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Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus
Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus
Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus
E-book593 páginas9 horas

Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus

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Sobre este e-book

Esse livro é para ajudar o cristão se preparar para ministrar aos feridos, cujas vidas foram destruídas pela falsa promessa de liberdade e autonomia. A cultura atual tem cada vez mais menosprezado e banalizado o corpo o tratando apenas como uma simples matéria. Questões como aborto, mal uso do sexo, homossexualidade, entre outras, modificam o corpo e o destroem. Neste livro, Nancy Pearcey mostra de forma abrangente que o corpo humano deve ser amado e respeitado como Templo do Espírito Santo e que o Cristianismo é real, e não apenas palavras, colocando carne e osso nas mensagens de esperança e cura.
IdiomaPortuguês
EditoraCPAD
Data de lançamento1 de out. de 2021
ISBN9786586146318
Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus

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    Ama Teu Corpo - Nancy R. Pearcey

    Ama Teu CorpoAma Teu Corpo

    Todos os direitos reservados. Copyright © 2020 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

    Título do original em inglês: Love Thy Body

    Baker Books, Grand Rapids, Michigan, EUA

    Primeira edição em inglês: 2018

    Tradução: Marcelo Siqueira

    Preparação dos originais: Daniele Pereira

    Revisão: Miquéias Nascimento

    Capa: Wagner de Almeida

    Projeto gráfico e editoração: Anderson Lopes e Leonardo Engel

    Conversão para ebook: Cumbuca Studio

    CDD: 240 – Moral cristã e teologia devocional

    e-ISBN: 978-65-86146-31-8

    As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

    Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br.

    SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373

    Casa Publicadora das Assembleias de Deus

    Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ

    CEP 21.852-002

    1ª edição: 2020

    Alguns nomes e detalhes foram alterados para proteger a privacidade dos indivíduos envolvidos.

    AGRADECIMENTOS

    Este livro recebeu um rico aporte de opiniões no seu processo de composição. Transmiti este conteúdo na forma de preleções em várias universidades e colégios cristãos, bem como em conferências de Apologética. Além disso, lecionei todo este conteúdo tanto nos cursos de subgraduação, como nos de graduação da Universidade Batista de Houston. Organizei dois grupos de leitura com estudantes do Honors College da UBH. Ao longo do verão, fui recebendo feedback de um grupo de leitura de graduados no sistema de ensino em domicílios organizado por Kathryn Hitt Hart e Patricia Samuelsen da Schola. Outro grupo de leitura foi organizado por David e Sue Tong, líderes de um grupo do ministério Reasonable Faith [Fé Racional]. Também lecionei uma série de aulas com base neste material para um curso de ética de Paul Shockley, no Colégio de Estudos Bíblicos.

    Quero agradecer à Barbara Challies e Maria Dunn pelas opiniões valiosas. Às várias pessoas da minha família que leram e debateram o texto original. Ao meu esposo, Rick, que foi, como sempre, o meu melhor editor e parceiro de diálogo.

    Sou grata por partilhar de um ambiente acadêmico com colegas dispostos a ler todas as partes do texto original. Alguns deles reuniram-se por várias semanas em um grupo de debate. Quero agradecer a Agnieszka Czopik, Sara Frear, Trae Holcomb, Anthony Joseph, Jeremy Neill, Christopher Sneller, John Oliver Tyler e Jerry Walls.

    Além desses, várias pessoas com competências especializadas, ou com experiência, apresentaram comentários importantes em todas as partes do texto original, dentre as quais estão Ryan T. Anderson, Rosaria Butterfield, Alysse ElHage, Greg Jesson, Scott Masson, Darrow Miller, Stella Morabito, Tim Otto, Jennifer Roback Morse, Melinda Selmys, Lianne Simon, Glenn Stanton, Warren Throckmorton, Eve Tushnet e Mark Yarhouse. Eles não concordaram com exatamente tudo o que escrevi, mas foram generosos ao interagir criticamente com o texto apresentado.

    Como sempre, o meu agente, Steve Laube, foi um apoiador ativo e entusiasmado do projeto. Por fim, quero expressar a minha gratidão à equipe da Baker Publishing, especialmente ao meu editor, Bob Hosack, à editora de projeto, Lindsey Spoolstra, ao vice-presidente de Marketing, Mark Rice, à gerente de Marketing, Eileen Hanson, e à diretora de arte, Patti Brinks. É uma alegria trabalhar com pessoas que têm compromisso com a excelência.

    APRESENTAÇÃO

    Surge de propósito e de modo singular a obra de Nancy Pearcey para o leitor de língua portuguesa. Trata-se de uma autora premiada por várias obras no mundo da literatura evangélica e que se dedica especialmente no campo da Apologética Cristã. As suas qualificações estão expostas neste livro com o intuito de dar a conhecer muito mais o seu apanágio intelectual e teológico do que exibir a pessoa de Nancy Pearcey. Uma autoria que não precisa de confetes humanos porque é uma idealista em termos de filosofia cristã. Nesta obra, ela dedicou-se a tratar de assuntos nos quais discute Ciência e Cosmovisão cristã. A sua obra não tem caráter devocional. Ela escreveu-a com uma visão didática, filosófica e teológica, objetivando discutir assuntos no campo da Ética Cristã. Nesta matéria de ética cristã, Nancy Pearcey trata de assuntos como aborto, eutanásia, casamento homossexual, identidade de gênero, sexualidade e outros assuntos correlatos. Com uma visão ortodoxa e bíblica da Antropologia, Nancy Pearcey defende uma compreensão sólida da dignidade da pessoa humana de forma integral. Ela confronta a ética liberal secular como algo insustentável e defende a ideia do corpo como um elemento da unidade mental, física e espiritual da pessoa humana.

    Na sociedade contemporânea, o ethos secular trata com desdém a expressão liberdade religiosa e também a vê como um direito ilegítimo, e não como um direito fundamental na sociedade humana. Para alguns grupos de pretensos intelectuais, a expressão liberdade religiosa é vista como hipocrisia, e eles entendem que códigos de discriminação, intolerância, racismo, sexismo, homofobia e supremacia cristã são elementos disfarçados dessa hipocrisia. A tendência atual no mundo moderno é a negação aos cidadãos da sua liberdade religiosa. A Igreja de Cristo, a igreja que resiste à revolução moral, está sendo pressionada por forças intelectuais do sistema mundano. Não há dúvidas de que essas forças são, antes de tudo, forças espirituais das hostes espirituais da maldade (Ef 6.12) que dominam o mundo atual e que influenciam nossos governos para aceitarem a quebra dos valores da verdadeira ética. Nancy Pearcey demonstra em toda a sua obra o espírito valente de quem acredita nos valores morais que a Bíblia oferece, além de lutar por esses valores.

    A autora rejeita a cultura do dualismo de dois andares, que separa o corpo da pessoa. Essa cultura é tão diabólica que trata fetos e recém-nascidos como meros tecidos materiais para pesquisa. A Bíblia, porém, rejeita essa cultura dualista e declara na sua antropologia que o corpo físico faz parte da pessoa humana; por isso, os cristãos autênticos opõem-se ao aborto, à eutanásia e à relação homossexual.

    Independentemente das ideias pessoais contradizentes no meio evangélico, aconselho aos leitores da obra que usem do bom senso para discutir, avaliar e chegar a conclusões sobre as matérias tratadas. As preferências pessoais podem discordar da matéria do livro, mas não devem ser feitas sem que entendam o espírito correto da autora, que, com autoridade e maturidade, foi capaz de abordar um assunto tão forte e, ao mesmo tempo, tão necessário para nossos dias.

    Recomendo aos leitores dessa obra que façam uma leitura não como lazer, mas que a façam com inteligência, pois o modo como a autora confronta as ideias da cultura secular abre luz para entender a cosmovisão cristã e bíblica. Creio que a leitura desta obra contribuirá para o acervo intelectual e pastoral da liderança de nossas igrejas que diariamente enfrentam essas situações na lide pastoral. Recomendo esta obra aos líderes de jovens, de casais, aos professores de Escola Dominical e aos professores de Escolas Teológicas, pois os assuntos tratados nesta obra alicerçarão ainda mais nossa eclesiologia.

    Mais uma vez, nossa CPAD destrava-se do trivial e apresenta uma obra sem ferir nossos valores e nossa teologia.

    Nossa oração a Deus é para que Ele abençoe a mente dos leitores e que estes façam desta obra um guia de orientação para as lides pastorais.

    Curitiba–PR, 15 de maio de 2020

    Pastor Elienai Cabral

    Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD

    SUMÁRIO

    Agradecimentos

    Apresentação à Edição em Língua Portuguesa

    Sumário

    Introdução: Um Guia para a Terra Desolada

    1. Eu me Odeio

    A ascensão e o declínio do corpo humano

    2. A Alegria da Morte

    Você deve estar preparada para matar

    3. Caro Componente Valioso

    Você não se qualifica mais como pessoa

    4. Sexo Esquizofrênico

    Sequestrado pela cultura do sexo casual

    5. O Corpo Imprudente

    Como a narrativa homossexual avilta o corpo

    6. Transgênero, Transrealidade

    Deus deveria ter me feito menina

    7. A Deusa da Escolha Está Morta

    Do contrato social ao colapso social

    Guia de Estudos

    Notas

    Índice Remissivo

    Comentários sobre o Livro

    Sobre a Autora

    O destino, e não Deus, deu-nos esta carne.

    Temos direito absoluto sobre o nosso corpo

    e podemos fazer com ele como julgarmos conveniente.

    (Camille Paglia, Vamps & Tramps

    [Vampes e Vadias])

    Os cristãos deveriam confessar a sua fé na ordem natural

    como a boa criação de Deus...

    Devemos estimar a natureza,

    devemos submeter-nos às suas leis inerentes

    e devemos planejar as nossas atividades em cooperação com elas.

    (Oliver O’Donovan, Begotten or Made?

    [Gerado ou Fabricado?])

    INTRODUÇÃO

    Um Guia para a Terra Desolada

    A vida humana e a sexualidade tornaram-se as questões morais divisoras de águas de nossa época. Todos os dias, o ciclo de 24 horas de notícias relata o avanço de uma revolução moral secular em áreas como sexualidade, aborto, suicídio assistido, homossexualidade e transgenerismo. A nova ortodoxia secular está sendo imposta por intermédio de quase todas as grandes instituições sociais: academia, mídia, escolas públicas, Hollywood, corporações privadas e a lei.

    É fácil ser apanhado pela última controvérsia ou pelas notícias de última hora. Só que os eventos correntes são apenas efeitos superficiais, como ondas no oceano. A ação real acontece abaixo da superfície, no nível das cosmovisões. Elas são como placas tectônicas cujos movimentos causam as ondas que encrespam a superfície. Em Ama teu Corpo, iremos além das manchetes que chamam atenção e dos slogans da moda para revelar a cosmovisão que dirige a ética secular. Ao aprender os princípios centrais dessa cosmovisão, você conseguirá lutar com inteligência e compaixão contra todos os desafios morais mais controversos dos nossos dias.

    Tendo sido eu mesma uma agnóstica, apresento um mapa privilegiado das teorias morais pós-modernas, mostrando como elas desvalorizam o ser humano e destroem os direitos humanos.

    Aqueles que divergem da ortodoxia do politicamente correto são acusados de intolerância e discriminação, rotulados como fanáticos e misóginos e perseguidos por campanhas de vergonha e intimidação. Querem provas? Na decisão Windsor, de 2013, o decreto da Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou o Ato de Defesa do Casamento (DOMA, na sigla em inglês), uma lei federal que reconhecia o casamento como sendo entre um homem e uma mulher. A opinião majoritária acusou os apoiadores do DOMA de serem motivados por animus (animosidade, hostilidade, ódio). Alegava que o propósito deles era depreciar, ofender, degradar, humilhar, rebaixar e prejudicar as pessoas em uniões do mesmo sexo [...], marcá-las como indignas, impor uma desvantagem, um estigma e negar a eles igual dignidade. Em resumo, a Corte não disse apenas que quem apoia o casamento homem-mulher está errado. Denunciou-os como hostis, odiosos e maldosos.

    Aqueles que discordam do ethos secular corrente apelam ao direito à liberdade religiosa. Já o presidente da Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos escreveu com desdém que a expressão ‘liberdade religiosa’ não representará nada, a não ser hipocrisia, enquanto permanecer como código para discriminação, intolerância, racismo, sexismo, homofobia, islamofobia, supremacia cristã ou qualquer outra forma de intolerância.¹ Observe que a expressão liberdade religiosa é colocada entre aspas, como se fosse um direito ilegítimo, e não um direito fundamental em uma sociedade livre.

    O próximo passo será negar aos cidadãos a sua liberdade religiosa — e isso já começou. Aqueles que resistem à revolução moral secular têm perdido empregos, negócios e posições de ensino. Outros têm sido expulsos de programas de graduação, perdido o direito de ser pais temporários, sido forçados a fechar centros de adoção, perdido o seu status como organizações de campo [...], e a lista de opressão só tende a crescer.²

    A mesma ortodoxia do politicamente correto está sendo promovida agressivamente por todo o mundo por intermédio do Departamento de Estado norte-americano, das Nações Unidas, da União Europeia, de fundações privadas e da mídia. Nações ricas estão pressionando as mais pobres a mudar suas leis sobre aborto e sexualidade como pré-requisito para obter ajuda.³ A revolução sexual está tornando-se algo global.

    FREQUENTADORES DE IGREJAS COOPTADOS

    Não pense que os frequentadores de igreja estão imunes. Muitas pessoas que se identificam como religiosas ou cristãs estão sendo cooptadas pela cosmovisão secular, muitas vezes sem perceber. Os números são perturbadores:

    Pornografia: Cerca de dois terços dos homens cristãos têm contato com a pornografia ao menos mensalmente — a mesma taxa de homens que não afirmam ser cristãos.⁴ Em uma pesquisa, 54% dos pastores disseram ter visto pornografia no último ano.⁵

    Coabitação: Uma pesquisa Gallup descobriu que quase metade (49%) dos adolescentes com contexto religioso apoiam o morar junto antes do casamento.⁶

    Divórcio: Entre os adultos que se identificam como cristãos, mas raramente frequentam a igreja, 60% já se divorciaram. Entre aqueles que frequentam a igreja regularmente, o número é de 38%.⁷

    Homossexualidade e Transgenerismo: Esses assuntos estão dividindo até mesmo os grupos religiosos conservadores. Em um estudo de 2014 do Pew Research Center, 51% dos evangélicos da geração nascida na virada do século XX-XXI (os chamados millennials) disseram que o contato sexual entre pessoas do mesmo sexo é moralmente aceitável.⁸

    Aborto: Uma pesquisa da LifeWay descobriu que cerca de 70% das mulheres que fizeram um aborto identificam-se como cristãs, e 43% disseram frequentar uma igreja cristã pelo menos uma vez ao mês, ou mais, na época em que abortaram o seu bebê.⁹

    O problema é que muitas pessoas tratam a moralidade como uma lista de regras. Mas, na realidade, todo sistema moral repousa sobre uma cosmovisão. Em cada decisão que tomamos, não estamos apenas decidindo o que queremos fazer. Estamos expressando a nossa visão sobre o propósito da vida humana. Nas palavras do teólogo Stanley Hauerwas, um ato moral não pode ser visto como apenas um ato isolado, mas envolve opções fundamentais sobre a natureza e o significado da própria vida.¹⁰

    Para sermos estrategicamente eficazes, devemos abordar o que as pessoas acreditam sobre a natureza e o significado da própria vida. Devemos lutar contra a sua cosmovisão.

    C. S. Lewis expõe desta maneira: O cristão e o materialista possuem crenças diferentes sobre o universo. Eles não podem estar ambos corretos. Aquele que está errado agirá de uma maneira que simplesmente não se encaixa no universo real.¹¹ Meu objetivo em Ama teu Corpo é mostrar que a moralidade secular não se encaixa no universo real.

    VERDADE PARA VOCÊ, E NÃO PARA MIM?

    O primeiro passo é reconhecer que a moralidade secular repousa sobre uma divisão profunda que corre em todo o pensamento e cultura do Ocidente — aquela que acaba com a conexão entre conhecimento científico e conhecimento moral. No passado, a maioria das civilizações defendia que a realidade consiste tanto na ordem natural quanto na ordem moral, integradas em uma unidade maior. Portanto, de modo semelhante, pensava-se que o nosso conhecimento da realidade era um sistema de verdade único e unificado.

    Entretanto, na era moderna, muitas pessoas passaram a pensar que o conhecimento confiável só é possível pela ordem natural — de fatos científicos testados empiricamente. O que isso implica para as verdades morais? Elas não podem ser colocadas dentro de uma proveta de teste ou estudadas sob um microscópio. Muitas pessoas concluíram que a moralidade não se qualifica como verdade objetiva. Ela consiste apenas em sentimentos e preferências pessoais.

    O conceito unificado de verdade foi explodido, dividido em dois domínios separados.

    O teólogo Francis Schaeffer ilustrou a divisão usando a metáfora de dois andares em um prédio. No andar inferior, está a ciência empírica, defendida como sendo objetivamente verdadeira e verificável. Este é o reino das verdades públicas — coisas que todos devem aceitar, independentemente das suas crenças individuais. O andar superior é o reino da moralidade e da teologia, que é tratado como privado, subjetivo e relativo. É aqui que ouvimos as pessoas dizerem: Isso pode ser verdadeiro para você, mas não é para mim.¹²

    O conceito de verdade foi dividido

    TEOLOGIA, MORALIDADE

    Privado, Subjetivo, Relativo

    ___________________________________

    CIÊNCIA

    Público, Objetivo, Válido para Todos

    Quando os livros de Schaeffer foram publicados pela primeira vez, a maioria das pessoas tratou a sua imagem dos dois andares como um pouco mais do que uma metáfora estranha para o Relativismo. Todavia, anos depois, quando eu estava estudando o que, no mundo acadêmico, chamamos de divisão fato/valor, descobri que era disso que Schaeffer estava falando, embora não tivesse usado a mesma expressão.¹³ Você consegue ver os paralelos?

    A divisão fato/valor

    VALORES

    Privado, Subjetivo, Relativo

    _____________________________________

    FATOS

    Público, Objetivo, Válido para Todos

    Descrevi os paralelos no meu livro anterior, Total Truth [Verdade Absoluta], e, de repente, a análise de dois andares de Schaeffer tornou-se visivelmente relevante para os nossos dias. Um importante filósofo cristão disse-me que tinha lido toda a obra de Schaeffer e, como professor, ele disse: Ensinei sobre os perigos da divisão fato/valor a minha vida toda [...] mas eu nunca havia feito a conexão. Ao fazer essa conexão, Total Truth [Verdade Absoluta] ajudou a trazer as ideias de Schaeffer para uma conversa nova e frutífera com o pensamento secular.

    UMA COSMOVISÃO FRAGMENTADA

    Ainda mais tarde, percebi que a divisão fato/valor é apenas a ponta do iceberg — que toda a filosofia moderna foi dividida em duas correntes principais. Uma corrente começou com a revolução científica. Deu surgimento à tradição do Iluminismo, composta de filósofos que alegavam construir sobre a ciência. Eles propuseram filosofias que tratam o reino do fato (andar inferior) como a realidade primária — ismos como empirismo, racionalismo, materialismo e naturalismo.

    Entretanto, como você deve lembrar-se das aulas do Ensino Médio, houve uma reação contra o Iluminismo chamada de Movimento Romântico. Ele foi composto por pensadores que buscavam manter vivo o reino do valor (andar superior). Eles concentravam-se em questões de justiça, liberdade, moral e significado. Os pensadores dessa tradição propuseram ismos como idealismo, marxismo, existencialismo e pós-modernismo.

    Hoje essas duas tradições estão resumidas superficialmente sob os títulos de modernismo versus pós-modernismo e continuam brigando. A divisão entre elas ficou tão grande que um filósofo diz que é quase como se o pensamento ocidental tivesse se dividido em dois mundos filosóficos. Outro filósofo chega a ficar preocupado por termos alcançado um ponto no qual parece que estamos trabalhando em assuntos diferentes e gritando através de um abismo.¹⁴

    Os modernistas alegam que o andar inferior é a realidade primária ou única — fatos e ciência. Os pós-modernistas alegam que o andar superior é o primário — que os fatos e a ciência são apenas construções mentais.¹⁵

    A divisão no pensamento ocidental

    TRADIÇÃO ROMÂNTICA

    Pós-Modernismo

    ________________________________

    TRADIÇÃO ILUMINISTA

    Modernismo

    Como a filosofia é absolutamente fundamental, essa divisão afeta todas as outras áreas de conhecimento, incluindo a moralidade.¹⁶ Nas questões morais, estamos perguntando: Qual a maneira correta de se tratar as pessoas? A nossa resposta depende daquilo que pensamos sobre quem são as pessoas — ou do que significa ser humano. (Os filósofos chamam isso de antropologia.) A chave para compreender todos os assuntos controversos dos nossos dias é que o conceito de ser humano também foi fragmentado nos andares inferior e superior. O pensamento secular atual presume uma divisão corpo/pessoa, com o corpo definido no reino do fato pela ciência empírica (andar inferior) e a pessoa definida no reino dos valores como base para os direitos (andar superior). Esse dualismo criou uma visão quebrada, fragmentada do ser humano, na qual o corpo é tratado como algo separado do eu autêntico.

    UMA NOVA ESTRATÉGIA

    Essa divisão em dois andares equipa-nos com uma nova estratégia poderosa para ajudar as pessoas a verem por que a ética secular fracassa, tanto pessoal quanto publicamente. O capítulo 1, Eu me Odeio, investiga todos as questões mais relevantes, destacando a visão de dois andares do ser humano que motiva todas elas. Mesmo que você queira concentrar-se em um tópico posterior, recomendo que comece lendo o capítulo 1 para familiarizar-se com a estratégia geral que aplicarei ao longo do restante do livro. (Como esses são assuntos controversos, nem todas as objeções podem ser abordadas no texto. Por favor, consulte as notas finais para uma análise mais aprofundada.)

    O capítulo 2, A Alegria da Morte, pergunta como o dualismo corpo/pessoa reforça os argumentos seculares para o aborto e o infanticídio. O capítulo 3, Caro Componente Valioso, revela o impacto devastador do mesmo dualismo nos argumentos pela eutanásia, assim como em assuntos relacionados, como pesquisa com células-tronco embrionárias, direitos dos animais, engenharia genética e Transumanismo. O capítulo 4, Sexo Esquizofrênico, expõe as mentiras da cultura do sexo casual. Ao contrário de suas alegações pela liberdade do corpo, na realidade ela expressa desdém pelo corpo. O capítulo 5, O Corpo Imprudente, revela como a prática sexual com pessoas do mesmo sexo também humilha o corpo. O capítulo 6, Transgênero, Transrealidade, pergunta como ajudar as pessoas que acham que o seu corpo não corresponde ao seu eu verdadeiro e autêntico. O capítulo final, A Deusa da Escolha Está Morta, passa do reino individual para o reino social: Como o dualismo corpo/pessoa está destruindo os nossos relacionamentos mais íntimos, especialmente o casamento e a família, deixando as pessoas solitárias e isoladas?

    Vivemos em uma terra desolada na questão da moral, onde os seres humanos estão buscando, de forma desesperada, respostas para perguntas difíceis sobre vida e sexualidade. Só que existe esperança. Podemos cultivar um jardim na terra desolada. Podemos descobrir uma moralidade baseada na realidade que expressa uma visão positiva e afirmadora da vida sobre a pessoa humana — uma visão mais inspiradora, mais atraente e mais libertadora do que a cosmovisão secular. Para começarmos a aprender sobre isso, avancemos para o capítulo 1.

    Capítulo 1

    EU ME ODEIO

    A ascensão e o declínio do corpo humano

    Zoe parecia ter tudo a seu favor. Estudante educada em casa com brilhantismo, ela recebeu bolsa completa em duas universidades de primeira linha quando tinha apenas 17 anos e tinha acabado de entrar no Ensino Médio.

    Então, sem aviso prévio, Zoe fugiu de casa.

    Desvairados, com medo e aflitos, seus pais descobriram que ela tinha sido seduzida por uma estudante universitária de 22 anos — a quem chamaremos Holly — que frequentava uma universidade cristã evangélica das redondezas. Elas tinham-se conhecido em uma organização de educação cristã onde Holly estava ensinando. Como a idade para consentimento no Estado onde viviam é 18 anos, o seu relacionamento era ilegal. Preocupada com um possível processo, Holly persuadiu Zoe a fugir com ela para outro Estado, que tinha uma idade de consentimento mais baixa.

    Embora os pais de Zoe tenham escolhido não prestar queixa, as leis de abuso sexual que poderiam ter sido aplicadas incluem estupro de incapaz, aliciamento de menores para atividade sexual, abdução de menores e abuso sexual de uma criança por um funcionário de escola ou pessoa que trabalhe ou seja voluntária com crianças. (Na lei, criança significa menor de idade.)

    Para conseguir simpatia (e benefícios governamentais), Zoe alegou que seus pais tinham-na expulsado de casa. Muitos amigos da família acreditaram nela, e seus pais, além da dor de terem perdido a filha, acabaram cortados do relacionamento com esses amigos.

    Depois de meses persuadindo Zoe a mudar-se com ela para o outro extremo do país, Holly trocou-a por outra mulher. Hoje, Holly está terminando o seu doutorado em uma universidade prestigiada, estudando gênero e orientação sexual, e Zoe está servindo mesas em uma cafeteria — confusa e deprimida —, uma vítima da revolução sexual.¹

    Nos nossos dias, questões de vida e sexualidade não são apenas teóricas; elas afetam praticamente todas as pessoas de maneira pessoal. Para responder de maneira eficaz à revolução moral secular dos dias de hoje, devemos cavar mais fundo para encontrar a cosmovisão subjacente que a dirige. Na introdução, aprendemos que a cosmovisão que apoia a moralidade secular é um dualismo profundamente fragmentador que separa corpo e pessoa. Se você dominar essa divisão de dois andares, terá as ferramentas para revelar a cosmovisão profundamente desumanizadora que está no centro do aborto, do suicídio assistido, da homossexualidade, do transgenerismo e do caos sexual da cultura do sexo casual.

    Neste capítulo, mapeio a cosmovisão de dois andares por intermédio de um panorama de suas questões morais mais evidentes. Depois, nos próximos capítulos, entrarei com mais detalhes em cada uma delas, respondendo às objeções mais comuns. Pelo contraste com a cosmovisão secular, ficará claro que a ética bíblica afirma uma visão integral e ampla da pessoa que apoia os direitos e a dignidade humanos.

    SER HUMANO NÃO É O SUFICIENTE

    A melhor maneira de compreender a dicotomia corpo/pessoa é por meio de um exemplo. Há poucos anos, uma jornalista britânica chamada Miranda Sawyer, que se descrevia como feminista liberal, escreveu um artigo. Nele, ela dizia que sempre tinha sido pró-escolha com convicção.

    Até que ela mesma engravidou.

    Foi aí que a luta começou. Eu chamava a vida dentro de mim de bebê porque eu a queria. Mas, se eu não a quisesse, pensaria naquilo como apenas um grupo de células que não tinha problema em matar. [...] Aquilo me pareceu irracional. Talvez até imoral.² Bebês no útero não se qualificam como seres humanos apenas porque alguém os quer.

    Miranda tinha dado de cara com o muro da realidade — e a realidade não se encaixava em sua ideologia. Ela, então, começou a pesquisar sobre o assunto e chegou a produzir um documentário. Finalmente chegou a uma conclusão: Por fim, tenho que concordar que a vida começa na concepção. Então, sim, aborto é terminar essa vida. E, depois, acrescentou: Entretanto, talvez o fato da vida não seja o importante. O importante é se essa vida já cresceu o suficiente [...] para tornar-se uma pessoa

    O que aconteceu aqui com o conceito de ser humano? Ele foi dividido em dois. Se um bebê é vida humana desde a concepção, mas não é uma pessoa até algum tempo depois, então essas são duas coisas claramente diferentes.

    Essa é uma visão radicalmente fragmentada, quebrada, dualista do ser humano.

    Em uma conversa normal, é claro, usamos a expressão ser humano com o mesmo significado de pessoa. Os dois termos foram separados pela Suprema Corte norte-americana em 1973, na decisão pelo aborto em Roe vs Wade, que regulamentou que, mesmo que o bebê no útero seja humano, não é uma pessoa sob a 14ª Emenda.

    Assim, temos uma nova categoria de indivíduo: o ser humano não pessoa.

    Para ilustrar esse dualismo moderno, podemos aplicar a imagem de Schaeffer dos dois andares de um edifício (veja a introdução). Nos primeiros estágios, o feto está no andar inferior. Aqui ele é reconhecido como ser humano desde a concepção, no sentido de que é um organismo biológico verificável pelos métodos empíricos da ciência, mas não tem nenhum nível moral, nem proteção legal garantida. Mais tarde, em algum ponto indefinido no tempo, ele pula para o andar superior e torna-se uma pessoa, definida tipicamente em termos de certo nível de funcionalidade cognitiva, consciência e autoconhecimento. Só então ele adquire posição moral e legal.

    A isso chamamos teoria da pessoalidade, sendo uma decorrência da divisão fato/valor: Ser biologicamente humano é um fato científico. Porém, ser uma pessoa é um conceito ético, definido por aquilo a que damos valor.

    O aborto apoia-se na teoria da pessoalidade

    PESSOA

    Tem Posição Moral e Legal

    ___________________________________

    CORPO

    Um Organismo Biológico Descartável

    A implicação dessa visão de dois andares é que ser apenas um ser humano não é o suficiente para qualificar-se para o direito. Lembre-se das palavras de Miranda Sawyer: O fato da vida não é o importante. Imagina-se que a vida humana por si só não tem valor nenhum, e o que fazemos com ela não tem significado moral.

    É claro, um indivíduo tomando uma decisão sobre o aborto pode não estar pensando conscientemente sobre essas implicações filosóficas. Algumas pessoas disseram-me que podem apoiar o aborto e ainda sentir que o bebê tem valor. Só que uma ação pode ter a sua própria lógica, quer pretendamos, quer não.

    Se você é a favor do aborto, está dizendo nas entrelinhas que, nos estágios iniciais da vida, um bebê não nascido tem tão pouco valor que pode ser morto por qualquer motivo — ou sem motivo algum — sem nenhuma consequência moral. Quaisquer que sejam os seus sentimentos, essa é uma visão muito pequena da vida. Então, pela lógica, você deve dizer que, em algum momento posterior, o bebê torna-se uma pessoa e, nesse ponto, adquire um valor tão alto que seria um crime matá-lo.

    Como consequência, enquanto a criança não nascida é considerada ser humano, mas não pessoa, ela é apenas um pedaço descartável de matéria — um recurso natural como madeira ou milho. Ela pode ser usada para pesquisa e experimentos, ser remexida geneticamente, ter os seus órgãos colhidos e depois ser descartada juntamente com outros rejeitos médicos.

    A hipótese no centro do aborto, portanto, é a teoria da pessoalidade, com a sua visão de dois andares do ser humano — que não vê valor na vida do corpo humano, mas coloca todo o nosso valor na mente ou na consciência.⁴

    A teoria da pessoalidade, portanto, supõe uma visão muito baixa do corpo humano, o que, por fim, desumaniza a todos nós. Porque, se os nossos corpos não têm valor inerente, então uma parte importante de nossa identidade é desvalorizada. O que descobriremos é que essa mesma dicotomia corpo/pessoa, com a sua depreciação do corpo, é a hipótese implícita que norteia a visão secular sobre eutanásia, sexualidade, homossexualidade, transgenerismo e um conjunto enorme de questões éticas relacionadas.

    LENDO A NATUREZA

    Para entendermos esse dualismo dos dois andares, precisamos perguntar de onde ele veio e como se desenvolveu. Para começar, o que significa a palavra dualismo? Por um lado, é apenas a afirmação de que a realidade consiste de dois tipos de substância, em vez de apenas um. Nesse sentido tradicional, o Cristianismo é dualista porque afirma que existem corpo e alma, matéria e espírito. Essas duas substâncias interagem entre si em relação causal, mas nenhuma pode ser reduzida à outra. Defender a realidade do mundo espiritual é importante hoje porque o mundo acadêmico está dominado pela filosofia do materialismo (a afirmação de que não existe nada além do mundo material).⁵

    Mesmo assim, o Cristianismo sustenta que corpo e alma, juntos, formam uma unidade integrada — que o ser humano é uma alma corporificada (como veremos com mais detalhes no final deste capítulo). Em contrapartida, a teoria da pessoalidade pressupõe um dualismo de dois andares que coloca o corpo contra a pessoa, como se fossem duas coisas separadas que estão apenas coladas. Por isso, rebaixa o corpo como algo extrínseco à pessoa — algo inferior que pode ser utilizado para propósitos puramente pragmáticos.

    Como se desenvolveu essa visão tão negativa do corpo?

    Como o corpo é parte da natureza, a resposta encontra-se na maneira como as pessoas pensam sobre a natureza. Por séculos, a cultura ocidental foi permeada por uma herança cristã que considera a natureza como obra de Deus, refletindo seus propósitos. Como os Pais da Igreja afirmaram, a revelação de Deus vem até nós em dois livros — o livro da Palavra de Deus (a Bíblia) e o livro do mundo de Deus (a criação).⁶ A natureza é uma expressão dos propósitos de Deus e uma revelação do seu caráter. O salmista escreve: Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos (Sl 19.1). Em Romanos, o apóstolo Paulo diz que a criação dá evidências de Deus: Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis (Rm 1.20).

    Em outras palavras, mesmo que o mundo esteja decaído e quebrado pelo pecado, ele ainda fala de seu Criador. Podemos ler os sinais da existência e dos propósitos de Deus na criação. A isso chamamos visão teleológica da natureza, do grego telos, que significa propósito ou objetivo. É evidente que as coisas vivas estão estruturadas para um propósito: olhos para ver, ouvidos para ouvir, barbatanas para nadar e asas para voar. Cada parte de um órgão é delicadamente adaptada aos outros, e todas interagem de maneira coordenada e com um objetivo de alcançar o propósito do todo. Esse tipo de estrutura integrada é a marca registrada do design — plano, vontade, intenção.

    Ainda hoje, os biólogos não conseguem evitar a linguagem da teleologia, embora muitas vezes prefiram expressões como "bom design de engenharia".⁷ Os cientistas dizem que um olho é um bom olho quando está cumprindo o seu propósito. Uma asa é uma boa asa quando está funcionando da maneira como deveria.

    Os exemplos mais impressionantes de engenharia, porém, só se tornaram visíveis com a invenção do microscópio eletrônico. Cada uma das nanomáquinas dentro da célula (como as proteínas) tem a sua própria função distinta. Os pesquisadores conduzem experimentos que descrevem como engenharia reversa, como se tivessem um aparelho nas mãos e estivessem tentando reconstruir o processo pelo qual ele foi projetado.

    A evidência final do design, entretanto, está dentro do núcleo da célula — o seu centro de comando e controle. A molécula do DNA armazena uma quantidade imensa de informação. Os geneticistas falam do DNA como um banco de dados que armazena bibliotecas de informação genética. Eles analisam a maneira como o RNA traduz a linguagem de quatro letras dos nucleotídeos na linguagem de 24 letras das proteínas. A pesquisa pela origem da vida foi reestruturada como a pesquisa pela origem da informação biológica.

    Informação implica a existência de uma mente — um agente capaz de intenção, vontade, plano ou propósito. As últimas evidências científicas sugerem que o Novo Testamento acertou: No princípio, era o Verbo (Jo 1.1). No original grego, o termo traduzido como Verbo é logos, que também significa razão, inteligência ou informação.

    Os cientistas, entretanto, não descobriram evidências da teleologia apenas nas coisas vivas, mas também no universo físico. Eles descobriram que as suas constantes físicas fundamentais são requintadamente coordenadas para apoiar a vida. O astrofísico Howard Smith, da Universidade de Harvard, escreve: As leis do universo incluem números fundamentais, como a interação das quatro forças, a velocidade da luz, a constante de Planck, as massas de elétrons e prótons, e outras. [...] Se esses valores fossem diferentes, mesmo que por uma pequena porcentagem, nós não estaríamos aqui. [...] A vida, e muito menos a vida inteligente, não existiria.

    A isso chamamos problema do ajuste fino e significa que até mesmo o mundo físico exibe a marca registrada do design. O subtítulo do artigo de Smith afirma: Quase apesar deles mesmos, cientistas são levados a uma visão teleológica do cosmos.⁸

    COMO SER HUMANO

    Se a natureza é teleológica, e o corpo humano é parte da natureza, então ele também é teleológico. O corpo tem um propósito intrínseco, e parte desse propósito é expresso como lei moral. Somos moralmente obrigados a tratar as pessoas de maneira que as ajude a cumprir o seu propósito. Isso explica por que a moralidade bíblica não é arbitrária. A moralidade é o guia para cumprir o propósito original de Deus para a humanidade, o manual de instruções para tornar-se o tipo de pessoa que Deus idealizou, o mapa para alcançar o telos humano. Isso, às vezes, é chamado de ética da lei natural, porque nos diz como cumprir a nossa verdadeira natureza, como nos tornar plenamente humanos.

    Nessa visão conduzida pelo propósito, não há dicotomia entre corpo e pessoa. Os dois, juntos, formam uma unidade psicofísica integrada. Respeitamos e honramos o nosso corpo como parte da revelação do propósito de Deus para a nossa vida. Ele é parte da ordem criada que está manifestando a glória de Deus.

    O resultado é que a estrutura física do nosso corpo revela pistas de nossa identidade pessoal. A maneira como o nosso corpo funciona fornece justificativas racionais para as nossas decisões morais. É por isso, como veremos, que a ética cristã sempre leva em conta os fatos da biologia, seja falando do aborto (os fatos científicos sobre quando a vida começa), seja falando da sexualidade (os fatos sobre diferenciação sexual e reprodução). A ética cristã respeita a teleologia da natureza e o corpo.

    MATÉRIA SEM SIGNIFICADO

    O que mudou essa visão da natureza conduzida pelo propósito? Como o ocidente perdeu a sua visão positiva do corpo?

    Na era moderna, o ponto de virada mais importante foi a teoria da evolução de Charles Darwin, publicada em 1859. (Houve outros antes dele, como veremos, mas Darwin tem o maior impacto hoje.) Darwin não podia negar que a natureza parece ter um design. Mas, ao abraçar a filosofia do materialismo, ele quis reduzir essa aparência a uma ilusão. Darwin esperava mostrar que, embora as estruturas vivas parecessem ser teleológicas, na realidade elas eram o resultado de forças cegas e sem direção. Embora elas parecessem ser produzidas com intenção (vontade, plano, inteligência), na realidade eram produto de um processo material sem propósito. Os dois elementos principais em sua teoria — variações aleatórias e seleção natural — foram propostos expressamente para eliminar o plano ou propósito.

    Como observa o historiador Jacques Barzun: A negação do propósito é a alegação característica de Darwin.⁹ O zoólogo Richard Dawkins concorda: A seleção natural, o processo automático cego e inconsciente que Darwin descobriu [...] não tem o propósito em mente.¹⁰

    Em uma escala Richter de pensadores, a teoria de Darwin causou um terremoto que fica bem acima de 9.0, e as suas ondas sísmicas não se limitaram à ciência. Elas também causaram vários tremores secundários no pensamento moral. Porque, se a natureza não é obra de Deus — se ela não carrega sinais dos bons propósitos de Deus — então ela não fornece mais a base para as verdades morais. É apenas uma máquina agitada por forças materiais cegas. O filósofo Charles Taylor explica: O cosmos não é mais visto como a materialização da ordem significativa que pode definir o que é bom para nós.¹¹

    O próximo passo na lógica é crucial: se a natureza não revela a vontade de Deus, então é um mundo moralmente neutro onde os seres humanos podem impor a sua vontade. Não há nada na natureza que os humanos sejam moralmente obrigados a respeitar. A natureza torna-se o reino dos fatos de valor neutro, disponível para servir a quaisquer valores que os seres humanos possam escolher.

    E como o corpo humano é parte da natureza, ele também é demovido para o nível de mecanismo amoral, sujeito à vontade do ser autônomo. Se o corpo não tem propósito intrínseco, implantado por Deus, então só os propósitos humanos importam. O corpo é reduzido a um maciço de matéria — uma coleção de átomos e moléculas, sem nenhuma diferença essencial de qualquer outra configuração aleatória de matéria. É matéria bruta a ser manipulada e controlada para servir à agenda humana, como qualquer outro recurso natural.¹²

    Temos a tendência de pensar no materialismo como uma filosofia que valoriza muito o mundo material, porque afirma que a matéria é tudo o que existe. Mas, ironicamente, na verdade ele valoriza muito pouco o mundo material, colocando-o como apenas partículas em movimento sem um significado ou propósito superior.

    HUMANOS DESCARTÁVEIS

    Você percebe como isso explica a lógica que fundamenta o aborto? No passado, os defensores do aborto normalmente negavam que um bebê não nascido fosse humano: é apenas uma bolha de tecidos — uma vida em potencial — uma coleção de células. Como consequência, muitos argumentos pró-vida concentravam-se em provar que o feto é uma vida humana. Hoje, entretanto, devido aos avanços na genética e no DNA, quase todos os profissionais da bioética concordam que a vida inicia-se na concepção. O embrião tem um conjunto completo de cromossomos e DNA. É um indivíduo completo e integral, capaz de desenvolvimento internamente dirigido em uma continuidade ininterrupta desde a fertilização.

    Por que isso não é considerado evidência conclusiva de que o aborto é moralmente errado? Porque, segundo a teoria da pessoalidade, quando falamos do ser humano como um organismo biológico, estamos no mundo da ciência (andar inferior), onde a vida foi reduzida a um mero mecanismo sem propósito ou dignidade intrínsecos. Ele foi reduzido ao nível de um material bruto que pode ser utilizado para qualquer benefício pragmático que possamos dele obter. Como resultado, até mesmo os especialistas em bioética que reconhecem o feto como ser humano biológico não concluem necessariamente que ele tenha posição moral ou que deveria ser protegido pela lei. Ao contrário, o feto é tratado apenas como um pedaço de matéria que pode ser utilizado para pesquisa ou experimentos e, depois, jogado fora junto com outros rejeitos médicos.

    Na cosmovisão de dois

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