém somente Zacarias 1.1-4 e data do início do 2o século d.C.¹¹. Outras fontes entre esses manuscritos hebraicos e o testemunho massorético existente incluem citações do texto hebraico nos escritos dos antigos rabinos bem como dos pais da igreja.¹² O testemunho medieval posterior inclui os grandes comentários judaicos de Rashi, Ibn Ezra e Radak, e os textos e variantes reunidos por Benjamin Kennicott e Giovanni Bernardo de Rossi.¹³

Essa tradição de manuscritos hebraicos, contudo, pode ser comparada à rica tradição grega do AT. A tradução da Bíblia hebraica em grego começou com a Torá no 3o século a.C., mais provavelmente no Egito.¹⁴ A tradução dos livros proféticos seguiu essa tradução inicial, mais provavelmente no início do 2o século a.C.¹⁵ O testemunho grego mais antigo do livro de Zacarias é um manuscrito encontrado em Naḥal Ḥever e denominado 8ḤevXIIgr (8Ḥev1).¹⁶ O texto fragmentado estende-se de Jonas 1.14 até Zacarias 9.5 e contém: Zacarias 1.1-4,12-14; 2.2-4,7-9,11-12,16-17*(OG: 1.19-21; 2.3-5,7-8,12-13; 3.1-2,4-7; 8.19-21,23; 9.1-5). Datado do final do século 1o a.C.,¹⁷ ele representa a tradição revisionista que busca trazer o OG alinhado com o texto protomassorético, do qual ele difere apenas minimamente.¹⁸ Dessa forma ele provê uma compreensão do estado do texto protomassorético nesse período antigo, mas não representa a forma mais antiga da tradução OG. O Códice Washingtoniano da segunda metade do 3o século d.C. (Manuscrito de Washington V: os Profetas Menores) contém Amós 7.9–Malaquias 2.9 e permanece mais firmemente na tradição original OG.¹⁹ O texto OG, que provavelmente é o mais antigo, encontra-se em um volume na série Gottingen.²⁰ O hebraico Vorlage do qual o OG dependia era muito semelhante ao protomassorético. O contraste entre as duas tradições deve-se principalmente às diferenças na vocalização do texto consonantal e àquelas encontradas no [MT], confusão de raízes verbais parecidas e homônimos verdadeiros [...] adaptações de tradução ou modificações estilísticas,²¹ embora certas tendências ideológicas possam ser discernidas.²²

A tradução siríaca do AT, a Peshiṭta, foi feita mais provavelmente no 1o século a.C., conquanto seja difícil averiguar se a comunidade responsável pela tradução era judaica ou cristã.²³ O hebraico Vorlage dela era próximo à tradição protomassorética, contendo menos variantes do que [OG], ainda que mais do que o Targumim e a [Vulgata].²⁴ A tradução tem sido descrita como fiel, mas idiomática e não literal.²⁵

Os Targums representam as traduções da Bíblia hebraica em aramaico e surgiram na era pré-cristã.²⁶ É o Targum Jonathan que contém uma tradução dos livros proféticos.²⁷ Essa tradução era baseada em um texto hebraico muito próximo à tradução protomassorética, embora às vezes ela recorra à paráfrase.²⁸ Uma leitura não-MT é encontrada em Zacarias 12.5.

Entre as fontes latinas para Zacarias, a mais importante é a tradução do AT por Jerônimo entre 390 e 405 d.C. A Vulgata de Jerônimo baseava-se em um texto hebraico quase idêntico ao protomassorético.²⁹ Mais evidências do texto hebraico no qual Jerônimo baseou-se podem ser encontradas em seu comentário nos Doze Profetas.³⁰

II. História referencial

Embora os recursos textuais identificados aqui representem o desenvolvimento do livro de Zacarias após seu término como obra literária, a interpretação neste comentário irá focar no significado para seus ouvintes originais. As seções seguintes orientam os leitores à história do período associada com o livro de Zacarias e então traçam a história da composição do livro.

Uma vez que o livro de Zacarias foi composto no período de 80 anos, de 520 a 440 a.C. (veja adiante: História composicional), uma compreensão da história desse período é útil para o entendimento da experiência dos ouvintes que receberam essas palavras proféticas. Os contornos básicos do início do período persa podem ser reconstruídos a partir da evidência extraída de fontes babilônicas, persas, gregas, egípcias e judaicas do 6o século a.C. para frente.

A. O período babilônico

Não se pode subestimar o impacto da queda de Jerusalém em 586 a.C. sobre a comunidade judaica. Nabucodonosor, motivado pela deslealdade do rei Zedequias ao acordo de vassalagem, aplicou a violenta força de seu exército imperial contra esse pequenino reino na extremidade do Império Babilônico. Ele pôs fim de uma vez por todas ao reino judeu governado por um herdeiro de Davi. Muitos judeus foram mortos, muitos fugiram voluntariamente para as nações ao derredor, e muitos foram exilados para a região central do Império Babilônico, enquanto outros permaneceram na terra. Um deslocamento posterior de pessoas ocorreria em 582-581 (Jr 52.30). Nabucodonosor reinaria até 562, sucedido por uma série de governantes malsucedidos de 562-556, incluindo seu filho Amel-Marduque (Evil-Merodaque, 2Rs 25.27-30), seu genro Neriglissar e finalmente o filho de Neriglissar, Labashi-Marduque. Foi necessário um poderoso general no exército babilônico, Nabonido, para finalmente estabilizar o império.

A cooperação medo-babilônica no final do 7o século a.C. derrubou o Império Assírio quando Ciaxares da Média (625-585) juntou-se com o pai de Nabucodonosor, Nabopolasar (626-605), a fim de colocar uma pressão cada vez maior sobre os assírios. A queda da Assíria começou em 626 quando Nabopolasar tirou o controle da Babilônia das mãos dos Assírios, apenas para ser apressado pela conquista de Assur (antiga capital da Assíria) por Ciaxares em 614. Nabopolasar chegaria tarde ao cerco de Assur por Ciaxares e acabou fazendo um tratado com os medos. Enquanto os babilônios e medos sitiavam juntos Nínive por três meses em 612, o Império Assírio caía diante dos babilônios, com os medos permanecendo nas fronteiras norte e leste do Império Babilônico recém-formado. Em 585, Astíages herdaria o reino medo de seu pai Ciaxares, por isso, era ele o rei medo quando Nabonido ascendeu ao trono babilônico em 556. Os medos controlavam o território persa nessa época, assegurado por meio de um casamento entre a filha de Astíages, Mandane, e Cambises I de Ansam. Em 553, o neto de Astíages, Ciro, insurgiu-se e obteve o controle sobre o vasto reino medo. Em 547/6, Ciro estenderia seu território para o oeste, cruzando o rio Hális, quando ele conquistou a Lídia, então governada pelo rei Creso. Ele também iria se dirigir para o leste, estendendo o seu território até o rio Jaxartes.

Enquanto Ciro estava estendendo seus domínios para o norte e leste do Império Babilônico, Nabonido tinha em grande parte abandonado a área central da Babilônia. Por ironia, originalmente foi a revolta de Ciro contra Astíages que desobrigou Nabonido de reconstruir o templo de sua mãe em Haran, o primeiro passo em seu abandono da Babilônia. Nabonido instalou seu filho Belsazar no trono da cidade de Babilônia para que ele pudesse mover suas próprias operações até o oásis de Teimã no deserto da Arábia. O propósito dessa mudança geográfica é incerto. Embora seja possível que Nabonido estivesse enlouquecendo, pode ser que ele quisesse construir um templo em Teimã para o deus de sua mãe (uma sacerdotisa do deus-lua). Talvez ele quisesse mudar o centro do império para o oeste e sul a fim de subjugar os árabes e se preparar para um ataque ao Egito. Pode ser que o objetivo fosse controlar as ricas rotas de comércio árabes, ou encontrar um clima melhor para sua saúde.³¹ Independente da razão, a ausência dele da Babilônia incitou a insatisfação entre a população, especialmente entre a elite da cidade, e com a expansão do reino de Ciro, Nabonido retornou à Babilônia para reforçar seu poder em casa. Nos meses finais do governo de Nabonido, o imperador transferiu muitos deuses para a Babilônia, o que serviu apenas para aumentar a fúria da classe sacerdotal.

B. Ciro (539-530 a.C.)

Em 539 a.C., Ciro cruzou as montanhas Zagros, atravessou o Rio Tigre em Opis e marchou com pouca resistência para dentro do território babilônico (veja Dn 5) antes de tomar a poderosa cidade de Babilônia. Ciro descreveu sua entrada na Babilônia como a de um libertador, não um conquistador, quando ele assumiu o controle sobre o Império Babilônico. Ele comemorou seu triunfo sobre a Babilônia com um cilindro de argila descoberto no trabalho arqueológico na Mesopotâmia. O cilindro descreve a eleição divina dele (Marduque, o principal deus da Babilônia, o comissionou a conquistar a Babilônia) e a acolhida pública. Após tomar o controle da Babilônia, ele recebeu reverência dos governantes por todo o Império Babilônico. No cilindro ele descreve sua primeira iniciativa no sul da Mesopotâmia de reconstruir santuários para os deuses das nações que ele conquistou e enviar de volta os deuses e seus povos para a própria terra:

[...] de [Níneve] (?), Assur e Susa, Agadé, Eshnunna, Zamban, Meturnu, Der, até a região de Gutium, eu devolvi aos seus centros sagrados [do outro lado] do Tigre, as (imagens) dos deuses cujos santuários há muito haviam sido abandonados, e eu permiti que habitassem em moradas eternas. Eu ajuntei todos os habitantes deles e devolvi (a eles) suas habitações. Além disso, ao comando de Marduque, o grande Senhor, eu estabeleci, em moradas agradáveis, os deuses da Suméria e da Acádia a quem Nabonido, para a ira do senhor dos deuses, tinha trazido para a Babilônia. Que possam os deuses a quem eu estabeleci em seus centros sagrados pedir diariamente a Bel e Nabu que meus dias sejam longos e possam eles interceder por meu bem-estar. Que possam eles dizer a Marduque, o meu senhor: Quanto a Ciro, o rei que o reverencia, e a Cambises seu filho, [] um reino. Eu tornei todas as terras em habitações pacíficas.³²

Por meio desse cilindro, Ciro enfatiza a transição do governo de Nabonido para o seu próprio governo e proporciona uma compreensão das normas políticas e religiosas que tornaram isso possível.³³ Um eco da política anunciada no cilindro de Ciro pode ser identificado no livro de Isaías que destaca as esperanças, em meio à comunidade exílica, ligadas a Ciro e aos persas (Is 44.28; 45.1,13), e 2Crônicas 36.22-23; Esdras 1.1-4; 6.1-5 fornecem evidência do cumprimento, por Ciro, dessas esperanças, quando Ciro proclamou seu apoio ao retorno do povo, à reconstrução do templo e à devolução dos acessórios do templo.³⁴ Esdras 1.9-11; 5.13-16 descreve a resposta dos judeus que transportaram os utensílios do templo e lançaram a fundação do templo logo após Ciro assumir o controle da Babilônia (539-537 a.C.). Nesse período inicial, os judeus também reconstruíram o altar sobre o Monte do Templo, reinstituindo o sacrifício e começando a preparação para a construção do templo (Ed 3.1-7).³⁵ O fato, porém, de que o templo não seria completado até o reino de Dario revela que esses esforços iniciais logo chegaram ao fim, em razão não somente da oposição de fontes externas (Ed 3–4), mas também da dificuldade da tarefa e das demandas cotidianas da comunidade recém-estabelecida. Esdras 1 e 5 se referem à figura chamada Sesbazar, que é identificado como um príncipe de Judá (hannāśîʾ lîhûḏâ) em Esdras 1.8 (cf. 1.11) e como um governador (peḥâ) em Esdras 5.14 (cf. 5.16). Alguns têm identificado essa figura como o descendente davídico Senazar (1Cr 3.18), filho de Jeoaquim, o penúltimo rei de Judá, por causa da semelhança entre os dois nomes, ou com Zorobabel, o neto de Jeoquim, por causa da semelhança entre os seus títulos e ações (ambos são governadores que lançam as fundações do templo e transportam doações para o templo).³⁶ Contudo, o mais provável é que Sesbazar fosse um oficial judaico não davídico comissionado como o primeiro líder no Yehud governado pelos persas, que compreendia o núcleo do antigo reino pré-exílico de Judá (o reino do Sul). Sem dúvida, é um desafio definir com precisão o termo governador (peḥâ) no sistema político persa.³⁷ No entanto, com base nas fontes arqueológicas e bíblicas, os pesquisadores recentes traçaram uma linhagem contínua de oficiais governando em Yehud com o mesmo título governador do início do governo persa.³⁸ O relacionamento entre esse oficial e sua região de autoridade (Yehud) e as regiões ao derredor, especialmente Samaria, é incerto,³⁹ embora seja provável que Yehud fosse uma província dentro da jurisdição da satrapia de Babilônia Além do Rio (o antigo Império Babilônico). Conquanto essa satrapia fosse bipartida na estrutura (com subsatrapias de Babilônia e Além do Rio), durante o reino de Xerxes, por causa das insurreições babilônicas, ela seria dividida em duas satrapias distintas.

C. Cambises (530-522 a.C.) e Dario (522-486 a.C.)

O reino de Ciro foi encurtado por sua morte trágica em 530 a.C. em batalha, na fronteira leste de seu império. O filho dele, Cambises, ascendeu ao trono e em 525 tinha sido bem-sucedido em incorporar o Egito ao Império Persa. Enquanto estava nessa fronteira ocidental de seu império, o governo de Cambises foi desafiado no coração da Pérsia em março de 522, quando um mago na corte (de forma variada chamado de Bardiya/Gaumata) rebelou-se, alegando ser Esmérdis, o irmão de Cambises (muitas vezes chamado, portanto, de pseudo-Esmérdis). Cambises tinha eliminado seu irmão antes de sua campanha egípcia, mas esse Bardiya/Gaumata tinha sido capaz de armar um ardil e desafiar o governo de Cambises. O núcleo do império apoiou a rebelião porque o novo governante tinha prometido alívio nos impostos. Cambises, liderando o flanco principal do exército persa, começou a caminhada para a Mesopotâmia para sufocar essa rebelião, mas morreu de uma ferida acidental autoinfligida enquanto estava no Levante.

Dario, um de seus generais, iria substituir Cambises, alegando relação de sangue com a família real e obtendo o apoio do exército. Junto com os Sete, representando os principais clãs dominantes da Pérsia, Dario teve sucesso em eliminar Bardiya/Gaumata em setembro.⁴⁰ Uma vez que as regiões tinham apoiado Bardiya/Gaumata, a morte dele incitou rebeliões por todo o império. Entre essas rebeliões se destacaram a da Babilônia em 522-521, começando com uma conduzida por Nidintu-Bel (alegando ser Nabucodonosor III), que foi esmagada em dezembro de 522 por Dario, e outra por Arackha (alegando ser Nabucodonosor IV) no sul da Babilônia em 521, que não foi suprimida até novembro de 521. As consequências dessa segunda rebelião foram sérias para a Babilônia, já que Dario empalou Arakha, os nobres deste e 2.500 apoiadores na cidade de Babilônia. Os problemas de Dario em seu império, contudo, estavam longe de acabar, uma vez que o Egito se revoltou em 519, levando à expedição de Dario ao Egito durante 519-518, que obteve sucesso em reconquistar o Egito para a Pérsia. Com as regiões nos territórios ocidental e central firmemente sob seu controle, Dario lançou seus olhos em direção à fronteira oriental, estendendo suas fronteiras imperiais para o Vale do Indo e assim construindo um império que abrangeu o Nilo, o Tigre-Eufrates e os vales do rio Indo pela primeira vez na História. O tamanho e estabilidade desse império permitiriam a Dario construir para os persas sua própria cidade modelo, conhecida pelos gregos como Persépolis (Cidade-Persa), substituindo a antiga capital Pasárgada, construída por Ciro para comemorar sua vitória sobre Astiages. Os persas continuariam a usar as grandes antigas capitais da Mesopotâmia como suas cidades administrativas: Babilônia (antigo Império Babilônico), Ecbatana (antigo Império Medo) e Susa (antigo Império Elamita).

Durante o governo de Dario, os judeus continuaram a retornar a suas terras tradicionais, o que é refletido na lista composta em Esdras 2/Neemias 7. A restauração do templo foi renovada, levando agora a uma cerimônia de lançamento da fundação em 520 a.C. (veja Ed 3; Ag; Zc 4.6b-10a; 8.9-13) e uma dedicação em 515 (veja Ed 6).⁴¹ Essa realização está claramente ligada à benevolência de Dario em Esdras 5–6, mas também às iniciativas de Zorobabel, um descendente de Davi que serviu como governador de Yehud, e Josué, um descendente de Zadoque que serviu como sumo sacerdote, assim como à proclamação dos profetas Ageu e Zacarias (Ed 5.1-2), cujas profecias são datadas de 520 (Ag 1.1,15; 2.1,10,20; Zc 1.1,7) e 518 (Zc 7.1).

As rebeliões associadas à morte de Cambises e à ascensão de Dario parecem ter tido um impacto no livro de Zacarias, bem como sobre seu contemporâneo Ageu, datadas como elas estão entre as revoltas babilônias em 522-521 e a revolta do Egito em 519. Não se segue dessa observação que Ageu e Zacarias estivessem incitando a rebelião contra a coroa persa ao alimentar expectativas para Zorobabel, como tem sido sugerido.⁴² Na visão inicial de 1.7-17, Zacarias expressa uma preocupação dos judeus no primeiro período persa de que os babilônios não tivessem recebido o que mereciam por seus abusos contra os judeus na queda de Jerusalém e no período de cativeiro que se seguiu. Tal julgamento tinha sido previsto em vários materiais relacionados ao período exílico (Sl 137.8; Is 13–14,47–48; Jr 25.12-16; 50–51), mas evidências bíblicas e do Oriente Próximo apontam para uma transição tranquila entre o babilônio Nabonido e o persa Ciro em 539. Seria Dario (veja acima) aquele que iria finalmente punir os babilônios por suas rebeliões no início de seu reinado. Dessa maneira, enquanto para os livros de Crônicas e Esdras a figura-chave é Ciro, na transição da destruição para a renovação (2Cr 36.22-23; Ed 1.1-4), para Zacarias quem desempenhava esse papel era Dario (Zc 1.15; 2.2, 4[1.19,21]; 2.10-11[2.6-7]; 5.11; 6.8,10).⁴³ Além disso, o papel elevado desempenhado por Zorobabel e Josué e o trabalho deles na estrutura do templo, no início do reino de Dario, deveriam estar ligados às iniciativas de Dario para controlar seu recém-adquirido império. Isso seria parte de sua estratégia ocidental, preocupada principalmente em manter o controle sobre o Egito, que só recentemente havia sido incluído no rebanho persa. A exatidão da preocupação de Dario pela fronteira ocidental seria justificada quando os egípcios buscaram livrar-se da hegemonia persa no ano seguinte (519-518). Uma vez que as rebeliões foram sufocadas, Dario reestruturou o império politicamente e encorajou o desenvolvimento de códigos legais locais. O impacto disso pode ser visto na ênfase colocada na renovação de estruturas políticas dentro do livro (Zc 3; 4; 6.9-15) e o papel visto para código legal judaico dentro da terra (Zc 5). Zorobabel é identificado como governador sobre a província de Yehud começando pelo menos em 520, se não mais cedo (Ag 1.1,14; 2.2,21).⁴⁴ O governo de Zorobabel chegaria ao fim por volta de 510, e ele seria sucedido por seu genro Elnatã, que serviu ao lado da filha de Zorobabel, Selomite, até cerca de 490.⁴⁵ Quando o governo de Elnatã chegou ao fim, possivelmente por volta de 490 com a ascensão de Yehoʿezer como governador, nunca mais haveria uma ligação entre a família real tradicional e o governo político na província, ainda que os descendentes de Davi continuassem a viver dentro da comunidade (1Cr 3.17-24; Ed 8.2; cf. Zc 12.12).

Apesar do sucesso de Dario em sufocar a rebelião egípcia em 519-518, seria a sua fronteira ocidental que traria a sua morte. A paixão de Dario por estender seu domínio sobre a Europa encontrou forte resistência dos gregos, que o derrotaram na Batalha de Maratona em 490. Essa derrota encorajou os egípcios, que se rebelaram em 486. Em meio a esses reveses, Dario morreria, passando o cetro para seu filho Xerxes.

D. Xerxes (486-465 a.C.)

O recém-coroado Xerxes I, contudo, traria o Egito de volta ao rebanho persa e suprimiria duas rebeliões na Babilônia. No entanto, ele também iria lutar para subjugar os gregos em campanhas na Europa em 480-478 a.C. Embora tendo vencido um pequeno grupo de espartanos na Batalha de Termópilas, abrindo o caminho para o saque de uma Atenas deserta, suas forças, conduzidas por seu general Mardónio, seriam derrotadas em Salamina, Plateias e Micala. Xerxes abandonaria as tentativas de tomar o território grego e focaria em vez disso na solidificação do controle de seu império e desenvolvimento de sua capital modelo, Persépolis. Ele foi assassinado por um de seus oficiais próximos, Artabano, em 465, e foi sucedido por seu terceiro filho Artaxerxes I.

É difícil avaliar detalhadamente o impacto de Xerxes na comunidade judaica. O livro de Ester aponta para uma tradição de seu impacto positivo e negativo na comunidade exílica. A rápida referência a Xerxes em Esdras 4.6 revela que havia alguma oposição à comunidade judaica vivendo em Yehud e Jerusalém durante o seu governo, e que ele pelo menos recebeu uma carta de acusação. Não há informação disponível quanto à resposta dele, embora o material em Esdras 4 sugira que ela não foi tão positiva quanto se tinha esperado. Durante esse período, alguns têm identificado Yehoʿezer (490-470 a.C.) como governador sobre Yehud, com Azai possivelmente o sucedendo em 470.⁴⁶

E. Artaxerxes (465-424 a.C.)

Como seu pai e seu avô, Artaxerxes logo iria encarar uma revolta dos egípcios, conduzida por Inaro em 460-454 a.C., e apoiada pela Liga de Delos – aquelas regiões sob a esfera de influência ateniense (Império Ateniense). O exército persa foi despachado para o Egito, conduzido por Megabizo e Artabazo que, em 454, tinha encurralado os egípcios e os atenienses na ilha de Prosopis. Os atenienses fizeram um acordo com os persas, abandonando os egípcios à própria sorte. Kenneth Hoglund enfatiza a ligação entre esses eventos no Egito e a construção de uma série de fortalezas levantadas pelos persas no Levante, incluindo Yehud, ao longo de rotas-chave na região.⁴⁷ No período seguinte ao levante egípcio, Artaxerxes iria por fim chegar a um acordo com Atenas chamado de a Paz de Cálias (449), assegurando o controle de Chipre pelos persas, mas liberdade para as cidades gregas na Ásia Menor.⁴⁸

Esses eventos provavelmente forneceram o incidente que estimulou as iniciativas de Artaxerxes em relação à comunidade judaica durante o seu reino. No lado negativo, Esdras 4 fornece duas cartas escritas a Artaxerxes pelos oficiais persas contra os judeus (4.7,8-16) – dessas duas, a segunda leva a ação de Artaxerxes proibindo os judeus de reconstruir a cidade de Jerusalém (4.17-23). Isso possivelmente relaciona-se a uma preocupação inicial sobre a rebelião no Egito. No lado positivo, Esdras 7–10 e Neemias 1–13 recontam a aprovação de Artaxerxes e o comissionamento de dois líderes judaicos (Esdras e Neemias) para renovar a comunidade em Yehud, com Esdras focado no reestabelecimento da justiça (458) e Neemias focado na reconstrução da infraestrutura da cidade (445).⁴⁹

A alusão de Neemias aos primeiros governadores em 5.15 possivelmente se refere às figuras de Sesbazar, Zorobabel, Elnatã (Selomite), Yeho‘ezer e Azai, o que indica uma longa tradição de identidade política para a província de Yehud. Contudo, a reação dos líderes provinciais dos arredores às iniciativas de Neemias (Ne 2.10,19; 3.33,35 [4.1,3]; 6.1-2,6,12,14,17,19; 13.4,7) sugere que Yehud era um jogador fraco nas questões das satrapias e que Neemias, ao chegar com importante capital político vindo dos corredores internos do poder imperial, abalou o status quo ao fortificar Jerusalém.

III. História composicional

Com essa visão geral da história em mente, voltemos nossa atenção agora para como o livro de Zacarias se relaciona com esse período. É preciso começar primeiro com uma análise do desenvolvimento do livro, iniciando com o profeta relacionado com o livro, depois com a evidência dentro do livro de seu desenvolvimento como uma obra literária e, finalmente, sua conexão com a história.

A. O profeta Zacarias

Zacarias é identificado em seu livro o filho de Baraquias, o filho de Ido (1.1,7) e no livro de Esdras como o filho de Ido (5.1; 6.14). Embora nada mais se saiba acerca da figura de Baraquias,⁵⁰ uma figura denominada Ido aparece em Neemias 12.4 como o cabeça de um clã na segunda geração daqueles que retornaram do exílio ligados ao período de Zorobabel e Josué (veja mais no comentário de Zc 1.1). Mais tarde, no mesmo capítulo (12.16), uma figura chamada Zacarias assume a liderança do clã sacerdotal. Essa conexão sacerdotal iria explicar a associação próxima de Zacarias com a construção do templo (Zc 1.16-17; 4.6b-10a; 6.9-15) e com figuras relacionadas com a liderança do templo (e.g., Josué no capítulo 3 e 6.9-15; os sacerdotes e profetas no lugar do templo em 7.1-5).⁵¹ Há precedentes de figuras proféticas surgindo das fileiras sacerdotais na história israelita, como visto nas figuras de Moisés (Êx 2; Dt 34.10-12), Samuel (1Sm 1–3), Jeremias (Jr 1.1), Ezequiel (Ez 1.3) e Zacarias, filho de Joiada (2Cr 24.20). A maioria desses profetas sacerdotais pronunciou julgamento sobre o templo e seus serviços, mas também visualizou renovação para o templo. Zacarias não foi diferente. Ele anuncia um novo dia para o templo e ainda, por fim, confronta uma visão de renovação limitada à reconstrução do edifício e restauração dos serviços sacerdotais, intimando a uma renovação espiritual profunda condizente com a mensagem dos profetas pré-exílicos.

Dentro do livro, uma voz profética na primeira pessoa rege Zacarias 1–8 (e.g., 1.8; 7.4; 8.18) e também aparece no centro de Zacarias 9–14 (e.g., 11.7). Essa voz, pelo menos dentro de 1–8, é identificada pelos sobrescritos em 1.1,7; 7.1 como Zacarias, o profeta, mas esses sobrescritos revelam o papel de alguém além de Zacarias na apresentação desse material para uma audiência literária. Isso leva a uma investigação dos processos por meio dos quais a mensagem profética de Zacarias, originalmente oral ou escrita, foi reunida no livro que agora chamamos de Zacarias.⁵² Isso irá proporcionar uma compreensão do(s) contexto(s) histórico(s) em que e a partir de que essas palavras proféticas foram proclamadas ou escritas, o que ajudará os leitores modernos a ouvir o texto de maneiras condizentes com seus antigos leitores.⁵³

B. Zacarias 1-8

A história composicional de Zacarias 1.7–6.15 parece ser mais complicada do que a suposição – que geralmente se baseia na referência à palavra noite na abertura – de que os relatos de visão representam uma coleção unificada ligada a uma única noite (1.8).⁵⁴ O intervalo entre as datas em 1.7 e 7.1 (quase dois anos) é bastante longo, sugerindo que as visões e oráculos contidos nele representam a experiência do profeta sobre um período.⁵⁵ Além do mais, a introdução para a visão em 4.1 fala do mensageiro retornando (šûḇ) e despertando Zacarias, possivelmente sinalizando uma experiência mais complexa. Também, enquanto os dois relatos de visão (1.15; 2.1-4[1.18-21]) e a seção oracular em 2.10-17 (6.13) olham para o julgamento iminente da Babilônia e da liberdade para os exilados sobre o controle dela, o relato de visão final registra o cumprimento deles (6.8), seguido pelo surgimento de figuras exílicas (6.10).

Ao longo de 1.7–6.15 é possível discernir uma série de relatos de visão básicos (veja Orientação para Zacarias 1.7–6.15 adiante). Escrito em estilo autobiográfico, eles incluem diálogos na forma pergunta/resposta com mensageiros celestiais e descrições de cenas que obscurecem a linha entre terra e céu. Embora a língua não seja idêntica em cada caso, as visões seguem padrões que em geral se repetem. Entre os relatos de visão, o que é encontrado em Zacarias 3 geralmente é identificado como o mais distinto, divergindo ao máximo dos outros em termos de estrutura e linguagem, mas também transparecendo características de sinal-ato profético com um oráculo complementar.⁵⁶

Zacarias 3 não é somente a única perícope que se destaca nessa seção de Zacarias.⁵⁷ Espalhado por todos os relatos de visão está uma série de oráculos que podem ser identificados pelo uso de linguagem repetitiva típica de oráculos proféticos: declaração de Yahweh (num-YHWH) e assim disse Yahweh (dos exércitos) (kōh ʾāmar YHWH ṣeḇāʾôṯ). Esses fragmentos são encontrados em vários intervalos entre as visões: 1.14b-17; 2.8-9(4-5); 2.10-16(6-13); 4.6b-10a; 5.4; 6.9-15.⁵⁸. Em alguns casos, esses segmentos oraculares desempenham um papel integral na cena da visão e assim parecem ter sido parte de suas respectivas visões em um período anterior: especialmente 2.8-9(4-5); 5.4 (sobre 1.14-17, veja mais abaixo).⁵⁹ Em pelo menos três casos, contudo, encontra-se as partes que se sobressaem ao ciclo de visão: 2.10-17(6.13); 4.6b-10a; 6.9-15.⁶⁰

O primeiro desses segmentos, 2.10-17(6-13), aparece após a visão que é claramente estabelecida em Jerusalém, e diz respeito à reconstrução da cidade. O segmento, porém, subitamente interpõe uma série de imperativos (nûs, foge; mālaṭ, salve-se) dirigidos a um contexto e a uma comunidade diferente (aqueles que vivem na terra do Norte ou na Filha da Babilônia) daquela que a precedeu (os que vivem em Sião, Jerusalém). O segundo segmento, 4.6b-10a, há muito confunde os intérpretes desse livro devido à forma como ele pausa importunamente (em meio à sentença) no centro da visão das oliveiras em Zacarias 4. Essa terceira parte, 6.9-15, também fica de fora do ciclo de visão – como as mudanças de conteúdo de um relato de visão a respeito da punição da terra do Norte, para uma palavra dirigida a um grupo de pessoas que retornava do exílio.⁶¹

Há também duas características na linguagem e estilo que ligam essas duas partes, embora as diferencie dos outros oráculos. Primeira, todos os três contêm a fórmula profética: então você saberá que Yahweh Sebaoth me enviou a você (weyāḏaʿat kî-YHWH ṣeḇāʾôṯ šelāḥanî ʾēlāyiḵ: 2.13,15[9,11]; 4.9; 6.15). Segunda, embora eles empreguem a fórmula oráculo típica encontrada em oráculos integrados (num-YHWH; ḵōh ʾāmar YHWH ṣeḇāʾôṯ), dois dos três (4.6b-10a; 6.9-15) contêm outra fórmula, a palavra de Yahweh veio a mim (wayehi ḏeḇar-YHWH ʾēlay: 4.8; 6.9).⁶²

Essa fórmula final também aparece em dois pontos em 7.1–8.23 (7.4; 8.18), estabelecendo uma conexão entre as partes complementares em 1.7–6.15 e capítulos 7–8. O uso da primeira pessoa eu sugere que essas partes foram extraídas de uma coleção de oráculos criados pelo profeta. A fórmula da primeira pessoa nos capítulos 7–8 mais provavelmente enfatiza o cerne original daqueles capítulos, que eram focados em uma interação entre o profeta Zacarias e um contingente de Betel (veja Orientação para Zacarias 7.1–8.23). Entre essa coleção de oráculos havia também oráculos dirigidos para a comunidade exílica encorajando-os a fugir da Babilônia na esteira da punição dela (2.10-17[6-13]), oráculos dirigidos a Zorobabel em relação à reconstrução do templo (4.6b-10a) e um relato de um sinal-ato dirigido a Josué e às pessoas recém-retornadas do exílio (6.9-14).

Zacarias 1.7, com sua data introdutória (no vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês, o mês de Sebate, no segundo ano de Dario) e a fórmula de mensageiro (a palavra de Yahweh veio a Zacarias, filho de Baraquias, o filho de Ido), é claramente criação daquele responsável por incorporar 1.8–6.15 no complexo maior de Zacarias 1–8 (cf. 1.1; 7.1). O estilo dessa terceira pessoa contrasta com o estilo da primeira pessoa encontrado igualmente nos relatos da visão (cf. 1.8) e no nível secundário. A fórmula dessa terceira pessoa aparece não apenas em 1.1,7; 7.1, mas também em 7.8, revelando que a pessoa responsável por criar a narrativa descrevendo Zacarias entregando os oráculos introduzidos por 7.4 e 8.18 é também responsável por criar o complexo maior de Zacarias 1–8, com sua data e fórmulas de mensageiro em 1.1,7; 7.1. A incrível semelhança entre essas fórmulas proféticas da terceira pessoa em 1.1,7; 7.1,4 (hāyâ ḏeḇar-YHWHʾel-zeḵaryâ, a palavra de Yahweh veio a Zacarias) e a fórmula profética da primeira pessoa vista nas seções suplementares em 1.8–6.15 e no nível fundamental de 7.1–8.23 (wayehî ḏeḇar-YHWHʾēlay, a palavra de Yahweh veio a mim; em 8.1, veja mais abaixo) sugerem que aquele responsável por ajuntar a maior parte de 7.1–8.23 foi influenciado pela coleção oracular da primeira pessoa na qual eles estavam confiando como fonte (veja mais em 8.1-13).

Há também sinais de que o primeiro relato de visão em 1.8-17 foi composto ou revisado como parte do processo de integrar os vários materiais em Zacarias 1–8. A ligação entre 1.1-6 e o primeiro relato de visão em 1.8-17 é estabelecida pela maneira que o discurso 1.16 declara que Yahweh irá cumprir seu lado da oferta, declarada pela primeira vez em 1.3: Voltem para mim, e eu voltarei para vocês (cf. 1.4). Yahweh está pronto a responder pelo retorno do povo a ele, narrado em 1.6b. Há outros ecos de 1.1-6 no primeiro relato de visão, quando Yahweh fala de sua ira usando o verbo qāṣap e o substantivo de qeṣep em 1.15 (cf. 1.2), e como o verbo qārāʾ é usado para descrever a proclamação de um profeta para o povo em 1.14,17 (cf. 1.4).⁶³

Uma investigação adicional do primeiro relato de visão, contudo, revela um vocabulário repetido em outros pontos de Zacarias 1–8, e as passagens com vocabulário compartilhado são logicamente aquelas identificadas acima como material suplementar em 1.7–6.15 ou dentro de 7.1–8.23.⁶⁴

šālaḥ (enviar, 1.10; cf. 2.12-13,15[8-9,11]; 4.9; 6.15; 7.2,12; 8.10)

rāḥam (mostra compaixão, 1.12,16; cf. 7.9)

ʿîr (cidade, 1.12,17; cf. 7.7; 8.3,5,20)

zeh šiḇʿîm šānâ (esses setenta anos, 1.12; cf. 7.5)

ṭôḇ (bom, 1.13,17; cf. 8.19)

qārāʾ (proclama, 1.14,17; cf. 1.4; 3.10; 7.7,13[2x]; 8.3)

kōh ʾāmar YHWH ṣeḇāʾ ôṯ (assim disse Yahweh dos exércitos, 1.14,17; cf. 1.3-4,14,17; 2.12[8]; 3.7; 6.12; 7.9; 8.2,4,6-7,9,14,19,20,23; cf. 4.6)

qānāʾ (ser zeloso, 1.14; cf. 8.2)

qinʾâ geḏôlâ (extremamente zeloso, 1.14; cf. 8.2)

ṣîyôn (Sião, 1.14,17; cf. 2.11,14 [7.10]; 8.2-3)

qeṣep/qāṣap (irado/estar irado, 1.15[3x]; cf. 1.2[2x]; 7.12; 8.14)

gôy (nação, 1.15; cf. 2.4,12,15[1.18; 2.8,11]; 7.14; 8.13,22-23)

šûḇ (retornar, 1.16; cf. 1.3,4,6; 7.14; 8.15)

bāḥar yerûšālāim (escolher Jerusalém, 1.17; cf. 2.16[12]; 3.2)

Isso revela que o diálogo e o material ocular no primeiro relato de visão foram moldados de acordo com o material encontrado nos materiais suplementares em 1.7–6.15 e do material em 1.1–6 e 7.1–8.23.⁶⁵

Conforme percebido na introdução para 1.1-6 e na Orientação para Zacarias 7.1–8.23, há muitas ligações entre essas duas passagens parentéticas em Zacarias 1–8. Contudo, além das ligações percebidas entre o primeiro relato de visão e 1.1-6 acima, não há ligações importantes entre 1.1-6 e os relatos de visão, exceto para o relato de visão encontrado no capítulo 3, identificado acima como suplementar por outros critérios. Tanto 1.1-6 quanto o capítulo 3 empregam qārāʾ (proclamar, 1.4; 3.10), dereḵ (caminho, 1.4,6; 3.7), šāmaʿ (ouvir, 1.4; 3.8) e ʿeḇeḏ (servo, 1.6; 3.8).

Nas análises dos relatos de visão a seguir (veja Orientação para Zacarias 1.7–6.15), ligações importantes serão estabelecidas entre os relatos de visão 1, 4, 5 e 8. Os relatos de visão 1 e 8 (1.8-17; 6.1-8) são universalmente considerados como um par coeso em seu emprego compartilhado de equipes coloridas de cavalos envolvidos em manobras militares usando o vocabulário hālaḵ (patrulha, hitpael). Os relatos de visão 4 e 5 (caps. 3–4) também estão ligados por seu foco nas chamadas figuras de liderança (Josué, Zorobabel) e a referência aos elementos sacerdotais (roupa, candelabro), bem como sete olhos (3.9; 4.10) e imagens arbóreas da fertilidade (vinho, figueira, oliveira). As visões 1, 5 e 8 contêm os únicos usos da frase toda a terra (kol-hā ʾāreṣ) em Zacarias 1–8 (1.11; 4.10,14; 6.5), uma frase que tem escopo cósmico.⁶⁶ As visões 1, 4 e 5 contêm os únicos usos da raiz ʿāmaḏ (de pé) em Zacarias 1–8 (1.8,10-11; 3.1,3-4-5,7; 4.14), um termo que, pelo menos nas visões de 4 e 5, refere-se à posição de assistentes celestiais no conselho divino. Essa conexão com o conselho divino modela a mais forte ligação entre as visões 1, 4, 5 e 8. Cada um desses relatos de visão contém vocabulário encontrado nas cenas de conselho divino retratadas em Jó 1–2, inspirando-se particularmente nos versos introdutórios para as duas cenas de diálogo em Jó 1.6-7; 2.1-2. O único elemento repetido é hālaḵ (patrulha, hitpael), sendo os outros elementos todos extraídos de forma independente da mesma fonte.

hālaḵ (patrulha, hitpael). Zacarias 1.10-11; 6.7 (por toda a terra, bāʾāreṣ); cf. Jó 1.7; 2.2 (por toda ela, bāh) haśśāṭān (o acusador): Zacarias 3.1-2; cf. Jó 1.6-7,8-9,12; 2.1-4,6-7

šûṭ (vagar, polel): Zacarias 4.10 (por toda a terra, beḵol-hāʾāreṣ); cf. Jó 1.7; 2.2 qal (por toda a terra, bāʾāreṣ)

yāṣaḇ (apresentou-se, hitpael): Zacarias 6.5 (diante do Senhor de toda a terra, ʿal-ʾaḏôn kol-hāʾāreṣ); cf. Jó 1.6; 2.1 (diante de Yahweh, ʿal-YHWH)

Essa evidência sugere que as visões 1, 4, 5 e 8 são parte de uma experiência ou esforço comum. Se esses quatro relatos de visão não podem ser separados uns dos outros e as visões 1 e 4 mostram ligações com os processos que são vistos em Zacarias 1–8 juntando-se nessa forma final, então é possível discernir aqui pelo menos um esforço literário comum relacionado a 1.1-6; 1.7-17; 2.10-17(6-13); 3.1-10; 4.1-14; 6.1-8; 6.9-15; 7.1–8.23 (ou 7.1-14; 8.14-23, se 8.1-13 for colocado mais tarde). As visões de 2-3 (2.1-9[1.18–2.5]) e as visões de 6-7 (5.1-11) não contêm ligações lexicais importantes com outros relatos de visão. Contudo, as visões 2-3 se encaixam com a sequência de relatos de visão em termos de tema, pelo preenchimento do programa de restauração em dois passos definido nos oráculos do primeiro relato de visão (1.15 na visão 2 e 1.16-17 na visão 3). As visões 6-7 estão intimamente ligadas uma à outra e estabelecem o fundamento para o chamado ao arrependimento em 7.1–8.23 (cf. 6.15). Em termos de forma de relato de visão (veja Orientação para Zacarias 1.7–6.15), as visões 2-3 e 6-7 contêm tipos #1 ou #3 de Nota de Observação Introdutória (A), tipos somente usados uma vez nos outros relatos de visão no relato de visão 8. Os tipos de Nota de Observação Introdutória #1 e #3 são típicos da tradição de relato de visão de Ezequiel, enquanto que os tipos #2 e #4 são típicos da tradição de relato de visão de Amós/Jeremias. (Veja tabela nas p. 130 a 132)

A evidência apresentada acima destaca os pontos de conexão entre uma grande porção do material em Zacarias 1–8. Subjacente ao material é possível discernir dois relatos autobiográficos: um relacionado às experiências visionárias e outro às experiências não visionárias que diziam respeito aos oráculos, sermões e relatos de um sinal-ato. Esses materiais foram reunidos na forma que temos hoje com base, parcialmente, nas datas registradas nesses materiais autobiográficos, mas também com base em outros fundamentos literários. A pessoa responsável por os reunir imitou a fórmula profética utilizada pelo próprio Zacarias, a palavra de Yahweh veio. Nesse esforço editorial inicial, muito de Zacarias 1–8 foi reunido: 1.1-6; 1.7-17; 2.10-17(6-13); 3.1-10; 4.1-14; 6.1-8; 6.9-15; 7.1-14; 8.14-23. As visões em 2.1-9 (1.18–2.5) e 5.1-11 podem ter sido adicionadas em um momento posterior, mas à luz de sua íntima ligação temática com os materiais contíguos, eles provavelmente eram parte dessa obra editorial (sobre 8.1-13, veja mais adiante).

C. Zacarias 9-14

Toda pessoa que leia o livro de Zacarias percebe uma clara mudança no estilo entre os capítulos 8 e 9. Zacarias 9.1 emprega uma fórmula diferente daquelas usadas em 1.1,7 e 7.1. Essa fórmula, maśśāʾ ḏeḇar-YHWH, "uma declaração profética, a palavra de Yahweh", também ocorre em 12.1, dividindo o material restante de Zacarias em duas seções principais: os caps. 9–11 e os caps. 12–14. Essa divisão é confirmada pela evidência interna. Os capítulos 9–11 focam no Sul dominante e nas identidades tribais do Norte (Judá e José), enquanto os capítulos 12–14 focam nas identidades judaicas internas (casa de Davi, habitantes de Jerusalém, casa de Judá: 12.2,4-5,7-8,10; 13.1; 14.14,21) ainda que ignore as identidades do Norte. Além disso, Zacarias 12–14 regularmente emprega a frase beyôm-hahûʾ (naquele dia: 12.3-4,6,8-9,11; 13.1,4; 14.4,6,8-9,13,20-21) em um sentido futurístico, enquanto Zacarias 9–11 só usa essa

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