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Livro de Concórdia: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana
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Livro de Concórdia: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana

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Sobre este e-book

O Livro de Concórdia foi publicado em 25.06.1580 em Dresden, na Alemanha, no 50º aniversário da apresentação da Confissão de Augsburgo ao imperador Carlos V. Visava especialmente à pacificação das controvérsias teológicas e doutrinárias surgidas entre os adeptos da Reforma na segunda metade do século XVI e à sua unificação, à concórdia. Nele constam os escritos confessionais das igrejas luteranas que são um testemunho de fé à família cristã como um todo. Em 1980, a Comissão Interluterana de Literatura (CIL) publicou a primeira tradução do Livro de Concórdia para a língua portuguesa. Após sete reedições, é com gratidão a Deus e com alegria que apresentamos a nova versão do Livro de Concórdia. Além da revisão à luz dos textos originais nas línguas alemã e latina, a presente edição tem como diferenciais a atualização da linguagem, a tradução das versões alemã e latina da Confissão de Augsburgo e a inclusão no final do Catecismo Maior de "Breve Exortação à Confissão de Pecados". Na capa, a rosa de Lutero é apresentada como vitral em que as diferentes peças estão interligadas, formando um mosaico harmônico. Assim este importante documento confessional quer contribuir, com a graça de Deus, para a concórdia da família cristã e para a compreensão e a vivência corretas do legado da Reforma Luterana. Que ele seja tão útil ao povo de hoje e às pessoas interessadas na história e na teologia do luteranismo do século XVI quanto o foi a primeira edição em seu tempo!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de out. de 2021
ISBN9786556000268
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    Livro de Concórdia - Martinho Lutero

    PREFÁCIO

    ¹

    A todos e a cada um sob cujos olhos venha a estar este nosso escrito, nós, os abaixo mencionados eleitores, príncipes e ordens no Sacro Império da Nação Germânica que aderimos à Confissão de Augsburgo, manifestamos, de acordo com o estado e a dignidade de cada um, nosso devido préstimo, amizade, afável saudação e vontade favorável, bem como os nossos mais humildes, submissos e solícitos serviços, e, com isso, anunciamos:

    Nestes tempos derradeiros do mundo transitório, Deus, o Todo-Poderoso, por imensurável amor, graça e misericórdia, fez com que a luz de seu santo evangelho e de sua palavra, que é a única que salva, aparecesse e reluzisse para o gênero humano de forma pura, genuína e não adulterada, saindo da supersticiosa escuridão papista da nação alemã, nossa pátria amada. Assim, foi compilada, a partir da Escritura divina, profética e apostólica, uma breve confissão, que foi entregue, nas línguas alemã e latina, pelos nossos piedosos e cristãos predecessores, por ocasião da Dieta de Augsburgo, no ano de 1530, ao então imperador Carlos V, de saudosa memória, e apresentada perante todas as ordens do Império, e que foi difundida e ressoou publicamente, por toda a cristandade, no vasto mundo afora.

    Posteriormente, muitas igrejas e escolas abraçaram essa confissão como símbolo contemporâneo de sua fé nos principais artigos em controvérsia contra o papado e toda sorte de facções. E para ela apelaram e a ela se referiram, em cristã e unânime interpretação, sem qualquer contenda ou dúvida. E mantiveram, firmes e constantes, a doutrina nela contida, fundamentada solidamente na divina Escritura, e brevemente sumariada nos aprovados símbolos antigos. Reconheceram essa doutrina como o único e antigo consenso em que todas as igrejas de Cristo que têm a reta doutrina sempre creram, e que elas defenderam e reafirmaram com firmeza e constância contra muitas heresias e erros.

    A todos, sem dúvida, é conhecido, manifesto e evidente quão perigosos tempos e molestos distúrbios sucederam em nossa querida pátria alemã logo depois do falecimento cristão daquele mui iluminado e piedoso homem, o Dr. Martinho Lutero², e como, naquela situação angustiante e na ruptura dos governos bem ordenados, o inimigo do gênero humano envidou esforços no sentido de espalhar sua semente de doutrina falsa e dissensão, para suscitar destrutiva e escandalosa divisão em igrejas e escolas, a fim de, com isso, adulterar a doutrina pura da palavra de Deus, romper o vínculo do amor e da unanimidade cristãos e, por esse meio, impedir e tolher notavelmente o curso do santo evangelho. Também é conhecido, manifesto e evidente a todos a forma como os adversários da verdade divina se valeram da ocasião para desacreditar a nós e a nossas escolas e igrejas, para disfarçar os erros deles e desviar as pobres consciências desorientadas do conhecimento da doutrina evangélica pura e mantê-las tanto mais voluntariamente submissas ao jugo e coerção papais, bem como a outros erros que estão em conflito com a palavra de Deus³.

    Nada nos teria agradado mais e coisa nenhuma almejamos mais do Todo-Poderoso e a ele mais pedimos que isto: que nossas igrejas e escolas fossem preservadas na doutrina da palavra de Deus e em amável concórdia cristã, e que, assim como aconteceu durante a vida do Dr. Lutero, fossem regulamentadas e propagadas correta e cristãmente, sob a orientação da palavra de Deus. Entretanto, da mesma forma como ainda em vida dos santos apóstolos⁴ foram infiltradas, por falsos mestres, doutrinas errôneas nas igrejas em que os próprios apóstolos haviam plantado a pura e genuína palavra de Deus, assim, por causa de impenitência e pecado, nossos e do mundo ingrato, foi isso infligido também às nossas igrejas.

    Por isso nos lembramos do ofício que nos foi entregue por Deus e no qual estamos investidos, e não nos omitimos de aplicar o nosso zelo no sentido de que fossem barradas em nossas províncias e regiões as falsas e desencaminhadoras doutrinas que nelas foram introduzidas e que, com o passar do tempo, mais e mais estão se insinuando, e que os nossos súditos fossem conservados no curso certo da verdade divina, já uma vez por eles reconhecida e confessada, e que dele não viessem a ser desviados. Assim os nossos louváveis predecessores e também uma parte de nós combinamos, por isso e com essa finalidade, em resolução tomada em Frankfurt do Meno, no ano de 1558, por ocasião de um conclave dos eleitores⁵, que nos reuniríamos em assembleia geral e discutiríamos, na medida do necessário e de maneira amigável, algumas questões que os nossos oponentes haviam interpretado da maneira pior para nós e para as nossas igrejas e escolas.

    Posteriormente, os nossos bem-aventurados predecessores e a maior parte de nós nos reunimos em Naumburgo⁶, na Turíngia, tomamos nas mãos a repetidas vezes mencionada Confissão de Augsburgo, que tinha sido apresentada ao imperador Carlos V, na grande assembleia imperial de Augsburgo, no ano de 1530, e mais uma vez subscrevemos, unanimemente, essa confissão cristã, que se fundamenta no testemunho da imutável verdade da palavra divina, a fim de, com isso, advertir e pôr a salvo, no futuro, quanto estivesse em nós, a nossa posteridade, de doutrina impura, falsa e contrária à palavra de Deus. E dessa maneira testificamos e demonstramos a Sua Majestade Imperial Romana, nosso clementíssimo Senhor⁷, bem como a todos os demais, que de forma nenhuma foi disposição e intenção nossa adotar, defender ou difundir alguma doutrina diferente ou nova. Ao contrário, nossa intenção foi perseverar e continuar firmemente, com a ajuda de Deus, na verdade uma vez reconhecida e confessada em Augsburgo, no ano de 1530. Fizemos isso na confiança e esperança de que, assim, não só os adversários da pura doutrina evangélica haveriam de abster-se de suas inventadas calúnias e difamações contra nós, mas também que outras pessoas, de bom coração, seriam lembradas e estimuladas por essa nossa reiterada e repetida confissão a investigar com tanto maior seriedade a verdade da palavra divina, única salvadora, a ela assentir e, para a salvação de suas almas e seu bem-estar eterno, nela ficar e perseverar cristãmente, sem mais controvérsia e dissensão.

    Mas, apesar de tudo isso, tivemos de inteirar-nos, não sem aflição, do fato de que os adversários fizeram pouco caso dessa nossa declaração e repetição de nossa anterior confissão cristã, e que nem nós nem as nossas igrejas fomos libertados das amargas difamações que foram disseminadas. Pelo contrário, também essa ação bem-intencionada foi mais uma vez entendida e interpretada pelos outros, adeptos de opiniões errôneas e opostos aos nossos e à nossa religião cristã, como se estivéssemos tão incertos da confissão de nossa fé e religião, e como se a tivéssemos alterado tanto e tão frequentemente que nem nós nem os nossos teólogos poderíamos saber qual é a verdadeira Confissão de Augsburgo originalmente apresentada⁸. Por essa alegação infundada muitos corações piedosos ficaram com medo e se afastaram de nossas igrejas e escolas, de nossa doutrina, fé e confissão. A isso juntou-se ainda o dano de ocasionalmente haverem sido introduzidas em igrejas e escolas, sob o nome da muitas vezes mencionada Confissão de Augsburgo, a doutrina antagônica sobre o santo sacramento do corpo e do sangue de Cristo e outras opiniões errôneas⁹.

    Quando alguns teólogos piedosos, irênicos e eruditos¹⁰ perceberam essa coisa, viram bem que não havia melhor forma de enfrentar essas calúnias e as controvérsias religiosas que dia a dia mais se alastravam do que explicar e decidir, de forma plena e apropriada, com fundamento na palavra de Deus, as desavenças ocorridas com respeito a todos os artigos controvertidos, expor e rejeitar a doutrina falsa e fazer confissão genuína da verdade divina. Dessa forma, mediante sólida fundamentação, os adversários seriam reduzidos ao silêncio e se apresentaria aos corações simples e piedosos explanação e orientação corretas, para que soubessem como situar-se nessa discórdia e futuramente ficassem preservados, pela graça de Deus, de doutrina falsa.

    Assim, a princípio, os teólogos supracitados comunicaram uns aos outros, de maneira clara e correta, por escritos minuciosos, fundamentados na palavra de Deus¹¹, a forma como as ofensivas divergências, já mencionadas diversas vezes, poderiam ser harmonizadas e resolvidas sem afastamento da verdade divina, e como, por esse meio, poderiam ser interceptados e tirados dos adversários todo pretexto e causa para difamar. Afinal também tomaram nas mãos os artigos controversos, os examinaram, ponderaram e explanaram no temor de Deus, e definiram num escrito a maneira de decidir cristãmente os desentendimentos ocorridos¹².

    E quando alguns entre nós fomos informados a respeito dessa obra cristã, não só dela nos agradamos, mas também julgamos que nos cumpria promovê-la com seriedade e zelo cristãos, em razão do ofício que exercemos e de que Deus nos incumbiu.

    Consequentemente, nós, eleitor da Saxônia etc., com o conselho e a assistência de alguns eleitores e príncipes correligionários nossos, convocamos alguns teólogos ilustres, insuspeitos, experimentados e eruditos a Torgau, no ano de 1576, para a promoção da concórdia entre os mestres cristãos. Discutiram entre si, de modo cristão, os artigos em controvérsia e o acordo escrito que foi citado há pouco e que havia sido redigido com essa finalidade. E, afinal, com invocação do Deus onipotente, para seu louvor e honra, e com madura reflexão e cuidadosa diligência, reuniram, em boa ordem, por especial graça do Espírito Santo, tudo o que é pertinente e necessário a isso, e o puseram em livro¹³. Posteriormente, esse livro foi enviado a um bom número de eleitores, príncipes e ordens que professam a Confissão de Augsburgo, acompanhado do pedido de que Suas Excelências e eles fizessem com que seus teólogos ilustres o lessem com especial seriedade e zelo cristão, o ponderassem diligentemente, em seguida fixassem por escrito suas observações e críticas e nos comunicassem, com toda a franqueza, o seu refletido juízo a respeito de tudo.

    Depois que os pareceres solicitados tinham sido recebidos e depois que havia sido verificado que neles havia todo tipo de advertências cristãs, necessárias e proveitosas relativamente ao modo como a doutrina cristã contida na explanação enviada poderia ser resguardada com a palavra de Deus contra toda espécie de perigosos mal-entendidos, para que no futuro não se viesse a esconder debaixo dela doutrina adulterada, porém se pudesse transmitir também à nossa posteridade uma declaração pura da verdade, redigiu-se, afinal, com base nesses pareceres, na forma que depois segue, a Fórmula de Concórdia cristã acima aludida.

    Depois, alguns entre nós – visto que, em razão de especiais causas impeditivas, neste momento ainda não foi possível a todos nós e a algumas outras ordens empreendê-lo¹⁴ – fizemos com que essa Fórmula fosse lida, artigo por artigo, a todos e cada um dos teólogos, ministros e mestres-escolas de nossas regiões e territórios, e fizemos com que fossem lembrados e exortados no sentido de meditarem com diligência e seriedade a doutrina que ela contém.

    E depois que tinham verificado que a explanação das dissensões ocorridas estava em harmonia e conforme, primeiramente, com a palavra de Deus, e também com a Confissão de Augsburgo, aqueles a quem essa explanação tinha sido apresentada, como antes se disse, aceitaram, aprovaram e subscreveram, de ânimo contente e cordial gratidão ao todo-poderoso Deus, de sua livre vontade e de espírito refletido, este Livro de Concórdia como a interpretação correta¹⁵ e cristã da Confissão de Augsburgo, e o atestaram publicamente, com o coração, a boca e a mão. Por isso, este acordo cristão se chama e é a concorde e unânime confissão não só de alguns poucos dos nossos teólogos, mas em geral de todos e de cada um dos ministros e mestres-escolas em nossas províncias e territórios.

    Os supracitados e bem-intencionados acordos estabelecidos pelos nossos louváveis predecessores e por nós, em Frankfurt do Meno e em Naumburgo, não só deixaram de alcançar o desejado alvo da concórdia cristã, mas ainda permitiram que alguns se valessem deles para confirmar a sua doutrina errônea. E isto apesar do fato de jamais nos haver entrado na mente e no coração querermos, por aqueles acordos, introduzir, embelezar ou confirmar qualquer doutrina nova, falsa ou errônea, ou desviar-nos, um mínimo que fosse, da Confissão de Augsburgo apresentada em 1530¹⁶. Além disso, aqueles entre nós que estivemos presentes nos trabalhos de Naumburgo mencionados anteriormente, na ocasião nos reservamos o direito e fizemos a oferta de dar mais explanações sobre a nossa confissão, caso futuramente chegasse a ser atacada por alguém ou a qualquer tempo que se tornasse necessário fazê-lo. Por isso, como declaração final de nossa disposição, elaboramos cristão consenso e acordo neste Livro de Concórdia e repetição de nossa fé e confissão cristãs. E para ninguém ser enganado pela infundada calúnia dos nossos adversários no sentido de que nem mesmo nós sabemos qual é a genuína Confissão de Augsburgo, e, ao contrário, os que agora vivem, bem como os nossos queridos descendentes, possam ser devida e plenamente informados e ter certeza definitiva sobre qual é esta Confissão cristã a que nós e as igrejas e escolas de nossos territórios até agora sempre aderimos e a que temos apelado, deliberamos professar neste livro¹⁷, depois da pura, infalível e inalterável palavra de Deus, única e exclusivamente aquela¹⁸ Confissão de Augsburgo que foi entregue ao imperador Carlos V, em 1530, por ocasião da grande Dieta Imperial de Augsburgo, e que esteve nos arquivos dos nossos bem-aventurados predecessores, os quais, na Dieta que acabamos de mencionar, a submeteram ao próprio imperador Carlos V, e a qual, posteriormente, foi comparada, com grande diligência, por pessoas mui fidedignas, com o verdadeiro original submetido ao imperador e que ficou sob a custódia do Sacro Império¹⁹, e com o qual – verificou-se posteriormente – o exemplar latino e o germânico são idênticos em tudo quanto ao sentido. Por essa razão também incorporamos a Confissão naquele tempo entregue em nossa declaração e Livro de Concórdia que segue, a fim de que todos possam ver que foi nosso pensamento não tolerar, em nossos territórios, igrejas e escolas, qualquer doutrina de forma diversa daquela que uma vez foi confessada em Augsburgo, no ano de 1530, pelos repetidas vezes citados eleitores²⁰, príncipes e ordens. Também nós queremos, com a graça de Deus, perseverar nessa Confissão até o nosso bem-aventurado fim e comparecer, de coração e consciência alegres e destemidos, perante o tribunal de nosso Senhor Jesus Cristo. E temos a esperança de que de agora em diante os nossos adversários pouparão a nós, bem como às nossas igrejas e aos seus ministros, da onerosa carga de alegarem que não temos certeza de nossa fé e que, em vista disso, estaríamos fazendo nova confissão quase que a cada ano ou a cada mês.

    No que diz respeito à segunda edição da Confissão de Augsburgo²¹, que também foi mencionada nas negociações de Naumburgo, notamos – e a todos é manifesto e evidente – que alguns se atreveram a disfarçar e esconder, sob as palavras dessa outra edição, os erros concernentes à santa ceia, bem como outras doutrinas adulteradas, e a incuti-los às pessoas simples, em escritos públicos e em publicações impressas, não obstante o fato de na Confissão entregue em Augsburgo essa doutrina errônea ser rejeitada em linguagem explícita e de se poder, com base nela, provar doutrina bem diferente. Por isso também quisemos testificar e mostrar, publicamente, com este escrito, que então, como ainda agora, de modo nenhum foi nossa vontade e intenção por meio disso encobrir, ocultar ou ratificar, como estando em consonância com a doutrina evangélica, ensino falso e adulterado que pudesse estar aí oculto. Como, aliás, nunca entendemos nem recebemos a outra edição como contrária à primeira Confissão de Augsburgo, que foi entregue²². Também não queremos que sejam rejeitados ou condenados outros escritos proveitosos do Senhor Filipe Melanchthon²³, como também de [João] Brenz, de Urbano Régio, do Pomerano²⁴ etc., na medida em que concordam com a Norma incorporada à Concórdia²⁵.

    Da mesma forma, embora alguns teólogos, como também o próprio Lutero, foram levados (ainda que contra a vontade deles), pelos adversários, da discussão da santa ceia ao debate sobre a união pessoal das duas naturezas em Cristo²⁶, os nossos teólogos afirmam claramente, na Fórmula de Concórdia e na Norma nela compreendida, que, quando se trata da ceia do Senhor, os cristãos, segundo o constante pensamento nosso e deste livro, não devem ser enviados a nenhuma outra base e fundamento, a não ser unicamente às palavras da instituição do testamento de Cristo. Ele é onipotente e veraz, podendo, em razão disso, fazer o que ordenou e prometeu em sua palavra. E quando permanecem sem serem atacados neste fundamento, não lhes cabe discutir sobre outros fundamentos, porém, com fé singela, devem persistir nas palavras simples de Cristo, o que é o mais seguro e também edifica o leigo comum, que não pode compreender essa discussão. Quando, porém, os adversários atacam esta nossa simples fé e interpretação das palavras do testamento de Cristo e as censuram e rejeitam como sendo incredulidade, como se nossa simples interpretação e fé contradissessem os artigos de nosso Credo cristão – especialmente os da encarnação do Filho de Deus, de sua ascensão e de seu assentar-se à direita da onipotente força e majestade de Deus²⁷ – e fossem, portanto, falsas e incorretas, faz-se necessário indicar e demonstrar, mediante explicação verdadeira dos artigos de nosso Credo cristão, que nossa supracitada simples interpretação das palavras de Cristo não contradiz esses artigos.

    No que se refere às frases e modi loquendi, isto é, a forma e maneira de falar utilizada no Livro de Concórdia a respeito da majestade da natureza humana na pessoa de Cristo – em que está posta e exaltada à direita de Deus –, onde se diz: A natureza humana de Cristo é onipotente, onisciente, onipresente etc., a fim de ser removido, também quanto a isso, todo mal-entendido e escândalo (já que o termo abstrato²⁸ não é usado com o mesmo significado pelos mestres das escolas e igrejas) os nossos teólogos declaram, com palavras límpidas e claras, que a mencionada majestade divina não é atribuída à natureza humana de Cristo fora da união pessoal, nem se deve conceder que a tenha em si e de si mesma, mesmo na união pessoal²⁹, essentialiter, formaliter, habitualiter, subiective, na linguagem escolástica³⁰. Pois onde se ensinasse dessa forma, a natureza divina e a humana, juntamente com suas propriedades, seriam comisturadas e a natureza humana seria igualada, segundo a sua essência e propriedades, com a natureza divina, e, desta maneira, negada. Nossos teólogos, pelo contrário, afirmam que isso se dá, conforme se expressaram os antigos mestres da igreja, ratione et dispensatione hypostaticae unionis, isto é, em razão da união pessoal³¹, que é mistério insondável.

    Com referência às condenações, censura e rejeição de doutrina falsa, adulterada, especialmente no artigo da ceia do Senhor³², que devem ser propostas expressa e distintamente nessa explanação e resolução sólida dos artigos em controvérsia, a fim de que todos saibam acautelar-se dessas doutrinas condenadas – e por muitas outras razões de modo nenhum podem ser contornadas essas condenações –, igualmente não é vontade e intenção nossa mirar com isso as pessoas que erram por ingenuidade³³ e que não blasfemam contra a verdade da palavra de Deus. E muito menos ainda queremos visar com isso a igrejas inteiras, dentro ou fora do Sacro Império da Nação Germânica³⁴. Pelo contrário, nosso propósito é que com isso fiquem condenadas propriamente apenas as falsas e desencaminhadoras doutrinas, bem como os obstinados mestres e blasfemadores que as propõem, que de forma nenhuma pensamos em tolerar em nossos territórios, igrejas e escolas, visto que essas doutrinas são contrárias à expressa palavra de Deus e com ela não podem coexistir. Também procedemos assim para que corações piedosos sejam advertidos contra elas. Pois para nós não há sombra de dúvida que se podem encontrar muitas pessoas piedosas e inocentes também nas igrejas que até agora não chegaram a acordo conosco em tudo. Essas pessoas seguem na simplicidade de seus corações, não entendem bem a questão e não têm nenhum agrado nas blasfêmias contra a santa ceia tal como é celebrada em nossas igrejas, de acordo com a instituição de Cristo, e como a respeito dela ensinamos unanimemente, em consonância com as palavras de seu testamento. E, quanto a essas pessoas, temos a esperança de que, quando corretamente instruídas na doutrina, virão e, conosco e com nossas igrejas e escolas, pela orientação do Espírito Santo, irão aderir à infalível verdade da palavra divina. Assim, cumpre aos teólogos e ministros eclesiásticos lembrar devidamente, com base na palavra de Deus, também os que erram por ingenuidade e ignorância, do perigo de suas almas e disso adverti-los, a fim de não acontecer que um cego se deixe desencaminhar por outro cego³⁵. Por isso também testificamos, por meio deste escrito, diante da face do Deus onipotente e de toda a cristandade, que de modo nenhum é disposição e propósito nosso dar, por meio deste acordo cristão, motivo para qualquer molestamento e perseguição dos pobres cristãos oprimidos. Pois, assim como, por amor cristão, temos especial compaixão deles, assim também sentimos aversão e profundo desagrado relativamente à manifestação de raiva dos perseguidores³⁶. E absolutamente não queremos tornar-nos corresponsáveis por este sangue, que, fora de dúvida, será requerido das mãos dos perseguidores no grande dia do Senhor, diante do solene e severo tribunal de Deus, e lá eles terão de prestar pesada conta por ele.

    E, visto que nossa vontade e intenção, conforme mencionamos anteriormente, sempre esteve orientada no sentido de que em nossas terras, regiões, escolas e igrejas nenhuma outra doutrina fosse tratada e ensinada senão unicamente aquela que está fundamentada na Sagrada Escritura de Deus e incorporada na Confissão de Augsburgo e na Apologia em sua compreensão autêntica, bem como no sentido de não permitir a entrada de qualquer coisa a ela contrária, finalidade para a qual também o presente acordo foi instituído, intentado e colocado em prática, queremos que, com isso, fique mais uma vez testificado publicamente, diante de Deus e de todos, que, com a presente e muitas vezes referida explanação dos artigos em controvérsia, não fizemos confissão nova ou diferente daquela que uma vez foi entregue em Augsburgo, no ano de 1530, ao imperador Carlos V, de grata memória³⁷. Remetemos, ao contrário, as nossas igrejas e escolas, acima de tudo, à Sagrada Escritura e aos Símbolos³⁸, e, em seguida, à Confissão de Augsburgo, há pouco citada. E com isso queremos deixar registrada nossa séria exortação no sentido de que especialmente a juventude que é educada para o serviço eclesial e o santo ministério seja instruída nisso fiel e diligentemente, a fim de que também entre a nossa posteridade seja preservada e propagada, pelo auxílio e a assistência do Espírito Santo, a pura doutrina e confissão da fé, até a gloriosa vinda de nosso único Redentor e Salvador Jesus Cristo.

    Com base nisso e naquilo que segue, não devemos suspender nem adiar por mais tempo a edição e publicação desta obra³⁹. Estamos certos de nossa confissão e fé cristã, com base na Escritura divina, profética e apostólica, disso havendo sido suficientemente certificados em nossos corações e consciências cristãs pela graça do Espírito Santo. A mais aguda e extrema necessidade exige que em presença de tantos erros que surgiram e em presença de escândalos, dissensões e prolongadas divisões haja uma explanação e reconciliação cristã de todas as discussões surgidas, e que essa explanação esteja bem fundamentada na palavra de Deus, e à luz da qual se reconheça qual a doutrina pura e qual a adulterada, e se diferencie entre as duas, de modo que não fique tudo livre e aberto para que gente irrequieta e contenciosa, que não quer estar presa a nenhuma forma certa da doutrina pura, provoque, a seu bel prazer, escandalosas controvérsias e introduza e defenda erros absurdos, de onde apenas pode resultar isso de que a doutrina correta finalmente será inteiramente obscurecida e perdida, não sendo transmitido à posteridade nada além de opiniões incertas e imaginações e pareceres duvidosos e discutíveis. E nós nos reconhecemos obrigados, com base em preceito divino, em razão do ofício em que estamos investidos, a fazer e a continuar fazendo, com vistas ao nosso próprio bem-estar temporal e eterno, bem como ao dos nossos súditos, tudo o que possa ser útil e proveitoso para a multiplicação e a difusão do louvor e da honra de Deus, a propagação de sua palavra, única salvadora, a tranquilidade e a paz das escolas e igrejas cristãs, bem como para o necessário consolo e instrução das pobres consciências em erro. Além do mais, nos é manifesto que muitas pessoas cristãs de bom coração, de elevado e de humilde estado, suspiram ansiosas por esta obra salutar da concórdia cristã e por ela manifestam particular anseio. Por fim, desde o início deste nosso acordo cristão, nunca foi disposição e propósito nosso, e não o é agora, manter esta salutar e mui necessária obra de concórdia em segredo e velada no escuro, afastada dos olhos de todos, ou colocar a luz da verdade divina debaixo do cesto e da mesa. E não temos nenhuma dúvida no sentido de que todos os corações piedosos que têm verdadeiro amor à verdade divina e à concórdia cristã e agradável a Deus aprovarão, de maneira cristã, juntamente conosco, esta obra salutar, mui necessária e cristã, e não permitirão, quanto a isso, que haja falta neles em matéria de promover a glória de Deus e o bem-estar comum, eterno e temporal.

    Porque – e vamos repeti-lo uma vez mais em conclusão – nada de novo intentamos fazer com esta obra de concórdia, e de forma nenhuma é intenção nossa afastar-nos, quer no conteúdo, quer nas expressões⁴⁰, da verdade divina uma vez reconhecida e confessada por nossos piedosos predecessores e por nós, conforme fundamentada na Escritura profética e apostólica e compreendida nos três Símbolos, e, além disso, na Confissão de Augsburgo, entregue, no ano de 1530, ao imperador Carlos V, de grata memória, na Apologia que seguiu à Confissão, nos Artigos de Esmalcalde e nos Catecismos Maior e Menor daquele altamente iluminado homem, o Dr. Lutero. Pelo contrário, tencionamos perseverar e permanecer, unanimemente, pela graça do Espírito Santo, nessa verdade divina e, segundo ela, regular todas as controvérsias religiosas e suas explanações. Além do que é nossa determinação e nosso propósito viver em boa paz e concórdia com os nossos colegas, os eleitores, príncipes e ordens no Sacro Império Romano, também com outros potentados cristãos, segundo as ordenações do Sacro Império e os pactos especiais que com eles temos, e demonstrar a cada um, de acordo com a sua ordem, todo amor, serviço e amizade.

    Queremos, além disso, de forma amigável falar a respeito da maneira de zelar com seriedade por esta obra de concórdia em nossas terras, de acordo com as nossas circunstâncias e as de cada lugar, por meio de diligente visitação das igrejas e escolas, inspeção das tipografias e outros meios salutares. E, caso voltarem as controvérsias atuais ou surgirem novas dissensões sobre a nossa religião cristã, cuidaremos da maneira como possam ser resolvidas e harmonizadas em tempo, sem perigosas delongas, para se evitar todo tipo de escândalos.

    Em testemunho, subscrevemos⁴¹ com unanimidade de coração e ordenamos que fosse selado com os nossos carimbos particulares.

    Luís, Conde palatino no Reno, eleitor

    Augusto, Duque da Saxônia, eleitor

    João Jorge, Margrave de Brandenburg, eleitor

    Joaquim Frederico, Margrave de Brandenburg, administrador do arcebispado de Magdeburg

    João, Bispo de Meissen

    Eberhard, Bispo de Lübeck, administrador do bispado de Verden

    Filipe Luís, Conde palatino

    Tutor de Frederico Guilherme e de João, Duques da Saxônia

    Tutores de João Casimiro e de João Ernesto, Duques da Saxônia

    Jorge Frederico, Margrave de Brandenburg

    Júlio, Duque de Braunschweig e Lüneburg

    Oto, Duque de Braunschweig e Lüneburg

    Henrique Júnior, Duque de Braunschweig e Lüneburg

    Guilherme Júnior, Duque de Braunschweig e Lüneburg

    Wolf, Duque de Braunschweig e Lüneburg

    Ulrico, Duque de Mecklenburg

    Curadores de João e de Sigismundo Augusto, Duques de Mecklenburg

    Luís, Duque de Württemberg

    Curadores de Ernesto e de Jacó, Margraves de Baden

    Jorge Ernesto, Conde e Senhor de Hennenberg

    Frederico, Conde de Württemberg e Mömpelgard

    João Günther, Conde de Schwarzburg

    Guilherme, Conde de Schwarzburg

    Alberto, Conde de Schwarzburg

    Emich, Conde de Leiningen

    Filipe, Conde de Hanau

    Godofredo, Conde de Öttingen

    Jorge, Conde e Senhor de Castell

    Henrique, Conde e Senhor de Castell

    João Hoier, Conde de Mansfeld

    Bruno, Conde de Mansfeld

    Hoier Christoph, Conde de Mansfeld

    Pedro Ernesto Júnior, Conde de Mansfeld

    Christoph, Conde de Mansfeld

    Oto, Conde de Hoya e Burghausen

    João, Conde de Oldenburg e Delmenhorst

    Alberto Jorge, Conde de Stolberg

    Wolf Ernst, Conde de Stolberg

    Luís, Conde de Gleichen

    Carlos, Conde de Gleichen

    Ernesto, Conde de Reinstein

    Bodo, Conde de Reinstein

    Luís, Conde de Löwenstein

    Henrique, Barão de Limpurg, Semperfrei

    Jorge, Barão de Schönburg

    Wolf, Barão de Schönburg

    Anarck Frederico, Barão de Wildenfels

    Burgomestre e Conselho da cidade de Lübeck

    Burgomestre e Conselho da cidade de Landau

    Burgomestre e Conselho da cidade de Münster em S. Georgental

    O Conselho da cidade de Goslar

    Burgomestre e Conselho da cidade de Ulm

    Burgomestre e Conselho da cidade de Esslingen

    O Conselho da cidade de Reutlingen

    Burgomestre e Conselho da cidade de Nördlingen

    Burgomestre e Conselho de Rothenburg no Tauber

    Burgomestre e Conselho da cidade de Schwäbisch Hall

    Burgomestre e Conselho da cidade de Heilbronn

    Burgomestre e Conselho da cidade de Memmingen

    Burgomestre e Conselho da cidade de Lindau

    Burgomestre e Conselho da cidade de Schweinfurt

    O Conselho da cidade de Donauwörth

    Tesoureiro e Conselho da cidade de Regensburg

    Burgomestre e Conselho da cidade de Wimpfen

    Burgomestre e Conselho da cidade de Giengen

    Burgomestre e Conselho de Bopfingen

    Burgomestre e Conselho da cidade de Aalen

    Burgomestre e Conselho da cidade de Kaufbeuren

    Burgomestre e Conselho da cidade de Isny

    Burgomestre e Conselho da cidade de Kempten

    O Conselho da cidade de Hamburgo

    O Conselho da cidade de Göttingen

    O Conselho da cidade de Braunschweig

    Burgomestre e Conselho da cidade de Lüneburg

    Burgomestre e Conselho da cidade de Leutkirch

    Todo o governo da cidade de Hildesheim

    Burgomestre e Conselho da cidade de Hameln

    Burgomestre e Conselho da cidade de Hannover

    O Conselho de Mühlhausen

    O Conselho de Erfurt

    O Conselho da cidade de Einbeck

    O Conselho da cidade de Northeim.

    1Este prefácio sofreu reformulações de 1578 até 1580. Entre 25 de fevereiro e 1º de março de 1580, Jacó Andreae e Martin Chemnitz deram-lhe a redação final, no mosteiro de Bergen. Foi escrito, entre outras razões, para conseguir o apoio do eleitor Luís do Palatinado, que acabou sendo o primeiro a assinar a Fórmula. O Prefácio à Fórmula de Concórdia serve de prefácio a todo o Livro de Concórdia, porque subscrever a Fórmula de Concórdia era equivalente a subscrever o Livro de Concórdia. A linguagem reflete o estilo de documentos oficiais daquela época.

    2Uma referência em particular à Guerra de Esmalcalde, que estourou em 1547, logo após a morte de Lutero.

    3Especialmente sacramentários, zwinglianos e calvinistas.

    4Cf. 2Tm 4.3,4; 1Jo 4.1; 2Pe 2.1.

    5Fevereiro a março de 1558, por ocasião da eleição do imperador Fernando I, irmão de Carlos V, que tinha abdicado no começo daquele ano. No dia 18 de março adotaram o Livro de Frankfurt [ Frankforter Buch , Formula pacis Francofordianae ], baseado em parecer de Melanchthon (CR 9, 365-378). Incluía discussões a respeito de justificação, boas obras, a ceia do Senhor e adiáforas, e propunha um método para resolver questões controvertidas. O propósito do documento era servir de base para unir os territórios evangélicos na falta de um sínodo geral que congregasse as igrejas envolvidas. Por ser ambíguo, esse documento sofreu ataques de vários grupos.

    6A assembleia esteve reunida de 20 de janeiro a 1º de fevereiro de 1561. Os eleitores Frederico III do Palatinado e Augusto da Saxônia queriam subscrever a Confessio Augustana variata , de 1540 (de Melanchthon), argumentando que o artigo X da CA variata excluía a transubstanciação. Os outros (o duque Cristóvão de Württemberg, o duque João Frederico da Saxônia, o landgrave Filipe de Hesse, o conde palatino Wolfgang de Zweibrücken) queriam assinar a CA de 1530. Davi Chytraeus, trazido ao conclave pelo duque Ulrico, pleiteou a subscrição dos Artigos de Esmalcalde, além da Confessio Augustana invariata . O acordo a que se chegou foi o seguinte: o texto alemão da CA edição in-quarto de 1530-1531 (de Wittenberg), por insistência do eleitor Frederico III, e a edição latina in-octavo de 1531; um prefácio, esboçado pelos dois eleitores e endereçado ao imperador; rejeição da transubstanciação. O prefácio comprometia os signatários com as duas edições da Confissão de Augsburgo (alegando que, pela edição alterada de 1540, a Confissão de Augsburgo inalterada, de 1530, é repetida algo mais imponente e minuciosamente, e é explicada e expandida com base na Sagrada Escritura) e com a Apologia. O acordo foi assinado pelos dois eleitores, pelo landgrave Filipe de Hesse, pelo duque Cristóvão de Württemberg, pelo margrave Carlos de Baden, e, por meio de seus conselheiros, pelos margraves João e Jorge Frederico, de Brandenburg, pelo conde palatino Wolfgang, pela Pomerânia, e por Anhalt e Henneberg. Os duques João Frederico da Saxônia e Ulrico de Württemberg se negaram a assinar, no que foram seguidos pela Baixa Saxônia e pelas cidades marítimas.

    7Fernando I.

    8Referência à discussão em torno de mudanças na Confissão de Augsburgo, especialmente a assim chamada variata . De forma diplomática, o Prefácio evita o termo variata e refere-se à invariata , de 1530, como a confissão originalmente apresentada. Quanto aos outros, são teólogos católicos e teólogos reformados.

    9Referência à assim chamada controvérsia criptofilipista na Saxônia, durante a década de 1570.

    10 Jacó Andreae, Martin Chemnitz e outros.

    11 Isto inclui os Seis Sermões de Jacó Andreae.

    12 Desse processo resultaram a Concórdia Suábia de 1574, a Concórdia Suábio-Saxônica de 1575 e a Fórmula de Maulbronn de 1576.

    13 O Livro de Torgau. Andreae resumiu o livro, criando o Epítome. Esta condensação mais a Declaração Sólida recebeu o nome de Formula concordiae bipartita . A assembleia esteve reunida no castelo de Hartenberg, de 9 de abril até 7 de junho de 1576, sob a presidência de Andreae. Os outros convidados: Martin Chemnitz, Davi Chytraeus, André Musculus, Nicolau Selnecker, Christophorus Cornerus, Caspar Heyderich, Paulo Crell, Maximiliano Mörlin, Wolfgang Harder, Daniel Gräser, Nicolau Jagenteufel, João Cornicaelius, João Schütz (Sagittarius), Martin Mirus, Jorge Listenius e Pedro Glaser.

    14 Os eleitores da Saxônia e de Brandenburg insistiram para que esta frase fosse acrescentada, a fim de que se deixasse a porta aberta a que mais pessoas e ordens adotassem a Fórmula de Concórdia.

    15 Em resposta a objeções quanto ao uso desta palavra (no original, rechten ), os eleitores da Saxônia e de Brandenburg mais tarde insistiram em que a Fórmula de Concórdia não tinha a intenção de ser uma norma para a Confissão de Augsburgo.

    16 Amparado pela Paz Religiosa de Augsburgo (1555), o eleitor Frederico III do Palatinado tentou obter status legal para a teologia eucarística calvinista que estava introduzindo nas igrejas de seu território, apelando para a versão revisada da Confissão de Augsburgo, a assim chamada variata .

    17 O Livro de Concórdia.

    18 Uma formulação de 1576 acrescenta, depois de aquela, as palavras primeira e inalterada, que também estão no Livro de Torgau. A restrição gerou muitos protestos e acabou sendo eliminada. Temia-se que as palavras poderiam ser interpretadas como rejeição da Confissão de Augsburgo alterada, de 1540, ou como desaprovação do acordo de Naumburgo, de 1561.

    19 Mais tarde se soube que o documento dos arquivos de Mainz (ou Mogúncia) com o qual as ordens luteranas compararam suas cópias não foi o original.

    20 Este plural é modo de falar, fórmula geral. Apenas um eleitor, o duque João da Saxônia (João o Constante, irmão de Frederico o Sábio), assinou a Confissão de Augsburgo.

    21 A edição alterada ( variata ) de 1540.

    22 O duque Júlio de Braunschweig-Wolfenbüttel e a faculdade da Universidade de Helmstedt, liderada por Tilemann Hesshus, levantaram objeções a esta frase como um todo, alegando que era um endosso à Confissão de Augsburgo alterada (a variata ) e ao acordo de Naumburgo.

    23 Com exceção desta passagem do prefácio, a Fórmula de Concórdia não menciona o nome de Melanchthon.

    24 João Bugenhagen.

    25 A norma expressa no Livro de Concórdia.

    26 Alguns, incluindo Hesshus, se opuseram à Fórmula de Concórdia, porque, segundo eles, o Artigo VII introduziu a onipresença da natureza humana de Cristo como fundamento adicional da presença real na santa ceia. Os teólogos da Saxônia e de Brandenburg responderam que apenas se viram obrigados a falar da pessoa de Cristo por causa da interpretação errônea das palavras da instituição da parte de zwinglianos e calvinistas.

    27 Esta frase foi acrescentada por solicitação do duque Júlio.

    28 Isto se refere a uma discussão entre João Wigand e Tilemann Hesshus quanto ao uso desta palavra (em latim, abstractum ) na análise da relação entre as características da natureza divina e humana em Cristo, bem como a ataques à Fórmula de Concórdia por teólogos de Hesse e Anhalt.

    29 Esta frase (mesmo na união pessoal) foi acrescentada por Andreae e Chemnitz, na revisão final do texto.

    30 Essencialmente, formalmente, habitualmente, subjetivamente. Tilemann Hesshus queria a eliminação dos vocábulos sórdidos e obscuros, além de desnecessários e obsoletos, dos teólogos escolásticos, que nem um em cem párocos entende. Afirmou que a doutrina e a confissão podem ser dadas e explicadas suficientemente com boas e inteligíveis palavras alemãs. Recebeu apoio dos duques Júlio e Cristóvão.

    31 Aqui, foram traduzidas não as palavras latinas citadas, mas as palavras com que o texto alemão as parafraseia. Em tradução literal, o texto latino diz: segundo o modo e a economia da união hipostática. A respeito dessa questão, ver Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, VIII, 73, p. 677,3-9.

    32 Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, VII, 112-127, p. 658-661.

    33 Os teólogos da Universidade de Helmstedt haviam opinado que a condenação de pessoas era inevitável, porque doutrina errônea e falsos mestres eram inseparáveis. Tilemann Hesshus argumentou que, num caso assim, não era oportuno ser brando.

    34 Esta frase reflete uma preocupação dos teólogos pomeranos, que, em seu parecer sobre o prefácio, haviam afirmado que era preciso considerar o fato de que a rainha da Inglaterra [Elizabete I] e o rei de Navarra [mais tarde Henrique IV, rei de França] buscaram e pediram, com laboriosa diligência, em seu nome e no das igrejas de seus correligionários na França, na Espanha, na Inglaterra, nos Países Baixos e na Suíça, que não se condenasse a eles e aos seus, mas que primeiro fossem ouvidos numa conferência geral na Alemanha.

    35 Esta alusão a Mt 15.14 foi acrescentada a pedido do duque Júlio.

    36 Uma tentativa de impedir que a Fórmula de Concórdia fosse usada contra os calvinistas franceses, que haviam sofrido perseguição do rei da França por mais de vinte anos.

    37 Literalmente, cristã memória [ Christlicher gedechtnüs ]. O texto latino traz felicis recordationis .

    38 Isto é, aos três Credos.

    39 Este longo parágrafo, que, em alemão, é um só período, lista razões para a imediata publicação do Livro de Concórdia, para fazer frente às críticas de alguns, incluindo representantes das igrejas reformadas em Genebra, Zurique e Heidelberg, de que tal documento apenas poderia ser publicado após a realização de um concílio geral. Com vistas à clareza, o texto foi dividido em várias frases.

    40 No original, in Rebus noch Phrasibus , isto é, no conteúdo e na fraseologia.

    41 As assinaturas respeitam uma hierarquia: príncipes que tinham envolvimento no Império, condes, barões, cidades imperiais. Como o Prefácio à Fórmula de Concórdia foi escrito, em parte, para obter o apoio de Luís VI do Palatinado à Fórmula, ele foi o primeiro a assinar, seguido por mais dois eleitores luteranos. O irônico é que o Palatinado foi luterano apenas até 1583, quando Luís faleceu e foi substituído por João Kasimir, irmão dele, que era calvinista.

    I

    OS TRÊS SÍMBOLOS CATÓLICOS OU ECUMÊNICOS

    Introdução

    Um ou mais dos três antigos Credos (intitulados os Três Símbolos Ecumênicos ou Católicos no texto latino do Livro de Concórdia) são citados ou mencionados em cada uma das confissões luteranas. Muitas vezes são citados para afirmar a identidade do ensino luterano com o ensino da Igreja Antiga, refutando, assim, a acusação de inovação de doutrina. Por isso, era natural que, quando o Livro de Concórdia foi publicado em 1580, estes símbolos da Igreja tenham sido incorporados. Também era natural que fossem reproduzidos na forma em que eram conhecidos e usados no Ocidente.

    O texto do Credo Apostólico, assim como o temos agora, data do século VIII. Trata-se, porém, de uma revisão do assim chamado Credo Romano, que estava em uso no Ocidente no século III. Por trás do antigo Credo Romano, por sua vez, estão várias formulações doutrinárias que revelam sua relação com formas ou raízes encontradas no próprio Novo Testamento. O Credo Apostólico, como o temos agora, não vem dos apóstolos, mas as suas raízes são apostólicas.

    No Oriente apareceu uma variedade maior de formulações doutrinárias do que no Ocidente. Quando o Concílio de Niceia (325 d.C.) rejeitou os ensinamentos de Ário, expressou sua posição, adotando um dos símbolos orientais em uso, inserindo nele algumas frases antiarianas. No Concílio de Constantinopla (381 d.C.), algumas alterações menores foram feitas nesse Credo Niceno, como ainda o chamamos hoje, sendo também reafirmado no Concílio de Calcedônia (451 d.C.). No século IX, o Ocidente inseriu o filioque (e do Filho, no terceiro artigo) o que se tornou um ponto de divergência entre o Ocidente e o Oriente, especialmente no século XI.

    O Credo Atanasiano é de origem incerta. Está claro que não foi composto por Atanásio, o grande teólogo do século IV. Muitos supõem que tenha sido preparado em seu tempo, ainda que pareça mais provável que seja do século V ou VI e seja de procedência ocidental.

    O SÍMBOLO APOSTÓLICO

    ¹

    A primeira confissão ou símbolo é a confissão comum dos apóstolos, na qual se lança o fundamento da fé cristã. Diz assim:

    [1] Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.

    [2-3] E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, [4] nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno, [5] no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus, o Pai todo-poderoso, [6] de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

    [7] Creio no Espírito Santo, a santa igreja católica², a comunhão dos santos, [8] a remissão dos pecados, a ressurreição da carne e a vida eterna. Amém.

    O SÍMBOLO NICENO

    ³

    [1] Creio⁴ em um só Deus, o Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis.

    [2] E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, [3] Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisas foram feitas; [4] o qual, por amor de nós seres humanos e por nossa salvação, desceu do céu e encarnou, pelo Espírito Santo, da Virgem Maria, e se fez homem; [5] foi também crucificado por nós sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras; e subiu ao céu; está sentado à direita do Pai, [6] e virá outra vez, em glória, para julgar os vivos e os mortos; e seu reino não terá fim.

    [7] E no Espírito Santo, Senhor e Doador da vida, o qual procede do Pai e do Filho⁵; que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou pelos profetas.

    [8] E a igreja, una, santa, católica⁶ e apostólica.

    [9-10] Confesso um só batismo, para remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro. Amém.

    O SÍMBOLO ATANASIANO

    A terceira confissão ou símbolo chama-se Credo de Santo Atanásio, que ele fez contra os hereges chamados arianos e que diz assim:

    [1] Todo aquele que quer ser salvo deve, antes de tudo, professar a fé católica⁷. [2] Todo aquele que não a conservar íntegra e inviolada sem dúvida perecerá eternamente.

    [3] E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, [4] sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.

    [5] Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; [6] mas a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma só – igual em glória, coeterna em majestade⁸.

    [7] Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. [8] Incriado é o Pai, incriado é o Filho, incriado é o Espírito Santo. [9] Imenso⁹ é o Pai, imenso é o Filho, imenso é o Espírito Santo. [10] Eterno é o Pai, eterno é o Filho, eterno é o Espírito Santo; [11] entretanto, não são três eternos, mas um único eterno; [12] como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. [13] Da mesma forma, o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso; [14] não há, entretanto, três todo-poderosos, mas um só todo-poderoso.

    [15] Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; [16] não há, entretanto, três Deuses, porém um único Deus. [17] Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; [18] não são, entretanto, três Senhores, porém um só Senhor. [19] Porque, assim como, pela verdade cristã, somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.

    [20] O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado. [21] O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado. [22] O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. [23] Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. [24] E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; [25] porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito anteriormente, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade. [26] Portanto, quem quer salvar-se deve pensar assim a respeito da Trindade.

    [27] Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. [28] Portanto, a fé verdadeira é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem. [29] É Deus, gerado da substância do Pai antes dos tempos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe; [30] Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. [31] Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade.

    [32] Ainda que seja Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. [33] Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. [34] De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa. [35] Pois, assim como a alma racional e a carne é um só ser humano, assim Deus e homem é um só Cristo.

    [36] Ele padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu, está sentado à direita de Deus, o Pai todo-poderoso, [37] de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. [38] À sua chegada todos os seres humanos devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos. [39] Aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.

    [40] Essa é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza não poderá ser salvo.

    1A forma primitiva do Credo Apostólico é o antigo símbolo batismal romano, que diz assim: Creio em Deus Pai todo-poderoso. E em Cristo Jesus, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria, que sob Pôncio Pilatos foi crucificado e sepultado, no terceiro dia ressurgiu dos mortos, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo, a santa igreja, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne.

    2No texto alemão, cristã. Já desde o século XV era costumeiro traduzir ecclesia catholica por igreja cristã.

    3Trata-se de uma revisão do Credo Niceno, de 325 d.C. Por isso, também é chamado de Credo Niceno-Constantinopolitano.

    4No original grego, cremos [ pisteuomen ]. A forma do plural reflete o contexto conciliar em que o texto foi formulado.

    5O assim chamado filioque não aparece em nenhum manuscrito grego, mas reflete a compreensão ocidental do relacionamento entre as pessoas da Trindade. O termo foi introduzido no texto latino do Credo Niceno durante o Concílio de Toledo, em 589.

    6No texto alemão, cristã.

    7No texto alemão, christlichen Glauben [fé cristã]. Aqui e em todos os lugares onde o texto latino tem catholicam fidem [fé católica], o texto alemão tem christlichen Glauben [fé cristã].

    8A tradução alemã traz: Aber der Vater und Sohn und heiliger Geist ist ein einiger Gott, gleich in der Herrlichkeit, gleich in ewiger Majestät [Mas o Pai e Filho e Espírito Santo é um único Deus, igual em glória, igual em majestade eterna].

    9A tradução alemã traz unermesslich [imensurável].

    II

    CONFESSIO AUGUSTANA

    CONFISSÃO DE AUGSBURGO

    Confissão de fé [de alguns príncipes e algumas cidades]¹ apresentada ao invictíssimo imperador Carlos V, César Augusto, na Dieta de Augsburgo, no ano de 1530.

    SALMO 119[.46]:

    Também falarei dos teus testemunhos na presença dos reis e não me envergonharei.

    Introdução

    No dia 21 de janeiro de 1530, o imperador Carlos V convocou uma Dieta Imperial para o mês de abril seguinte, na cidade alemã de Augsburgo. Ele desejava ter uma frente unida em suas operações militares contra os turcos e isso parecia exigir o fim da desunião religiosa resultante da Reforma. Em vista disso convidou os príncipes e representantes das cidades livres do Império para discutir as diferenças religiosas nessa Dieta, na esperança de superá-las e de restaurar a unidade. De acordo com o convite, o príncipe-eleitor da Saxônia solicitou aos seus teólogos em Wittenberg que preparassem um relato sobre as crenças e práticas das igrejas da sua terra. Uma exposição de doutrinas conhecida pelo nome de Artigos de Schwabach já tinha sido preparada no ano de 1529, de modo que só era necessário ainda fazer uma exposição adicional das mudanças práticas introduzidas nas igrejas da Saxônia. Essa exposição foi preparada por teólogos de Wittenberg e, por ter sido aprovada em um encontro realizado na cidade de Torgau, ocorrido no final de março de 1530, costuma ser chamada de Artigos de Torgau.

    Os Artigos de Schwabach e de Torgau, bem como outros documentos, foram levados para Augsburgo. Lá se decidiu elaborar, em vez da simples declaração saxônica, uma declaração luterana conjunta a ser apresentada ao imperador. As circunstâncias exigiram que a declaração deixasse claro que os luteranos não figuravam entre os demais oponentes de Roma. Outras considerações indicaram que seria desejável dar mais ênfase à harmonia com Roma do que às diferenças. Esses fatores contribuíram para determinar as características do documento que estava sendo preparado por Filipe Melanchthon. Os Artigos de Schwabach serviram de base para a primeira parte daquilo que veio a ser chamado de Confissão de Augsburgo, sendo que os Artigos de Torgau formaram a segunda parte. Lutero, que não esteve presente em Augsburgo, foi consultado por correspondência; as emendas e revisões continuaram a ser feitas até a véspera da apresentação formal ao imperador, em 25 de junho de 1530. Assinada por sete príncipes e pelos representantes de duas cidades livres, a Confissão imediatamente adquiriu importância peculiar como declaração pública de fé.

    De acordo com as instruções do imperador, os textos das confissões foram apresentados em alemão e em latim. A leitura diante da Dieta foi a do texto alemão, que, por isso, é tido como o mais oficial. Infelizmente nem o texto alemão nem o latino existem nas formas exatas em que foram apresentados. De qualquer maneira, mais de cinquenta cópias que datam de 1530 foram encontradas, incluindo esboços que representam vários estágios da preparação anterior a 25 de junho, bem como cópias com uma variedade de novas mudanças no vocabulário feitas após 25 de junho. Essas versões foram objeto de extensos estudos críticos, resultando na reconstituição de um texto latino e de um texto alemão que podem ser considerados próximos dos documentos apresentados ao imperador, embora não sejam idênticos a eles. Existem diferenças consideráveis entre os dois textos, razão pela qual ambos serão reproduzidos a seguir.

    PREFÁCIO

    ²

    Ilustríssimo, potentíssimo e invictíssimo imperador, clementíssimo Senhor! Vossa Majestade Imperial recentemente³ se dignou a convocar uma Dieta Geral aqui para Augsburgo, indicando e desejando seriamente tratar de assunto referente ao turco, inimigo hereditário nosso e de quem se chama de cristão, a saber, avaliar a forma como se poderia oferecer dura resistência a ele com auxílio constante e a forma como se poderia tratar da dissensão referente à sagrada fé e à religião cristã⁴, e envidar esforços para ouvir, entender e ponderar entre nós com cordialidade e convicção, opinião e concepção de cada um e, conciliando-as, chegar a uma única verdade cristã, bem como descartar tudo o que as duas partes não puderem explicar ou tratar apropriadamente e aceitar e sustentar uma religião única e verdadeira, e, do mesmo modo que estamos e batalhamos sob um só Cristo, também vivamos todos em uma só comunhão, igreja e unidade. Assim convocados do mesmo modo que os outros príncipes-eleitores, príncipes e estamentos, nós, abaixo nomeados príncipe-eleitor e demais príncipes com nossos aliados, prontamente nos pusemos a caminho para, sem querer gabar-nos, ter a honra de estar entre os primeiros a chegar aqui.

    De acordo com esse edito e tendo em vista seu cumprimento em completa obediência, Vossa Majestade Imperial conclamou de modo magnânimo, mas também urgente e sério, todos os príncipes-eleitores, príncipes e estamentos, a que, nos assuntos relativos à fé, conforme o supramencionado edito de Vossa Majestade Imperial, cada parte formulasse e entregasse por escrito em língua alemã e em língua latina sua convicção, opinião e concepção atinentes a ditos erros, dissensões e abusos etc. Depois da devida ponderação e deliberação, foi proposto a Vossa Majestade Imperial, na quarta-feira passada⁵, que de nossa parte entregaríamos hoje, sexta-feira⁶, o texto em alemão e em latim, conforme a demanda de Vossa Majestade Imperial. Por isso, na mais submissa obediência a Vossa Majestade Imperial, alcançamos e entregamos aqui e agora a doutrina de nossos pastores e pregadores, bem como a confissão da nossa fé, a saber, o que eles pregam, ensinam e sustentam com base na divina Sagrada Escritura e o modo como o fazem em nossos territórios, principados, domínios, localidades e regiões.

    Se agora os outros príncipes-eleitores, príncipes e estamentos também realizarem a entrega em duas vias, em latim e em alemão, de semelhante registro de sua concepção ou opinião, colocamo-nos à disposição com toda submissão a Vossa Majestade Imperial, Senhor clementíssimo de todos nós, para dialogar com eles e seus amigos sobre vias cômodas e tranquilas, buscando o entendimento, na medida em que isso puder ser feito com equidade, para que o modelo e os desejos trazidos por escrito pelas duas partes possam ser tratados com cordialidade e amabilidade e, visto que todos nós estamos e militamos sob um só Cristo e devemos confessar a Cristo, as dissensões possam ser conduzidas a uma única religião verdadeira, tudo de acordo com o já citado edito de Vossa Majestade Imperial e segundo a verdade divina. Por isso também queremos invocar com a máxima humildade o onipotente Deus e rogar-lhe que conceda sua graça divina para isso.

    Porém, se, no tocante aos nossos senhores, amigos e especialmente aos príncipes-eleitores, príncipes e estamentos da outra parte, a negociação não resultar tão profícua e fecunda quanto dispõe o edito de Vossa Majestade Imperial – ou seja, não houver uma negociação com cordialidade e amabilidade –, ainda assim não terá faltado da nossa parte nada que possa servir à unidade cristã em conformidade com Deus e a consciência, como Vossa Majestade Imperial e os nossos referidos amigos e também os príncipes-eleitores, príncipes e estamentos, assim como todo apreciador da religião cristã que se deparar com essas coisas poderão constatar de modo magnânimo, amigável e suficiente a partir do que segue, ou seja, da confissão dos nossos teólogos, que também é a nossa.

    No passado, Vossa Majestade Imperial deu a entender aos príncipes-eleitores, príncipes e estamentos do Império, especialmente por meio de uma instrução proclamada publicamente na Dieta Imperial realizada em Espira no ano de 1526, que, pelos motivos então anunciados, Vossa Majestade Imperial não pretendia tomar decisões que afetassem as questões atinentes à nossa sagrada fé, mas se empenharia enfaticamente junto ao papa pela realização de um concílio. E há um ano⁷, na última Dieta Imperial, realizada em Espira, os príncipes-eleitores, príncipes e estamentos do Império foram informados e notificados por meio de uma instrução por escrito, da parte do representante de Vossa Majestade Imperial no Império, Sua Majestade Real da Hungria e da Boêmia⁸, do porta-voz⁹ e dos comissários indicados por Vossa Majestade Imperial, entre outras coisas, de que o representante de Vossa Majestade

    Imperial, o diretor e os conselheiros do governo imperial, além dos representantes dos príncipes-eleitores, príncipes e estamentos ausentes na Dieta Imperial convocada para Regensburg¹⁰, refletiram sobre a questão do concílio geral e igualmente acharam profícuo agendar a sua realização. E, como os assuntos entre Vossa Majestade Imperial e o papa estavam se encaminhando para um bom entendimento cristão e Vossa Majestade Imperial tinha a certeza de que o papa não se recusaria a realizar esse concílio geral, Vossa Majestade Imperial dispôs-se magnanimamente a fazer diligências para que o papa primeiro permitisse convocar esse concílio geral em companhia de Vossa Majestade Imperial e que, nessa questão, nada deixaria de ser feito.

    Assim, no caso em pauta, declaramos diante de Vossa Majestade Imperial em completa submissão e de sobejo nossa disposição para esse concílio cristão, geral e livre, conforme foi decidido pelos príncipes-eleitores, príncipes e estamentos, imbuídos de razões elevadas e corajosas, em todas as Dietas promovidas no Império durante o governo de Vossa Majestade Imperial. Já estivemos com Vossa Majestade Imperial por causa desse assunto de suma importância, quando apelamos [a um concílio] de modo formal e juridicamente correto¹¹. Reiteramos nossa posição e não nos demoveremos dela por causa desta nem de subsequentes negociações (a não ser que essas dissensões sejam finalmente ouvidas, ponderadas e dirimidas com cordialidade e amabilidade, conforme o edito de Vossa Majestade Imperial, e conciliadas em um entendimento cristão), o que aqui publicamente atestamos e protestamos. E o que segue agora artigo após artigo é a nossa confissão que também é a dos nossos teólogos.

    Artigos de fé e doutrina

    ¹²

    ARTIGO I: DE DEUS

    Em primeiro lugar, ensina-se e mantém-se unanimemente, de acordo com o decreto do Concílio de Niceia, que há uma só essência divina, que é chamada Deus e verdadeiramente é Deus e, não obstante, há três pessoas nessa única essência divina, igualmente poderosas, igualmente eternas: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Todas as três são uma única essência divina, eterna, indivisa, de incomensurável poder, sabedoria e bondade, infinita, um só criador e conservador de todas as coisas, das visíveis e das invisíveis. E com a palavra persona (pessoa) não se entende uma parte, uma propriedade [presente] em outro [ser], mas aquilo que subsiste por si mesmo, no sentido em que os Pais [da Igreja] usaram essa palavra nesta questão.

    Rejeitam-se, ademais, todas as heresias que são contrárias a esse artigo, como a dos maniqueus¹³, que estabeleceram dois deuses, um mau e um bom; também a dos valentinianos¹⁴, arianos¹⁵, eunomianos¹⁶, maometanos¹⁷ e de todos os similares, além da dos judeus e da dos samosatenos¹⁸, os antigos e os novos¹⁹, que afirmam uma só pessoa e sofismam acerca do Verbo e do Espírito Santo, dizendo que não são necessariamente pessoas distintas, mas que Verbo

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