Breve Cartilha de Apologética
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Sobre este e-book
Um dos propósitos primordiais deste livro é encorajar o estudo, as futuras leituras e, sobretudo, a prática. A apologética cristã, nascida com a igreja primitiva, desaparecerá apenas quando a realidade do Cristo crucificado, sepultado e ressurreto, se cumprir na consu¬mação do vindouro reino de Deus. Até lá, temos trabalho a fazer.
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Breve Cartilha de Apologética - James W. Sire
Prefácio
No momento em que a igreja nasceu, a apologética nasceu junto. O sopro do Espírito despertou os discípulos reunidos no Pentecoste e os crentes irromperam a falar em línguas estranhas, o que tanto lhes animou quanto causou perplexidade. Pedro, então, levantou-se e discursou, explicando o que estava acontecendo. Ele foi, digamos, o primeiro apologista cristão.
Aquele acontecimento se deu muito tempo atrás; Pedro era um apóstolo, o emergente líder da igreja primitiva. No entanto, aqui estamos nós. Cada um de nós encontrou-se com Jesus nas Escrituras, nas vidas de nossos amigos e em nosso íntimo, conforme mantemos comunhão com ele por meio da oração. Nós recapitulamos a igreja primitiva em nossas próprias vidas. Nós conhecemos a Jesus e queremos comunicar essa realidade a um mundo confuso e problemático.
O que podemos aprender com Pedro, Estêvão, Paulo, e os escritores dos Evangelhos? Como podemos apresentar uma defesa efetiva da fé cristã? O que devemos fazer exatamente? Como podemos fazê-lo bem?
O presente livro é, de fato, o que diz seu título – uma cartilha, um livro realmente inicial na exploração da natureza da apologética cristã, que, definida de forma simples, é uma defesa da fé cristã. Assim, o capítulo primeiro inicia olhando para o que dizem nove passagens essenciais do Novo Testamento sobre a apresentação do Evangelho, chegando, por fim, à definição que pode nos orientar em nosso testemunho. E então, em razão das frequentes distorções da teoria e prática apologéticas, nos voltamos para os valores e os limites da apologética nos dois capítulos seguintes. O capítulo quatro examina as várias audiências a que os cristãos poderão se dirigir – às formais, em apresentações públicas, aos grupos pequenos, mais informais, e às conversas pessoais mais casuais. O capítulo cinco delineia cinco argumentos positivos à fé cristã, e respostas a cinco objeções à fé cristã; depois passa a sugerir livros que ajudam a substanciar essas argumentações. Por fim, para aqueles leitores que são atraídos para a apologética como um estilo de vida, o capítulo seis considera como devemos discernir o chamado de Deus para ser um apologista vocacionado.
Este livro é apenas uma cartilha, obviamente. Por isso, um de seus propósitos primordiais é encorajar o estudo, as futuras leituras e, sobretudo, a prática. A apologética cristã, nascida com a igreja primitiva, desaparecerá apenas quando a realidade do Cristo crucificado, sepultado e ressurreto, se cumprir na consumação do vindouro reino de Deus. Até lá, temos trabalho a fazer.
Não tenho como agradecer à multidão de pessoas que, de alguma forma, influenciaram a produção deste livro: meus mentores e antecessores na escola de apologética, meus colegas da InterVarsity Christian Fellowship e da International Fellowship of Evangelical Students, meus alunos em uma variedade de escolas, universidades e seminários, e aqueles que já assistiram a alguma de minhas apresentações apologéticas e que, mesmo não havendo sido convencidos, deixaram-me ir sem ser apedrejado. Algumas pessoas, contudo, certamente merecem menção. O primeiro é Francis A. Schaeffer, que foi não apenas mentor, mas também um amigo e modelo para a apologética intelectual e pessoal. Este livro é dedicado à sua memória. Em seguida, os filósofos Paul Chamberlain e Douglas Groothuis, que leram o manuscrito e me ofereceram bons conselhos. Meu editor e colega de longa data Jim Hoover ajudou na inspiração do formato do livro, e Ruth Goring, com um senso aguçado para detalhes, poliu meu discurso. Meus agradecimentos a todos eles. As gafes e infelicidades restantes são todas minhas.
Momento Apologético 1
O escopo da apologética cristã
Um americano, vestido com calças de couro tipicamente suíças, posiciona-se em pé atrás do púlpito de um grande auditório de uma universidade em New England. Os estudantes que lotam o lugar têm convivido com o sorteio do alistamento involuntário da guerra do Vietnã, que consideram uma agressão americana arrogante no sudeste asiático. Em vez de debruçarem-se sobre seus livros-texto e escreverem seus trabalhos de faculdade, eles têm devorado as obras de Karl Marx e Friedrich Nietzsche, Herbert Marcuse e Franz Fanon, Jean-Paul Sartre e Albert Camus. Em vez de estarem no laboratório de Química, misturando ácido na água e medindo o aumento de temperatura da solução, eles têm se envolvido com protestos no campus universitário, ameaçando ocupar edifícios e forçar o fechamento da administração. O que acontecerá ao longo das duas próximas horas, no entanto, será uma apresentação apologética precisamente moldada ao caráter e temperamento desses furiosos – e frequentemente desesperados – estudantes.1
Em uma proeminente universidade de pesquisa acadêmica em Chicago, um teólogo radical e um historiador evangélico enfrentam-se num debate que questiona se Deus está morto.2
Um obscuro erudito literário britânico, veterano da Primeira Guerra Mundial, fala por meio da Rádio BBC a uma audiência cujo país está novamente engajado em uma guerra mundial, discursando sobre a viabilidade da fé cristã num mundo assolado pelos conflitos violentos. Essas palestras tornaram-se, posteriormente, a defesa intelectual mais lida do cristianismo puro e simples
no século 20.3
Um jovem clérigo britânico, sentado à sua mesa, escreve uma clara exposição da natureza e do caráter de Jesus, bem como seu papel na libertação do homem da culpa do pecado. O resultado é uma das explanações mais cristalinas de por que alguém deveria crer nesse Jesus, o próprio Filho de Deus.4
Ao longo dos últimos 50 anos, dezenas de milhares de estudantes cristãos ao redor do mundo têm repetido e desenvolvido argumentos de apologistas como esses. Mas, o que é que essas pessoas têm em comum? O que é apologética? Iniciaremos com a visão do Novo Testamento, a fonte suprema de toda boa apologética, para, então, tratar tanto dos valores quanto dos limites da apologética no mundo atual.
1
O que é apologética?
As definições de apologética variam desde as altamente específicas e focadas, até as mais gerais e vagas. Como ficará mais e mais claro, minha abordagem é mais próxima do último caso do que do primeiro. Apologética envolve relacionamentos, e muitos deles. Há, obviamente, o relacionamento humano entre o apologista e sua audiência (uma ou muitas); entre indivíduos dentre a audiência; entre o apologista, a audiência e seus contextos sociais (que podem ou não ser os mesmos). Mas há também os relacionamentos divinos entre Deus e o apologista, entre Deus e a audiência, e entre Deus e o contexto social no qual os outros relacionamentos humanos e divinos estão inseridos.
A apologética acadêmica, que foca primordialmente em argumentos amplamente abstratos na defesa da fé cristã, costuma falhar quando colocada no contexto da vida das pessoas. Uma apologética efetiva e prática envolve todo o panorama dos relacionamentos divinos e humanos. Ela acontece no campo do pensamento e das emoções humanas, que, embora permeados pela presença do Espírito Santo, limita sua capacidade de estabelecer definitivamente as afirmações do cristianismo.
A definição que dermos para apologética, portanto, necessariamente refletirá essa complexidade. A apologética é, ao mesmo tempo, menos e mais do que uma demonstração abstrata e racionalmente sólida da verdade da fé cristã.1 Precisamos de uma definição mais humilde e mais relacional do que essa. A seguir, pretendo dar um passo em direção a tal definição.
Um fundamento bíblico
Creio que o caminho a seguir está estabelecido primordialmente no Novo Testamento pelos ensinamentos e exemplos de Jesus e dos apóstolos.2
Apologética como resposta à perseguição. Começaremos pelo texto citado com maior frequência por aqueles que se propõem a definir apologética. Penso eu ser ele o mais importante. E estou citando mais de seu contexto do que normalmente se acha em livros de apologética, porque creio que o contexto bíblico nos ajuda a compreender o papel dos relacionamentos humano e divino, tanto no mundo de outrora do apóstolo Pedro, quanto no nosso mundo.
Em sua primeira epístola, Pedro, provavelmente escrevendo de Roma, tem como destinatários os cristãos da Ásia Menor. Tanto Pedro quanto sua audiência estavam sofrendo perseguições, algumas, talvez, mais leves, e outras mais severas.3 Mas a resposta dos cristãos deveria ser a mesma. Os cristãos deveriam ser compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes
(1Pe 3.8) uns para com os outros. Quanto à comunidade em que estivessem inseridos, eles não deveriam se portar pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo
(v. 9). Pedro continua:
Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o