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Martinho Lutero: Comentário a Romanos e Catecismo Menor
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E-book229 páginas5 horas

Martinho Lutero: Comentário a Romanos e Catecismo Menor

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Sobre este e-book

Comentário a Romanos, Prefácio a Romanos e Catecismo Menor refletem de modo exemplar a teologia de Martinho Lutero, sua produção acadêmica, seu ensino e seu trabalho pastoral. Acima de tudo, revelam sua profunda percepção do mundo e da vida cristã sob a justiça de Deus revelada no evangelho. Publicação original da Introdução e comentário a Romanos: Lutero, Martinho. Obras Selecionadas V.8
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de jun. de 2021
ISBN9786555910308
Martinho Lutero: Comentário a Romanos e Catecismo Menor

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    Martinho Lutero - Martinho Lutero

    Agradecimento

    Agradecemos à Comissão Interluterana de Literatura (CIL) pela cessão dos seguintes textos, em Português, para esta publicação: Introdução (Ricardo W. Rieth), Prefácio e o Comentário de Martinho Lutero à Carta aos Romanos, publicados In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, volume 8 – Interpretação Bíblica, Princípios. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2003, [referida aqui como OS 8]. Mais informações na Apresentação e em www.lutero.com.br

    O texto do Catecismo Menor de Martinho Lutero em

    língua portuguesa, publicado neste livro, tem direitos reservados

    à Editora Concórdia Ltda.

    Martinho Lutero

    Comentário a Romanos

    e Catecismo Menor

    CONSULTOR EDITORIAL: Ricardo W. Rieth

    PREPARAÇÃO INICIAL: Tiago J. Albrecht

    PREPARAÇÃO FINAL E REVISÃO: Rony R. Marquardt

    ARTE DA CAPA – Lorenzo Stello e Bruna Plesnik

    PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Leandro R. Camaratta

    ASSISTENTE EDITORIAL: Daiene Bauer Kühl

    EDITOR: Nilo Wachholz

    GERENTE COMERCIAL: Waldemar Garcia Jr

    Os textos bíblicos transcritos em português são traduções da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), usados com permissão. As exceções são citadas no contexto.

    Todos os direitos desta obra, em qualquer formato, pertencem à Editora Concórdia Ltda.

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

    L973        Lutero, Martinho

    Martinho Lutero: comentário a Romanos e o Catecismo Menor / Martinho Lutero; [editado por] Nilo Wachholz. – Porto Alegre : Concórdia, 2021.

    216 p.

    Publicação original da Introdução e comentário a Romanos: Lutero, Martinho. Obras Selecionadas, v. 8: interpretação bíblica, princípios. Trad. por Adolpho Schimidt et al. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2003.

    Catecismo Menor trad. por Rodolpho Hasse. 36. ed. rev. amp. Porto Alegre, Concórdia, 2016.

    1. Religião. 2. Cristianismo. 3. Bíblia. 4. Luteranismo. I. Wachholz, Nilo. II. Título.

    CDU 227.12

    238.1

    Bibliotecária Débora Zschornack – CRB 10/1390

    ISBN: 978-65-5591-022-3

    Sumário

    Orientações ao leitor

    Apresentação

    Introdução

    Prefácio à Carta de São Paulo aos Romanos

    Comentário à Carta aos Romanos

    Catecismo Menor

    Bibliografia recomendada

    Orientações ao leitor

    lgumas orientações para o leitor são necessárias, considerando que foram utilizados textos bastante técnicos, que estão em Obras Selecionadas v. 8, adaptados para este livro.

    Texto de Lutero: o texto de Lutero relativo ao comentário à carta aos Romanos, escrito em latim com a intenção de ser utilizado nas preleções de Lutero em sala de aula na Universidade de Wittenberg, apresenta algumas lacunas. Essas lacunas foram preenchidas, de maneira especial com relação aos textos bíblicos citados. A indicação do que foi acrescentado aparece entre colchetes [ ].

    Versão bíblica: a versão bíblica utilizada por Lutero foi a versão em latim conhecida como Vulgata. Os textos bíblicos citados foram traduzidos de acordo com o texto escrito por Lutero. Foram corrigidas algumas citações de referências bíblicas em que ele citou de memória e se equivocou e, também, citações dos Salmos, visto que a Vulgata apresenta numeração um pouco diferente dos capítulos. Os números dos versículos foram acrescentados, visto que àquela época ainda não havia essa separação por versículos nas versões bíblicas.

    Clareza e simplicidade do texto: para facilitar a leitura do texto, foram simplificadas algumas situações, como, por exemplo, a citação de referências bíblicas e o uso de abreviaturas que, na maior parte dos casos, foram colocadas por extenso.

    Notas de pé de página: estas também foram simplificadas, procurando-se informar de maneira direta as obras citadas, bem como as referências às obras de Lutero. A referência ao original do comentário de Lutero à carta aos Romanos é referido como WA 56, e do prefácio como WA DB7. A tradução destes dois textos consta em OS 8. Estas referências estão indicadas na Apresentação, a seguir.

    Apresentação

    á diversas maneiras de nos aproximarmos da Palavra de Deus, a Bíblia. Podemos ler a mesma para buscar consolo e refrigério em momentos de aflição, ajuda em tempos difíceis, força nos momentos de tribulação. Também se pode ir até a Escritura Sagrada para elaborar um código de conduta, a partir do qual se pode tentar aplacar a ira de Deus e procurar viver uma vida agradável a ele.

    Utilizar a Bíblia para tentar agradar a Deus é comum nos dias de hoje, mas não é novidade. Já na época de Lutero, ainda antes de iniciar o movimento da Reforma, quando lecionava na Universidade de Wittenberg, ele procurava orientar as pessoas sobre a maneira correta de se aproximar da Escritura e, assim, do próprio Deus. Como viver a fé verdadeira em uma vida agradável a Deus com base na justiça divina revelada em Jesus Cristo é o ponto central da teologia de Lutero exarada da carta do apóstolo Paulo aos Romanos.

    A definição correta de termos chave da Bíblia e a precisa compreensão do que Deus revelou em sua Palavra foram a preocupação de Lutero em toda sua trajetória como teólogo e como professor de teologia. Nos anos de 1515 e 1516 ele lecionou em Wittenberg sobre a carta aos Romanos, esboçando ali definições profundas sobre conceitos fundamentais da fé cristã, como fé, graça, justiça e vida, entre outros.

    Estas preleções foram reunidas no volume 56 da edição crítica conhecida como Weimar: Der Brief an die Römer – 1515/1516. In: D. Martin Luthers Werke, volume 56. Weimar: Hermann Böhlaus Nachfolger, 1938 [referida como WA 56]. O texto é composto de anotações de Lutero ao texto latino da carta aos Romanos, ao qual acrescentou suas observações entre as linhas e margens. Também foram acrescentadas anotações feitas pelos alunos, resultando num volume de 514 páginas.

    Desse comentário de Lutero à epístola aos Romanos foi feita uma seleção de textos pela Comissão Editorial Obras de Lutero, coordenada pela CIL – Comissão Interluterana de Literatura, e publicada em LUTERO, Martinho. A epistola do bem-aventurado apóstolo Paulo aos Romanos – 1515/1516. In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, volume 8 – Interpretação Bíblica, Princípios. Luis H. Dreher, trad. São Leopoldo: Sinodal, Porto Alegre: Concórdia, 2003, p. 254-330 [referida como OS 8].

    Também foi incluída no presente livro a Introdução ao comentário de Lutero a Romanos, escrita pelo Dr. Ricardo W. Rieth, publicada em OS 8, p. 237-254.

    Após a tradução da Escritura Sagrada para a língua alemã, Lutero sentiu a necessidade de orientar os leitores para os pontos centrais e os principais ensinos de cada livro bíblico, escrevendo os prefácios ao Antigo e ao Novo Testamento e aos livros bíblicos. Estes prefácios mostram a importância que a Bíblia teve na vida e obra de Lutero. Estão publicados em LUTERO, Martinho. Prefácios aos livros bíblicos. In: OS 8, p. 17-163. O Prefácio à epístola de São Paulo aos Romanos – 1546 está publicado às páginas 129-141 desse volume. Foi escrito por Lutero em 1546, e o original alemão foi publicado na edição crítica de Weimar: Vorrede auff die Epistel S. Pauli an die Römer – 1546. In: D.Martin Luthers Werke: Die Deutsche Bibel, volume 7 – Das Neue Testament, Episteln and Offenbarung – 1522/1546. Weimar: Hermann Böhlaus Nachfolger, 1931, p. 3-27 [referida como WA DB 7].

    Mas há uma obra de Lutero que resume de forma grandiosa sua teologia, suas orientações para a fé a vida cristã, sua concepção de Deus e da Palavra divina. O Catecismo Menor foi escrito por Martinho Lutero em 1529. Seu objetivo era o uso nos lares, para a educação de crianças, jovens e adultos nas doutrinas principais da fé cristã e para o crescimento na vida cristã. A edição aqui utilizada do Catecismo Menor está publicada em LUTERO, Martinho. Catecismo Menor – 1529. Concórdia: Porto Alegre, 2016.

    Três textos de Lutero que refletem sua teologia, sua produção acadêmica, seu ensino. Mas, acima de tudo, revelam sua profunda percepção do mundo e da vida do cristão em todas as épocas. Assim, Lutero deixa clara a atualidade e a importância da Escritura para cada filho de Deus redimido pela morte e ressurreição de Jesus. É Deus continuando a agir como no princípio, vindo ao encontro de ser humano para lhe revelar seu amor, sua graça e sua justiça, Cristo Jesus.

    Não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: ‘O justo viverá por fé’. (Romanos 1.16-17) O Evangelho é o poder de Deus que revela a sua justiça, Jesus Cristo. O justo viverá por fé resume a carta aos Romanos, resume a obra de Deus em seu Filho Jesus, resume nossa fé e nossa vida com Cristo. Essa fé, que é a dádiva do Batismo, o conteúdo do Credo Apostólico, a confiança expressa no Pai-Nosso e que torna digna a pessoa que recebe a Santa Ceia, é vivida nos Dez Mandamentos e na vocação para a qual Deus chama seus filhos.

    Assim, o Catecismo Menor é a expressão da fé e da vida cristãs apresentadas no comentário e no prefácio de Lutero à carta aos Romanos, apontando para a justiça de Deus e a aplicando à vocação do justo que vive por fé.

    Rony Ricardo Marquardt

    Pastor

    Pauloe a carta aos

    Romanos antes da

    Reforma

    m 1512, Lutero concluiu seu doutorado em teologia. No ano seguinte, tornou-se catedrático de Bíblia na Universidade de Wittenberg, posição que ocupou até o final de sua vida. O primeiro livro bíblico tematizado por ele em sala de aula foi Salmos, de 1513 a 1515. Sua escolha deveu-se, provavelmente, ao fato deste ser o livro que mais conhecia, tendo-o conduzido no aprendizado de outras partes da Escritura. Entre os monges agostinianos eremitas havia a prescrição de ler diariamente trechos dos Salmos, e Lutero procurou segui-la sistematicamente .

    Depois de Salmos, Lutero voltou seu interesse docente à epístola de Paulo aos Romanos. A escolha dos livros bíblicos para essas primeiras preleções teve um caráter programático. O Saltério, tido como livro de oração, mas também como orientação para a confissão de pecados, serviu especialmente para chegar a uma nova compreensão de pecado. A escolha de três cartas paulinas para as preleções posteriores – Romanos, Gálatas (1516-1517) e Hebreus (1517-1518), esta última, então, considerada paulina – revela sua intenção de prosseguir com o estudo intensivo de Paulo, iniciado anteriormente, a fim de tornar mais próximos de si temas centrais de sua teologia. A opção por Romanos, como objeto da segunda preleção exegética, tem, portanto, um significado muito especial: a partir de seu conteúdo dever-se-ia estabelecer, segundo o professor de Lectura in Biblia da Universidade de Wittenberg, a compreensão da Bíblia como um todo.¹

    Romanos possui um significado especial na história do pensamento cristão, a começar pela trajetória teológica do próprio São Paulo.² Ele a escreveu em uma situação especial que exigia a apresentação completa de sua pregação do Evangelho, a fim de trazer sua interpretação do núcleo da mensagem cristã para que outros grupos na Igreja primitiva não só a tolerassem como base de sua missão entre os gentios, mas também a reconhecessem e a aceitassem como fundamento comum da Igreja que se formava a partir de judeus e gentios. Em Romanos, o apóstolo elabora um conceito global e justificado de um ponto de vista inter-religioso para a fé cristã em sua relação com a fé judaica. Faz uma repetição aprofundada e detalhada das considerações que tecera na controvérsia com judaizantes, documentadas, especialmente, em sua carta aos Gálatas. Deixando este discurso, de cunho mais polêmico e extremado, Paulo busca em Romanos uma posição de toda a Igreja, que especifique sua argumentação por ocasião do Concílio de Jerusalém (Atos 15). Quer dar consistência e projeção à sua obra missionária como um todo. Tendo que ir a Roma, não como missionário, mas como prisioneiro, e tendo logo após sofrido o martírio, pode-se dizer que nesta epístola está seu testamento para toda a Igreja.

    Relacionado a isso está o significado de Romanos na história do cristianismo primitivo. Não é possível saber com exatidão como o pensamento de Paulo foi recebido junto a suas forças dirigentes em Jerusalém. Não há evidências de uma rejeição a seu pensamento nem de que tenham ocorrido rupturas em decorrência do que ensinou. É significativo que, tanto ele como Pedro, tenham morrido como mártires em Roma. A veneração dirigida a ambos deixa claro que, no geral, houve aceitação também da pessoa, da obra e da pregação de Paulo. Quando se forma o cânone neotestamentário, Romanos já terá um papel central. À carta é atribuído o caráter de síntese da pregação paulina e, consequentemente, da pregação apostólica como um todo.

    As cartas de Paulo e, especialmente, a de Romanos foram consideradas uma leitura difícil nas celebrações litúrgicas das comunidades cristãs nos primeiros séculos (2Pedro 3.16). Assim, não deveria causar surpresa que justamente seu ensino sobre a justificação deixasse de alcançar um significado essencial na história do nascimento da teologia cristã antiga. A maior – e também mais radical – exceção nesse sentido foi Marcião³ que colocou as cartas paulinas no centro do cânone e, talvez, por isso, tenha favorecido sua inclusão definitiva. Até o século III, Romanos não teve significado central na teologia cristã. No cristianismo oriental, principiando com Orígenes,⁴ a exegese procurou compreender a teologia do apóstolo no contexto do pensamento grego, buscando seu método na filologia de então e legando sucessivos comentários aos textos paulinos. O ensino sobre justificação não teve grande repercussão no pensamento ocidental até os séculos IV e V. Foi aí que surgiu uma interpretação de Paulo completamente nova – por exemplo, com Ambrosiaster e Pelágio.⁵ Em reação a isso, Agostinhoelaborou uma concepção teológica global, baseada na doutrina paulina da justificação, que se impôs na Igreja ocidental. Esta entrou para a tradição teológica, sendo conhecida como doutrina da graça. Isso fez com que o pensamento paulino passasse a impregnar de modo essencial também a vida cristã, acima de tudo, sob a forma de pregação e meditação. A teologia medieval incorporou a herança agostiniana, recebendo, simultaneamente, a tradição exegética do Oriente. A Suma Teológica de Tomás de Aquinosó pode ser compreendida levando-se em conta a teologia paulina transmitida por Agostinho.

    Com a Reforma do século XVI chegou-se a uma nova fase na recepção do pensamento de Paulo. Certamente, a mediação agostiniana tradicional e os temas da mística de fins da Idade Média tiveram influência, mas não se pode negar a constituição de um encontro sob muitos aspectos completamente novo com Paulo e com Romanos. Não foi o caso somente do surgimento de uma nova escola teológica, mas também, e, principalmente, do lançamento das bases de uma espiritualidade eclesial e individual constitutiva para a modernidade. A experiência pessoal de pessoas cristãs foi marcada pela temática paulina da justificação do pecador. Justificação e santificação converteram-se em conceitos básicos para o cristianismo mais avivado ou, até, entusiasta. A sociedade burguesa, influenciada pela Reforma, acabou determinada profundamente pelo pensamento paulino da liberdade originária da justificação do pecador. O texto de Romanos 13.1-7 foi marcante para a compreensão do Estado, de sua relação com a Igreja e dos parâmetros para a formação de um juízo ético cristão na ação política, social, econômica, cultural e em outras dimensões do cotidiano.

    Lutero, seus alunos

    e a carta aos Romanos

    na sala de aula

    Lutero seguiu o mesmo procedimento adotado no caso da preleção sobre Salmos. Pediu ao gráfico João Grünenberg para imprimir cópias especiais do texto de Romanos na Bíblia Vulgata, provavelmente, conforme a edição de Basiléia de 1509. A impressão encomendada a Grünenberg trazia o texto com amplo espaço entre as linhas, e margens largas de ambos os lados. Nesses espaços em branco, Lutero transcreveu cuidadosamente seus comentários em latim a passagens de Romanos, na forma de glosas, passando a limpo o rascunho preparado previamente em tiras de papel. De acordo com o costume de então, as glosas eram ditadas palavra por palavra aos estudantes, que as copiavam em seu próprio exemplar do texto latino. Outros comentários de maior extensão, referentes a trechos mais amplos da epístola selecionados especialmente por Lutero, assumiram a forma de escólios. Serviam de preparação para as preleções.

    Resultaram daí 28 páginas de glosas e 123 de escólios. Durante três semestres, a partir de meados de 1515, Lutero as apresentou a seus estudantes. As preleções ocorriam às segundas e sextas-feiras, iniciando às 6 horas da manhã. Além dos manuscritos do próprio Lutero, permaneceram preservadas as anotações de alguns estudantes. Os documentos não se apresentam na íntegra e parte deles é cópia de originais. De seu conjunto, no entanto, pode-se chegar a uma imagem bastante fiel daquilo que Lutero efetivamente expôs em sala de aula. Também é interessante comparar o conteúdo do manuscrito do professor, isto é, o texto a partir do qual iniciava suas exposições, com os registros feitos pelos estudantes. Lendo os documentos nessa perspectiva, percebe-se que Lutero ditou suas glosas quase que ao pé da letra, enquanto que, no caso dos escólios, apresentou-os com grande liberdade, omitindo, abreviando e, ocasionalmente, substituindo trechos por outros conteúdos. Seguindo o procedimento da época, Lutero lia o texto latino das Escrituras, intercalando-o com breves paráfrases explicativas a palavras e expressões – as glosas interlineares. De quando em quando, interrompia esse fluxo de leitura para interpretações um pouco mais extensas que deveriam ser registradas nas margens – as glosas marginais. Ou, então, anunciava uma discussão mais demorada acerca de um trecho específico

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