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Explicando o Apocalipse
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Explicando o Apocalipse
E-book252 páginas5 horas

Explicando o Apocalipse

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Sobre este e-book

A obra oferece uma visão simples e didática sobre o significado do Apocalipse. Por meio de elementos teológicos, o autor explica as visões, sonhos, símbolos, figuras estranhas e enigmas, revelando o projeto de Deus na vida e na história da humanidade. A intenção é proporcionar ao público uma compreensão acerca desse tema para o seguimento do caminho de Jesus e a construção do Reino de Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de out. de 2021
ISBN9786555271409
Explicando o Apocalipse

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    Explicando o Apocalipse - Francisco Albertin

    INTRODUÇÃO

    Para muitas pessoas, o livro do Apocalipse é misterioso, cheio de visões, sonhos, símbolos, números, figuras estranhas e acontecimentos difíceis de entender, e contém códigos e enigmas que têm a ver com o passado, presente e, principalmente, com o futuro.

    Se você andar ou dirigir um carro quando estiver com muita neblina, mesmo sendo durante o dia, com certeza verá tudo de modo confuso, pois a neblina não permite uma visão nítida.

    Mesmo durante o dia e em plena claridade, se vir uma pessoa com o rosto encoberto com um véu, você não conseguirá enxergar, com nitidez, o rosto dessa pessoa, pois o véu deixa-o obscuro e esconde-o. Então, aqui entra um dos segredos do Apocalipse, palavra de origem grega: apokalipsis, que significa tirar o véu, revelar, mostrar com nitidez aquilo que de fato é.

    A primeira frase do livro do Apocalipse é: "Esta é a revelação de Jesus Cristo: Deus a concedeu a Jesus, para Ele mostrar a seus servos as coisas que devem acontecer muito em breve. Deus enviou a seu servo João o Anjo, que lhe mostrou estas coisas através de sinais" (Ap 1,1).

    A revelação do anjo a João vem por meio de sinais, em que se geram as visões. Para entender as visões que uns consideram estranhas e esquisitas, faz-se necessário tirar o véu, ou seja, revelar e enxergar, com clareza, aquilo que de fato é e significa. Para isso, não podemos entendê-las como se fossem visões físicas e que foram escritas de modo literal. Visões são visões e supõem uma experiência de fé, que só serão compreendidas a partir do coração, da imaginação, da mística, da fé e da esperança que se faz presente na caminhada de um povo rumo à verdadeira libertação e na fidelidade à Palavra de Deus.

    Quem já leu o livro do Apocalipse sabe que tudo gira em torno das visões e estas são uma das chaves para entender esse importante livro da Bíblia.

    A outra chave é: Feliz aquele que lê e aqueles que escutam as palavras desta profecia, se praticarem o que nela está escrito (Ap 1,3).

    O Apocalipse tem tudo a ver com profecia, e profeta, no Antigo Testamento, é o homem ou a mulher da palavra e também da visão. É a Palavra de Deus, revelada em visões, que incentiva o povo a vencer as perseguições, as dificuldades, as crises de fé e até o grande dragão, que simbolizava toda a força do mal e o Império Romano, que foi a época em que o Apocalipse foi escrito. Profeta é aquele que anuncia a Palavra de Deus, incentiva o povo a se manter firme na fé e denuncia toda e qualquer injustiça. Ocorre que o autor do Apocalipse não podia dizer isso abertamente senão ele e as comunidades cristãs sofreriam as consequências de tamanha ousadia. Assim sendo, resolveu usar a linguagem apocalíptica, ou de gênero apocalíptico. Mas quem foi o autor do Apocalipse?

    1. O autor do Apocalipse

    Diante de um livro considerado misterioso, difícil de entender, cheio de visões e símbolos e com uma linguagem estranha e muito diferente da nossa, bem como da de outros livros da Bíblia – com exceção da linguagem do livro de Daniel, que suscita tantas dúvidas, debates, interpretações, e gera, às vezes, em algumas pessoas, o medo, e em outras pessoas, a esperança –, surge uma pergunta: Quem escreveu o livro do Apocalipse?

    O autor se apresenta: Eu, João, irmão e companheiro de vocês neste tempo de tribulação, na realeza e na perseverança em Jesus, eu estava exilado na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus (Ap 1,9).

    Temos também, logo na abertura, que Deus enviou a seu servo João o Anjo (1,1); Ele dirige-se às sete igrejas (1,4) e é pedido a ele que escreva num livro tudo o que está vendo (1,11). Eu, João, fui ouvinte e testemunha ocular dessas coisas (22,8). Diante de tudo isso fica fácil dizer que o autor do Apocalipse é João, mas não é bem assim.

    A pergunta é: qual João? O discípulo de Jesus Cristo? O autor do Evangelho de João? Ou outro João?

    O autor dá uma dica de quem ele é: Eu, João, irmão e companheiro de vocês neste tempo de tribulação (1,9). Se essa afirmação estiver correta, trata-se de alguém que viveu por volta dos anos 90 e, portanto, é descartada a hipótese de haver sido o discípulo ou apóstolo de Jesus, no caso, o João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu (Mc 1,19-20), uma vez que, por volta dos anos 90, ao que tudo indica, todos os discípulos de Jesus já haviam morrido. Isso fica mais claro quando o autor afirma no que se refere à visão da Nova Jerusalém: A muralha da cidade tem doze pilares. E nos pilares está escrito o nome dos doze apóstolos do Cordeiro (22,14). Em momento algum, o autor refere-se a Jesus Cristo como se houvesse sido um de seus discípulos.

    Seja como for, o autor do Apocalipse conhecia muito bem as escrituras, ou seja, o Antigo Testamento, motivo que leva muitos a pensar que ele era judeu e se tornou cristão. Provavelmente, era uma pessoa que coordenava ou conhecia muito bem as comunidades cristãs e, por trás de um livro bíblico, há também a contribuição de toda uma comu­nidade. Isso fica evidente nas cartas dirigidas às sete comuni­dades (2–3). Não é descartada a hipótese desse autor ter sido da comunidade joanina, devido a seu estilo de escrever e argumentar. Por outro lado, era comum, nessa época, escrever e atribuir seus escritos à autoria de alguém muito conhecido e de autoridade, que chamamos de pseudônimo. Nesse caso, o autor do Apocalipse quis homenagear o Apóstolo João, muito conhecido e respeitado, principalmente na região da Ásia Menor. Há também a possibilidade de haver sido escrito por um João que, na época, era um nome muito comum. Mas o importante não é o autor, e sim a obra e, acima de tudo, a Palavra de Deus nela escrita. Seja como e quem for o autor do Apocalipse, vamos chamá-lo, nesta obra, de João, que o escreveu, possivelmente, em algum lugar da Ásia Menor, sendo que uns até pensam ter sido em Éfeso, por volta do ano 95.

    2. A literatura apocalíptica e o gênero apocalíptico

    Muitas pessoas que já têm certo conhecimento da Bíblia ou já fizeram cursos ou estudos bíblicos, e até pessoas que têm uma caminhada de fé, acham o Apocalipse complicado e difícil de entender. De fato, ele é mesmo. Alguns começam a ler o Apocalipse e logo param, pois se perdem em tantas visões, símbolos e imagens. Dizem que não entenderam nada, que até parece coisa de louco. Outros sentem medo e acham que já estamos no fim do mundo, previsto nesse livro. Outros ficam acomodados e de braços cruzados, achando que é a vontade de Deus que as coisas estejam do jeito que estão e que, neste mundo, a pessoa tem de sofrer para depois obter a vida eterna e o céu. Ora, o Apocalipse é a Palavra de Deus. Ele traz, em si, uma boa nova, uma esperança, e pede ao povo para lutar contra os opressores; indica o caminho do Cordeiro, que é Jesus, como o único capaz de vencer o Dragão, que simboliza o Império Romano e as forças do mal.

    Mas para entender a linguagem apocalíptica e o gênero apocalíptico, temos de voltar um pouco na história, ou seja, entender o momento histórico, o povo, a cultura, a realidade social e perceber por que os autores dos livros apocalípticos sentiram a necessidade de usar a linguagem apocalíptica com tantas visões, imagens, mistérios, números e até enigmas.

    Desde a época da monarquia, por volta do ano 1.030 a.C., quando surgiram os reis em Israel, como: Saul, Davi, Salomão e muitos outros, até mais ou menos no ano 586 a.C., quando houve o exílio da Babilônia, em que o povo foi levado como escravo e ficou sem autonomia política, perdido em um país estranho e com um modo de vida e cultura diferentes, foi feita toda uma reflexão para entender a causa de tamanha desgraça e sofrimento. Muitas pessoas sentiram-se abandonadas por Deus, sozinhas, em crise, e perguntavam: Onde está Deus diante de tudo isso?

    Durante a monarquia, os profetas, como Amós, Miqueias, Isaías, Jeremias e muitos outros anunciavam a Palavra de Deus e denunciavam todo o abuso dos reis e poderosos. O povo sentia neles a presença de Deus; eles, com a Palavra e as visões, criticavam as injustiças e exortavam o povo a se manter firme na fé e na esperança.

    Mesmo durante o exílio da Babilônia, de 586-538 a.C., lá estavam os profetas Ezequiel e um anônimo, que chamamos de segundo Isaías (livro de Isaías, capítulos 40–55), e outros que davam ao povo uma mensagem de fé, esperança e consolo. Deus continuava sim ao lado das pessoas que procuravam viver nos ideais da justiça, do amor, da fé e da aliança. O exílio iria passar logo e Deus iria libertar e salvar seu povo novamente, como havia feito no Êxodo com Moisés, libertando o povo da escravidão do Egito.

    Tudo começa quando o povo volta do exílio da Babilônia, por volta do ano 538 a.C. Esse povo agora não tem mais autonomia política; mesmo estando em sua terra, tem de pagar pesados impostos aos persas. Muitas pessoas deixaram-se influenciar pela religião dos dominadores, em que existiam os anjos como intermediários entre Deus e os homens e que admitiam que, no mundo, haviam dois princípios absolutos: o bem e o mal. Esse dualismo, juntamente com os anjos, vai influenciar muito e depois dar origem ao movimento apocalíptico, que tanto os judeus, e posteriormente os cristãos, utilizaram como fundamentais em sua visão apocalíptica do mundo.

    Durante o domínio dos persas (538-333 a.C.), dos helenistas/gregos (333-63 a.C.), muitas coisas aconteceram, e a força da opressão, exploração, miséria, fome, guerra, medo e injustiças leva o povo simples a constatar que não tem mais profetas, nem reis. Chegou um tempo em que a corrupção era tanta, que, em 174 a.C., Jasão compra para si a função do sumo sacerdote, e dois anos mais tarde, em 172 a.C., é a vez de Menelau comprar essa função. Nesse caso, sem profetas, sem reis, sem autonomia política, sem liberdade, agora sem sumo sacerdote, no auge da crise, sem­ rumo, sem perspectiva de futuro em todos os sentidos, surge a apocalíptica.

    O livro de Daniel, no Antigo Testamento, foi escrito por volta de 175-164 a.C., época em que reinava o rei Antíoco IV Epífanes, que impôs a todos os povos sob seu domínio político que seguissem os costumes gregos. Vejamos o que nos diz o primeiro livro dos Macabeus, também escrito na mesma época, sobre um decreto do rei, o qual estabelecia, a todos os povos e aos judeus, várias ordens:

    Tinham de adotar a legislação estrangeira; proibia oferecer holocaustos, sacrifícios e libações no Templo e também guardar os sábados e festas; mandava contaminar o santuário e objetos sagrados, construindo altares, templos e oratórios para os ídolos, e imolar porcos e outros animais impuros; ordenava que não circuncidassem os filhos e que profanassem a si próprios com todo o tipo de impurezas e abominações, esquecendo a Lei e mudando todos os costumes. Quem não obedecia à ordem do rei, incorria em pena de morte (1Mc 1,44-50).

    Começa, então, uma luta armada, liderada pelo velho Matatias, por volta do ano 166 a.C., e depois essa rebelião continuou com seus filhos Judas, Jônatas e Simão.

    Diante disso, o livro de Daniel pede ao povo para se manter firme na fé e lutar contra o opressor; em seus capítulos 7–12, tem toda uma linguagem apocalíptica com visões, sonhos, símbolos, mostrando que Deus é o Senhor da história e que a vitória dos que fossem fiéis à Lei seria uma questão de tempo.

    Rapidamente e de modo bem geral, o livro de Daniel volta ao passado como se seu autor vivesse na época do rei Baltazar, rei da Babilônia, ainda na época do exílio, por volta do ano 550 a.C. Daniel não podia dizer abertamente para o povo combater e lutar contra o opressor da época em linguagem normal e compreensível para todos – Daniel viveu na época dos Macabeus e durante o reinado de Antíoco IV Epífanes, que iniciou seu reinado em 175 a.C. Porém, ele utiliza as imagens e visões, e vai mostrar as várias etapas do plano de Deus, desde a Babilônia até os dias atuais. Com certeza, isso seria força e estímulo para o povo da época entender um pouco da história, sintonizar no tempo presente e sentir a presença de Deus. Vejamos o que Carlos Mesters e Francisco Orofino nos dizem sobre uma das visões de Daniel:

    Nessa visão noturna (Dn 7,2) aparecem, um depois do outro, os quatro grandes impérios, todos com aparência de animais monstruosos: leão com asas de águia (Império da Babilônia) (Dn 7,4), urso com três costelas entre os dentes (Império dos Medos) (Dn 7,5), onça com quatro asas e quatro cabeças (Império dos Persas) (Dn 7,6), e uma fera medonha e terrível (Império dos gregos iniciado com Alexandre Magno) (Dn 7,7-8). Os Impérios têm aparência de animais porque são animalescos, brutais, desumanos.¹

    E você deve estar perguntando: o que essa visão tem a ver com o povo da época e de que maneira levava-o a lutar e resistir contra o opressor? É que, voltando ao passado, fazendo uma leitura da história, o povo, que era inteligente e sabia entender a linguagem apocalíptica, iria perceber que quatro etapas já se haviam passado, ou melhor, a quarta, que estava sendo vivenciada, iria acabar logo, pois o segredo maior estava na quinta etapa, que era o Dia de Javé, quando aparece um Ancião no Trono do Juiz e faz desaparecerem os reinos animalescos, e esses são destruídos (Dn 7,9-12), e Daniel diz:

    Em imagens noturnas, tive esta visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem. Chegou até perto do Ancião e foi levado a sua presença. Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E seu reino é tal que jamais será destruído (Dn 7,13-14).

    Só Deus é o Senhor da História e tem o poder sobre tudo. O misterioso filho de homem é uma personificação do povo fiel, que recebe de Deus o reino que durará para sempre. O Novo testamento vê Jesus, o instaurador do Reino de Deus, como esse misterioso filho de homem que vem do céu.²

    Daniel é considerado o mais importante escritor a utilizar a linguagem apocalíptica, embora os estudiosos considerem um período pré-apocalíptico quando alguns textos revelam isso, como: Isaías 24–27; 34–35; as visões de Ezequiel, Joel e até Zacarias 9–14. Entretanto, Daniel é considerado como o Pai da Apocalíptica e o escritor por excelência dessa literatura. Temos também muitos outros escritos apocalípticos elaborados pelos judeus e, após Jesus Cristo, também pelos cristãos.³ Todavia, somente o livro de Daniel e o Apocalipse fazem parte da Bíblia. Sabemos que João, o autor do Apocalipse, foi muito influenciado por Daniel e se serve de várias visões suas em seus escritos.

    A linguagem apocalíptica foi

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